Mistake escrita por Lola Andrade


Capítulo 4
Choros e vozes.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo postado, eu ando conseguindo escrever tranquilamente a história, então isso é bom pois atualizo com uma frequência ótima.

Espero que gostem e boa leitura!



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Timothy abriu os olhos, estava em sua cama. Ficou convencido de que tudo foi um sonho, a sua realidade era outra bem diferente. Saiu devagar da cama indo em frente ao espelho, sua aparência era a mesma, estava fedendo, com os cabelos negros até os ombros, seus olhos castanhos com aquele aspecto desanimado, acima do peso, suas olheiras e espinhas também estavam lá. Tudo voltou ao normal. Sofia, Ezrael, as almas daquele mundo, tudo havia desaparecido.

Olhou para o relógio e viu que já era tarde, acordou meio dia, o lado bom é que já poderia almoçar. Quando abriu a porta de seu quarto viu Ezrael assistindo televisão na sala, estava sentado ao lado de sua mãe. Sua aparência agora era assustadora novamente, pensou em cumprimentá-lo, mas deixou essa ideia de lado.

–Mãe onde está o papai? -Pegou os pratos e talheres para se servir, a comida que a mãe tinha feito era simples. Arroz, bife empanado, feijão e salada de rúcula.

–Foi para o Trabalho, ficamos preocupados contigo Timothy…

–Eu apenas dormi, qual o motivo da preocupação?

–Você dormiu durante uma semana, chamamos o médico e nem mesmo ele soube explicar a razão disso ter acontecido, talvez poderia ser o fato de você não dormir com frequência.

–Estou bem agora, mas morto de fome… Acho que isso explica.

–Fizemos bastante comida por precaução, ficamos todos os dias esperando que você acordasse.

–Mãe, por que está sozinha em casa comigo? Você tem medo que eu te ataque, eu sei disso…

–Que pergunta repentina, bem… eu me viro caso você faça algo.

–Conheceu Azrael? -Depois de se servir foi sentar no sofá próximo ao da mãe.

–Quem é esse?

–Meu amigo, acho. Ele é meio calado…

–Como ele é?

–É a morte, igual nos filmes.

A morte apenas deu um sorriso para Timothy, ele estava confuso em relação ao que Sofia disse, se ele precisava se matar para chamá-lo, por quê ele estaria ali?

–Filho… você sente que vai morrer?

–Não sei dizer se é isso, acho que a morte quer ser minha amiga, quer me levar e se sentir menos solitária.

–Não diga isso, você é novo de mais para morrer!

–Não se tem uma idade certa para morrer mãe, isso é relativo.

–Eu sei Timothy… mas, não está pensando em se matar, está?

–Se for como ela disse talvez eu faça.

–A morte? -A mãe dele parecia chocada, estava com medo do que seu filho pudesse tentar fazer.

–Não, Sofia… ela me ofereceu o que todos humanos procuram, a felicidade eterna.

–Por favor, viva. Sabe que te amo Timothy. -Ela deu um abraço gentil nele, o apertou bem forte. Fazia tempo que ele não ganhava um abraço de sua mãe, ou que ouvia ela dizer aquelas três palavras que deixavam seu coração tão calmo, ele realmente gostava de ouvir um eu te amo.

–Eu to com medo, não sei o que escolher.

–Seja forte e encare sua realidade. -Ela deu um beijo em seu rosto.

Ezrael fez um gesto positivo com a cabeça, mesmo que ele fosse a morte, não queria que Timothy cometesse suicídio. Desapareceu logo em seguida, deixando apenas uma pena preta sobre o sofá.

Um pouco aliviado ele suspirou, se sentia seguro. Lavou a louça e foi para o quarto, estava estranhando não ter dado surtos, ou não ter atacado sua mãe, sabia que não estava curado, mas sabia que estava um pouco melhor.

Olhou por sua janela o mundo lá fora, via pessoas como ele rindo e brincando, ou até mesmo casais adolescentes na rua. A verdade é que esse era seu maior desejo, ter uma vida socialmente normal. Ele pôde ter isso durante um tempo, mas faz tantos anos que não se lembra muito bem dos amigos que teve, ou do que fazia na escola quando era pequeno.

“Timothy, estou aqui.” Ele ouviu uma voz em sua mente, era a voz daquela garotinha que desapareceu em seu sonho, Emily. Ficou quieto, sabia que era tudo coisa de sua mente, mas ela não desistiu. “Fale comigo, não sou má como a rainha.”

–O que foi? Onde você está? -Começou a olhar para os lados mesmo que a voz viesse de sua mente.

“Você não pode me ver, mas pode sentir minha presença.” Nesse momento ele sentiu braços finos e gelados ao seu redor, lábios molhados e frios em sua bochecha, não tinha dúvida de que ela estava ali, mas não entendia o motivo disso.

–O que quer Emily? Seja clara… -Ele tentava esconder o medo que sentia, em seus sonhos era mais fácil aceitar coisas do tipo, mas quando essas coisas aconteciam na sua vida real, sentia calafrio até mesmo em suas espinhas.

“Me desculpar. Não sou eu, eu juro! Estou presa no lugar mais fundo e imundo do castelo, estou nesse momento sem meus dois olhos, meu corpo está todo marcado por cortes feito com as mais diversas armas possíveis, todas as minhas unhas do pé foram arrancadas, dói muito…”

–O que quer que eu faça? Te salve? E o que não é você? Está se desculpando pelo que?

“Sei que estou te deixando confusa, deveria aparecer para você, mas minha aparência lhe assustaria.”

–Emily… quem te machucou?

“Há maldade em tudo naquele mundo Timothy, não aceite ser rei, não aceite o que eu aceitei…”

–Acho que você não entende o que é ser clara… -Ele suspirou fundo, não entendia o que Emily dizia, mas sua voz de veludo o deixava calmo, o medo que estava sentindo antes estava sumindo.

–Pode aparecer, com ou sem olhos, não ligo se estiver sem unhas também. -Sua curiosidade estava o matando, sabia que não sentiria tanto medo, já havia visto coisas muito piores.

Aos poucos um vulto branco se formou em sua frente, agora Timothy estava com um pouco de medo do que veria, mas para sua surpresa era apenas a garotinha. Vê-la sem olhos era de fato agoniante, seu corpo estava mesmo cheio de marcas, ela estava acorrentada.

–Viu? Estou horrível… -Agora a voz não vinha mais da mente dele e sim do espírito da garota, mas ela não parecia ter nove anos e sim dezesseis. Estava nua, parecia sentir frio, já que tremia.

–Não quer vestir uma roupa? -Ele ficou um pouco envergonhado, nunca havia visto uma garota nua, além disso sentia-se meio estranho se sentindo atraído por um espírito.

–Não posso usar roupas, coisas materiais atravessam meu corpo. -Ela sorriu.

–Bem… Emily, por que tudo o que você diz é confuso?

–Por que não tenho permissão para falar tudo o que quero, não posso explicar, isso seria proibido também.

–Mas, o que fez com que viesse falar comigo?

–Não sei ao certo, com muito esforço consegui ficar um pouco ao seu lado, estou feliz Timothy.

–Gosta tanto assim de mim? -Ele franziu a sobrancelha.

–Claro, mesmo agora, mesmo você não estando completamente bem.

–Não minta para mim, olha como sou feio, estranho, sou uma aberração!

–Não acho, você é fofo Timothy. -Ela deu uma risada baixa.

O elogio o deixou sem jeito, ele nunca conversou com uma garota da sua idade, ou próximo disso, estava feliz por socializar, mesmo acreditando que aquilo era parte de sua imaginação. Conversaram durante muito tempo, desenharam juntos, até que a morte a levasse para longe. Timothy soube agora de onde vinha os gritos que escutava, Emily contou que o que ele ouvia eram os gritos e todo o sofrimento que ela passava por conta de algo, que também não poderia contar. No final ele acabou adormecendo por estar entediado.

✺ ✺ ✺

Novamente abriu os olhos, estava em Derorrim. Novamente naquela floresta cheia de neblina e sem luz solar.

–Está atrasado… -Azrael saiu de trás de uma árvore, novamente era um garoto. Tinha os cabelos castanhos claros e curtos, olhos acinzentados, pele extremamente branca, usava um terno, aparentava ter vinte e oito anos.

–Está arrumado, vai me levar até o castelo?

–Hoje daremos uma festa para você, seu aniversário passou e não lhe demos presentes. Todos desse mundo estão convidados.

–Mas, eu não queria uma festa.

–Sofia está tentando te agradar, seja mais gentil.

–Desculpe… Por que tirou Emily de mim mais cedo?

–Vocês não podem ser amigos, ela pertence a esse mundo.

–Por que ela sofre tanto? É horrível ouvir os gritos e choros.

–Lembre-se não sou obrigado a responder suas perguntas, sou apenas seu guia.

–Ela estará na festa?

–Por que o interesse nela? É Sofia quem deveria querer ver. -Agora ele engrossou a voz, parecia estressado.

–Eu quero também, mas…

–Mas? -A morte parecia realmente impaciente.

–Nada, esqueça. Vamos encontrar Sofia.

Depois de muito tempo caminhando notou que todos haviam crescido, as almas que antes a maioria aparentemente eram crianças pareciam adolescentes, pareciam mais felizes também, mas ainda pareciam estátuas vivas. Quando avistou Sofia notou que estava toda arrumada, usava uma coroa preta, um vestido da mesma cor que ia até seus pés. A ponta de seus cabelos estavam vermelhas.

–Sofia? -Ele estava surpreso, até mesmo ela havia crescido, seu corpo agora tinham curvas mais definidas, ela estava mais alta, a única coisa que não achou muito atrativo na nova Sofia eram as unhas pretas gigantescas que ganhou.

–Chegou, estava com saudade. -Ela o abraçou.

Foram para o interior do castelo e aguardaram os convidados, Timothy estava desanimado, olhava pela sacada do castelo os convidados e nada de Emily, queria ver como ela ficaria em um vestido de festa. Timothy teve a mesma simpatia por ela que teve com Azrael, sentia que podiam ser amigos.

“Desculpe, não posso ir na festa, hoje a noite será sua e da Rainha.” Ele ouviu a sua voz de veludo, estava em sua mente novamente, não queria que Sofia ouvisse então não respondeu. “Sei que ela está do seu lado, ela não permitiu minha saída ainda…” “Desculpa mesmo, eu adoraria ver como você fica usando um terno.”

Timothy se sentia desconfortável em ouvir a voz dela mas não poder respondê-la, Sofia percebeu que sua cabeça estava em outro lugar, ele estava ignorando aquela festança gigantesca, parecia que não queria socializar no momento.

–Timothy… venha comigo. -Sofia pegou em seu braço o levando para um dos quartos do castelo.

–Você não precisa dela, você tem a mim. -Seus olhos encheram de lágrima.

–Sofia?! De quem está falando?

–Você sabe, não se faça de idiota. -Ela o abraçou.

–Você quer me ver nua, não é? Quer mesmo uma noite de prazer com uma garota. -Sofia sussurrou com uma voz sedutora no ouvido dele.

–Não seja idiota, além disso… seria estranho transar com um fruto da minha imaginação.

–Você ainda acha que isso não é real? Você é mesmo ingênuo, bem… daqui a três sonhos você terá que me dar uma resposta.

–Três? Até onde sei o prazo foi de trinta dias.

–Mas você sonha por uma semana com isso, ou seja, você tem quatro sonhos antes da sua decisão, o primeiro conta como um.

–Você não me disse nada disso Sofia! -Ele aumentou o tom de voz.

–Não tenha medo, eu serei o que você quiser. Você será feliz.

–Você é estranha, isso é bizarro. Essa merda está começando a parecer mais pesadelo do que sonho!

–Tudo isso por um brinquedo? Quer Emily? Pois bem… te levarei até ela. -Sofia segurou com força o punho de Timothy, fincou suas longas unhas contra sua pele deixando feridas profundas, por onde andava o sangue dele escorria, ardia muito, ele começou a se sentir fraco conforme o sangue caia, seria aquele seu fim?

Chegaram na parte mais funda do castelo, o lugar era tão fechado que dava a impressão de perder completamente o fôlego. Quando Sofia abriu a porta ele viu Emily, amarrada a várias correntes e perdendo muito sangue.

–Vai me matar Sofia? Vá em frente… eu não tenho medo de você. -Ela o tacou no chão ficando sobre ele.

–Meu doce e inocente Timothy, eu não irei matá-lo, vamos apenas fazer uma peça para sua amiga, eu escrevi o roteiro, você será minha marionete. -Sofia deu um sorriso diabólico.

–Emily, sabe quem ele é? Sei que gosta dele, mas… -Sofia começou a amarrá-lo, pegou primeiro um alicate.

–Pare Sofia, eu que falei com ele, ele não teve culpa. -Ela cuspiu um pouco de sangue.

–Silêncio, vou começar o show. -Ela colocou o alicate próximo aos pés de Timothy, arrancou suas unhas uma a uma, depois com uma agulha furou seus olhos, pegou uma faca e foi fazendo cortes por todo seu corpo. Os gritos dele soavam como uma linda melodia para ela, o choro de Emily completava esse “belo” som.

–Agora vocês ficarão iguais, vocês são lindos juntos. -Ela ria enquanto o torturava lentamente. Sofia era inteligente, não o mataria para conseguir curá-lo depois, além disso garantiu também que ele não se lembraria de nada no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Cara fiquei muito feliz de achar essa imagem, por que me lembra perfeitamente a Sofia *u* ~Acho que vocês notaram pela descrição que dei~

Bem, espero que estejam gostando da história! Não deixe de comentar, pois isso certamente me deixará muito feliz :3

Byebye



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