Os anjos Amam... escrita por Sandrinha


Capítulo 1
Objetivo!


Notas iniciais do capítulo

Fic nova como prometido!



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A Lua prateada reina sem súditos num céu sem estrelas. Sob esse véu negro e amparada pela maresia, caminho e deixo pegadas que aos poucos o mar desfaz. Sinto o vento roçar meu rosto, um sabor salgado na língua, o cheiro do mar cada vez mais forte e a areia fria e dura sob os meus pés. Uma lágrima se mistura, contrastando com o sabor salgado. No peito, meu coração se agita como as ondas que encontram as rochas. Com os olhos marejados, só enxergo meus pés. De repente, uma densa névoa se forma ao meu redor e eu me vejo obrigada a parar de caminhar. Sento-me e colho um punhado de areia, que escapa entre meus dedos. Aqui ninguém pode ouvir, ninguém vai dizer nada. Estou só comigo mesma. A Lua Cheia desaparece por trás das nuvens. Faz frio, mas não tenho vontade de levantar e prosseguir. Prefiro ficar aqui até adormecer. Seria bom se eu sonhasse, se me transportasse para um lugar mais aconchegante, onde em vez do mar bravio, houvesse calmaria e onde o tempo não existisse. Os primeiros pingos de chuva lavam as lágrimas do meu rosto. Encolho o corpo abraçando os joelhos. De olhos fechados, saboreio a chuva. Até consigo sorrir por um breve instante. Apago.

***

A brisa morna afasta a cortina e os raios de sol invadem o quarto me dificultando abrir os olhos. O celular insiste, mas não tenho pressa de levantar da cama e procurar por ele. O rádio-relógio marca onze em ponto. Ao afastar o cobertor e pousar os pés no chão, reparo que há grãos de areia neles. De uma mecha de cabelo caído sobre os ombros sinto cheiro de maresia. Sinais de que eu estive mesmo numa praia, de que nada daquilo foi alucinação ou sonho. Não consigo lembrar por que fui parar lá nem como voltei para casa.

Ligo o chuveiro e deixo a água correr pelo ralo até o vapor embaçar o espelho. Ao limpá-lo, vejo minha imagem turva. Esfrego os olhos até ver com clareza o rímel escorrido, manchando meu rosto. Vestígios de um dia que eu havia esquecido. Debaixo da água, fico imóvel, de olhos cerrados, deixando a pressão da ducha massagear meu corpo. O banho dura mais tempo do que de costume. Vou ao armário e escolho um jeans stretch e a camiseta azul-clara que ganhei no meu último aniversário. Girls Just wanna Have Fun. Um toque com mais efeito do que qualquer despertador. De alguma forma Cindy Lauper nos tempos áureos tem muito em comum com a minha melhor amiga, Julianne. Pego no celular e pronuncio um alô arrastado. ― Clara! ― ela soa cansada e ofegante. ― Onde você está, sua doida? ― pergunta com uma ponta de irritação. ― Em casa... Minha amiga bufa do outro lado. Silêncio vindo de Julie é perturbador. ― Mas por que “doida”? Tínhamos alguma coisa marcada? ― meu desconfiômetro pisca incessantemente dizendo que sim. _ Claro que sim sua lesada trabalho da Faculdade!

Há dias não como direito, estou preocupada meu pai está doente, é a pessoa mais perto de mim, claro que tem minha mãe, mas meu pai ele é meu melhor amigo. Perco o chão quando me imagino sem ele. é nesse momento que me arrumo e descido ir para Faculdade.

No estacionamento da faculdade de medicina da Universidade Federal, bato a porta do carro com mais força do que habitualmente, estressada pelo trânsito. Já foi o tempo em que não havia engarrafamento nesta cidade. Eu não existia naquela época, mas meu pai enche a boca para dizer que o Rio de Janeiro já foi, além de um paraíso natural, um paraíso urbano. Eu sou deste tempo em que, a qualquer hora, em qualquer lugar, há filas quilométricas para tudo. Estou me dirigindo à guarita do estacionamento quando ouço o roncar agressivo de uma moto e sinto cheiro de combustível queimando. Tento inutilmente descobrir a direção de onde partem os sinais desagradáveis enquanto continuo a caminhada acelerando mais o passo. Queria não pensar no pior, mas esse repentino frio na barriga só aparece quando uma determinada pessoa está por perto. E nunca tenho tempo de fugir. Um sopro de vento ― por pouco não seria exagero dizer tornado ― provoca uma onda de terra sobre mim. Em segundos, estou cega e imunda dos pés à cabeça. Posso sentir a terra entranhada nos meus pulmões e mesmo sem ter aberto a boca estou com um sabor horrível como se tivesse acabado de lamber pó de cimento. Cuspir e tossir não está adiantando nada.

― Clara, acorda querida. Vamos, acorda... ― as mãos macias na minha testa são confortantes. O tom da voz aumenta: ― Ela está abrindo os olhos! ― vejo o rosto gentil de Maria, seus olhos negros, cansados, avermelhados de chorar. ― Você me ouve, querida? ― pergunta ela com um sorriso caloroso tentando desabrochar no semblante duro. ― Que bom que você está aqui. Eu pensei... ― interrompo a frase tentando organizar as ideias na minha mente confusa. ― Onde está o meu pai? E a minha irmã? O que está acontecendo, Maria? ― seguro seus braços com firmeza, eu ainda deitada no sofá e ela sentada ao meu lado. ― Fala! Nossos olhos estão fixos uma na outra; os dela são espelhos, mas há mais do que o meu reflexo neles: há desespero, angústia, temor. Há respostas sem palavras, mas há olhares que valem mais do que mil palavras. ― Clara, o seu pai... ― ela desvia o rosto para o lado, depois volta-se para mim novamente. ― Querida, o seu pai... ― as palavras saem arrastadas e eu já não quero ouvir. A voz se embarga, os olhos fecham e lágrimas escorrem. Eu continuo a mirá-la fixamente, incrédula, e ao mesmo tempo.

" Meu Pai morreu"

***

Permaneci abalada todos esses dias, não ia as aulas. Julie me ajudou bastante vinha aqui sempre que podia. Hoje bem menos, agora me sinto melhor, agora que voltei ao curso. Me sinto melhor, apesar de meu coração ter se fechado um pouco. Meu pai era muito doente, minha mãe teve que voltar de viajem. Bom agora preciso voltar a viver.

Marina...

Marina eleva os pés do chão. Suas asas abertas estendem-se de um lado ao outro do quarto, tocando as paredes. E ela permanece assim, imóvel, como se fosse um afresco no teto do meu quarto. Toda a beleza, todos os movimentos artísticos, sem paralelo para os meus sentidos: tudo está aqui. ― Estou reincidindo no mesmo erro ― diz ela, de repente. ― Por amor. Quem ama não erra. ― Como anjo, o meu amor não deve ser restrito ou diferenciado.

Preciso Falar com ela...


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Notas finais do capítulo

Não! Não abandonei as outras!



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