The Rise of Darkness escrita por moonfall


Capítulo 3
Air and Ice




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O garoto se dirigia ao norte, a paisagem branca ao seus pés era monótona e quase sem vida. Alguns montes de pedra escura irrompiam do solo congelado e Jack os contornava sem dificuldades, após passar por uma geleira avistou o forte escavado nas entranhas da montanha, algumas janelas desbotadas se sobressaíam no gelo, elas iluminavam a noite com uma fraca luz dourada.

Aproximou-se da construção e pousou no teto da morada de Norte. Escalou a abóbada, deslizando em alguns trechos congelados, e observou a fábrica através das janelas da claraboia. O globo abaixo rotava tranquilamente iluminando o redor com suas pequenas luzes amarelas que brilhavam como vagalumes. Bateu na janela com o seu cajado congelando o trinco, forçou-a com a mão e esta cedeu sob seus dedos. Logo que abriu, uma rajada de vento adentrou no recinto carregando consigo flocos de neve.

Frost passou pela janela e flutuou até o globo, ficando em pé sobre ele. Assim que tocou-o com os pés descalços ouviu o grunhido de um dos yetis, esticou-se para o lado olhando para baixo e acenou para Phil que o encarava. O yeti marrom começou a resmungar com outro e resolveu chamar Norte. Atravessando o espaço com agilidade invejável para um de sua espécie, escancarou a porta do ateliê do homem e começou um diálogo composto de grunhidos com ele. Não tardou para o homem barbado aparecer na porta e o encontrar com o olhar.

– Jack Frost! A que honra se deve esta visita?

O garoto sentou no globo acompanhando sua rotção, fez um sinal de saudação com as mãos para o outro.

– Olá Norte, olá Phil! – respondeu enfatizando o nome do yeti – É sobre aquilo que você me pediu.

O de vermelho apoiou uma mão na cintura da calça e pediu:

– Bom... Mas você poderia sair do globo? Ele tem uma calibragem delicada.

– Estou bem confortável obrigado, aliás você poderia desligar a rotação? Estou ficando um pouco enjoado.

– Não. – respondeu entre os dentes

– Okay...

O homem indicou para os yetis os deixarem a sós, as massas sólidas de pelos saíram do recinto e voltaram às suas tarefas.

– Conte-me o que descobriu.

– Bom.. – começou ficando em pé novamente – Você me pediu para procurar algo estranho e eu encontrei.

– Prossiga. - incentivou

– Na verdade não exatamente encontrei, só algo que aconteceu e que nunca tinha acontecido antes...

– Hum...?

– Mas deve ter algo relacionado a sua barriga afinal...

Jack! Poderia ir direto ao ponto, por favor? – interrompeu

O garoto caminhava lentamente sobre o globo no movimento contrário a rotação em quanto brincava com seu cajado, girando-o em quanto falava.

– Nesse final de tarde eu estava sobrevoando uma região e do nada os ventos enlouqueceram.

– Onde? Como assim “enlouqueceram”?

– Não sei, simplesmente eles mudaram de curso, variando a intensidade e depois pararam. Nem uma brisa restou. – movimentou as mãos demonstrando o que acontecera

– Você usa os ventos para voar então suponho que...

– Sim, eu caí no chão, se é isso que você ia dizer. – o garoto interrompeu em tom sério

– Há! Queria ter presenciado essa cena! – Norte gargalhou com vontade – Então você veio por que caiu de cara no chão?

– Sim! Ei, não! Não foi por isso. Não é engraçado Norte.

– Claro que sim Jack! Há há há!

– Mas também tinha uma cidade e todos pareciam tristes e com medo, muito estranho. – Olhava para baixo até que parou repentinamente

O garoto pareceu congelar e o homem o encarou.

– O que foi? – o barbado indagou

– Essa região aqui... – apontou com o cajado – Não deveria estar iluminada ou algo assim?

O homem examinou o globo com atenção uma área rodeada de pontos incandescentes mas no seu centro não havia nenhum.

– Mas o que...? – começou

– Sim! Sim Norte foi aqui! – o garoto disse subitamente energético – Foi por aqui que a coisa com os ventos aconteceu!

O homem em vermelho assumiu uma expressão séria.

– Você precisa voltar lá, Jack. Eu mesmo iria mas o Natal está próximo e tenho que fazer os preparativos.

– Você acha que ele voltou? – Frost disse pausadamente

– Pitch Black? Não sei, não podemos ter certeza de nada até você ir lá.

– Tudo bem eu vou voltar. – Jack girou nos calcanhares, focado na janela aberta no teto

– Mas Jack, tenha cuidado. – acrescentou antes que o garoto fosse em bora – Se for quem eu estou pensando, é tão ruim quanto Pitch Black.

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Wind não dormira a noite toda, quando amanheceu os músculos de suas costas estavam tencionados. Alguma coisa não a permitira relaxar, sua mente borbulhava de sensações impedindo o sono de chegar, sentia-se inquieta. Levantou-se apenas quando Pitch misturou-se nas sombras e deixou o recinto, não queria conversar.

Caminhou para fora do buraco e calmamente se moveu pela floresta, deixando a serenidade que esta lhe proporcionava inundar seu corpo pequeno, sentia-se mais leve entre as árvores brancas, a calmaria e o silêncio eram contagiantes.

A noite fora agitada mas deveria ter valido a pena afinal Black estava em puro êxtase, não compartilhava o sentimento do amigo mas ela foi criada para isso então devia estar fazendo o certo. Sem contar que foi Pitch que a acolheu quando todos lhe deram as costas, quando fora abandonada sozinha, e por isso era imensamente grata a ele.

Atravessava a floresta, sobre a camada fofa de neve, sem se importar qual caminho seguia só queria ficar sozinha. Suas orelhas se mexiam independentes captando os sons da floresta como o ranger dos galhos na brisa ou o caminhar dos cervos que procuravam por alimento, gotículas de água escorrendo pelos troncos e o som crocante das folhas congeladas esmagadas em seus passos, todos os sons combinados formavam uma sinfonia relaxante.

A trilha que seus pés criaram levava a uma clareira larga com um pequeno lago que ocupava metade de sua área. A superfície estava congelada mas ela conseguia ouvir borbulho da água que brotava, fresca, do solo e dos peixes que nadavam preguiçosamente por baixo da camada de gelo.

Sentou em uma pedra na borda do lago, apoiou os braços para trás sustentando seu corpo inclinado. Observava o sol tomar seu lugar lentamente, inundando o céu com cores vibrantes que aos poucos perdiam a intensidade. O vento suave acariciava sua face e brincava com as mechas onduladas de seu cabelo. Raspava a ponta dos pés na superfície dura do lago retirando as camadas de neve que se acumularam, revelando o gelo translúcido, fitou a água abaixo com seus olhos parcialmente lupinos tentando identificar as manchas que se movimentavam do outro lado.

– Bonito, não é? – a voz falou subitamente

Wind deu um salto torcendo o corpo pousando no lago, não conseguia entender como não ouvira o garoto se aproximar e ficou paralisada quando reconheceu os cabelos brancos e pés descalços.

– O gelo, bonito. – repetiu

Você! – a garota murmurou

Ele estava equilibrado sobre o cajado, apontou para si.

– Eu?

– Você era o garoto na floresta ontem! Como consegue me ver?

– Floresta? Ah... – começou a se lembrar, pulou do cajado

– Não se aproxime! – Wind recuou sobre o lado

– O que? Qual é o problema? – avançou na direção da garota sorrindo

– Eu já avisei, não se ap... – começou

Um estalo abafado a interrompeu, estampidos o seguiram como algo rachando. O som estava amplificado nos ouvidos da garota que olhou para baixo, não via porém o instinto a obrigou a ficar parada. O ar fez o mesmo, as correntes agora estavam estáticas, Wind odiava quando seus sentimentos interferiam em seus poderes principalmente quando o medo os fazia desaparecerem por completo.

– O que? – repetiu, continuou caminhando

– Shhhh! – o silenciou e disse pausadamente – Não dê mais um passo.

O garoto virou a cabeça sem entender, mas calou-se quando viu a rachadura que cortou o gelo em um estalo alto. Poderia simplesmente encostar o cajado na superfície que o problema seria completamente resolvido mas essa ideia sequer passou pela mente de Jack. A forte sensação de Déjà vu o confundia e embaçava sua visão, impedindo-o de raciocinar. Ele segurou o cajado com a parte curva apontada na direção da garota.

– Venha para cá. – disse em um tom tranquilizador – Calma, só ande devagar até aqui.

– O que? Você está maluco? – Wind retrucou indignada

Confie em mim.

– Por que eu confiaria?! – apenas respondeu em sua mente, pois seu corpo obedeceu o garoto sem o seu consentimento

A cada passo que dava ouvia mais estampidos, ainda havia uma distancia considerável entre eles mas em um movimento repentino o garoto a puxou com o cajado para a borda do lago. Com a leveza inusitada a fez ser jogada para longe, rolando na neve em quanto Jack pousou sob a superfície do lago tentando se equilibrar. Ao fazê-lo o garoto causou um som abafado e em uma reação automática Wind moveu os braços atingindo o garoto com uma lufada de vento fazendo-o deslizar para a margem oposta. Mal ela soube que o garoto ao pisar sobre o gelo, o garoto havia feito as rachaduras desaparecerem.

– O que foi isso? – Jack perguntou pasmo sem ver o que o atingira

Wind não hesitou em se levantar e começar a fugir.

– Ah, de novo não. – Frost murmurou erguendo-se, correu pelo lado apanhando o cajado caído.

Os ventos ainda estavam paralisados, ela não entendia como conseguira criar aquela rajada para atingir o garoto, mas agora não conseguia criar nada para ajuda-la a fugir. A morena balançava a cauda para se equilibrar em quanto corria na neve escorregadia, a leveza de seu corpo a ajudava a pegar velocidade. Olhava sobre o ombro constantemente para saber se estava sendo seguida mas a floresta as suas costas estava silenciosa e paralisada, como em uma pintura. Diminuiu o passo até parar para recuperar o fôlego.

– Pensou que iria fugir tão facilmente de mim? – O garoto estava com a lateral do corpo apoiada em um tronco em uma pose descontraída.

– Como... ?

– Se quiser brincar de pega-pega toda vez que nos encontrarmos só me avise. – continuou ignorando a pergunta dela

– O que?

– Se não for fugir mais, gostaria de conversar um pouco.

– Por que?

– Sei lá, não é toda hora que encontro alguém em uma floresta com orelhas de husky que move coisas com a força da mente.

Wind continuava parada, confusa, abaixou o olhar encarando a neve sob seus pés. Não conseguia fugir dele, não sem os ventos. Perguntas bombardeavam sua mente desnorteando-a até que ela admitiu:

– Tudo bem, você venceu.


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