O Arpoador é o meu lugar preferido no Rio de Janeiro. É para lá que caminho, para onde possa libertar meus pensamentos. A imensidão do mar provoca esta sensação de amplitude, de infinito. Imagino meus pensamentos partindo como gaivotas que desaparecem no horizonte para sempre. Só que elas vão e vêm, tal como os meus pensamentos, teimosos e traiçoeiros. O esforço para não pensar nela é sobre-humano. E pensar no que é sobre-humano me faz pensar nela. A natureza me faz lembrá-la, pois sinto a sua presença em todo o lugar e em tudo o que vejo: nos pássaros, nas montanhas, no mar, no céu, na própria pedra do Arpoador. Estou cercada de natureza. Estou cercada por ela. Sentada na encosta, ouço as ondas baterem nas rochas, crianças rindo e saltando para a água. Vejo casais de mãos dadas, os olhares cúmplices e as trocas de carinhos. Vejo também pessoas solitárias, como eu; contemplando o mar e a paisagem, absortas em seus pensamentos.

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Depois de longas horas longe de tudo, voltei para casa. Não foi legal ter saído da aula sem avisar, mas eu precisava sair dali ficar no mesmo lugar que ela, me causa uma certa agonia, e olhar nos olhos dela é algo "tentador" eu diria. Ela não me parece normal, ela usa roupas estranhas, não mostra quase nenhuma parte do corpo, que por acaso eu seu que é perfeito. Engraçado eu pensar nisso, se ela é uma mulher. Já tentei todas teorias malucas sobre conspiração, mas nada me leva a nenhuma razão, sobre uma garota que eu nunca vi na vida, estar rodando os meus sonhos. Eu me lembraria se eu a tivesse visto de costas em uma esquina de 20 km, ela é inconfundível. Talvez ela tenha algum poder tele cinético que nem a Carrie White? Talvez ela seja filha dos Salvatore? Eu devo mesmo está pirando, pensando realmente isso.

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Marina...

Clara está deitada de forma cansada, parece preocupada. Vejo seus olhos fecharem de vagar e sinto uma vontade enorme de toca-la novamente. Queria poder ir lá e dizer que tudo ficará bem, que eu fracassei em deixar seu pai ir. Que mesmo como ser celestial tenho minhas fraquezas e que eu tive que escolher ela. Queria poder dizer que daria minha humilde vida imortal para que ela seja feliz. Que ela tem total controle sobre mim, que ela é o ser mais importante pra mim. Que talvez, só talvez eu fique aqui como uma humana pra ela.

Talvez ela queira ouvir uma musica. Abro minhas asas e voo até sua janela, está escuro a única pouca luz que existe nesse pequeno esconderijo dela é a da Lua. Ela está quase dormindo. Encolho minhas asas e entro em passos quase imperecíveis coloco uma musica no rádio que está tocando, deixo em um volume baixo, só pra ela relaxar.

Kelly Clarkson - Sober

"And I don't know
This could break my heart or save me
Nothing's real
Until you let go completely
So here I go with all my thoughts I've been saving
So here I go with all my fears weighing on me

Three months and I'm still sober
Picked all my weeds but kept the flowers
But I know it's never really over

And I don't know
I could crash and burn but maybe
At the end of this road I might catch a glimpse of me
So I won't worry about my timing, I want to get it right
No comparing, second guessing, no not this time

Three months and I'm still breathing
Been a long road since those hands I left my tears in but I know
It's never really over, no

Wake up"

Clara...

Uma musica linda está tocando no rádio, parece sonho, mas sei que ainda estou acordada, tento ouvi-la e as letras que soam dela é tão intensa, lembra meu pai. Então as lágrimas veem devagar como uma espécie de banho espiritual, preciso da ultima , preciso deixa-lo ir. Então escuto a musica...

"Acorde

Três meses e eu continuo aqui
Três meses e eu estou melhorando
Três meses e eu continuo sendo

Três meses e isso está ainda mais difícil agora
Três meses e eu estive vivendo aqui sem você agora
Três meses yeah, três meses

Três meses e eu continuo respirando
Três meses e eu ainda lembro disso
Três meses e eu acordo"

E eu acordo e vejo minha janela aberta. Alguém esteve aqui. Alguém veio me dizer algo. Alguém está aqui por mim, Alguém está aqui comigo, Agora!

E é nessa hora que o cheiro dela invade meu quarto, meu corpo. Marina!

****

Chego cedo na faculdade, dessa vez não quero pensar em nada. Não quero ter pensamentos idiotas sobre coisas idiotas. Apesar da noite passada ter sido bastante incomoda pra mim. Preciso relaxar e estudar. Afinal preciso me sustentar. Sem falar que não minha amiga a um tempo.

A professora chega na sala e começa a falar sobre sobre o nosso sistema respiratório. Começo a me prender na aula até que alguém bate na porta.

_Pode entrar. Diz a professora.

_ Com licença. Conheço aquela voz. E lá está ela me olhando novamente. Com aquele olhar indecifrável como se nada abalasse ela agora. Como se fosse um ser perfeito e sem nenhuma fraqueza ela senta do meu lado.

A olho dos pés a cabeça, ela está com roupa diferente, que dizer está com roupas de meninas que vem pro colégio estudar. Está bem coberta com uma camisa xadrez, sem preto, a não ser os coturnos que acredito que ela ama. Está com uma calça jeans um pouco rasgada , mas não mostra suas perna. E seu cabelo meio cacheado e volumoso, seu pescoço é de um branco quase perfeito. A professora para sua aula para falar da aluna nova, que pra mim se chama Marina Meirelles, esse nome não sai da minha cabeça a dias. Ela pede pra Marina se apresentar. Ainda não havia percebido que não só eu como outros, quase todos alunos da minha sala a secam. Ela levanta de vagar e olha apenas pra mim.

_ Me chamo Marina Meirelles sou daqui do Rio mesmo. Tenho 20 anos.

Ela falou cada letra olhando nos meu olhos, como se não houvesse mais ninguém interessado. _ É solteira? Quer ter um amigo? escuto alunos idiotas atrás de mim gritando isso.

Ela não responde e volta a onde estava só que dessa vez ela da volta atrás de minha cadeira e fala só pra mim_ Sim.

Meu corpo todo estremeci.