Os anjos Amam... escrita por Sandrinha


Capítulo 2
Capitulo 2




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Enquanto o aroma desaparece, ou eu me acostumo com ele, abro a janela e convido a noite a entrar. Consigo sorrir, encantada com aquele instante num dia repleto de tristezas e preocupações. As cortinas de seda dançam com o soprar da noite. Na cama, fico observando o vai e vem do tecido, leve e delicado, quando começo a sentir as Pálpebras pesarem. Já mal consigo manter os olhos abertos, mas ainda consigo desligar a luz do abajur. Sinto o vento roçar meu rosto, o sabor salgado na língua, o cheiro do mar cada vez mais forte, a areia fria e dura sob os meus pés. Estou aqui, de novo? A Lua prateada reina sem súditos num céu sem estrelas. Sob esse véu negro e amparada pela maresia, caminho e deixo pegadas que aos poucos o mar desfaz. Sinto o vento roçar meu rosto, um sabor salgado na língua, o cheiro do mar cada vez mais forte e a areia fria e dura sob os meus pés. Uma lágrima se mistura, contrastando com o sabor salgado. No peito, meu coração se agita como as ondas que encontram as rochas. Com os olhos marejados, só enxergo meus pés. De repente, uma densa névoa se forma ao meu redor e eu me vejo obrigada a parar de caminhar. Sento-me e colho um punhado de areia, que escapa entre meus dedos. Aqui ninguém pode ouvir, ninguém vai dizer nada. Estou só comigo mesma. A Lua Cheia desaparece por trás das nuvens. Faz frio, mas não tenho vontade de levantar e prosseguir. Prefiro ficar aqui até adormecer. Seria bom se eu sonhasse, se me transportasse para um lugar mais aconchegante, onde em vez do mar bravio, houvesse calmaria e onde o tempo não existisse. Os primeiros pingos de chuva lavam as lágrimas do meu rosto. Encolho o corpo abraçando os joelhos. De olhos fechados, saboreio a chuva. Até consigo sorrir por um breve instante. Apago. Todas as sensações se repetem. Uma luz intensa atravessa a névoa e chega aos meus olhos. O sabor e o cheiro da maresia são repentinamente substituídos por um aroma adocicado. Com os olhos impossibilitados de ver, apuro o meu olfato. A fragrância que me provoca é jasmim. Uma fonte de energia se apropria de mim. Os meus sentidos estão presos a este instante, como que coordenados por algo ou alguém. O quê ou quem quer que esteja provocando estas sensações, está muito perto de mim. Mentalizo uma figura que vai se tornando nítida à medida em que a luz se esvai. Tenho a impressão de estar imaginando, mas na verdade meus olhos estão bem abertos e eu de fato consigo ver. Primeiro o contorno. De repente a luz cintila e envolve a figura. Meus olhos mentem ou minha mente é que vê além de meus olhos? Estou confusa, o olhar estreitado, tentando perceber quem é esta pessoa. Esfrego meus olhos ardentes pela maresia e consigo perceber que é uma mulher.

E ela é linda. Sua boca parece desenhada à pincel, são lábios finos e delicados, num tom vermelho contrastando com sua pele clara. Os cabelos são longos e lisos, pretos amendoados ou dourados, não sei bem. É muito alta e magra e bem definida, seu corpo é bem desenhado.

Toda esta riqueza de traços fisionômicos tão singulares e nobres contrasta com seu estilo casual, largada e bagunçada. Ela veste uma camisa branca e uma calça jeans surrada. E está descalça. Sua postura ereta e seu ar altivo não intimidam, mas não combinam com sua juventude, pois impõem um certo respeito. Por melhor que eu consiga descrevê-la, não encontro as palavras certas para a sua beleza. Tudo nela é simétrico e na devida proporção. Não lembra ninguém, não parece ser deste mundo. Há alguma coisa inatingível nela.

Não posso estar no meu juízo perfeito. Fecho os olhos por breves instantes à espera que a imagem do misterioso Adônis de mármore se dissipe, mas ela ainda está diante de mim, imóvel, me encarando. Seu olhar é impactante e invasivo. Parece me atravessar. Instintivamente desvio meus olhos dos dela. E é neste momento que ouço sua voz mansa:

― Não tenha medo. Estou aqui para ajudar você. Ela me estende a mão, mas hesitante, adio o gesto duas vezes antes de aceitar. Na segunda vez, reparo na sua mão há espera da minha. É grande, os dedos são longos e delicados e no indicador, um anel de prata com símbolos de pirâmides invertidas. De repente sinto como se uma corrente elétrica me impulsionasse a soltá-la, mas estranhamente a maciez de sua pele relaxa minha mão. Seu toque é quente. Ela segura firme e me ajuda a ficar de pé. ― Quem é você? ― Meu nome é Marina Meirelles Niel. Mas me chame de Marina. ― Como apareceu aqui? De onde você é? E aquela luz toda, o que era aquilo? Ela sorri por cortesia diante da minha impaciência. ― Moro aqui perto. Avistei você de longe e como a neblina estava intensa, achei que podia estar perdida, precisando de ajuda ― ela agora estende um sorriso mais acolhedor e continua. ― E quanto à luz, é dos faróis de neblina do meu jipe. ― Ok... mas não preciso de ajuda nenhuma, não. Não estou perdida e estou muito bem ― digo cautelosa, mal conseguindo evitar o tilintar dos meus dentes. ― Dá pra notar ― diz ela com ar de riso diante do meu iminente congelamento.

_. Estou bem,Vou indo. Obrigada. Ok. Diz ela sorrindo. ― Então, adeus ― digo colocando minha mão na altura do meu rosto como um “xau”. ― Até breve ― diante da minha expressão de surpresa, complementa: ― Eu não digo adeus. Sustenho.

Eu sei que se ficar suspirando durante o dia de amanhã deverei tomar providências, como por exemplo, procurá-la. Ao entrar em casa, é como se eu estivesse entrando num outro mundo, o mundo real. E ter que encará-la é um pesadelo pois parece que eu regressei de um sonho.

Entro a passos leves em meu quarto e deito na cama. De um instante para o outro, meu corpo está totalmente relaxado, meus olhos fechados, aquela preguiça do despertar antes da hora. Há uma luz incidindo diretamente no meu rosto. Há algo quente perto de mim. A lembrança da luz e do calor me faz pensar no rapaz da praia. Abro os olhos e sento na cama num rompante. ― Foi um sonho?

Bom mais um dia de aula, e não posso faltar. Por mais que eu queira, tem um valentão na minha sala que está afim de mim, acredite estou na Universidade e ainda existe gente assim, que não cresce. Não sei exatamente como me meti nessa mas prefiro não pensar. Chego atrasada e muito apressada e sento na primeira cadeira livre que encontro. Com a rapidez que sento, bato na cadeira de trás e algo cai. Me viro para pegar e....

“ Só posso estar sonhando! ” A garota que vem rondando meus sonhos, está aqui sentada do meu lado”. Como? ” Como? ....

_ Oi? Ela diz.

_ O..Oi Você? Como?...é..

Nessa hora minha Professora interrompe. _ Clara adoraria se fosse mais pontual. _ Claro Aline! Respondo meio que automaticamente. Pois não consigo parar de olha-la, encara-la... Ela está de perto com uma capuz que esconde bem seus cabelos, mas seus olhos castanhos não me traem, é ela e está aqui. Ela sorri pra mim. Como se diverte-se com minha confusão mental. Sinto aquela sensação novamente, frio no corpo, areia nos pés. Preciso sair daqui ou vou desmaiar.

_ Está tudo bem Clara? Pergunta ela e senti pousando sua mão em meu ombro._ Como sabe meu nome? Sussurro assustada._ Está escrito no seu caderno.

Marina....

Clara estava assustada. Causei isso nela, acho que deveria ter esperado mas. E não ter atropelado as coisas. Mas vê-la não é o suficiente, assistir toda vida dela, nunca foi o suficiente. Precisava ouvir de perto, sentir seu cheiro. Todos esses anos a protegendo me alimentou um desejo sobrenatural de senti-la. Preciso toca-la, e de impulso toco seus ombros e pela primeira vez em minha existência me sinto Humana, acho que essa sensação é vida. Tenho vida.

Clara....

O toque , seu color , suas mão quentes, isso não é real. Tenha aquela sensação de estar vivendo outra vida, uma vida que não é viva, faz sentido? Olho pra traz e aguardo que ela diga alguma coisa. Seus olhos, fixos nos meus, parecem atravessar o meu corpo e invadir a minha alma. Lembro desta mesma sensação na praia. Mas desta vez não desviarei o olhar. Nem um segundo sequer. Ela sorri pra mim, seus lábios movem de vagar, mal da pra perceber que ela está sorrindo mas eu sei que está. E meu coração para um pouco nessa hora. Ela deve saber desse efeito sobre mim, e parece se divertir muito com isso. Será que ela sabe que ela é perfeita? Que seu rosto é quase celestial?. Nesse momento ela ergue as sobrancelhas. Agora levemente ela tira sua mão arrastando sobre meu ombro.

_ Desculpa? Ela pedi. Afirmando o meu pensamento.

Ficamos um tempo caladas, ela não falou comigo depois do pedido de desculpas que não foi respondido. Ela parece escrever algo. O sinal do intervalo toca e antes de me levantar e sai quase correndo dali, pra pensar em tudo que está acontecendo, vejo George se aproximando de mim. "Não Não". Tudo que menos quero e ouvir ele me cantando. Mas minhas preces não são atendidas e ele se aproxima.

_Clara? _ Oi..._ Podemos conversar? _ é preciso ir na biblioteca , pode ser outra hora? Supliquei em vão. Percebendo que a garota dos meus sonhos ainda está sentada atrás de mim. Mas ela se levanta, E me olha e olha. Droga o que ela quer? E por que George não me deixa em paz?. Depois de alguns segundos constrangedores ela se levanta e sai. Quando a vejo sair pela porta, saiu sem deixar George continuar e sussurro um " Depois". Vou até a parte gramada da Universidade e respiro, respiro como se nunca estivesse respirado antes, como se estivesse afogando.

Marina...

Acho que preciso de roupas mas comuns, esses casacos com esse calor não combinou muito, assustei. Talvez mostrar meu cabelo ou usar algo mais justo. Mas fico feliz de vê-la do mesmo ângulo que ela. Sem está me escondendo por prédio ou esquinas. Talvez possamos ser amigas, será que ela vai querer ser minha amiga. Será que ela sabe do poder que tem sobre mim?.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Preciso saber se estão gostando.



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