Thorns escrita por Kamereon


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Um milhão de perdões pela demora, mais uma vez '--' Sim, foi por causa da faculdade de novo, as provas e trabalhos estão consumindo o meu serrrr. Mas enfim, aqui estou com mais um capítulo. Boa leitura!



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Sasuke’s P.O.V

Acordei um pouco dolorido e em um lugar que a princípio não identifiquei. O teto era branco, as paredes eram brancas, o lençol era branco e havia outras camas no quarto, essas estavam vazias. Com certeza não era a minha casa. A situação com a Sakura não foi apenas um pesadelo, como a princípio cogitei. Aos poucos me lembrei da caminhonete e de como dirigi em alta velocidade. “Ótimo, Sasuke. Você sai com uma caminhonete que deve ter a idade da sua mãe, com os pneus carecas e a lataria enferrujada, dirige como um louco e não quer causar um acidente... Você é um gênio.”. Reconheci assim que eu só podia estar em um hospital. Um choque percorreu meu corpo quando lembrei que foi Sakura que me tirou da caminhonete, e que depois disso ela explodiu. Será que isso realmente havia acontecido, ou eu estava delirando? Como se eu houvesse chamado por ela, a porta se abriu e Sakura entrou no quarto, segurando um copinho de plástico de onde saía uma fumaça rala.

– É café? – Perguntei baixo.

– Chá. – Ela respondeu desviando o olhar, deixando o copo em uma pequena mesa ao lado da minha cama e arrastando um banco para se sentar próximo a mim.

– Ah sim, você não gosta de café... Bem que achei estranho. – Eu conversei, tentando disfarçar o clima notavelmente pesado que se instalava entre nós, que foi perceptível apenas com uma rápida troca de olhares no momento em que ela entrou.

– Como se sente? – Sakura perguntou após se sentar. Com o cabelo amarrado e uma roupa simples, seu olhar parecia bastante cansado.

– Bem. Quase não sinto dor.

– O médico disse que você não pode respirar muito fundo. Respire devagar e não se esforce por enquanto.

– O que houve? – Perguntei hesitante.

– O que houve, Sasuke? Bem, vamos enumerar... Três costelas quebradas, uma perna quebrada, um cotovelo fora do lugar e um ferimento na cabeça que quase resultou num traumatismo. Fora outras escoriações menores. Sem se esquecer da caminhonete, que deu perda total. Foi esse o resultado da sua irresponsabilidade.

Ela disse, e eu baixei o olhar. Seu tom de voz era quase ameaçador, mas não posso dizer que fosse indiferente. Ela parecia se importar bastante, mesmo depois de tudo que eu disse a ela. Eu a preocupei.

– Por que fez isso? Não podia ter sido um pouco mais prudente? Sasuke, sabe o quanto eu fiquei preocupada? Eu achei que você ia... – Ela parou, levou a mão aos lábios e se levantou, virando-se de costas pra mim e respirando fundo. Pegou novamente o copo, bebeu um gole e voltou a se sentar.

– Desculpe. – Murmurei. – Desculpe por tudo. Por ter dito aquelas coisas e por te preocupar. E obrigado por me salvar.

– Nunca mais me assuste assim. Você entendeu? – Ela disse em tom mais ameno, apontando o dedo indicador pra mim. Sorri minimamente, acenando a cabeça na medida do possível, em sinal positivo. – Agora me conte... O que fez você agir assim? Eu sei que você está escondendo algo, Sasuke. Não queira mentir pra mim agora.

Resignado, resolvi dizer. Havia como esconder? Não. Havia como bolar alguma estratégia agora? Também não. Não havia nem como fugir, eu estava literalmente quebrado. O jeito seria contar tudo e ver como Sakura reagiria.

– Aquela tarde quando seu celular apitou, era um e-mail. Eu não vi por querer. Estão espalhando boatos sobre você na empresa. Eu não sei exatamente o que, mas me pareceu sério. E disseram que você vai ser demitida por justa causa se não aparecer lá até o fim dessa semana. Vão cortar todos os seus benefícios... Vão te processar. Foi o seu chefe que enviou o e-mail.

– Hum... E foi só isso?

– Acho que serei demitido também. Parece que o meu patrão está fazendo um corte no pessoal. Eu não sei fazer mais nada da vida, Sakura. Não sei quando vou ser capaz de arrumar um emprego novamente, que vida eu seria capaz de dar a você?

– Sasuke, por que não conversou comigo em vez de armar aquele circo todo? Não seria mais fácil?

– Ah Sakura – bufei - pense bem e me responda com sinceridade. Se eu tivesse te contado tudo, e pedido pra você pelo menos ir resolver isso na capital e depois voltar, você iria? – Ela abriu os lábios na intenção de responder, mas fui mais rápido. - Não, você diria que não era preciso e ficaria aqui, sem dinheiro, sem possibilidade de arrumar emprego na cidade grande nunca mais. Não é? Eu te conheço, e de vez em quando você é bastante orgulhosa. – Eu disse, e ela pensou um pouco.

– É... Você tem razão. – Sakura respondeu, virando o rosto.

– Se você pudesse me perdoar... – Comecei. – Eu me arrependo de ter te magoado. Mas ao mesmo tempo não sei do que viveríamos. Ambos sem emprego, morando de favor, sem nada de nosso, como poderíamos viver assim? Achei que seria melhor se você fosse e ficasse bem sem mim.

Sakura sorriu e me direcionou um olhar carinhoso. Passou a mão pelos meus cabelos delicadamente, com cuidado para não tocar o meu ferimento.

– Você é muito apressado, garoto. Saiba você que eu já tenho um emprego aqui na cidade. E também não vou morar de favor. – Ela disse, e eu arregalei os olhos em surpresa e incompreensão. Como assim? – Lembra dos meus “planos”? Aqueles que eu mantive em segredo esse tempo todo?

– Lembro... Então o que, você vai me contar agora? Tinha a ver com isso?

– Sasori disse aquele dia que eu tinha uma poupança recheada... Bem, ele tinha razão. E eu ia mesmo dar entrada em um apartamento melhor pra mim, e um carro, que eram as coisas que eu precisava naquele momento. Eu juntei esse dinheiro com base nos conselhos dos meus pais, eles que me aconselharam a juntar para gastar com alguma emergência ou algo que eu realmente precisasse no futuro.

– Sim... – Eu disse, e lancei um olhar curioso pra que ela terminasse a história.

– Bem, minhas prioridades andaram mudando, você sabe. Sendo assim eu peguei esse dinheiro e dividi em três partes. Uma parte eu investi na confeitaria da sua mãe.

– O que? – Quase gritei. Gritaria, se me fosse possível.

– Você está falando com a mais nova sócia da confeitaria da sra. Uchiha. – Eu olhava pra ela boquiaberto, embasbacado, enquanto ela sorria como um anjo. – Conversei sério com a sua mãe sobre isso, e ela concordou. Ela vai continuar na cozinha fazendo os doces, e eu vou cuidar de toda a parte administrativa da confeitaria. O negócio aumentou bastante e sua mãe andava com dificuldade de administrar tudo sozinha. Por isso trabalhava demais. Comigo na administração ela pode se concentrar só na cozinha mesmo. E com o dinheiro que eu investi, logo o negócio aumenta um pouco mais e teremos condições de contratar mais gente pra ajudar. A longo prazo penso até em investir em marketing e em uma reforma.

– Mas você gastou muito do seu dinheiro com isso? Sakura, eu... Nem sei o que dizer.

– Bem, foi uma quantia razoável, mas não foi uma fortuna. Apenas o suficiente por enquanto. A terceira parte que sobrou do meu dinheiro eu guardei pra continuar juntando, pra eventuais necessidades como meus pais ensinaram. Mas sobre a segunda parte, bom...

– Continue. – Disse firmemente.

– Eu dei entrada naquela casa em frente a sua. Aquela que ficou à venda por esses tempos... – Ela disse e tentei assimilar aquelas palavras. Uau! Comprou uma casa e investiu na confeitaria da minha mãe? Ela arrumou um emprego e ainda vai ajudar a minha família. Que mulher é essa? Parte dos problemas havia se resolvido graças a Sakura. Ela resolveu antes que eu percebesse que eles existiam e eram tão graves! – Sorte que os imóveis aqui são mais baratos. Eu não te contei porque podia dar errado, havia um casal interessado e eu tive que negociar bastante. As vezes que eu saí, quase todas foram para ir à imobiliária resolver isso. Eu poderia ficar na casa dos meus pais ou na sua... Mas surgiu essa ideia, daí eu pensei “Por que não?”. Acabou que deu tudo certo.

Ficamos em silêncio, olhando um para o outro por uns 5 segundos. Me senti um pouco mais leve por saber que Sakura teria condições de ficar no interior. Mas algo ainda me incomodava.

– Bem... Eu fico mais tranquilo por você. Muito mais tranquilo, na verdade. O ruim é que eu continuo sem emprego. – Comentei um pouco cabisbaixo.

– Quem sabe eu não coloco você no caixa da confeitaria? – Sakura disse dando risada. Torci o cenho em resposta. Não me via em outra profissão. Por mais que não fosse uma profissão muito sofisticada, eu gostava de ser mecânico.

– Não sei contar dinheiro sob pressão. – Respondi, arrumando um argumento para recusar gentilmente a oferta.

– Eu te dou uma calculadora. – Ela disse e continuou rindo. Senti falta daquela risadinha de criança danada que ela tinha. Foi coisa de aproximadamente um dia, um dia e meio que não nos comunicamos direito. Mas devido a todos os acontecidos, parecia que havia se passado muito mais tempo.

– Sakura... Nós estamos bem? – Perguntei assim, do nada.

– Acho que sempre estivemos mesmo sem querer. – Ela falou. – Eu fiquei com raiva de você, pelo que você fez. Fiquei triste, arrasada... Mas lá no fundo eu sabia que tinha algum motivo. Quando eu vi você todo ensanguentado naquela caminhonete eu quase enlouqueci, esqueci da raiva. Agora que você finalmente me contou o motivo por trás do que você fez eu entendo o seu lado, você teve boa intenção. Mas mesmo que eu tenha parte da culpa por causa do meu temperamento, você agiu errado, Sasuke.

– Sakura, eu já te expliquei! O que você queria que eu fizesse? – Comecei meus argumentos novamente, mas vi que não adiantava. Depois de uma breve risadinha sem graça, resolvi constatar o óbvio. – Eu sempre faço tudo errado, não é...?

Ela se levantou com um sorriso suave no rosto e se direcionou até a janela.

– É, Sasuke... Você não é nenhum herói de romance. Você me irrita, me estressa, me chateia e sim, faz tudo errado. – Ela falava enquanto abria a janela e me fazia ver que eu havia dormido o dia e a noite toda. Já era a manhã do dia seguinte ao acidente. Após isso, andou até a minha cama e sentou-se na borda, bem perto de mim. – Mas mesmo assim eu amo você.

E me abraçou como pôde. Bem, eu estava engessado e com alguns curativos, não podia fazer esforço. Eu havia feito Sakura chorar 24 horas atrás. Mesmo assim ela quis vir me abraçar, mostrando que havia me perdoado. Era tão bom senti-la perto de mim! Tão bom sentir seu cheiro e suas mãos macias tocando meus ombros. Melhor ainda era saber que eu tinha seu perdão. Ergui a cabeça, fazendo nossos lábios se encontrarem em num beijo de reconciliação. Foi um dos beijos mais maravilhosos e dolorosos da minha vida. Maravilhoso porque estávamos bem. Estávamos juntos, sem mágoas. Eu não seria mais um sozinho desgraçado pela vida. Mas foi doloroso porque eu queria poder aconchega-la melhor em meus braços, chegar ainda mais perto e abraça-la com mais força, e então carrega-la para casa em meus braços e fazê-la minha outra vez. Mas bem, eu não podia. Teria que ficar imóvel na cama por algum tempo.

– Bem, lidar comigo também não deve ser muito fácil. – Sakura disse.

– Não mesmo. Você é muito chata, e muito irritante. Muito teimosa também. E muito irritada, precisa aprender a relaxar mais. – Falei. Eu estava de volta com toda a minha implicância.

– Tudo bem, então eu vou embora pra não te irritar. – Sakura falou e me deixou, pegando a bolsa em cima da cama ao lado que estava vazia.

– Sakura? Eu estava só brincando...

– Eu sei, seu bobo! – Ela disse dando risada. – Mas eu preciso ir mesmo. Eu tenho que chegar à capital hoje ainda. Vou ficar cerca de uma semana fora.

– Ah... – Falei simplesmente. Foi notável a minha decepção.

– Vou resolver de uma vez as coisas na empresa, devolver o apartamento à imobiliária e arrumar minha mudança. Estou levando o celular por isso me ligue, sim? Vou sentir sua falta.

– É bom que você vá resolver essas coisas, espero que dê tudo certo. Eu queria poder ir e te ajudar...

– Eu quero que você fique aqui quietinho e se recupere. Prometa que não vai fazer mais nenhuma bobagem. – Sakura falou estreitando os olhos para me intimidar.

– Sim, senhora.

– Bem... Então tchau.

Foi difícil nos despedirmos. Nos beijamos, fizemos recomendações e dissemos o quanto sentiríamos falta um do outro umas duas ou três vezes, até que Sakura encontrou forças pra atravessar a porta e me deixar. Minha mãe entrou em seguida e ficou comigo pelo resto do dia. Conversamos bastante; fazia tempo que não conversava com a minha mãe. Sempre tive uma relação estreita com ela, mas havia momentos, geralmente os mais difíceis, em que me fechava numa concha e esquecia que podia contar com ela. Contaria com ela e com Sai para passar essa semana sem a Sakura.

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Sakura’s P.O.V

Depois que o médico nos deu a noticia de que Sasuke estava todo quebrado porém ficaria bem, eu me senti muito mais tranquila embora com pena de toda dor que ele sentiu. Voltei para casa, conversei com os meus pais sobre tudo o que havia acontecido e sobre as decisões que tomei. Meu pai ficou irritado com a atitude de Sasuke, mas eu disse que tinha certeza que havia algum motivo para que ele agisse daquela forma, e minha mãe me ajudou a acalmá-lo. Logo meu pai concordou que Sasuke era um rapaz direito, e que erros aconteciam de vez em quando. Meus pais me fizeram prometer que depois eu ligaria e contaria sobre a minha conversa com ele.

Assim que saí do quarto dele já senti um peso significativo por ter que passar uma semana sem acompanha-lo na recuperação de sua saúde. Mas era necessário. E eu estava fazendo isso para desfazer de vez as amarras que me prendiam na cidade; longe dele e de tudo que era importante pra mim. Valeria a pena.

Me despedi da sra. Uchiha antes que ela entrasse no quarto para ficar com Sasuke. Encontrei minha irmã e Sai no corredor, e logo me aproximei para despedir-me dos dois também.

– Ino, logo eu estarei de volta. Ligo quando chegar e mantenho-os informados de tudo. – Disse, abraçando-a.

– Sakura, eu queria te contar uma coisa antes de ir. Ontem no meio daquela confusão eu acabei passando mal, e coincidiu que estávamos vindo ao hospital. Aproveitei para me consultar com um médico e fiz uns exames... Bem, você vai ser titia outra vez. – Ino me disse sorrindo. Sorri em resposta. Me senti velha, porém orgulhosa da minha irmãzinha. Mais nova que eu, porém enfrentando o desafio de ser mãe pela segunda vez. Ela e o Sai já faziam um ótimo trabalho com o Inojin, com certeza não seria diferente dessa vez.

– Espero que agora venha uma menina! – Falei e abracei-a forte. – Cuide bem dessa barriga. Logo eu volto para mimar a minha suposta sobrinha desde a gestação.

Percebi Sai chegando no corredor. Me aproximei para parabeniza-lo pela gravidez da Ino, mas reparei que ele estava ao telefone, e parecia bem entusiasmado. Ele dizia “Sim! Com certeza! Muito obrigado, senhor!”, sorrindo. Quando chegou mais perto de nós, começou a falar e explicar o que estava havendo.

– Eu tenho uma notícia ótima. O chefe da oficina não vai nos demitir! Nossa, eu estou tão aliviado! Eu não sabia o que ia fazer desempregado e com Ino gravida. – Sai dizia.

– Sasuke também não? – Perguntei.

– Também não. Pelo que o chefe me disse, ele não anda bem de saúde e vai embora para outra cidade, morar com o filho mais velho e fazer um tratamento. Como ele já está numa idade avançada e nós dois trabalhamos com ele há muito tempo, decidiu passar a oficina pra mim e para o Sasuke. Vocês acreditam? Ele vai passar para o nosso nome!

Depois de comemorarmos essas boas notícias finalmente eu peguei o carro e segui pela estrada em direção à capital, sem interrupções dessa vez. Sempre que pego a estrada eu gosto muito de observar as paisagens do caminho e pensar na vida. A conclusão que cheguei, pensando em tudo o que houve entre mim e Sasuke desde minha chegada até aquele dia, foi que a grande maioria dos problemas em que nos metemos foram criados por nós mesmos. Essa coisa que dizem, que a gente cresce, amadurece, e os problemas diminuem, é uma grande mentira. A gente cresce e os problemas aumentam em quantidade e qualidade, essa sim é a grande verdade. Mas a maioria desses problemas somos nós quem montamos. O que define se nós crescemos não é a falta de problemas; não é finalmente conseguir uma vida tranquila e perfeita. O que define é o modo como enfrentamos as dificuldades. Não posso dizer que eu e Sasuke estamos completamente maduros, mas posso dizer que amadurecemos. Creio que estejamos no caminho certo.

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Cheguei à capital e tentei agilizar o máximo de coisas que pude. Tratei de contratar o serviço de mudança e a começar a empacotar minhas coisas. Liguei para a imobiliária e para o meu chefe, que a essa altura deveria estar com os cabelos brancos.

Somente fui até a empresa no dia seguinte. Orientada pelo meu chefe, cheguei a tempo para uma reunião que aconteceria naquele dia. Durante a reunião descobri que o boato que corria na empresa a meu respeito, era de que eu “estava curtindo a vida com o meu amante, com a desculpa de que meu avô havia falecido e estava com problemas pessoais”. Basicamente, segundo o boato, eu não estava indo trabalhar porque não queria. As férias atrasadas que eu tinha, foram simplesmente esquecidas. Até as pessoas que trabalhavam diretamente comigo e sabiam que eu nunca havia tirado férias comentavam sobre eu estar “ausente indevidamente”.

Amante?! Sasuke agora havia virado meu amante! Ou seja, aquela baranga que Sasori exibia a todos agora não era amante dele, era apenas sua “amiga”... Não precisei nem de confirmações para entender que foi Sasori que espalhou isso tudo a meu respeito. Aliás, ele estava lá na reunião da diretoria. Interessante... Eu subi de cargo depois de muito trabalho, mas ele se arranjou logo e com muita facilidade. Bem, fiz questão de esclarecer tudo a todos os membros da diretoria que ali estavam presentes. Meu avô havia falecido sim, disse com o atestado de óbito em mãos. Quanto à parte do meu “amante”, eu assumi que sim, havia um envolvimento amoroso. Porém de nenhum jeito isso seria pretexto para que eu abandonasse o trabalho. Eles conheciam meu trabalho, sabiam que eu não era o tipo de pessoa que faria isso! Eu apenas tirei as minhas férias atrasadas que estavam devidamente documentadas, porque precisei de um tempo pra resolver os meus problemas pessoais. Foi isso que eu disse, não só disse como mostrei documentos e e-mails como provas. Eu podia dizer pra todo mundo que fiquei no interior para esquecer que fui traída pelo meu ex noivo e dar mais valor à pessoas as quais eu devia ter valorizado desde o inicio, não apenas Sasuke mas também a minha família. Eu tirei férias! Eu não deixei o serviço de lado! Eu trabalhava como um condenada, tinha direito às minhas férias, quis tirar num momento como esse pra aliviar minha cabeça! Fiz mal? Foi errado? Eu achava que não e de acordo com as legislações internas eu podia fazer isso. Foi um pouco difícil de convencer a todos. Eu tinha alguns colegas me apoiando, mas havia muitas pessoas contra mim. Sasori conseguiu fazer com que todos perdessem a confiança em mim; então era essa sua carta na manga. Me senti em um tribunal, mas tudo acabou dando certo.

Comuniquei que estava me retirando do cargo e que me mudaria para o interior de vez. Todos pareceram surpresos, de certo acharam que eu havia voltado para implorar pelo meu emprego. Por fim, ficou decidido que eu teria meus benefícios por todo o tempo em que trabalhei lá. E não seria processada. Eu devia exigir um castigo à “pessoa que iniciou o boato”, mas resolvi deixar pra lá. Poderia ter uma vingancinha doce e mais discreta.

Sasori me chamou “gentilmente” até a minha antiga sala para que eu retirasse meus pertences de lá. Com certeza ele seria promovido ao meu cargo e usaria a minha sala. Entrei na sala, e ele entrou logo atrás, fechando a porta. Achei tão estranho... Um tempo atrás, ficar sozinha na mesma sala que o Sasori seria algo completamente normal, pra não dizer ótimo. Agora isso me dava uma sensação tão ruim, era como se eu precisasse sair de lá o mais rápido possível. Ele ficou lá, me observando enquanto eu recolhia minhas coisas e colocava dentro na caixa de papelão que me arrumaram.

O diretor do nosso setor estava no corredor conversando algo com a secretária e com aquele que costumava ser meu chefe. Eles apontavam pra minha sala varias vezes como se fossem entrar a qualquer momento; e eu pude ver pois minha sala tinha um daqueles vidros com filme, os quais você vê o exterior mas quem está fora não vê o que acontece dentro. Minha mente começou a maquinar algo que poderia dar errado, mas também poderia dar certo. Resolvi arriscar.

– Sasori... Sinto muito por Sasuke ter te batido quando você foi atrás de mim. – Falei, me aproximando dele. – Às vezes sinto falta de nós.

– É sério? – Ele perguntou. Primeiro boquiaberto, depois já abrindo seu sorriso sacana e se aproximando mais. Acenei positivamente com a cabeça. – Posso matar sua saudade se você quiser.

– Sou uma mulher comprometida. – Eu disse, colocando o dedo indicador em seus lábios. Sasori estava muito perto, já querendo me beijar. Mas eu não queria beijá-lo, que nojo! Depois de tudo que ele me fez? Não mesmo. E isso tudo era apenas uma encenação... Não queria levar tão a serio.

– Não ligo muito pra isso, você sabe. – “Cachorro! Safado!” eu gritava internamente. Apenas respondi com um sorriso falso, e abri um botão de sua camisa, o que fez com que ele abrisse todos os outros e a tirasse com a maior rapidez. Me agarrou pela cintura quando vi a porta abrir. Bingo!

– Me larga, seu safado! – Gritei com toda a força e lhe dei um tapa na cara. Sasori me olhou confuso.

– O que está havendo aqui? – O diretor do setor, o chefe e a secretaria flagraram a cena. Sasori tentava se cobrir o quanto podia, já que sua camisa havia sido lançada ao outro lado da sala. A secretária tapou a boca e desviou o olhar, pasma por ver Sasori sem camisa. Era uma bela cena, eu devia admitir. Mas o ser em questão não valia um par de chinelos velhos.

– Esse tarado me chamou para que eu pudesse recolher meus pertences da minha antiga sala, e depois que eu recolhi tudo ele tentou me agarrar! – Fui logo contando tudo aos observadores, como uma criança que delata a traquinagem alheia.

– Sua louca! Você que me veio me provocar! – Sasori apontava o dedo e tentava argumentar.

– Eu? Você me traiu! Por que te provocaria depois de ter sido enganada cruelmente por você? Ora, faça-me o favor! – Eu dizia, levando a mão ao peito em um gesto de perplexidade enquanto a plateia apenas observava a discussão. – Vou me retirar... Faça bom proveito do meu cargo.

Eu disse, e pela fresta da porta sorri vitoriosa para Sasori dentro da sala, catando a camisa do chão e me olhando feio. Por fim saí daquela empresa que me proporcionou bons momentos de crescimento como profissional, porém que me deu dor de cabeça também. Fui para o apartamento terminar de cuidar da minha mudança.

–--x---

Minha volta acabou demorando uns três dias a mais. Quando contei a Sasuke pelo telefone que demoraria mais uns dias, ouvi sua voz ainda mais entristecida. Ele dizia que estava tudo bem, mas eu sabia que não.

– É que eu estou sentindo sua falta... – Sasuke dizia baixinho, timidamente. O que me fazia sorrir e querer abraça-lo bem forte. – E também não aguento mais ficar deitado o dia todo sem poder fazer nada. Não posso me mexer, comer sozinho, e nem tomar banho sozinho. É uma droga.

– Eu também estou com muitas saudades suas. O problema é que eu acumulei muita tralha aqui no apartamento, estou tendo que jogar muita coisa fora, fazer uma boa limpa. Se não fosse isso eu já teria voltado.

– Está tendo dificuldade? E as coisas pesadas, como você está conseguindo movê-las?

– Chamei uns amigos bonitões e musculosos aqui da capital pra me ajudar. – Falei dando risada.

– Sakura! – Ele disse em tom de repreensão.

– É brincadeira! Eu sou uma mocinha forte, você sabe muito bem. E olha, eu não tenho nenhum amigo bonitão e musculoso, se isso te tranquiliza. Mas espera, você disse que não pode tomar banho sozinho? Que história é essa, posso saber? – Falei brincando. É óbvio que ele precisava de ajuda até pra isso, já que estava todo engessado.

– Nem venha com ciúmes, quem sempre precisa me ajudar com o banho é a minha mãe e uma enfermeira grande feito um gorila. As vezes tenho medo dela... Está vendo só? Você precisa voltar logo e me ajudar! É muita humilhação!

Ri bastante com o relato dele, mas fiquei com pena. Imaginei como devia estar sendo difícil mesmo. Sasuke nunca gostou de ficar muito tempo parado, sem fazer nada.

Conversei com ele por mais um tempo, era inexplicavelmente bom ouvir a voz dele mesmo que pelo telefone. Ele me contou que fez exames e o médico disse que os ferimentos estavam cicatrizando bem. Se continuasse desse jeito, logo, logo tudo cicatrizaria, inclusive as fraturas. Provavelmente teria que passar por fisioterapia depois, e teria mais um tempo de licença do trabalho. Fiquei feliz porque aos poucos ele estava se recuperando. Logo eu voltaria e poderia salvá-lo da enfermeira grandona.

Durante a semana, Sasuke tinha me contado da notícia que Sai deu sobre a oficina mecânica. Ele disse que nunca imaginou uma coisa dessas; logo ele sendo um dos donos da oficina. Outras vezes até se imaginou tendo um aumento, mas nunca pensou que chegaria a esse ponto. Isso mostra que a competência e dedicação dele foram reconhecidas, achei completamente merecido. Porém, Sasuke me disse que estava com medo de não saber lidar com isso, dele e Sai acabarem falindo a oficina por falta de atenção. Mas eu encorajei-o, sabia que eles conseguiriam.

Queria ensiná-lo a sonhar mais alto.

–--x---

Dias depois, dirigia o carro de volta para o lugar o qual eu pertencia seguida do caminhão de mudança. Um tempo atrás eu achei que isso nunca fosse acontecer. Achei realmente que minha vida era na capital, cercada das coisas que conquistei. Enquanto dirigia, pensei em tudo o que aquela grande cidade significava pra mim. Percebi que eu gostava de lá e tinha boas memórias! Mas não chegavam aos pés do significado que aquela cidadezinha de interior tinha. A minha família estava lá; só depois que voltei pra casa foi que percebi o quanto eles me faziam falta e quanto precisava deles. Além disso, o amor da minha vida estava lá. Aquele que pensei que havia apagado de mim e descobri que estava totalmente errada. Eu estava errada sobre tanta coisa! Mas agora eu estava voltando atrás no meu posicionamento. Eu estava definitivamente voltando para o meu lar.


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Notas finais do capítulo

O PRÓXIMO CAPÍTULO É O ÚLTIMO!
Espero que tenham gostado ;)