Marina...

Estou aqui na cama de Clara a observando dormir, me parece tão cansada. Ela está com a cabeça sobre meu ombro. Posso sentir sua respiração no meu pescoço, enquanto suas mãos estão sobre minha barriga. Pelo jeito que ela respira sinto que está com frio então envolvo minhas asas para aquece-la.

Enquanto ela dorme tranquilamente, penso quando vi ela pela primeira vez. Seus olhos e seu sorriso iluminou seu pequeno espaço. Todas as quedas de bicicleta, o primeiro choro, a primeira decepção. Todos os namoros frustrados. O medo de altura, sua decepção quando sua mãe foi embora. Mesmo estando longe a observando eu senti o quanto ela estava magoada, a mãe dela nunca vai saber o quanto sua filha mudou, o quanto Clara ficou forte com isso. Ela superou e hoje é uma mulher linda e determinada. De todas as formas diferente que eu imaginei que eu poderia está com ela, essa foi a mais inesperada, dormir ao seu lado. Eu ja havia entrado em seu quarto e a observado a noite inteira. Mas nunca deitada ao seu lado.

Cuidadosamente pego sua mão que está próxima a minha. Entrelaço nossos dedos e sincronizo nossos pensamentos, então vejo o que está sonhando. Ela está com seu pai em um lugar lindo que parece um paraíso. Mas logo vejo ele se afastando indo embora. Tendo mudar pra que não seja um pesadelo. Vagarosamente a imagem vai embaçando então transformo em uma praia, onde Clara está com sua mãe e seu pai e sua pequena irmã. Elas estão correndo por todo lugar seu pai registra tudo com uma câmera fotográfica. Então eles ficam assim rindo e correndo como se fossem infinitos. Clara está feliz e isso me faz feliz.

Da janela vejo forma que o céu está agora, deve ser umas 4;00 da manhã, preciso ir. Vagarosamente tento me levantar, Clara aperta minha mão, sorrio involuntariamente , sei que não quer me deixar ir, mas preciso. Então saiu debaixo dela, deixando a confortavelmente sobre o travesseiro e fecho minhas asas. Me aproximo de seu rosto e sussurro.

Marina _ Eu gostaria que tivéssemos uma chance. Eu daria tudo por ela.

Devagar saio de seu quarto sem antes da uma ultima olhada pra ela. Nunca vou perder esse vicio de olha-la.

***

Clara...

Estou aqui na minha cama pensando sobre Marina.

Mas se Marina caísse, não haveria esse peso sobre nossos ombros. Por outro lado, ela pagaria sozinho o preço, entregando aquilo que a maioria dos homens invejam: a sua imortalidade.

Na minha visão humana, apaixonar-se é a coisa mais natural do mundo. Quando um amor tem obstáculos, eles são vencidos sem que ninguém seja banido da humanidade. Não deixamos de ser quem somos. Pelo contrário: muitas vezes, é quando nos encontramos. É por isso que para entender uma condenação de banimento celeste, eu precisaria enxergar pelo referencial de Marina. Se eu conseguisse entender seu conflito interior! E se ela pudesse entender o meu: como é difícil permitir que ela se entregue por mim! Eu não seria uma pessoa extremamente egoísta se aceitasse isso?

***

Ofereço-me para ajudar Maria com a louça, mas antes tivesse ficado quieta no meu canto. Consigo quebrar de uma só vez um copo e um prato de sobremesa e ainda me cortar recolhendo os cacos. Maria me oferece um bandaid da Minnie. Não era bem o que eu tinha em mente, mas estancou um pouco a minha inquietude no cômodo mais perigoso da casa. Vou para a sala e procuro algo em que descontar a minha ansiedade. Sento-me e levanto-me do sofá inúmeras vezes. Tento assistir televisão. Mudo os canais como quem digita uma mensagem no celular até que Maria, enervada, tira o controle remoto da minha mão.

***

O relógio de pêndulo bate o quarto de hora e eu, encantada com a beleza do camafeu, já estava esquecendo do que me trouxe ao sótão. Como a arqueóloga que um dia quis ser na infância, depois de inutilmente soprar a poeira, guardo-o na mesma página que demarcava no livro, exatamente como o encontrei, para que mais tarde possa estudá-lo com calma. Esse sótão precisa e merece um inventário urgente. Vou até o gaveteiro em estilo inglês, provavelmente há algumas gerações em nossa família. Na primeira gaveta são apenas documentos antigos. Na segunda, pertences de papai, coisas que ele já nem daria pela falta. A terceira gaveta tem desenhos meus. Assusto-me folheando alguns; desde pequena sempre demonstrei ser uma nulidade em artes plásticas. A última gaveta, abroa devagar com uma forte expectativa. Muito bem dobradinhos e perfumados, estão os vestidos. Claro que Maria não os deixaria ganhar mofo! Eu deveria ter perguntado ao nosso “oráculo do lar” onde estavam os vestidos. Experimento um deles e não me sinto muito bem, fica comprido demais. Encontro um florido, com um decote em “V” e manguinhas delicadas com rendinhas. É quase um vestido de boneca de tão mimoso. Estes vestidos de certo modo me aproximam de minha mãe, que se estivesse aqui, mostraria satisfação em me ver vestindo roupas suas para ficar bonita para um rapaz. E este não é um rapaz é uma garota.

***

Pego meu carro na garagem e sigo até a Universidade, tenho aula e não estou nenhum pouco afim de ir. Mas saber que Marina está lá me conforta de alguma forma. Agora que não há mais segredos , me sinto melhor.

Me sento e dou um "Oi" pro meus amigos e meus olhos procuram por ela. E como esperado ela está lá, me olhando. Ela sorrir pra mim, sorrio de volta. Sei que nunca vou me acostumar com a beleza dela.

A aula se passa e eu e Marina trocamos olhares a aula inteira, parecíamos não nos importar com mais nada. Como se não se pudesse quebrar o contato, não quebramos. Estávamos conversando por olhares, até que vejo ela escrever algo no caderno ela amassa e passa deixando o papel sobre minha cadeira, abro desconfiada. Ela estava me desenhando por isso não parava de me olhar. No desenho eu tinha Asas como ela. E embaixo estava escrito.

"Você é meu anjo"

Olho pra trás e ela passa piscando pra mim. Se divertindo com meu constrangimento.

***

Intervalo chega e log Ju começa com seus questionamentos.

Ju_ Que sorrisinho é esse?

Clara_ Nada...por que?

Ju_Te conheço amiga, isso ai se chama Meirelles. Vai desenbucha

Clara_ Ta. Agente ficou.

Ju_ Só isso? hahaha ....vocês transaram , Clara você esta toda boba desde que chegou.

Clara_ Que?

Ju_ Eu sei.... conheço um "tive um orgasmo " de longe.

Clara_ Ham? Que? é..quer dizer, foi. Agente ficou.

Fiquei tão vermelha que parecia um pirulito de cereja. Mas sabia que não sairia dessa encurralada se não mentisse, odeio mentir pra Ju. Mas não sei se ela esta preparada pra ouvir, ou se posso contar. Eu ainda me sinto em um seriado da CW. Imagine ela, que quase não ver TV.

Ju_ Sabia.

Clara_ é

Ju_ E ai? foi bom?, ela se garante? é bom com mulher?

Clara_ É...Foi. Preciso pegar um livro na biblioteca volto já.

Ju_ Ta...mas não some. Vou ver meu gato....quero saber disso direitinho, viu gata.

Sai o mais rápido que pude, aquilo era constrangedor. Ju sabia me deixar sem graça. Na pressa esbarrei em George.

Clara_Desculpa... eu não vi.

George_ Tudo bem queria mesmo falar com você.

Clara_ Ok...É que...

George_ Clara..

Marina_ Algum problema?

"De onde foi que ela veio?"

George_ Estamos conversando, pode sair por favor.

Ela olhou diretamente pra mim até o momento ela não olhou pra George.

George_ Saia

George_ Olha pra mim porra.

Ele socou o armário...

Marina piscou e virou a cabeça quase em câmera lenta olhando enfim pra ele. Vá embora Marina por favor. Estava implorando mentalmente.

Ela se virou pra mim de novo e como eu não respondi ela virou de costas e quando ia embora ela sorriu.

Droga! Pensei alto, eu conheço esse sorriso...por que Marina tinha que ser tão orgulhosa.

Marina_ Você quer levar outro soco?

Vai da merda!

....