Mistake escrita por Lola Andrade


Capítulo 3
Viver ou ser feliz.


Notas iniciais do capítulo

Olá galero, espero que gostem do capítulo tanto quanto eu gostei. Agora a Sofia vai aparecer, o que será que acontecerá com Timothy?

Boa leitura!



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Timothy não entendia mais nada, não sabia a razão da morte ter se tornado humano, ou por qual razão ela estava em seu sonho.

–Meu guia? Eu conheço esse lugar melhor que ninguém, você não precisa me ajudar. -Ele franziu a sobrancelha.

–Apenas faça o que eu digo…siga-me. -A voz da morte era rouca, sombria e ele falava devagar.

Conforme caminhava Timothy notou que o lugar que sempre sonhou havia mudado, a floresta ainda tinha todo aquele aspecto tenebroso e triste, mas agora tinham casas, eram bem coloridas e divertidas, o que certamente não combinava com o lugar. Havia também pessoas, mas elas estavam mortas, eram completamente pálidas, pareciam estar cansadas.

–Por que há pessoas mortas aqui? -Timothy pareceu assustado.

–São almas, para que você não se sinta solitário e tenha com quem conversar.

–Mas… são bizarros, me comunicar com mortos não é algo muito comum.

–Meio irônico, você está falando com a morte agora.

–Você tem razão, aliás… por quê está aqui?

–Não posso dizer Timothy, não faça perguntas.

–Mas… você não tem que buscar outras pessoas? Pessoas morrem o tempo todo.

–Não são todos que conseguem ver a minha personificação, eu sou uma entidade.

–Entendo, mas não se vê sua personificação apenas quando morre?

–Não faça perguntas. -Ele começou a andar mais rápido.

–Não fique estressado, você tem um nome?

–Tive vários nomes no decorrer da evolução da humanidade.

–Diga alguns deles?

–Abbadon, outros me conhecem por shinigamis, que não é bem um nome, apenas significa anjo da morte, também Azrael. A razão pela qual me imaginam como uma caveira com túnica negra, uma foice e asas vem da cultura grega de Hades.

–Como gostaria de ser chamado?

–Azrael, se não se importar.

–Não me importo, mas me diga uma coisa.

–Dependendo do que for posso responder.

–Você é algo bom ou ruim?

–Depende do seu ponto de vista Timothy. O que é a morte para você?

–É quando você leva nossos entes queridos para longe de nós, há mortes trágicas, outras naturais. Mas, você é justo, chega para todos, acho que vejo a morte como algo bom, o descanso para os cansados, ou para quem não quer mais permanecer em um corpo.

–Eu sou solitário, porque nunca permaneço com alguém, meu trabalho é levar as pessoas embora, apenas isso.

–E por que está comigo?

–Você é teimoso, não posso responder suas perguntas!

Então ele cansou de tentar descobrir algo a mais, simplesmente seguiu Azrael. No caminho viu que havia coisas diferentes, a floresta que sempre sonhou que tinha apenas grandes árvores com musgos, agora tinha também algumas rosas, mas eram negras, tanto suas pétalas, quanto seus caules e folhas. A neblina atrapalhava a visão do caminho a frente, mas quando finalmente saiu da floresta pôde ver aquele castelo, lugar onde todo seu desespero acontecia, sinceramente, ele não queria entrar lá.

–Te deixo aqui, Sofia lhe espera. -A morte desapareceu no meio da neblina, Timothy não queria que ela fosse. De alguma forma, se sentia menos solitário ao seu lado.

Seu corpo todo estremeceu, ele estava com medo do que encontraria lá, não queria brincar com Sofia, não queria vê-la, na verdade, não queria nem entrar naquele castelo. Pensou em dar meia volta e tentar achar uma saída, mas quando virou tinha uma daquelas almas que viu antes. Parecia uma estátua viva já que era completamente branca, seu olhar parecia triste, era uma garota, aparentemente com uns nove anos de idade.

–Qual seu nome garotinha? -Ele tentou deixar o medo de lado e conversar com ela.

–Emily… Timothy a rainha é má…

–Do que está falando? Como sabe meu nome?

–A rainha quer que você se torne rei. -A voz da garotinha era baixa e delicada, tinha um toque de ternura em cada palavra que dizia.

–Rei? Eu ser rei? -Ele estava confuso, não entendia do que a garota falava.

–Apenas não morra Timothy, ou vai acabar como eu. -Ela colocou a mão sobre o rosto dele, uma lágrima escorreu por sua bochecha e ela sumiu no ar, como se fosse poeira.

Por alguma razão aquelas palavras causaram uma angústia enorme nele, além do fato de seu medo ter aumentado. Respirou fundo, virou-se novamente começando a caminhar, sabia que Sofia estava o esperando. O castelo estava a menos de quatro metros de distância, o grande portão estava aberto, formava uma ponte sobre o rio.

Parou em frente a ponte, em seguida colocou seu pé direito nela, caminhava devagar, suas pernas estavam bambas, não sabia como iria encará-la, ou o que diria quando a visse. Quando entrou no castelo a porta se fechou, agora estava dentro daquela construção toda preta, com as parede cheias de rachaduras, a única coisa que iluminava seu caminho eram as tochas fixadas nelas.

O silêncio predominava o local, tudo o que escutava era sua respiração ficando cada vez mais alterada, e seus passos. Ele estava soando frio, sentia tontura, pensou que iria desmaiar. Estava ficando cansado, estava perdido naquele enorme castelo, os corredores não eram os mesmos de quando era pequeno, ou seja, o local se tornou um grande labirinto.

Sem esperanças e com fome ele já pensava no pior, pensava que jamais conseguiria achar o caminho certo, ou que morreria de fome, talvez precisasse até mesmo se alimentar de alguns ratos que encontrou no caminho, ou até mesmo comer aranhas, o que naquele castelo tinha de sobra.

Quando pensou em descansar ouviu um piano, a música que escutava era perturbadora, piano é um instrumento com um belo som, mas também é ótimo para fazer músicas sombrias. Um pouco cansado começou a subir a grande escadaria que encontrou, o som parecia estar no fim de todos aqueles degraus, provavelmente Sofia estava tocando o piano.

Depois de meia hora subindo aquelas escadas que já parecia não ter fim, chegou a sala principal, onde havia sido torturado. Os instrumentos utilizados estavam dependurados na parede, o lugar era o mesmo, a cadeira com as correntes estavam ali também. Sofia estava ali, de costas para ele com seus longos cabelos negros e encaracolados, tocando o piano com suas frágeis mãos brancas.

–Timothy… Você demorou. -Ela deu uma risada baixa.

–Desculpe a demora. - Ele não sabia a razão de estar se sentindo normal perto dela, é como se Sofia não lhe causasse mais nenhum sentimento ruim, ou que todo aquele medo que tinha dela tivesse desaparecido.

–Venha aqui, estou tocando o piano, não quero parar essa bela melodia. -A voz de Sofia parecia de veludo, era calma também.

Devagar Timothy se aproximou dela, olhou diretamente para seu rosto, para sua surpresa as raízes haviam sumido, estava com os dois olhos, suas íris ainda possuíam a cor vermelha, mas ela parecia um pouco mais normal agora.

–Sofia? Você parece… diferente. -Ele sorriu, sentia um pouco de medo da reação que ela teria.

–Espero que isso seja algo bom. -Ela parou de tocar o piano, levantou-se ficando bem próxima dele, seu olhar ainda o assustava, mas não como antes.

–É sim. Tenho dezessete anos agora, estou aqui. -Timothy Sorriu.

–Eu sei… finalmente chegou, por favor siga-me.

Sem questionar ele a seguiu. Sofia estava usando um vestido vermelho longo, de alça, deixava a cintura fina dela mais definida, o pequeno decote destacava seus seios médios. Seus cabelos negros iam até sua cintura, ela estava muito bela, seus lábios vermelhos deram um toque final a sua aparência. Seu corpo agora não era igual ao de uma criança, mesmo que seus seios não tenham crescido tanto, agora aparentava ter quinze anos.

–Onde estamos indo?

–Brincar Timothy…

–Brincar? Do que exatamente?

–Você gosta de animais? Vamos andar em cima de Lobos gigantes.

–Qual a pegadinha? -Ele não acreditava que ela queria fazer algo tão inofensivo.

–Não quer isso? Foi o que disse a Rubens então… quer garotas? Sexo? -Ela pareceu irritada, parou no meio do caminho.

–Não quero isso, por mim está ótimo Sofia. -Dessa vez seu corpo gelou, mas ele não demonstrou medo. Então ela havia observado o tempo todo a sua conversa com Rubens?! Timothy estava com medo de que ela estivesse escutando a parte em que ele a chama de demônio e que ficasse brava com isso, mas ela não falou nada sobre.

Saíram do castelo, estava novamente naquela floresta. Onde ela passava os espíritos se curvavam, dava para perceber que a autoridade que ela possuía sobre aquele lugar era enorme. Depois de um tempo caminhando viu Azrael, ele estava controlando dois lobos pretos, um de sete cabeças e o outro com quatro, eram enormes, diria que tinham quatro metros de altura. Ele alimentava os lobos com as almas daquele lugar, eles estavam algemados, não demonstravam sentimento nenhum diante aquilo, não pareciam ter consciência.

–Pronto, para subir é simples, apenas voe. -Novamente Azrael desapareceu, sem deixar rastros.

–Está pronto? -Sofia sorriu.

–Pronto? Eu não voo.

–É verdade, então me dê a mão. -Ela estendeu a mão dando um sorriso.

Timothy pegou a mão dela e começou a flutuar, sua mão era gelada, sua pele era branca, com certeza Sofia era uma garota morta, assim como todas as pessoas de Derorrim. O seu lobo era o de quatro cabeças, o dela o de sete, eles corriam rápido. Ele se divertiu sentindo aquela brisa contra seu rosto, ele não conseguia acreditar que seu pesadelo havia se tornado um sonho, ainda era bizarro, mas o seu maior medo havia se tornado sua amiga, assim como quando tinha sete anos de idade.

Se ele pudesse ficaria para sempre naquele lugar, lá ele não era louco ou doente, afinal o que via era completamente aceitável para um sonho. Timothy estava sorrindo como nunca sorriu antes, não podia acreditar que talvez pudesse passar a dormir melhor a noite. Com certeza gostaria de ter o mesmo sonho mais vezes.

Depois do passeio foram para o topo do castelo, onde se tinha visão de toda a cidade, de todo aquele mundo. Estavam tomando chá, comendo biscoitos, agora sim, seu sonho era exatamente como um conto de fadas, e ele preferia assim.

–Timothy, gostou da minha nova pessoa? -Ela tomou um pouco do chá sujando a xícara com o batom.

–Sim, você voltou a ser o que era quando eu tinha sete anos, mesmo que quisesse ser única na minha vida, você era boa e gentil comigo.

–Fico feliz que esteja feliz, volte aqui sempre que quiser, apenas chame seu guia, ele lhe mostrará o caminho.

–Chamar a morte? Como farei isso?

–Se mate. -Sofia sorriu, seu sorriso agora lhe deu um medo terrível.

–Se eu quiser voltar aqui, preciso me matar? -Agora ele parecia em choque.

–Não vai ser tão ruim, aqui você é um garoto normal Timothy, você será feliz para sempre em Derorrim.

–Mas… eu amo meus pais, mesmo que eu não me dê bem com eles, mesmo eu sendo esquizofrênico fora daqui, eu gosto de viver.

–Então viva, mas quero lhe ver mais vezes. Sonhe com isso novamente, assim poderemos nos ver, mas… se quiser ficar aqui para sempre se mate. Você morrerá lá, mas ficará vivo aqui. -Ela pegou a mão dele.

–Mas vou poder sonhar com isso todas as noites?

–Não, você terá um prazo. Você vai ter o mesmo sonho durante um mês, quando chegar o último dia você decide lá ou aqui.

–Mas eu não quero isso para mim Sofia, tem que haver outro jeito.

–Não há outro jeito, é isso. -Ela levantou-se, foi até a beira do castelo e se jogou.

Timothy correu para olhar se ela havia morrido, seu corpo estava no chão imóvel, seus olhos fechados, Sofia estava morta, mas qual o motivo dela ter se jogado? Ele não compreendia, estava com vontade de chorar, agora que as coisas pareciam certas isso acontece.

–Eu sou imortal, não se preocupe. -Ela apareceu atrás dele fazendo com que virasse, quando ele olhou novamente para o corpo, havia uma árvore no local, o corpo havia sumido, mas na mão de Sofia agora havia um corte, era pequeno.

–O que é esse corte na sua mão?

–Quando tento me matar ganho cicatrizes.

–Fez isso outras vezes então?

NÃO. -Ela pareceu séria, seu tom de voz soou assustador.

–Timothy… pense sobre o que eu disse.

–Pensarei Sofia, mas me promete uma coisa?

–Claro, o que quer?

–Que se eu aceitar ficar aqui para sempre… serei feliz.

–Juro de mindinho. -Ela estendeu o dedo e uma promessa foi feita, agora durante os próximos 30 dias, Timothy teria que fazer uma escolha.


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Notas finais do capítulo

Já sabem, todos os comentários são bem vindos, se notarem erros, avise que eu tentarei corrigi-los. Me digam o que estão achando da história, isso é importante para que eu possa melhorar o conteúdo!

Espero ver você no próximo capítulo! Bye.



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