Oito Estações escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 3
Inverno - Gratidão e Esperança




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Disclaimer: O único Naruto que eu, supostamente, sou dona é meu gato de estimação.

Essa fic se passa durante os dois anos entre o final do mangá e The Last. NaruHina e ships canon com menções de NejiHina e NaruSasu porque sim.

Obrigada a Aganes e Yuko Kiryu por comentarem no ffnet e MaddieHimeChan e SBFernanda por comentarem no Nyah. Obrigada também às pessoas que estão seguindo a fic, saber que tem alguém lendo é reconfortante, mesmo que eu não chegue a ouvir a opinião de vocês (que é sempre bem vinda btw).

Inverno – Gratidão e Esperança

“Você está me matando
Você está me matando com silêncio,
Pare de me matar,
Pare de me matar com doçura.”

Craig Walker – End Title

Apesar das palavras de Sakura terem lhe perseguido como um mau agouro pelos seguintes meses, Naruto não teve sorte em suas tentativas de buscar contato com Hinata. A pior parte é que ele não sabia nem por onde começar. Ir a casa dela seria estranho, ele não se lembrava muito bem das lições que Jiraya tentara lhe passar de etiqueta – “Você precisa saber como se comportar como gente se quer ser Hokage, moleque!” – mas algo lhe dizia que, herói do mundo ninja ou não, ir até a cede do clã mais poderoso de Konoha exigindo ver sua princesa sem convite prévio ou autorização do Líder do Clã, não só seria de terrivelmente rude, mas também levantaria questões que ele não estava pronto para responder. Além disso, mesmo sob o controle diligente de Sakura para que ele não exagerasse, Kakashi tratou de manter Naruto bastante ocupado com missões atrás das outras, o que deixava gama-chan muito feliz e ajudava a firmar sua reputação, mas não lhe dava muito tempo para se ocupar com questões pessoais.

Ele achou que teria uma chance quando foi enviado a Vila da Nuvem com o Time Oito, mas estava enganado. Quando perguntou a Kiba pela falta da princesa Hyuuga, ele disse algo ofensivo que levou a uma briga, mas depois, Shino lhe contou que Hinata não ia a missões na Nuvem. A pequena revelação fez seu coração pesar ainda mais, não só pela ausência da kunoichi, mas pelo fato de que, embora ele estivesse ciente de que Hinata foi tão vítima do que aconteceu no passado quanto Neji, nunca pensou em como o acontecimento havia a afetado tão profundamente, que talvez, a relação quebrada com sua família não tenha ido a única coisa que restou do terrível sequestro. Depois disso, aquela foi a missão mais silenciosa que havia tido com Kiba, pois esse passou a ignorá-lo categoricamente e só quando estavam voltando para a casa que Naruto se encheu e perguntou qual era o problema dele. Como era de se esperar, a coisa ficou feia a partir daí e, se não fosse Kiba, Naruto até teria se repreendido mentalmente pela falta de tato, mas foi em meio aos socos, mordidas e rosnadas que trocaram que o Inuzuka, finalmente, vomitou que Hinata estava enfiada dentro da cede do Clã há meses parecendo somente para missões e, ainda assim, agindo como alguém que morreu por dentro e que, na opinião de Kiba, a culpa era de Naruto.

E de certa forma, Naruto concordava com ele.

Mas ele ainda não tinha ideia do que fazer e a culpa e o sentimento de impotência o estava lhe dando gastrite e nada estressava mais Naruto do que ficar sem poder comer. Contudo, quando ele reclamou com Sakura, ela disse que provavelmente era a dieta horrível dele e que “não sei como você ainda tem um estômago com o tanto de condimento e porcaria que você come nhem nhem nhem”. Sakura, na opinião de Naruto, sempre ficava mais chata quando Sasuke sumia por muito tempo e ele ainda não havia aparecido naquele inverno. Já que estava de mãos atadas quanto a Hinata, Sasuke não aparecia e os outros estavam muito ocupados para treinar com ele, e lhe dar vazão para expurgar suas frustrações, Naruto resolveu tentar relaxar em seu hobby secreto: jardinagem.

A ideia pareceu realmente muito boa quando ele a teve, depois de passar os últimos quarenta minutos pós despertar, deitado na cama, olhando pra mancha de infiltração no teto de seu quarto. Mas, ao sair e ver tudo coberto de neve, ele se sentiu murchar e voltou a ponderar se não era melhor ficar dentro de casa. O pensamento não durou muito, odiava a sensação de solidão que aquele apartamento vazio lhe dava, odiava os sinais de negligência na sujeira pelo chão, nas roupas largadas, odiava ainda mais ter que fazer as tarefas de casa. Além disso, seus músculos já estavam ficando doloridos por ficar tanto tempo deitado e ele não era alguém que conseguia ficar muito tempo parado, acabou por se forçar a levantar e caminhar até seu canteiro secreto apesar do tempo ruim, agora que havia se dado o trabalho de levantar esse vestir... não era como se ele tivesse alguma coisa melhor pra fazer mesmo.

Seu canteiro secreto, como ele secretamente chamava, era um pequeno cercadinho feito de potes velhos de lámen, em baixo de uma árvore, num canto escondido perto da academia que abrigava mudas de planta que Naruto achava interessante por variados motivos. Ele havia começado com as mudas de um projeto dos seus dias de graduando e acabou juntando com sementes dos legumes que Kakashi tentava o fazer comer quando ele era pequeno, tinha até um cacto, presente de Gaara – que era o único que sabia que Naruto gostava de plantas, descobrir que o ninja de Suna colecionava os vegetais foi mais um dos momentos de identificação que os dois tiveram e do qual Naruto tinha muito apreço – mas, nos últimos tempos, ele havia começado a tentar adicionar flores ao seu canteiro. Não era difícil, uma vez que, ele realmente parecia ter jeito para a coisa, um “dedo verde” como ele havia ouvido falar.

– Ah, então é seu esse canteiro! – ele levantou a cabeça, pronto para fugir ou negar, mas Ino levantou uma de suas sobrancelhas louras como se o desafiasse e Naruto, de joelhos, tentando tirar a neve de cima de suas plantas e salvá-las do frio, não estava em posição de dizer mentiras. – Com essa cerquinha – ela gesticulou com a bota para um dos potes de lámen – eu deveria saber – e riu.

– O que você quer, Ino?

– Ui, nada demais! – Ela se sentou no balanço, aquele muito especial para Naruto, o que só o fez se irritar ainda mais – só vim aqui ver se as plantas tinham sobrevivido à nevasca de ontem à noite.

– Você anda cuidando das minhas plantas’ttebayo? – a raia desapareceu momentaneamente numa exclamação sinceramente surpresa.

– Como você acha que elas sobrevivem ao tempo que você passa fora da vila, besta? Não é como se seu cercadinho de potes de lámem seja algum tipo de campo de força.

– Oh... – ele fez, com o cenho franzido e se achando meio estúpido – obrigado, eu acho’ttebayo – ele não sabia muito bem como se sentir agora que a pessoa mais fofoqueira de Konoha sabia de seu segredo. Não é que tivesse vergonha de gostar de plantas era só que, por toda sua vida, as pessoas sempre souberam mais coisa sobre Naruto que ele mesmo, as pessoas sempre guardaram segredos dele, era bom que, mesmo que fosse uma coisa tão boba, ele tivesse um segredo pra si próprio.

– Aliás, porque aqui? Porque não põe as plantas nuns vasos na sua casa?

Ele soltou uma risada sem humor.

– Lá mal tem espaço pra mim – respondeu entre os dentes.

– Hey, não precisa fazer essa cara, eu não vou contar pra ninguém que você tem um hobby tão delicado – disse Ino se balançando, ele resmungou alguma coisa sobre “não ser delicado”, mas ela não pareceu ouvir ou se o tinha não se importava. – Não! – ele parou o que estava fazendo, que era arrancar umas ervas daninhas raivosamente, para olhar para Ino com uma expressão aborrecida – não arranque essas! Presta atenção nas folhas – ela pulou do balando e se agachou ao lado dele, seu cabelo loiro, tão longo que, se ela não tivesse jogado sobre o ombro, estaria arrastando no chão – essas “coisinhas” – delicadamente, ela tocou na estrutura capsular em meio as folhas – são botões, isso aqui vai estar tudo florido em algumas semanas.

– Você colocou flores no meu canteiro? – e verdade que ele estivera tentando plantar flores ele mesmo, e que, provavelmente, a interseção dela o pouparia de trabalho e frustrações futuras, mas, ainda assim, se sentia violado.

– Achei que estava precisando delas, o que? Você é muito “macho” para flores ou coisa do tipo?

– Urgh – ele fez numa voz estrangulada, tentando controlar seu próprio gênio e mais uma vez ela não pareceu se notar, ou quiçá, se importar – que flores são essas afinal’ttebayo?

– São Galanthus nivalis, campânulas brancas ou gotas de neve – ela se levantou, dando tapinhas nos próprios joelhos para limpar a neve e a terra da saia – as plantei porque elas são resistentes e geralmente abrem no fim do inverno. Sabe, elas simbolizam gratidão e esperança.

Ela disse as últimas palavras com uma entonação engraçada e o olhando fixamente, tão fixamente que Naruto sentiu os cabelos de sua nuca eriçar, o que afinal ela queria? Ino tinha um jeito mais assustador que a Sakura!

– São delicadas e meigas, ótima escolha para presente de aniversário. Também é bem romântico se forem dadas de cultivo próprio.

– Presente de aniversário? Do que você está falando’ttebayo? – Naruto se sentia perdido, o que diabos Ino queria afinal?

– Você não sabia? – disse ela no mais falso tom de surpresa do mundo – o aniversário da Hinata e na outra semana, a festa vai ser na casa da Kurenai-sensei.

– E você está me dizendo isso, por quê?

Ela soltou uma exclamação frustrada.

– Ai Naruto! Sinceramente! Acho que depois de anos convivendo com gente como o Shikamaru eu realmente não tenho paciência pra gente burra. Ou gente que se faz de burra, todo mundo sabe que você finalmente já sabe como a Hinata se sente.

– Ah, eu sei que o Kiba, aquele cachorro, já fez fofoca pra você’ttebayo. Mas festa? Pra Hinata? O cachorro fofoqueiro também não te contou que ela nem sai mais de casa? Porque acha que ela iria numa festa?

– Ela iria se você fosse. Costumava funcionar como truque pra tirar ela de casa, antigamente, dizer que você estaria lá.

– Eu não acho que isso funcionaria agora – respondeu ele amuado.

– Ué, por quê?

– Hinata está me evitando dattebayo...

– Oh... Isso complica as coisas.

– Bastante’ttebayo... – ele se sentou sobre os calcanhares com uma expressão derrotada.

Ino cruzou os braços e estalou a língua em reprovação, então aquele era o herói que nunca desistia? Que piada!

– Você não deveria desistir assim tão fácil também!

– E o que você quer que eu faça? Que eu force ele a falar comigo? Quem você acha que eu sou’ttebayo?

A Hinata, ele pensou com raiva, teve gente a forçando a fazer coisas que ela não queria por toda a vida, ele não seria uma dessas pessoas.

– Wow, também não precisa se ofender. Mas, acho que você deveria tentar de verdade, pelo menos, ou você não está interessado o suficiente?

– Claro que estou interessado dattebayo!

– É mesmo? – disse ela num tom falsamente condescendente. – Não sei se acredito em você ou se ainda quero que você fale com a Hinata. Não com essa atitude, aliás, hipoteticamente, se você falasse com ela, o que você diria afinal? Quero dizer, por mais que eu ache que a Hinata deva sair desse casulo onde ela se enfiou – o tom dela mudou para um bem sério e assustador – eu não vou deixar que ela saia só pra você estragar tudo partindo o coração dela, Uzumaki.

Ino exalou longamente, sua respiração quente formando uma nuvem de ar condensado a sua frente, e os dois se encararam por alguns momentos com expressões duras, Naruto tentando resolver a discussão que travava internamente e Ino com aquele ar superior, mas, por dentro, tranquilamente esperando suas palavras fazerem efeito. Não eram só flores que ela havia plantado. Palavras bem medidas, ela sabia, tinham o poder de desabrocha e dar frutos satisfatórios se bem empregadas. Mas, com a demora do loiro em responder, ela estava começando a ficar preocupada, todo aquele esforço mental não podia estar fazendo bem alguém como Naruto.

– Eu quero dizer a ela que estou grato’ttebayo... A Hinata... ela é uma pessoa muito importante pra mim, a quem eu devo muito, mas... – ele agarrou os cabelos com força – eu não sei bem como dizer isso’ttebayo! Ela tem andando tão mal... E que direito tenho eu de me meter na vida dela, afinal? – ele soltou uma exclamação de frustração. – Mas mesmo assim! Eu fiz uma promessa’ttebayo! Ela diz que eu não devo me sentir responsável, mas e se eu quiser me sentir responsável’ttebayo?

Ela pestanejou, inclinando o corpo um pouco para trás conforme as palavras que ele disse penetravam em sua mente.

– Wow! Isso foi... intenso – disse ela assombrada numa atitude surpreendentemente sincera.

Ele fez uma careta.

– Desculpe, acho que não deu pra entender metade do que eu disse’ttebayo...

– Oh se deu e, depois de ouvir isso, você tem o meu apoio. Apareça na festa, Naruto, eu vou fazer com que ela vá, não há nada que uma chantagem emocional feita com ajuda da Kurenai-sensei não consiga da Hinata. Ah, eleve as flores, Hinata vai saber o que elas significam.

– Hey! Não é certo você forçar a Hinata assim!

– O que não é certo é ela agir como se tivesse sido ela a morrer na guerra. Hinata está viva e precisa se lembrar disso.

– Ainda assim, não acho que você esteja em posição e tomar essa decisão por ela’ttebayo.

– Eu posso estar sento um pouco agressiva? Talvez, mas esse é meu jeito de dizer que me importo, Hinata é minha amiga, eu me sinto culpada por ser tão brusca, mas ainda é melhor do que assistir ela murchando.

Naruto ficou realmente surpreso com toda aquela conversa, nunca tinha parado pra pensar que Ino e Hinata fossem próximas – ele teve a impressão de ouvir, no fundo de sua mente, Sakura gritando sobre como ele ignorava que as pessoas continuassem a viver quando ele não estava olhando – mas, pensando bem, Ino e Hinata tinham de fato algo muito importante em comum, Kurenai. Sendo uma aluna da jounin e a outra aluna do homem com quem Kuranei havia tido um filho, fazia sentido que as duas tenham se aproximado durante os processos de gravidez e luto da sensei. Sem falar de que, pelo que Sakura falava de Ino, a loira costumava gostar de pegar tipos como Hinata, como seus projetos, não era de todo ruim, ele pensou, Ino poderia ajudar Hinata a ser mais firme, se gostar mais, mas ao imaginar Hinata agindo como Ino sentiu um arrepio, Ino era sempre tão... brusca. Entretanto ele não achava que uma mudança de armário para algo mais próximo do que a loira usava seria uma tragédia total. Oh céus, da onde veio aquele pensamento? Ele havia mesmo sido contaminado por Kakashi-sensei e Erro-sennin? Credo! Naruto conseguia sentir Neji o julgando do além.

– Bem, você sabe quando é o aniversário dela, né? Dia vinte e sete, vai ser de tarde por causa da Mirai-chan.

– Oh... ok.

– Não se esqueça das flores! – ela completou enquanto de afastava.

Naruto desviou os olhos da figura de Ino para se voltar as plantas, havia ficado tanto tempo de joelhos que com certeza teria queimaduras de gelo, mas Kurama daria um jeito nisso, então ela não se importava muito. Ele voltou a cuidar de seu pequeno jardim não-tão-mais secreto tomando especial cuidado com as mudas que Ino havia plantado. “Gratidão e esperança” ela havia dito, ele nunca havia pensado que plantas poderiam ter algum significado, gostava ainda mais delas agora que o sabia e, especialmente, o significado daquelas que ainda estavam para desabrochar.

N/A: Esse capítulo foi mais difícil. Eu demorei séculos para me decidir sobre as flores, ainda tive que pesquisar sobre plantio, significados e tudo mais. Depois o problema foi a caracterização da Ino, coisa da qual ainda não estou 100% confiante. Vocês sabem que eu estou há muito tempo longe do fandom e ainda era adolescente quando parei de acompanhar o mangá, estou enferrujada. Tive que reescrever o capítulo inteirinho porque não gostei da primeira versão, mas foi bom, pra exercício, sabe? A segunda versão, a que vocês leram, é gratificante para mim em especial por eu, finalmente, ter usado a adorável informação de que Naruto gosta de jardinagem. Mas não ache que ele seja um expert, o cacto de Gaara provavelmente morreu por causa da neve haha. O tema jardinagem (que volta no próximo capítulo) também é uma pequena homenagem a fic que me eu li ano passado e que, ao me encantar, voltou a me inspirar para escrever para esse fandom. O título é “Rosemary for Remembrance” da Sintari, infelizmente a fic só se encontra disponível em inglês e, ao contrário desta fic, não termina em NaruHina (embora tenha NaruHina, mas o que acontece ao nosso OTP é muito triste naquela fic e partiu meu coração).

Mas se vocês puderem, leiam Rosemary mesmo assim, minha caixa de mensagem sempre estará aberta para gente chorando comigo sobre amores que duram por anos, amores que secam como lagos e amantes que cheiram a fogo.

Sabe para o que mais minha caixa de mensagem está sempre aberta? Reviews.

Beijos.


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