Aquela caixa realmente mexeu comigo, não consigo parar de pensar nela… ― Por um segundo eu pareci apaixonado por uma caixa. Que raios está acontecendo aqui?

Será que eu deveria a levar pra casa? Minha humana iria achar, e depois ia jogar fora...melhor não.

Decido por deixar a caixa lá, porém, por precaução, deixo vários galhos no buraco que serve de entrada, para que nenhum outro gato  entre e a roube. Mesmo que eu não tenha entendido muito bem o significado daquele pequeno texto, tenho a sensação de que aquela caixa deveria ser aberta por mim. Eu certamente não conseguiria dormir por muito tempo, com aquilo me atormentando a cabeça.

Enquanto caminho, começo a me dar conta que passei tempo demais dentro da saleta. E quando digo tempo demais, estou querendo dizer que agora já é de manhã, sendo que, quando entrei, era de tarde… Acho que passei uma noite inteira lá dentro. Estranhei, de inicio: eu com certeza perceberia se tivesse passado tanto tempo dentro de uma sala.

Mas, pensando bem, talvez o tempo tenha corrido de forma diferente lá dentro, como se eu tivesse ido para uma espécie de Nárnia. Tudo isso passa pela minha cabeça, até eu me lembrar de algo: Onde raios Alice pensa que eu estou?

Chego em casa e comemoro internamente: a abertura com um tampo de vidro na parede está aberta, então entro por lá, encontrando logo em seguida uma pilha enorme de papéis em cima da mesa, com a palavra DESAPARECIDO escrita em letras grandes, uma foto minha de fundo. Quanto a minha humana, não a vejo em lugar nenhum.  

Saio procurando pela casa, tentando a encontrar… Porém, eu sou surpreendido quando, inesperadamente, ela me encontra primeiro.

Em uma fração de segundos sou tirado do chão e esmagado em um abraço, minha humana...está chorando?

Alice começa a fazer carinho entre minhas orelhas, o que compensa pelo esmagamento que aconteceu um pouco antes...enquanto eu fico relaxando em seus braços como um filhote de gato, ela fala que me procurou pela casa toda, e, como não me encontrou no andar de baixo, foi dar uma olhada na biblioteca no sobrado: ela pensou que eu estivesse lá, pois é onde eu fico deitado o dia todo, aproveitando as tiras de sol que chegam pela abertura da parede com o tampo de vidro.

Porém, como eu não estava lá, se desesperou, e criou um cartaz de desaparecido, imprimiu algumas cópias e saiu espalhando pelo centro da cidade.

Voltando a realidade, percebo que Alice me tirou do quentinho de seus braços, e me colocou em minha caminha, onde tem cobertas, mas elas ainda estão frias, e não me aquecem de jeito nenhum... Olho para o lado e percebo que tem uma luz saindo por baixo do que deve ser o ''banheiro'' como ela gosta de chamar o lugar que vai todo dia, e fica demorando enquanto eu durmo. O que ela faz lá dentro? O que tem lá dentro? Mistério dos humanos.

Algumas coisas que você deve saber sobre Alice: ela dorme muito, lê muito, joga muito, e depois brinca um pouco comigo com um aplicativo que ela criou, no qual um irritante ratinho fica andando pela tela do seu aparelho, enquanto eu tento o pegar ela fica rindo... humanos são MUITO estranhos, além de que ela nunca me ajudou uma única vez a pegar aquele rato infeliz!

  No tempo livre dela ― quando não está estudando pra faculdade ou INDO na tal faculdade ― ela pesquisa no notebook sobre tabelas que mostram basicamente como funciona o tempo para nós, gatos, e tenta acertar minha idade ― eu tenho 23 anos, se for contar do jeito que ela vê na tela brilhante que NUNCA me deixa dormir se eu estou por perto ― Ela fica um tanto com raiva quando vê que nossas idades não batem (ela tem 20, penso eu) porquê, pra ela, um gato e seu humano TEM que ter a mesma idade.

Amanhã ela vai pra faculdade de ''Artes Gráficas'', ou seja, vou ter a casa inteira só pra mim! E isso significa que as caixinhas de petisco vão ficar indefesas! Elas não perdem por esperar, o rei desta casa está pronto pro seu ataque final!