Algumas semanas se passaram e Jack não notou nada diferente do normal, não conseguia encontrar a fonte de preocupação de Norte, havia se esforçado em procurar em todos os lugares nos quais estivera, mas nada. Gostava de irritar o homem mas se preocupava e confiava nele, apesar do barbado o assustar um pouco com todo aquele tamanho e ainda portar duas espadas.

A sensação do vento carregar seu corpo era incrível, as mechas brancas balançavam conforme o curso do ar, por onde passava deixava uma trilha de flocos de neve. Algo estranho aconteceu, as correntes de ar repentinamente mudaram seu curso causando uma confusão invisível e então pararam completamente. O garoto não conseguiu planar pois dependia do fluxo de ar, entrou em queda livre. Jack girava e gritava enquanto sua velocidade aumentava e se aproximava velozmente do solo.

Quando o chão estava só a alguns metros se encolheu apontando o cajado para baixo, uma densa camada de neve se materializou amortecendo a queda. Afundou na neve fofa e ficou lá caído recuperando o fôlego. Levantou-se em um salto levando a neve consigo fazendo-a se espalhar para todo lado, limpou seu casaco rindo consigo.

– Nossa! Isso foi... Interessante. Muito estranho mas interessante.

Ergueu o olhar para se localizar, examinou o ambiente minuciosamente mas tudo o que via eram árvores cobertas por neve fresca. Calculando pelo ângulo do sol concluiu que ainda lhe restavam uns bons minutos antes de escurecer, decidiu explorar o lugar. Um movimento no canto de sua visão chamou a atenção, voltou-se para ver o que tinha o causado, havia uma pessoa. Uma pessoa entre as árvores olhando em sua direção, paralisada.

– Ops... – cerrou os olhos – Ei, você!

A pessoa correu, numa velocidade incrível, quase a perdeu de vista em segundos.

– Espera aí! – gritou seguindo a pessoa – Volta! Eu não vou te machucar!

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Wind estava treinando em uma clareira afastada da toca. Movimentava os braços em conjunto com as pernas criando ventos potentes pela floresta. Mirava nos troncos e cortes profundos apareciam na casca cada vez que uma rajada de ar comprimido os acertava. Mudava o curso das correntes de ar com extrema facilidade, mas criá-las é que era o problema. Tentou realizar uma série de movimentos mais elaborados, porém falhou. A onda de fúria percorreu o corpo da garota e fluiu para fora. Os ventos sentiram o mesmo e se movimentaram com a intensidade equivalente ao sentimento da garota, afetando toda uma região. Tudo parou quando a garota caiu de joelhos na neve, frustrada. Nem mesmo uma leve brisa soprava.

Um grito irrompeu no silêncio, e ele se aproximava cada vez mais. Wind olhou ao redor procurando-o, o som abafado de algo caindo na neve silenciou os gritos e graças a sua audição aguçada encontrou a fonte. Curiosa, a garota se levantou, limpou a neve da calça, aproximando-se cautelosamente de um monte de neve. Um garoto se ergueu saltando, levando flocos para o ar consigo. Wind parou de avançar quando ele olhou diretamente em sua direção em quanto murmurava algo.

Trancou a respiração, o frio na barriga voltou quando ele a encarou de volta, se perguntava se finalmente alguém conseguia vê-la. Não, estava muito cedo para isso acontecer, Pitch ficaria furioso se fosse revelada antes do tempo.

– Ei! Você! – Ele a vira

Uma mistura de emoções invadiu sua mente, deixando-a desorientada. Não sabia se ficava feliz ou desesperada por ser vista finalmente. Se podem ver podem tocar, se podem tocar podem machucar. Correu. Isso jamais deveria ter acontecido. Usou os ventos para se distanciar com mais velocidade.

– Espera aí! – ele gritou – Volta! Eu não vou te machucar!

Podia ser mentira, aprendeu a não confiar em ninguém. Wind correu, o ar apagava suas pegadas logo depois que passava, escondeu-se atrás de uma árvore e logo havia despistado seja lá quem fosse. Encostou-se no e no tronco querendo se fundir a ele, sua respiração pesada acompanhava o ritmo acelerado de seu coração que batia dolorosamente contra suas costelas. Soltava nuvens de vapor pela boca cada vez que expirava, tentou se acalmar mas sua mente agitada não permitia.

Ouviu passos acelerados passarem por ela o garoto continuou correndo, finalmente Wind reparou na aparência dele, de costas não conseguia captar muitas características porém os cabelos alvos e pés descalços marcaram em sua mente como ferro em brasa, se perguntava como um humano conseguia correr descalço na neve. Quando ele se afastou o suficiente, voltou para o buraco que chamava de lar e ficou lá escondida até Pitch voltar.

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Jack a perdeu completamente de seu campo de visão. Não sabia o quanto ela tinha visto de sua queda e ficou receoso sobre a reação que teria depois de ver um garoto de cabelo branco cair do céu e criar neve com um cajado. Os ventos ainda não haviam se normalizado, então não conseguia voltar para casa. Sentiu cheiro de fumaça e o seguiu, caminhando na floresta em quanto o sol atravessava preguiçosamente a linha do horizonte, até uma cidadezinha. Poucas pessoas estavam na rua e elas pareciam com pressa para chegar à casa conforme o crepúsculo dava lugar a noite. A energia daquele lugar o deixava mal, Jack sentia o medo das pessoas e aquilo era incomum, todos encolhidos em suas casas com medo da noite que se aproximava.

– Vocês precisam de um pouco de mais alegria em suas vidas. – ele murmurou alongando os braços – Vamos começar com a diversão.

Uma bola de neve se formou em cada mão sua e logo voaram na direção de um casal, em seguida mais esferas de neve zuniram, atingindo cada pessoa na rua. Imediatamente sentiu algo mudar, não tardou para o ar estar carregado de risos e gritos de felicidade. As pessoas começaram a sair de suas casas para ver o que estava acontecendo e logo eram afetados pelo espírito de alegria que emanava de cada alma, antes dormentes. Em pouco tempo todos os moradores estavam nas ruas correndo sobre a neve fresca, lançando bolas de neve, construindo bonecos, as crianças brincavam alegres saltitando pelas calçadas.

Foi assim que Frost deixou a cidade antes de voltar para sua morada. As risadas iam diminuindo de intensidade conforme se afastava pelo ar, era dessa forma que gostava de ver as pessoas, felizes.

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Pitch Black entrou no buraco quase em chamas de raiva. Seus lábios finos estavam contraídos e seus olhos brilhavam de fúria. Ele rugiu quando empurrou a mesa frágil, fazendo-a tombar de lado quebrando uma perna. Wind deu um salto quando ele gritou, seu estômago embrulhou, odiava vê-lo daquela forma. Soube imediatamente que algo dera errado.

– Frost! – urrou

A garota encolheu.

– Por favor, acalme-se. – suplicou-lhe

– Você quer que eu me acalme? Depois do que ele fez?

– Se você me contar o que aconteceu...

– Há, eu posso mostrar o que aconteceu.

Pitch segurou firmemente o pulso da garota e a arrastou para fora do buraco, os passos largos dele eram difíceis de acompanhar, mas ele seguia seu caminho sem reparar que a morena cambaleava logo atrás. Embrenharam-se na floresta, a lua refletia na neve iluminando o caminho para a cidade. Wind ouviu o que aconteceu antes de ver, as risadas inundaram seus ouvidos deixando-a desnorteada, ao surgirem do meio das árvores ela viu a catástrofe.

Semanas de esforços foram reduzidas ao pó em uma única noite, as pessoas riam e se divertiam sem medo, quanto mais se aproximavam mais a mão de Black tremia em seu braço, a felicidade o enfraquecia.

– Jack Frost foi o que aconteceu.

Então devia ser por isso que aquele garoto na floresta estava agindo estranho, era a influência de Frost. Olhou profundamente nos olhos de Pitch e um lampejo de luz avermelhada os iluminou momentaneamente. Uma onda de fúria instalou-se em seu corpo, odiava profundamente vê-lo daquela forma, fraco e impotente.

– Não se preocupe, vou acabar logo com isso. – disse adiantando-se na direção da cidade

– Não! – ele a puxou – Você não está pronta ainda.

– Que outra oportunidade terei de demonstrar quanto poder eu já recuperei nesse último ano?

Ao dizer isso, Wind se desvencilhou das garras de Black. Moveu-se numa dança, o ar começou a acompanhá-la com selvageria, ela abaixou os braços com força e uma rajada de vento poderosa desceu dos céus na direção das pessoas na rua. Todos caíram violentamente com o impacto, olharam para cima desnorteados sem saber o que os havia atingido, antes que pudessem se recuperar foram atingidos por outro golpe de vento, e mais outra, caindo sempre que se levantavam.

Wind atingia as pessoas jogando-as pelo ar. O caos reinou na cidade, ninguém entendia como as pessoas eram lançadas contra as paredes e vitrines, os gritos de desespero tomaram o lugar dos risos e amedrontados todos tentavam se proteger no abrigo de suas casas. Quando seu trabalho terminou, voltou-se para Black e ele sorria exibindo os dentes pequenos e pontiagudos.

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Pitch Black sentia-se mais forte a cada onda de ataques de Wind, os gritos eram como música em seus ouvidos e não conseguia conter as gargalhadas ao ver as crianças correndo pelas ruas como baratas fugindo da luz. Não havia notado o quanto do poder a garota havia recuperado nas últimas semanas, ela podia não conseguir criar coisas muito bem, mas estava muito boa em manipular o que já existia. Sua vingança contra os guardiões estava mais próxima do que pensara.

O medo dos moradores se intensificara mais que nunca e sentia o vigor fluir em seu ser. Não se sentia mais tão frágil, logicamente não estava com seu poder máximo mas uma cidade aterrorizada era melhor do que nada.

Sorria em meio ao caos, saboreando a sensação de ser temido mesmo que indiretamente. Fechou os olhos e aspirou o ar da noite que parecia pesar com o medo que emanava do corpo dos moradores, abriu os olhos quando Wind tocou seu braço. Os olhos da garota castanhos e prateados estavam encobertos por uma névoa de fúria e ódio, finalmente conseguira aperfeiçoar sua técnica, a fina névoa se dissipava no decorrer dos segundos.

– Finalmente alguma diversão. – disse a ela