Tudo começou quando eu saí para passear, um sol que aparentava estar próximo da Terra o bastante para torrar a cabeça de qualquer desavisado que estivesse saindo por aí. É, eu sou o desavisado saindo por aí.

Todos os lugares mais frescos possíveis apareciam em minha cabeça, eu traçava mentalmente o caminho até o mais próximo, o que era necessário se eu não quisesse ser queimado vivo.

Primeiro pensei em alguma árvore, e depois em calhas, porém com esse sol as calhas deveriam estar fervendo como ferro derretido. Então, por que não combinar isso? Lembrei-me imediatamente daquela casa com a árvores na frente, árvore esta que produzia uma sombra maravilhosa sobre as calhas da casa, tornando impossível o sol por ali passar.

Então corri pra lá, tentando ser rápido ao pisar em partes mais quentes do asfalto, não queria dar adeus às minhas preciosas patas.

[...]

Finalmente, cheguei. Espreguicei-me sobre aquela calha fresca como uma pedra, aproveitando o frio que emanava dela, dando um fim no calor que se espalhou durante o dia todo contra minha pelagem.

Ser um gato tem suas vantagens, vamos concordar Não, não aqueles humanos que, ao se enquadrar em seu padrãozinho imposto, se acham melhores que os outros. Estou falando do gato mesmo, do felino, daquele que caça seu próprio alimento mas não recusa um petisco de seu humano.

Por mais que minha humana às vezes comente com seus amigos e namorado que EU sou o gato DELA. Admita, querida humana: Quem manda aqui sou eu, e não ao contrário!

Voltando de minhas divagações, percebo que um fio de cheiro se instalou no ar: parecia uma mistura de canela, com grama, e também levemente adocicado… Erva-de-Gato.

Persigo o cheiro por telhados, esquinas, ruas e mais ruas, até chegar em uma espécie de buraco. Era disforme, alguns pedaços de terra caindo, e era também a entrada para um túnel. Apertado, para um humano, talvez, mas perfeito para o tamanho de um gato, então o atravessei e saí em uma sala, com o teto abobadado, esculturas de gatos por toda parte. Uma pequena porta se encontrava no fim da saleta. A abri com minhas hábeis patas, e deparei-me com uma pequena caixa marrom-avermelhada.

Me pergunto mentalmente o que tem ali dentro, mas ao tentar abri-la me frustro, pois não consigo. Examino mais uma vez e acho uma parte atrás dela, que com detalhes pretos e brancos forma um tipo de ’’enquadramento’’ para os dizeres:

''encontrais um segredo,

talvez queira-o descobrir,

será que conseguirás?

Ou, como todos os teus irmãos, falharás?

levianamente, ignoraram o aviso, que a ler está agora,

enquanto pensa: ’’Abro? Ou vou me embora?’’
se segure um pouco mais, meu amigo gatinho, ao qual agora está, na mente com um redemoinho...ainda não é a hora, de essa caixa abrir, mas talvez conseguirá, segredo que abre a caixa, descobrir?''

Fiquei bastante confuso, as rimas batiam umas com as outras, e eu nunca fui bom de rimas. Mas captei a ideia geral: ’’criei esse texto inteiro só pra dizer em muitas palavras que você precisa abrir essa caixa, pegar o que tem dentro, e colocar’’. O que aconteceria se eu não conseguisse abrir a caixa? Ficaria sem brinquedos? Seria privado de sair de casa? Ou… Não, que crueldade… Eu ficaria sem petiscos?!