Oito Estações escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 4
Primavera - Jardim de Rosas




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Disclaimer: O único Naruto que eu, supostamente, sou dona é meu gato de estimação.

Essa fic se passa durante os dois anos entre o final do mangá e The Last. NaruHina e ships canon com menções de NejiHina e NaruSasu porque sim.

Muito obrigada pelos comentários de hina2611, SBFernanda, MaddieHimeChan e KamiiB.

Primavera – Jardim de Rosas

“Você pode descansar sabendo que suas rosas irão envelhecer
Você pode ver a razão pela qual sua história não acabou”
Warpaint - Son

– Kurenai-sensei! – ele chegou gritando esbaforido, sem nenhum momento pensar que haveria formais mais educadas de aparecer na porta de uma superior – Shikamaru! Chouji disse que Shikamaru estaria aqui e ah... – a frase morreu no ar quando, identificando imediatamente de quem era aquela voz, Hinata se virou num pulo, os olhos arregrados ao observar a figura dourada e laranja de Naruto banhada pelo sol daquela tarde de março.

O loiro, também profundamente chocado por não ser a viúva de Asuma Sarutobi a mulher a se virar para ele, observou embasbacado o coque que prendia o cabelo de Hinata no alto da cabeça se desfazer em ondas negras cobrindo-lhe o rubor do rosto. Ele não tinha ideia d como agir naquele encontro, e ela, não parecia estar em melhor situação. Hinata naturalmente já tinha dificuldade de falar com Naruto e, ao se lembrar de seu último encontro tudo que ela queria era desaparecer. Naruto, por outro lado, tinha vontade de dizer muitas coisas a ela, mas a mulher a sua frente tinha uma aparência tão frágil que ele não conseguia confiar em si mesmo, dolorosamente ciente de sua estupidez. Tudo que ele pode fazer por longos momentos foi a observar deixar cair a pá de jardinagem sobre as botas de borracha muito grandes para ela, quebrando a atmosfera de inércia entre ambos.

Naruto se apressou em apanhar o objeto, esquecendo-se momentaneamente de que a proximidade a deixaria ainda mais desconfortável e tentou se desculpar, mas acabou por também se impedir de falar, fazendo grunhidos confusos que só deixaram Hinata ainda mais constrangida com toda a situação e a posição estranha de Naruto meio ajoelhado a seus pés. O fato de ela estar usando uma das bermudas de Kurenai – já que Mirai havia derrubado suco nas calças de Hinata mais cedo – que eram bem mais curtas do que as que ela estava acostumada também a ajudou a se sentir ainda mais exposta, Hinata queria que a terra abrisse e a engolisse. Ele se levantou, seu rosto também avermelhado.

Mas porque diabos ele tinha que aparecer assim, afinal? Ela se viu sento tomada por uma onda morna de fúria, nunca achou que ficaria realmente brava com Naruto na vida. Quase havia acontecido na guerra, quando o loiro estava prestes a desistir depois do sacrifício de Neji, mas não demorou a que ela o conseguisse trazer de volta a si, então seus pensamentos não permaneceram por muito tempo na questão ocupada em tentar sobreviver. Mas, agora, o sentimento que fazia seu coração disparar ao ver Naruto era bem diferente da fascinação a que estava acostumada, era algo de gosto amargo, algo, ela percebia naquele momento, que a Hyuuga havia vindo guardando há um tempo. Chocada consigo mesma, Hinata percebeu que o motivo pelo qual estava sentindo aquelas coisas, motivo pelo qual havia recusado Naruto meses atrás era porque ele e estava ali, ele havia sobrevivido e uma parte de sua alma, uma parte horrível de sua alma, o culpava por aquilo e sentia raiva de como ele podia andar por aí livremente, como o coração dele continuava batendo e principalmente, de como ela continuava, também viva, para apreciar a maravilha injusta daquele fato. A auto revelação a fez se sentir enojada consigo mesma, seu estomago revirou e seus joelhos amoleceram, ela bambeou e percebendo o acontecido, Naruto se aproximou para ampará-la.

– Hinata! – ele finalmente exclamou, seus braços estendidos em direção a ela, mas Hinata fez um gesto desesperado para que ele não a tocasse, contrafeito, Naruto obedeceu – você está bem’ttebayo?

Ela respirou fundo e, afirmando com a cabeça e tentando conter a vontade de cobrir o rosto e sair correndo. Não se permitiria fazer isso. Depois daqueles meses, deixando a sede do clã apenas para cumprir suas responsabilidades mais urgentes, quando o choque do luto passou e a dor em seu coração deixou de ser lancinante para uma dormente resignação e ela, finalmente, encontrou clareza em sua mente para conseguir pensar sobre o que tudo que tinha acontecido, Hinata decidiu que não iria mais fugir. Não era certo. Neji não havia se sacrificado daquela forma para que ela o acompanhasse além-túmulo de maneira tão covarde. Afinal, embora fosse preferível que ela fosse mais como o primo, era dele o dever de ser sua sombra e segui-la a onde for, não o contrário. E Neji, ela sabia, não era nada além de dedicado quanto aos seus deveres perante ela. Ainda assim, agora que ele não estava mais aqui, Hinata tinha que aprender a andar sozinha, sem olhos zelosos a acompanhando. E era tão difícil. Ela ainda conseguia sentir o vazio a ausência em tudo que fazia. Ainda se via guardando informações, pequenos detalhes, questionamentos, para alguém que não estava mais lá.

Mas, embora tendo decidido viver a vida que ele havia protegido, ainda havia coisas que ela ainda não podia fazer, ir até a casa onde passaria os próximos anos de sua vida. No passado ela não havia sequer passado do batente da porta de entrada, também de luto no passado, pela morte de sua própria vida, agora ela se pegava tendo longos devaneios sobre como tudo seria diferente se ele estivesse ali. Ela finalmente entendia do que era uma verdadeira perda. E se sentia roubada de algo que a princípio não queria, mas que hoje parecia uma alternativa tão menos cruel, talvez até doce, ao presente. E não podia se impedir de pensar no quanto havia sido egoísta. Como tão levianamente havia pensado que era quem sofria mais, pior, que o desgosto dele era da mesma natureza que o seu. Quando se lembrava dos olhos dele agora, para ela, sempre tão fácies de ler, tão sinceros e fora do lugar em sua fisionomia estoica, lhe era tão claro o reflexo de seu coração partido. Ela havia causado dor e, eventualmente, o fim de alguém que, sim havia errado no passado com ela, mas percebido o erro havia feito de tudo para corrigi-lo, impecavelmente, como um bom Hyuuga digno de seu nome e tentado até o último suspiro, poupá-la de toda dor.

E, mesmo com todo esse tempo para reflexões, Hinata ainda não havia descoberto um modo de corrigir seus erros, desconfiava até, que não havia solução para eles, que ela ficaria para sempre manchada de um sangue que não pertencia a nenhum inimigo, sangue de alguém que havia morrido por ela. Por isso que sabia que não tinha direito de apelar para morte ou o abandono de sua vida como solução para seu dilema, que estava na hora de levantar, ser forte, pois precisava carregar agora o peso de uma vida que não era somente sua.

– O-obrigada, Naruto-kun – ela disse tardiamente, ainda desejando que ele fosse embora logo.

Feliz por ela ter-lhe dado abertura depois do susto inicial – ela parecia doente há poucos momentos, não se surpreenderia se ela lhe desse as costas como da última vez – ele sorriu. Era aquele sorriso enorme, aquele que a fazia sentir aquecido cada parte do corpo dela com o sol morno da manhã, aquele sorriso que a salvou, mas que agora, fazia seu coração sentir uma pontada de culpa também. Hinata se amaldiçoou internamente por ter vontade de chorar.

– Eu não sabia que você gostava de cuidar de jardins’ttebayo – disse ele, tentando um tom casual, mas gesticulando desajeitadamente em direção as roseiras com a pá que havia pegado.

Se ela não estava corando antes, agora, tinha certeza que seu rosto estava em chamas, a reação tão corriqueira lhe parecia estranha. Sentir todo aquele calor em seu rosto, aquela apenas algum momentos compartilhados com Naruto e ela já havia experimentado uma enorme variedade de sentimentos, tão diferente da apatia dos últimos meses quando lhe pareceu que tudo que sentiria pelo resto da vida seria aquele vazio enlouquecedor.

– M-minha mãe me ensinou – disse ela não resistindo ao impulso de desviar o olhar, mas sendo cortês como lhe fora ensinado. – Kurenai-sensei não tem muito tempo e-então... – ela não terminou a frase, deixando subentendido, o plano era falar o menos o possível.

– Oh – ele, sem nenhuma dificuldade, graças a enorme diferença de altura entre os dois, olhou por cima do ombro dela em direção as flores.

As flores estavam feias, negligenciadas por sua atarefada dona que agora não era só uma jounnin requisitada – mesmo que Kurenai não pegasse mais missões longas ou muito perigosas – com um time e uma filha pequena para tomar conta. Hinata se sentiu ligeiramente constrangida por cada folha seca, parasita e erva daninha que enfeiam o pequeno jardim de sua sensei. Mas, tomando coragem e dando uma olhadela para a expressão de Naruto, não encontrou em seus olhos nenhum julgamento e logo ele estava sorrindo de novo para ela, ele o fazia tão fácil, tudo nele era tão naturalmente agradável, tão diferente do muito rígido com regras castradoras de sua vida, não era de se surpreender, ela pensou, que ela e outros se sentissem tão atraídos pela luz que ele emanava e alguns pereciam, como mariposas enamoradas por postes de jardins.

– Quer ajuda? –ele perguntou, de novo com aquela sinceridade desconcertante. A situação era tão surreal que ela sentia como se fosse algo acontecendo com outra pessoa.

– N-n-não p-precisa, Naruto-kun! – Hinata fez um gesto desesperado, mas falhou, uma vez que ela não tinha coragem o suficiente para tocá-lo, para contê-lo, mas Naruto já estava arregaçando as mangas e arrancando as pétalas secas das flores avermelhadas. – Você não d-disse que estava procurando Shikamaru-san? – disse ela numa última tentativa de fazê-lo partir.

– Ah sim – ele respondeu, nem se dando ao trabalho de se virar para ela e completamente inconsciente da clara tentativa dela de se livrar dele, talvez já acostumado demais com a rejeição, absorto em sua jardinagem, nitidamente não tendo nenhuma intenção de partir, para desespero da Hyuuga. – Kakashi-sensei quer que a gente vá numa missão ou quer ajuda dele pra alguma coisa. Um dos dois, eu não estava prestando atenção. Faz horas que ele me mandou fazer uma tarefa super chata porque eu não quis contar a ele onde estão os rascunhos do Ero-sennin. Eu já disse que não sei e não quero saber’ttebayo, eu não entendo porque ele gosta tanto daquela porcaria pervertida, mas er... Do que eu estava falando? Sim, eu m ofereci pra procurar o Shikamaru, precisava sair de lá, pegar uma missão qualquer, mas Kakashi-sensei está proibido de me mandar em missões por uns dias, Sakura-chan está tentando me barrar de novo por que eu fiquei quase seis meses fora e “deveria descansar” – ele soltou uma exclamação desdenhosa e então voltou a olhá-la, as sobrancelhas altas e sua testa – aliás, foi por isso que eu não consegui ir à sua festa.

– O-o que? – ele havia falado tanta coisa que ela se sentia tonta.

– Sua festa de aniversário – ele coçou a nuca num gesto bem “narutesco” – agora me ocorre que foi a um tempão atrás, né? Foi mal não ter ido, Hinata. Ino tinha me convidado, espero que você não se importe’ttebayo. Eu queria mesmo ir, mas não deu. Eu te mandei as flores, de qualquer forma. Ino disse que você ia gostar delas’ttebayo.

– Flores? – lentamente, ela se ajoelhou ao lado dele para continuar o trabalho, convencida agora de que ele não iria a lugar nenhum e constrangida por tê-lo deixado fazer a tarefa sozinho. Além disso, suas pernas sempre enfraqueciam quando na presença dele por muito tempo. Hinata tomou muito cuidado pra manter uma distância segura, de forma que, eles não se tocassem em momento algum.

– As brancas, pequenas.

– A-as campânulas brancas? – ela quase se furou nos espinho com a surpresa.

– Você não gostou delas? Eu queria te mandar outra coisa, mas acabou que eu não tinha ideia do que te dar.

– N-não! – Ela se sentia tão confusa com toda aquela situação – quero dizer, sim! Elas eram muito bonitas, o-obrigada.

A vontade de chorar voltou, mas ela sentia que as lágrimas não teriam um gosto tão amargo dessa vez. Ou talvez fossem lágrimas de frustração, afinal, mesmo tentando cortar todas as coisas a ver com Naruto de sua vida, foi depois que encontrou aquele ramalhete de flores brancas em meio aos seus presentes de aniversário, que ela decidiu que não ousava se sentir grata, mas se permitia ter esperança e, quem sabe, o peso não seria tão esmagado e, um dia, talvez, flores também brotariam em seu coração após aquele longo inverno. Que talvez houvesse um sentido para que ela tivesse a oportunidade de ver as roseiras de Kurenai desabrocharem.

Eles trabalharam em silêncio por algum tempo, Naruto feliz por ela ter gostado do presente e pensando se deveria ou não dizer que havia sido ele mesmo quem cuidou do crescimento das flores, mas se decidiu por manter o silêncio confortável que se instaurou entre os dois. Era estranho, enquanto com outros não pensaria duas vezes antes de contar qualquer coisa para se vangloriar, não sentia a mesma necessidade com Hinata, pela primeira vez, estar perto de alguém a quem ele não precisava impressionar para mostrar seu valor.

Ele ia puxar outro assunto quando ela, numa voz angustiada, quebrou o silêncio.

– Naruto-kun... – ela respirou fundo. – Você não ficou magoado, ficou? Pelo que eu disse da outra vez?

– Eu’ttebayo? – ele ergueu as sobrancelhas, aqueles olhos azuis enormes e inocentes. – Que isso, Hinata!

– É que... – ela juntou as mãos próximas ao peito, em seu gesto característico de nervosismo. Fazia tanto tempo que Naruto não via aquela cena, de repente, os dedos inquietos, as bochechas coradas... Ninguém mais agia daquela forma com ele. Era tão claro, ele havia sido um imbecil cego por tanto tempo! – Eu sinto que fui um p-pouco rude...

Ele gargalhou, mais de si mesmo do que dela.

– Você, rude? Nem se você tentasse com muuuita força. Acredite, eu sou especialista, eu convivo com o Sasuke-teme.

Ele terminou a sentença com uma piscadela e se deliciou em como ela corou fortemente e abaixou o rosto, incapaz de esconder conter o sorriso. Os dois continuaram daquela forma por longos momentos, Naruto tagarelando sobre coisas avulsas e Hinata o guiando onde seu conhecimento precariamente adquirido lhe faltava quanto à jardinagem. E, enquanto trabalhava ao lado dele, a brisa balançando os fios soltos de seus cabelos, sol morno sob suas costas, Hinata percebeu que há muito tempo ela não sentia vontade de sorrir, há muito tempo o cheiro da terra não parecia tão atrativo e o calor do sol uma dádiva. Há muito tempo ela não se sentia verdadeiramente bem. Ela inspirou profundamente, deixando seus pulmões se encherem com o perfume das rosas, apreciando o momento, apreciando, principalmente, que ela era, finalmente, capaz de apreciar o momento.

E quando Naruto sorriu para ela outra vez, ela quase sorriu de volta, porque ele estava ali, ele estava vivo e, por mais que aquela realidade fosse tão frágil, naquele momento, era o bastante.

N/A: Eu não deveria estar postando, o próximo capítulo ainda não está pronto. Eu sei que atrasei, já que tinha dito pra alguns de vocês que iria postar no sábado, mas essa semana foi horrível. Provas e outras coisas piores. Então, finalmente algo bom aconteceu, Yuko veio aqui em casa e leu o capítulo, ela reclamou que estava pequeno – e depois de reescrevê-lo ele não cresceu grandes coisas – o que me fez repensar sobre algumas partes desse capítulo. Hinata estava muito feliz e falante e no-no, nada disso mocinha, muito cedo. Eu tive que editar várias partes e me lembrei porque eu achava NaruHina um ship tão frustrante. De qualquer forma essa fic vai ser sempre lembrada por mim como a fic das edições sem fim.

Mas bem, é isso.

Beijos.


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