Quase Inocente escrita por ArkhNine


Capítulo 2
Estranha Coincidência


Notas iniciais do capítulo

Oi! Tô postando o segundo capítulo tão perto da data que postei o primeiro porque ameaçaram a minha vida. Nem escritores de fan fics estão seguros mais. Triste essa vida.
Aqui vai, espero que gostem!



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A lua já estava no ponto mais alto do céu, mas Ralph não conseguia tirar a família morta dos seus pensamentos. Ele estava congelado na beira da cama, sentado de costas para a futura esposa que provavelmente estava no sétimo sonho a essa altura. No fundo, ele se culpava por não ter dado muita atenção para ela essa noite, mas, nesse exato momento, sua culpa maior era não conseguir juntar os fatos e entregar uma resposta digna à esse caso.

– Eu achei que você só ia tomar um ar e depois vir deitar, amor. – A voz suave de Camille quebrou todas as correntes que prendiam os pensamentos do detetive – Você sabia que já passou 20 minutos sentado aí?

– Desculpa, eu te acordei, pequena? – Ralph sentiu a mão de sua namorada deslizar pelo seu ombro até o seu peito e então ergueu a sua própria mão e segurou a dela com carinho – São só pensamentos sobre o caso de hoje. Ele me pegou desprevenido. Prometo que não vou demorar pra deitar, mas enquanto isso, descansa por nós dois. Pode ser?

– Eu tenho uma ideia melhor – A teimosa deu um beijo na bochecha do amado e se levantou. Saiu do quarto exibindo as curvas de seu corpo trabalhado através de um baby-doll vermelho. – Eu vou preparar um café e você me conta tudo.

Ralph riu, olhando seu reflexo no espelho do quarto. Não era a toa que ele havia pedido aquela mulher em casamento. Ela era o pacote inteiro e mais. Ele se levantou, indefeso aos encantos da francesa. A máquina nova de café que haviam comprado já estava ligada quando ele chegou na cozinha. Ele se aproximou, virou o rosto de Camille e beijou-a, em uma mistura de delicadeza e paixão. Olhando ela nos olhos, ele sorriu, se afastou e começou a história desde o momento em que entrou na maldita sala de jantar. Ao terminar, já estavam sentados no sofá olhando suas xícaras, buscando o café que já havia terminado. Camille estava tão confusa quanto o esposo depois de ouvir o caso. Ela se levantou em silêncio, pegou os dois copos, foi a cozinha e voltou não só com eles cheios, mas com a disposição para discutir e tentar chegar a uma resposta.

– Primeiro eu achei óbvio que era o marido. Depois pensei: Provavelmente a mulher matou a família depois de falar com o marido e descobrir que ele estava prestes a se matar. Só que os vizinhos falaram do marido, ou melhor, alguém saindo da casa logo depois do jantar. Teve discussão também. E o laudo médico? Não serviu de nada?

– A nossa chefe decidiu arquivar o caso depois que soube do suicídio. Contei para ela sobre a conversa com os vizinhos, mas ela julgou que as informações eram “apenas fofocas de vizinhos que gostam de cuidar da vida dos outros”. Não pude argumentar com ela, quer dizer, que prova eu tenho de que eles estavam falando a verdade? Todas as evidências apontam pra dois suicídios. Temos causa e efeito jogados na nossa cara. Ao menos em parte.

– É verdade, você não tem prova. Esses vizinhos também não sabiam do suicídio. Só que você acredita no que eles falaram, não é? – Ralph confirmou apenas com um movimento de sua cabeça, seus olhos fitavam o café enquanto respondia Camille dessa forma. Ela, depois dessa resposta, encontrou o espaço que precisava para uma sugestão. – Por que você não liga para o Michael, amor? O caso pode ter sido arquivado, mas ele é seu amigo e vai querer te ajudar a tirar esse peso das costas.

Adams olhou para ela com admiração. Era momentos como aquele que lembravam a ele que ele devia muito para ela e nunca existiriam agradecimentos o suficiente para o bem que ela trazia para ele. Ele a beijou mais uma vez, sorridente e se afastou. Buscou o celular na mesa e foi para a pequena varanda do apartamento. Depois de três toques, a ligação foi atendida.

– Alô? – Respondeu a voz sonolenta do outro lado.

– Puta que pariu, eu esqueci da hora! – Ralph reclamou consigo mesmo – Desculpa, Michael. Foi mal te acordar, de verdade. Eu ligo amanhã. Desculpa.

– Ralph? O que foi, cara? Eu tô acordado. Que bicho te mordeu? – Uma pequena pausa surgiu enquanto Ralph ouvia uma risada do outro lado da linha – Aposto que foi uma picada parisiense, não é, seu safado? – Michael continuou rindo.

– Não! Quer dizer, é. Não, mas não é isso! – Ralph ficou sem jeito, o que fez Michael rir ainda mais. – Escuta, eu só tô com o caso de hoje na cabeça. A Camille sugeriu que eu te ligasse pra saber do resultado daqueles testes. Sei lá, talvez isso me ajudasse a dormir melhor, sabe?

– Ih, rapaz! – Michael respondeu com o seu bom humor de sempre – Então se prepara para dormir que nem um bebê! Os testes confirmaram que a morte foi por envenenamento. Um produto rural chamado Clean Crop. É vendido em quase todos os grandes mercados que tem uma sessão agrícola. Ele é usado nas fazendas para combater os insetos que atacam as plantações. Algumas donas de casa até matam ratos com isso. A questão é que o produto é tão concentrado que você tem que passar a noite fora de casa pra não se intoxicar. Não me pergunte como as plantações ficam intactas depois que usam isso nelas. Meu negócio são humanos, não plantas.

– Então a esposa colocou isso na comida, serviu os filhos e deu um fim a tudo ali mesmo?

– Se foi a esposa, o cachorro ou o papagaio, eu não sei, cara. Sei que tinha uma quantidade gigantesca dessa droga na comida. Sendo bem sincero contigo, eu duvido que eles tenham conseguido sequer pensar em dar uma segunda colherada e olha que não tô considerando as habilidades da mãe na cozinha.

– Entendi. – Ralph respirou fundo, como se tirasse um peso enorme das costas. No final, parece que a chefe estava certa quanto aos vizinhos mesmo. Ele foi tolo de acreditar em fofocas. – Obrigado, Michael, você salvou minha noite.

– Que isso! Precisando, é só ligar. Não é como se eu tivesse uma morena linda encomendada da Europa me esperando na cama. O máximo que tenho é umas fatias de pizza congeladas me esperando na geladeira.

– Bem lembrado, amigo. Bom apetite pra você e até amanhã. – Ralph sorriu – Obrigado de novo. – e desligou.

Sem pensar duas vezes, voltou para dentro da casa e viu Camille o esperando. Um sorriu para o outro. Palavras não foram necessárias. Ele deixou o celular na mesa, pegou a esposa no colo e a levou para o quarto, aonde passaram o resto da noite se amando intensamente.

No dia seguinte, Ralph acordou bem mais cedo que sua companheira. Ele se arrumou, evitando fazer barulho e saiu sem comer. Normalmente, tomava um café da manhã concentrado com sua esposa, mas dessa vez ficou com pena de acordar ela, então apenas deixou um bilhete se desculpando pela ausência. Seu café da manhã, não tão bem feito como seria em casa, foi na lanchonete que ficava no quarteirão ao lado da delegacia. O local era o ponto inicial do dia de muitos oficiais de policia e por isso Ralph não se surpreendeu ao encontrar Kurt comendo em uma das mesas. O detetive se juntou ao seu parceiro e tiveram uma conversa bem cotidiana e sem assuntos negros de trabalho. Riram e brincaram. Aquele assunto que o deixou sem dormir no começo da noite passada já tinha sido deixado para trás e mesmo que ele não percebesse nisso no momento: Esse simples fato estava fazendo muito bem para ele. Tudo parecia, inclusive, bem demais para ser verdade. Até que o instinto de detetive de Ralph acabou o fazendo ouvir mais do que queria (ou devia), vindo da mesa ao lado.

– Eu tô te falando, Fred, foi a maior loucura! Todo mundo foi pra lá achando que tinha sido um caso de assassinato foda, mas na verdade o velho só desistiu de viver e levou a filha junto. Coitada da criança. Te falar, loirinha, devia ter uns 30 anos, muito gostosa. Desperdício gigante! Era só me pedir que eu criava com carinho. Mas não! Tacou-lhe um veneno na comida e os dois estavam com a passagem carimbada pro inferno. – Os olhos de Ralph se arregalaram e, por alguns segundos, ele esqueceu de respirar. – Até aí tranquilo, você pensa. Suicídios acontecem e volta e meia alguém decide que não quer ir sozinho. A parada é que a velha da família, que tava viajando, também tinha se matado nessa mesma tarde, cara! Tipo, a diferença foi de minutos!

Ralph bateu na mesa, sem motivos. Foi um impulso nervoso. Ele se levantou, olhou para Parker e começou a se retirar do local. Parker, sem entender muito, o questionou.

– O que foi, Ralph? O que aconteceu?

– Eu tenho uma coisa que preciso verificar. Depois nos falamos.

Com isso, ele saiu. Buscou o celular no bolso e ligou imediatamente para Giulia, a responsável pelos arquivos recentes da delegacia. Seu primeiro pensamento tinha sido Michael, mas ele não possuía exatamente o que o detetive procurava. A jovem secretária atendeu quase na mesma hora.

– Giulia falando. – Confirmou a voz do outro lado ao atender.

– Giulia, preciso de um favor. – Ralph foi direto ao ponto. Não estava com cabeça para embromações sociais.

– Oi Giulia, tudo bem? – Ironizou ela – Como foi a sua noite? Você dormiu bem? Como vai o namorado?

– Você completou quatro meses com ele na semana passada, estão muito bem. Ele te comprou um ursinho que você carrega para o trabalho todo dia. As vezes até fala com ele, imaginando que é o tal rapaz. Julgando pela sua voz, sua noite passada foi ótima. Você não costuma ser irônica ou piadista de manhã. Pelo contrário, uma das suas frases mais faladas é “Eu odeio acordar cedo” e variantes da mesma.

– Nossa, tá bom. Alguém não tá de bom humor hoje. O que você precisa, Ralph?

– Eu preciso que você verifique os arquivos dos últimos três meses pra mim. Suicídios. Só que não qualquer suicídio. Suicídios em conjunto, ou melhor, em família.

– Credo! Isso existe? – A garota se assustou

– Você precisa começar a ler mais os arquivos que guarda, Giulia. Estou a caminho para te ajudar na busca. – Ralph desligou o telefone e o jogou de volta no bolso. Quase sem querer, sorriu. As coisas estavam começando a ficar assustadoramente interessantes.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que tenham gostado!
Não deixem de comentar, por favor, significa muito pra mim e me ajuda a melhorar os próximos capítulos!



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