The Rise of Darkness escrita por moonfall


Capítulo 1
The Wind Blow




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A garota estava encolhida em seu canto tentando dormir mas sem sucesso, a terra sobre a qual estava acomodada parecia congelada, dura e úmida, causava desconforto em sua pele. Ela se ergueu, sentando no nicho balançando a cauda de lobo de um lado para o outro para livrar sua roupa da sujeira.

– A onde você vai? – uma voz perguntou na escuridão

– O frio... Não consigo dormir. – respondeu abraçando as pernas

– Você precisa descansar se planeja recuperar suas forças.

– Desculpe, eu não consigo.

O buraco escuro estava abafado, o som de gotas pingando ecoava causando agonia nas orelhas sensíveis da garota, o braseiro a muito havia apagado.

Uma forma se ergueu no canto escuro do buraco, apenas a pele alva das mãos e do rosto de Pitch Black eram visíveis contra seu manto escuro, seus olhos amarelos cintilavam em quanto a encarava, a expressão era leve e parecia até mesmo gentil. Caminhou com suas pernas finas até onde a garota estava sentada, vagarosamente ele se acomodou ao seu lado, apoiando-se em seus joelhos.

– Esse frio incomoda, não é mesmo? – ele finalmente falou, suspirando

A garota concordou com a cabeça, balançando os cabelos castanhos e prateados.

– Por que você não tenta transformar essa umidade toda em uma nuvem densa? Pode dar certo.

A sugestão dele a agradou, então se levantou do monte de terra e estendeu os braços, movimentou-os e o ar ao redor os acompanhou. No outro canto do buraco acumulou uma área de alta pressão e transferiu boa parte da umidade para lá também. Conseguiu formar uma névoa, não mais que isso.

– Eu não consigo, ainda não tenho a força necessária. – a garota girou nos calcanhares, balançando as orelhas pontiagudas

– Tudo bem, logo você vai recuperar completamente seus poderes. Não se preocupe. – ele respondeu

– Me desculpe...

– Não tem problema, a culpa não é sua. Se quiser posso ficar aqui com você.

A umidade parecia amplificar o frio, fazendo-o penetrar até seus ossos. Wind concordou com a cabeça.

Ele se arrastou até tocar as costas na parede do nicho que servia como cama, ficando sentado com as pernas esticadas. A garota engatinhou até onde Pitch estava e se deitou, encolhida, encostada nele. Black pousou sua mão esguia no topo da cabeça da garota, alisando seus cabelos macios. Ele suspirou em quanto encarava o nada, a vida estava muito difícil.

A morena girou o corpo encarando-o, seus olhos pareciam emitir faíscas, ela conhecia muito bem aquela expressão.

– O que aconteceu? – ela perguntou com a voz fraca

– Estamos assim agora por que Jack Frost resolveu nos dar uma visitinha. Lá fora está tudo coberto de neve.

– Não fique assim Pitch, eu voltei e não vai demorar para nos recuperarmos. – respondeu calmamente se ajeitando no colo do outro

A raiva que consumia Black parecia se esvair conforme o calor do corpo da morena o aquecia. Pousou o outro braço sobre o tronco miúdo dela enquanto apoiava a cabeça na parede, fechando os olhos e aspirando o ar frio da madrugada.

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

Wind acordou na manhã seguinte com o sol, que se infiltrava pelos buracos no teto, iluminando sua face. As vestes da garota estavam úmidas, elas absorveram a água da terra ao passar da noite. Vasculhou o lugar com olhos sonolentos mas não encontrou Pitch em lugar algum, algumas vezes a garota se perguntava se ele era sensível a luz do dia pois sempre desaparecia com o raiar do sol.

Saiu da toca, aspirando o ar puro da manhã. A luz refletida na neve foi ofuscante a princípio. Os cristais nas árvores gotejavam, derretendo, conforme absorviam o calor provindo círculo dourado que atravessava o céu azul. Não havia neve ao redor da entrada do buraco, assim como nenhuma forma de vida, até mesmo as plantas se afastavam da morada de Pitch Black.

O ar estava parado, então precisou mais concentração que o normal para conseguir se erguer em direção aos céus, assim que estava no alto, era muito mais fácil se movimentar a partir dos ventos pré-existentes, então não requeria muito esforço para se manter entre as poucas nuvens. A garota entrou em uma corrente de ar quente para secar suas vestimentas, aproveitou o tempo para observar a floresta alva aos seus pés. Uma pequena cidade estava próxima, se moveu de encontro a ela.

Suas roupas estavam secas quando tocou no chão, a rua de lajotas estava movimentada naquela manhã mas mesmo assim ninguém parecia notar a presença da garota meio lobo parada na calçada. Caminhou ao longo da via encarando as vitrines, elas ainda estavam com acúmulo de neve então com um movimento da mão uma lufada de vento chegou batendo contra as vidraças e livrando-as da neve.

– Bem melhor. – conseguia ver seu reflexo

Ouviu então, gritos. Seguiu o som correndo até parar na entrada de um beco, sem hesitar adentrou-o. Ao fundo um homem imobilizava uma mulher, segurando uma faca, ela tentava gritar mas a mão dele abafava o som. A morena bufou, pegando velocidade correu na direção dos dois e com a ajuda do vento saltou atingindo o homem na face. Ele caiu para trás com o choque, batendo a cabeça na parede de tijolos abrindo um corte no couro cabeludo.

Assustada a mulher recolheu os pertences caídos e correu para longe. Wind voltou-se para o homem caído que agora tentava se levantar, ele a encarou com os olhos arregalados. A garota sentiu um aperto no peito, perguntava-se se finalmente conseguiam vê-la.

Cambaleante ele ficou de pé tentando fugir, a garota postou-se diante dele para impedir sua passagem mas ele simplesmente a atravessou. A morena perdeu o fôlego quando ele o fez, uma sensação agoniante na boca do estômago tomou conta. O ar entrava em seus pulmões com dificuldade. Apoiou-se na parede tentando se recuperar.

– O que pensa que estava fazendo? – a voz disse em suas costas

Virou-se rapidamente, mas logo desejou não tê-lo feito. Encarou Black que estava logo atrás.

– Eu... Eu não-sei.

– Você tem noção de como isso foi imprudente?

– Me-me desculpe Pitch. Achei que finalmente tinham me vis-sto. - arfava

– Lembre-se que se eles conseguirem te ver, podem te tocar, se podem te tocar podem te machucar. Se eles machucam os de sua própria espécie imagine o que fariam com você.

Wind se arrastou passando por ele, ergueu a cabeça e disse:

– Me desculpe, isso não acontecerá novamente, quando os humanos conseguirem me ver será tarde demais para que possam fazer alguma coisa conosco.

A morena se ergueu no ar com velocidade se distanciando do local, com o olhar de reprovação de Black em suas costas.

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Os ventos cortantes do norte chocavam-se contra as janelas, fazendo-as estremecerem. Os rugidos dos yetis eram abafados pelas pesadas portas de madeira de seu ateliê, mas os barulhos que os elfos faziam ao quebrar algo eram bem audíveis. Essa era uma das raras ocasiões em que não havia ligado sua música para esculpir o gelo, queria sentir o silêncio e a calmaria do norte mas aparentemente sem muito sucesso.

Algo estava errado, não tocara nos cookies sob sua mesa a manhã inteira e tudo o que criava a partir do gelo parecia ter algum defeito. Sentiu vertigem na base de sua barriga, como se ela quisesse lhe contar algo, o impulso para convocar os guardiões era grande mas não podia fazê-lo por causa de um tremor em seu abdome.

Olhou pela janela e notou que a neve caía com mais força agora, depositando no peitoril das janelas. Jack Frost deveria estar próximo, pensou que poderia contar com ele para investigar sobre seu pressentimento.

– Phil! – Norte gritou – Phil, venha cá.

Alguns segundos se passaram até o yeti irromper da porta com um grunhido.

– Encontre Jack Frost, ele deve estar aqui perto, preciso falar com ele. – seu sotaque ficava mais forte na pronúncia do nome do garoto

O yeti marrom franziu o pequeno nariz, ainda não gostava muito do garoto que tantas vezes tentara entrar na fábrica de Norte. Grunhiu novamente sem se mover.

– Phil, deixe o ressentimento de lado e chame o menino. – disse controladamente porém firme

Phil suspirou, com os ombros caídos saiu do ateliê do homem.

O homem barbado sentou na cadeira de madeira entalhada e esperou. Remexia em suas ferramentas conforme o tempo passava, já tinha perdido as esperanças de falar com o jovem quando alguém bateu na porta. Ouviu o urro de um yeti do outro lado antes das placas de madeira serem empurradas bruscamente. Phil adentrou no aposento segurando Jack pelo capuz, empurrou-o para frente.

– Wow, calma amigo, foram só alguns robôs. – o garoto falou sorrindo para o yeti em quanto desamarrotava o moletom

– Tome cuidado garoto, não queira ver um yeti bravo. – Norte disse – Ou com fome.

Phil bateu a porta atrás de si depois de sair.

– Então... Por que me chamou?- Jack perguntou andando calmamente pelo ateliê examinando as prateleiras

– Tenho um assunto para tratar com você, é... Bem importante. – respondeu passando a mão na nuca

– Hã... Tudo bem, pode falar. Se é sobre os elfos não se preocupe, eles não vão ficar por muito tempo com as línguas grudadas no pilar...

O homem o encarou com olhar de reprovação, enrugando a testa.

– Não era sobre isso, mas resolveremos esse assunto mais tarde. Enfim, estou sentindo algo estranho, gostaria que investigasse se encontrar algo suspeito por aí, já que você atravessa o globo o tempo todo.

– Virei detetive agora? Gostei, detetive Frost. E a que se deve essa sua... Intuição? Sua barriga?

– Algum problema com isso?

– Não, nenhum. Só é meio difícil acreditar em uma pança.

O olhar de reprovação se intensificou, eram poucos que conseguiam o tirar do sério mas Frost o fazia com a maior facilidade.

– Da última vez que isso aconteceu Pitch Black atacou e quase nos venceu. Não subestime a “pança”.

Jack ainda parecia não o levar a sério, andava na direção das janelas. Norte o acompanhou com o olhar.

Frost!

– Tudo bem, tudo bem. – falava ao abrir o trinco da janela – Eu faço isso pra você, mas vai ficar me devendo uma.

O garoto apoiou-se no peitoril se jogando no abismo abaixo, antes de chocar com o solo uma corrente de ar o pegou, lançando-o para cima. O homem o encarava enquanto sumia no horizonte.


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Notas finais do capítulo

Se vocês gostarem me avisem nos comentários para eu continuar postando, tudo bem?