Thorns escrita por Kamereon


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Desculpem novamente pela demora. Boa leitura.



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Sakura’s P.O.V

Percebi Sasuke estranho durante o resto da tarde. Ele disse que eu havia recebido um sms no celular, depois disse que não era ninguém. Verifiquei e realmente, não havia nenhuma mensagem nova no meu celular. Provavelmente o celular fez barulho pra avisar que o meu pacote de internet tinha acabado, como de costume.

Mas o que não era normal era Sasuke ficar tão calado. Eu não sabia o que tinha acontecido pra ele ficar daquele jeito. Perguntei, e ele disse que não era nada. Mas eu sabia que tinha alguma coisa de diferente sim, ele não podia esconder o olhar tão desanimado. Resolvi não falar mais nada, por hora. Deixar que no dia seguinte ele desse algum sinal de que havia voltado ao normal, ou eu conversaria sério com ele pra saber o que estava havendo. Me preocupava tanto com ele!

De manhã quando desci, Sasuke estava de costas, apoiando a vasilha de cereais na pia e despejando o leite. Não colocou a mesa.

– Bom dia. – Eu disse, abraçando-o por trás.

– Hum. – Ele respondeu. Estava de boca cheia. Mas isso geralmente não o impedia de me dar bom dia, já o vi falando de boca cheia uma centena de vezes.

– Você dormiu bem? – Perguntei ao reparar nas olheiras fundas que se faziam presentes próximas aos seus olhos.

– Mais ou menos.

O que fazer? Eu daria espaço pra que ele ficasse chateado com “sei lá o que” em paz, ou tentaria de todo modo saber o que estava acontecendo? Travei uma batalha interna durante alguns segundos entre essas duas alternativas, enquanto tomava um pouco de iogurte. Sasuke, logo que terminou seu pote de cereal se levantou da cadeira e respirou fundo. Começou a falar.

– Sakura... Você precisa ir embora logo.

Engoli seco, devido o olhar profundamente serio que ele direcionou rapidamente a mim, e logo após desviou, mirando um ponto qualquer no chão.

– Como? Por quê? Não entendi. – Falei desacreditada. Eu tinha entendido errado! Sim, devia ser isso. Eu devia ter entendido errado o sentido com o qual ele disse aquilo.

– É isso mesmo que você ouviu. Volta logo pra capital, pro seu trabalho. Vai embora. – Ele disse e foi a minha vez de respirar fundo. Meu coração acelerou de nervosismo, senti meus lábios tremerem e minha cabeça girar. Devia ser um pesadelo. Havia algo errado.

– Por que está falando isso agora? Não foi você que me pediu pra ficar? Eu quero ficar aqui com voc, Sasuke! Eu não entendo... Por que insiste nisso agora?

– Eu já disse o que tinha pra dizer. – Ele me deu as costas.

– Você não me quer mais por perto? É isso? – Perguntei, e obtive o silêncio em resposta. Corri até ele e agarrei seu braço. - Sasuke... Me conta o que aconteceu, você não é assim! Conversa comi-

– Eu já disse pra você ir embora! Pega suas coisas e vai embora logo daqui, que droga! – Ele gritou. Gritou com os olhos vermelhos e o corpo tremendo. Gritou com uma voz grossa, rouca, nunca havia ouvido aquele timbre. Me assustei com esse lado feroz do garoto que conhecia como ninguém e que havia se transformado num belo homem. Conhecia, ou pensava que conhecia. Senti a primeira lágrima escorrendo pelo meu rosto e um gosto amargo no fundo na garganta. Foi tudo tão rápido, custei a entender que ele estava mesmo me mandando embora. Não sabia o que havia feito. Não sabia por que estava tão zangado. Pensei ter achado o olhar dele um pouco triste no início, mas já não sabia de mais nada.

– Ok. – Eu disse simplesmente. Subi as escadas com a visão completamente embaçada. Do penúltimo degrau, ainda assustada e trêmula como um cão acuado, reuni um resto de forças e peguei a simples aliança de prata que circundava meu dedo. A aliança que tanto me alegrou há alguns dias serviu pra que eu mostrasse toda a minha indignação, confusão e raiva diante das coisas que Sasuke me disse, diante do olhar estranho que me lançou. Joguei a aliança com toda força em direção à sala. Ela acabou atingindo a mesinha de centro da sala, que com seu tampo de vidro, acabou trincando.

Bati a porta com força e me lancei à cama, despejando todas as minhas lágrimas nos lençóis. Como isso poderia ter acontecido? Por que Sasuke começou a agir assim comigo, do nada? Ele não me amava mais? Pelos céus, não havia motivo pra isso tudo, eu não conseguia entender! Minha vontade era descer, abraça-lo bem forte e dizer que seja lá o que fosse que estivesse acontecendo com ele, iríamos enfrentar isso, que eu não ia deixa-lo. Finalmente estávamos felizes, juntos! Tantos anos pra nos reencontrarmos, assumirmos um ao outro todos os nossos sentimentos, eu não queria que isso tudo acabasse. Não queria voltar à estaca zero. Eu queria continuar sendo feliz! Continuar vivendo aquele conto de fadas que vivi durante os dois meses em que estive na casa dele! Em um impulso levantei da cama e quase abri a porta para tentar argumentar, conversar com ele outra vez. Mas o orgulho falou mais alto.

“Ele quer que eu vá embora... Então eu vou fazer a vontade dele.”

Peguei minhas malas e enfiei as roupas com toda a minha raiva. Um certo vestido verde com pequenas flores vermelhas parou em minhas mãos antes que eu o lançasse à mala. Observei o tecido por algum momento, lembrando o dia em que usei-o pela primeira vez. Eu e Sasuke passeamos durante todo o dia e depois tivemos nossa primeira noite juntos. Foi um dia tão maravilhoso! Então o que, era tudo uma farsa?

Não podia ser. Conhecia o Sasuke desde criança, desde que era apenas uma pura criança. Eu não podia estar enganada com o olhar sincero que ele me direcionava toda vez que dizia que me amava. Nada fazia sentido. Algo tinha acontecido, disso eu tinha certeza. Mas ele não quis me dizer. Não confiou em mim, será?

Quando desci as escadas ele já não estava mais em casa. Tinha ido para a oficina, ter um dia normal de trabalho, enquanto eu chorava cada vez mais, a cada lembrança bonita que me vinha à mente. Peguei o carro e fui à casa dos meus pais. Encontrei Ino assim que entrei e abracei-a bem forte.

– Eu vou embora agora. – Disse, entre lágrimas.

– O que? Por quê? O que houve, você e Sasuke brigaram outra vez? Vai passar Sakura, vocês sempre fazem as pazes. – Ela disse.

– Dessa vez é diferente... Ele me mandou embora. Você acredita? Me mandou embora! Como quem enxota um bicho! Depois de tudo o que aconteceu entre nós ele teve coragem de simplesmente me mandar embora da casa dele, Ino! Ele gritou comigo!

Ela prestava atenção em cada palavra minha boquiaberta. Absorvia tudo lentamente, chegou a abrir e fechar a boca algumas vezes, querendo dizer algo e depois se retraindo.

– Sakura, Sasuke não é assim. Nós o conhecemos, sabemos que ele não é esse tipo de pessoa, tem certeza que não aconteceu nada que tenha mexido com ele?

– Deve ter acontecido, mas ele só insistiu em me mandar embora. Eu também achava que o conhecia... Mas acho que me enganei. Vai ser sempre assim, Ino?

Conversamos por mais alguns momentos. Ino tentando me acalmar, tentando me convencer a ficar e a pensar melhor. “Você pode ir embora se quiser, mas pare de chorar, fique aqui por hoje e se acalme!”, ela dizia. Mas não, eu estava decidida. Não queria mais ficar na cidade, não queria mais ver nada que me lembrasse do Sasuke. Todas as coisas que sentia quando lembrava as palavras dele me faziam sufocar. Eu precisava ir embora logo!

Disse à Ino que explicasse a situação aos nossos pais quando eles estivessem em casa, e que eu ligaria pra falar com eles assim que chegasse à capital. Eram aproximadamente 9h30 da manhã, quase 10hrs. Se saísse logo, chegaria por volta das 14hrs. Sem mais lágrimas a derramar por enquanto, um pouco mais calma, porém ainda muito triste, peguei o carro e rumei em direção à estrada. O sonho havia acabado.

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Sasuke’s P.O.V

Flashback on

– Alô, Sasuke?

– Fala, Sai... O que aconteceu pra você me ligar essa hora? – O relógio marcava 23h30.

– Cara, eu não tenho uma noticia boa pra te dar. Eu saí mais tarde da oficina hoje... Está sentado?

– Estou deitado. Pode falar. – Eu já estava com a cabeça cheia por causa do e-mail que eu li no celular da Sakura, e agora vinha mais noticia ruim por aí. Perfeito.

– O chefe vai fazer algumas mudanças na oficina. Ele disse que vai fazer um corte no pessoal... E disse que quer nos ver depois de amanhã na sala dele, no fim do expediente.

– Espera, mas nós somos funcionários antigos da oficina! Será que ele vai ter coragem de nos demitir? Logo eu e você? – Protestei. Não era possível!

– Eu não sei, cara... Sinceramente não sei. Estou preocupado, tenho contas a pagar e família pra sustentar. Estou morando de favor na casa dos meus sogros, mas já estava planejando alugar uma casa, assim o Inojin teria um quarto decente pra brincar. Espero que sabendo disso o chefe não tenha mesmo coragem de fazer isso conosco. Mas o que mais poderia ser?

Pois é... O que mais poderia ser? Uma enxurrada de maldições.

Flashback off.

Pela manhã eu dei um basta na situação. Confesso que não sei de onde tirei forças pra falar com a Sakura daquele jeito. O e-mail do chefe dela passeou pela minha mente a tarde e a noite toda. Pensei no que fazer. Se eu dissesse a Sakura que ela devia resolver essa situação e depois voltar pra cá, provavelmente ela não me daria ouvidos, não agora. Deixaria que os boatos sujos, sejam eles quais fossem, corressem pela empresa, e seria demitida por justa causa sem direito a nenhum benefício. Seria processada! Conhecia Sakura muito bem, sempre soube que ela leva trabalho muito a sério. Certamente era uma funcionária muito competente, eu não poderia deixar que ela fosse mandada embora desse jeito. Passei a noite inteira pensando no que poderia fazer. Ela deveria sair da empresa sem boatos, com tudo esclarecido, e com os devidos benefícios. Minha raiva aumentou quando pensei em Sasori. Podia ter sido ele a começar os tais boatos. E se os boatos forem realmente graves? Mas eu sabia, Sakura ia resolver tudo do próprio modo. Perderia tudo lá, da pior maneira possível. Tudo bem que ela estava se esforçando para ficar na cidade, mas tinha certeza de que esse não era o modo certo dela se livrar das coisas que conquistou na capital.

E ainda havia essa má notícia que Sai havia me dado. Provavelmente seria dispensado da oficina dentro de poucos dias. E se Sakura ficasse, como eu poderia ajuda-la aqui? Ela viria morar de vez aqui em casa, ou na casa dos pais dela. Do meu ponto de vista, eu acreditava que ela não arrumaria um emprego pra se manter assim, da noite pro dia. Precisaria de ajuda, minha e dos pais. Eu como namorado faria questão de ajuda-la! E agora não teria mais salario nem pra mim, quanto menos pra ela. E como eu poderia pedi-la em casamento, no futuro? Eu não sabia fazer mais nada da vida, apenas ser mecânico. Não havia outra boa oficina na cidade em que pudesse pedir emprego. Não fazia a mínima ideia de qual outro cargo eu poderia arrumar.

Depois de rolar na cama a noite toda e pensar em todas as atitudes que poderia tomar, cheguei à conclusão de que eu deveria romper com Sakura. Seria melhor pra ela. Eu viveria como um desgraçado sem amor e sem dinheiro para sempre, mas eu queria o melhor pra ela. A ideia da Sakura ficando aqui e do nome dela correndo á boca de todos na empresa em que ela trabalhou, e ainda perdendo o que é dela por direito pelo simples fato de que eu queria que ela estivesse comigo me fazia sentir extremamente egoísta. Eu não tinha forças para falar sobre o e-mail com ela porque na verdade eu queria que ela ficasse aqui, ao meu lado. Era óbvio! Mas ao mesmo tempo, só de pensar em vê-la abandonando tudo dessa maneira por minha causa e tendo inúmeros prejuízos por isso... Eu me sentia nojento. Ela ficaria e sorriria pra mim todos os dias. Mas eu sei que ela ia sofrer. Só pra começar ela ficaria sem dinheiro, morando de favor e com o nome sujo nas empresas da capital. De que valeu todo sacrifício e empenho que ela teve durante todos esses anos?

Sabia o que ela tinha falado sobre mim. Sabia que eu era importante pra ela, o quanto ela gostava de mim. Mas eu queria mais pra Sakura. Queria que ela tivesse mais oportunidades e chances que eu. Queria que ela fosse mais afortunada que eu, em todos os sentidos, não apenas financeiro. Talvez ela devesse encontrar alguém melhor também... Essa ideia me fez sentir péssimo durante boa parte da noite, confesso. Mas eu precisava fazer isso por ela. O meu futuro poderia ser representado por um monte de esterco de vaca, e eu não queria Sakura compartilhando disso. Precisava dar um empurrão pra que ela tivesse um futuro brilhante, ela merecia.

Aquele e-mail me fez ver que a Sakura ter ficado aqui só atrapalhou tudo na vida dela. Ela poderia eventualmente descobrir Sasori depois, e ser feliz com outra pessoa, em seu emprego, seguir sua vida normalmente. Mas ela se envolveu em uma bola de neve cada vez maior lá na capital por ter ficado aqui na cidade. E foi por minha causa. Queria que tivesse outra solução, eu juro. Tanto que passei a noite inteira procurando caminhos melhores. Queria que ela me abraçasse e me dissesse que tudo ficaria bem, e magicamente tudo ficasse realmente bem. Mas não é assim que as coisas acontecem. A realidade é diferente.

Então eu disse todas aquelas coisas. Quando ela se assustou com o meu grito, meu coração se partiu em mil pedaços. Eu tive vontade de acariciar seu rosto e dizer “estou terminando pro seu bem, vai ser melhor pra você Sakura, pra sua vida.”, mas eu não podia. Precisava me manter firme e fingir que queria que ela fosse mesmo embora. Depois que ela subiu e bateu a porta, eu peguei do chão a aliança dela. Apertei na palma da minha mão e me permiti derramar algumas lágrimas, me sentando no sofá e abaixando a cabeça, como um fracassado. Era isso que eu era. E eu não podia permitir que a Sakura tivesse um fracassado ao seu lado. Não podia permitir que ela fosse uma fracassada comigo. Logo sequei o rosto e fui trabalhar, encarar a realidade. Era necessário.

–--x---

Cheguei à oficina atordoado. Todos notaram que eu estava diferente, e me olharam com alguma piedade. Certamente pensaram que eu estava daquele jeito por causa da possível demissão. Bom, uma dos motivos era justamente esse. Mas na verdade era um conjunto de motivos, sendo o mais forte de todos a briga que eu forcei com Sakura. A expressão ferida em seu olhar. Sua presença e seu cheiro doce que não estariam mais em casa quando eu voltasse. Pensar nisso tudo me dava um nó na garganta e raiva ao mesmo tempo, raiva de mim. Por que tanto filho da mãe nasce rico, bonito e cheio de oportunidades e outros comem o pão que o diabo amassou a vida inteira? O meu caso era o segundo, obviamente. O problema foi que eu experimentei o paraíso e não queria voltar ao inferno. Era doloroso demais. Eu deveria aguentar tudo pelo bem do meu anjo, mas seria extremamente difícil.

Eu usava as ferramentas com força e brutalidade, descontando assim minha revolta com a vida. Calado e com um turbilhão de pensamentos em minha mente, eu fazia meu trabalho como um homem das cavernas.

– Cara calma, você vai acabar amassando o carro desse jeito! – Sai veio e segurou meus braços. Soltei as ferramentas de qualquer jeito, por pouco não atingiram meus próprios pés. – Vamos lá fora respirar um pouco.

Sai se sentou comigo em um banco, na esquina próxima á oficina. Abriu a boca para dizer algo, mas notou que em minha mão esquerda havia duas alianças de prata, e não apenas uma. Uma delas estava no dedo anelar, habitualmente. A outra estava no mindinho.

– Vocês brigaram?

Respirei fundo, querendo conter o que eu sabia que não conseguiria mais. Segurei por mais tempo do que conseguia. Simplesmente abaixei a cabeça e chorei como uma criança ali, no meio da rua. A única vez em minha vida que eu chorei daquela maneira foi quando Sakura foi embora anos antes, e agora isso se repetia.

– Sasuke, vocês sempre voltam. Ela ama tanto você, qualquer um pode perceber isso.

“Sim, ela me ama. E eu fui o idiota que quebrou o coração dela.” Isso só me fez chorar mais forte. Soluçando, eu abanei a cabeça em negação, já que não conseguia dizer nenhuma palavra. Já não respirava direito, e Sai percebeu isso. Me levantou pelos ombros e disse:

– Vamos lá em casa um pouco, você não pode trabalhar assim.

Mesmo sendo um caminho curto, Sai pegou a caminhonete velha e enferrujada da oficina. Os instantes que se seguiram foram de lembranças intermináveis, como em uma linha do tempo. Primeiro, recordei a nossa adolescência juntos. Todos os passeios, as brincadeiras, a vida na escola na qual eu tinha apenas a Sakura ao meu lado. Também lembrei das vezes em que, como um covarde, eu planejava me declarar a ela e recuava com medo de ser rejeitado, focando sempre a minha baixa auto estima em vez do meu sentimento por ela. Sem que eu percebesse já tínhamos chegado na casa dos pais da Sakura, onde Sai morava.

– O que houve agora? – Ino perguntou assim que nos viu entrando.

– Eu não sei, Ino. Ele só começou a chorar muito... Nunca vi o Sasuke assim. Eu sei que aconteceu algo entre ele e a Sakura. Você sabe de alguma coisa? – Sai cochichava com a esposa.

Me olhei no espelho da sala; estava deplorável. Olhos inchados e vermelhos, os cabelos bagunçados e a expressão completamente vazia. E foi aí que comecei a pensar em fazer uma loucura. Não uma loucura ruim... Talvez fosse uma loucura boa. Afinal, por que eu fiz isso comigo mesmo? Por que fiz isso com a Sakura? Eu ouvia Sai e Ino conversando sobre a nossa situação, mas não entendia bem as palavras. Minha mente estava ocupada recordando mais uma vez o nosso passado juntos. Nossos primeiros beijos na cozinha da minha casa e tudo o que senti quando via os olhos dela brilhando pra mim. E por mim! Quantas vezes eu prometi que ficaríamos juntos? Quantas vezes prometemos um ao outro que nada nos impediria de ficar juntos dessa vez, que nada nos atrapalharia. Quando me senti sem valor, Sakura me provou o quanto eu valia para ela. De repente eu percebi que eram incontáveis as vezes em que dissemos que ficaríamos juntos a todo custo! Olhando ao redor notei a mesa de jantar, onde nos sentamos e conversamos com os pais dela sobre nossa situação, assumimos nossos sentimentos a eles. Eu prometi ao pai dela que não a magoaria como Sasori fez. E adivinhem só? Eu a magoei.

Uma parte de mim dizia que eu havia feito a coisa certa; estava direcionando a vida da Sakura para um futuro melhor. O amor tem um pouco disso, não? Você querer o melhor para a outra pessoa, mesmo que o melhor para ela te faça feridas. Mas outro lado meu dizia que eu estava errado. Que eu deveria cumprir minhas promessas. Um homem precisa ter palavra! E a promessa que tínhamos feito é que ficaríamos juntos, pura e simplesmente isso. Nesse momento, Inojin chegou na sala.

– O que está acontecendo, mamãe? – Foi tudo o que ele disse, mas eu lembrei das palavras dele na noite daquele jantar. Ele me chamou de “tio molenga”. Foi piada do Sai, o pequeno não fez por mal. Mas o fato é que eu lembrei, e meu subconsciente quase gritou em meu cérebro:

“Vai continuar sendo um molenga até quando, Sasuke?”

Num impulso, peguei as chaves da caminhonete que rodavam nos dedos de Sai e corri até lá fora. Ouvi-os gritando algo, mas não prestei atenção em uma só palavra. Tudo que fiz foi pegar aquela lata velha caindo aos pedaços e tentar alcançar a Sakura na estrada.

–--x---

Nunca fui impulsivo assim, mas já era hora de ser. A verdade é que eu não sabia o que dizer, queria apenas tentar conversar com ela outra vez. Não sabia como me explicar, não sabia como contar a ela o motivo por eu ter sido tão idiota. Não sabia se ela ia querer me ouvir. Aliás, eu nem havia chegado à conclusão se eu realmente havia agido certo ou não, afastando-a de mim. A única coisa que eu sabia era que precisava ver de novo o rosto da Sakura, me certificar de ela estivesse bem, ou que ficaria bem. E dizer a ela que apesar de tudo, eu ainda a amava. Além disso, sei lá! Eu queria que mais algumas palavras saíssem de meus lábios; palavras que resolvessem a situação toda, que fizessem tudo ficar bem. Eu não sabia que palavras eram essas, mas pretendia descobrir no caminho. Acelerei o máximo que pude para alcançá-la.

–--x---

Sakura’s P.O.V

Mais calma, eu dirigia pensando na vida. Tinha que me acostumar com as coisas como seriam dali em diante. Voltaria ao trabalho e ao meu apartamento. Os planos que tinham dado certo para que eu ficasse no interior, eu teria que desfazê-los. Mas tudo bem. Quando dirigi pela mesma estrada indo em direção ao interior há dois meses, meu carro quebrou. Quando avistei Sasuke vindo para consertá-lo eu não imaginei que tudo isso aconteceria. Apenas disse a mim mesma Você já tem 25 anos, é uma mulher forte, decidida, linda e noiva de um deus grego. Não se deixe abalar por um amor platônico da época do colegial.” Eu não era mais noiva do tal “deus grego”. Estava sozinha agora, mas forte e decidida eu teria que ser. Quanto ao “amor platônico da época do colegial”... Eu precisaria aprender a rebaixar Sasuke a isso, apenas isso. Eu conseguiria. Definitivamente conseguiria. Lá no fundo eu sabia que esquecê-lo ia ser muito mais doloroso do que foi seis anos antes. Mas eu precisava acreditar que ia conseguir. Se eu não acreditasse em mim, quem acreditaria?

Em dado momento, ouvi um veículo buzinando insistentemente. Olhei o retrovisor e percebi que estava em alta velocidade. Por um instante achei que era a caminhonete da oficina em que Sasuke trabalhava, mas não deu tempo de ver direito. Após a curva em que estávamos a caminhonete capotou três vezes e parou na contra mão, próximo ao acostamento. Pisei no freio e senti meu sangue gelar. E se fosse Sasuke naquela caminhonete? E mesmo se não fosse, se eu fui testemunha de um acidente o meu dever era prestar socorros ou no mínimo chamar uma ambulância. A estrada estava sem movimento algum; ainda não tinha chegado à estrada principal que é mais movimentada. A passos lentos, saí do meu carro. Por sorte a caminhonete não parou de cabeça para baixo.

Sabe quando você passa por uma emoção tão forte que não consegue chorar? Foi o que eu passei quando vi Sasuke dentro daquela caminhonete. Cada membro do meu corpo tremia como uma folha de palmeira ao vento. O que me deixou ligeiramente mais calma foi perceber que o peito dele subia e descia, mostrando que estava respirando. Estava vivo! Mais que rapidamente peguei o celular.

– Ino? – Ela atendeu rápido, graças a Deus.

– Sakura? Você não sabe, o Sasuke...

– Ino, liga pra uma ambulância agora! E-eu to no quilômetro 45 da municipal, rápido! – Eu disse com a voz embargada pelo susto.

– O que aconteceu? Sakura, você está bem?

– É o Sasuke! Rápido Ino, por favor! – Dito isso, desliguei o celular. Eu não pude ligar pra uma ambulância assim que o vi, o numero do resgate sumiu instantaneamente da minha cabeça.

Lembrei dos filmes de ação que víamos, em que carros explodiam facilmente e um aperto agudo atingiu meu peito.

“- Carros não explodem assim tão fácil, precisa de um impacto grande na bateria, pra acontecer um vazamento de gás. Aí sim ele explode.” – Ele explicava. Não foi o numero do resgate, mas foi isso que me veio à mente e me fez querer tirá-lo dali o mais rápido possível.

– Sasuke! Sasuke! – Gritei o mais alto que consegui, enquanto forçava a abertura da porta. Ele havia ferido a cabeça e o sangue escorria pelo lado esquerdo de seu rosto. Assim que consegui abrir a porta do automóvel, pensei em sacudi-lo para acordá-lo, mas fiquei com medo que isso pudesse machuca-lo mais. Por isso gritei mais uma vez e ele acordou amolecido pelo desmaio.

– Sasuke, está me ouvindo? Você precisa sair daqui, rápido! Consegue andar? – Perguntei com alguma esperança. Ele lentamente tentou se colocar para fora, mas notei a expressão de dor que ele fez. Ajudei-o a sair, nem sei como tive forças para auxiliar Sasuke a sustentar seu próprio corpo. Ele mancava, não podia encostar uma das pernas no chão, e um de seus braços também estava imóvel.

A explosão realmente veio. Estávamos a uma distancia razoável da caminhonete, por isso não nos queimamos. Em compensação, sofremos o impacto da explosão, que nos fez cair e rolar pelo asfalto. Arranhei um pouco do meu rosto e cotovelos, mas nem notei na hora. Me levantei para acomodar Sasuke o melhor que pudesse até que a ambulância chegasse.

– Eu, - Ele começou a dizer assim que apoiei sua cabeça em minhas pernas, mas foi impedido por uma tosse. Sasuke tossiu sangue e demonstrou dificuldade de respirar, e foi aí que eu me arrepiei por completo e voltei à tremedeira inicial, que havia diminuído apenas um pouco. Abri mais um botão de sua camisa, abanando na altura de seu rosto com a minha mão na esperança de que ele respirasse melhor. A ambulância precisava chegar logo, era horrível saber que ele estava machucado e não saber exatamente como ele estava machucado! – Sakura eu fui um idiota. – Ele disse de uma vez, com muita dificuldade.

– Shhh, fique quieto! Você pode piorar e...

– Desculpa. – Continuou, e eu reprimi a vontade de tapar a boca dele com a minha mão para que ele não se esforçasse falando. Em meu coração, os sentimentos conflitavam. Eu não me esqueci do quanto Sasuke foi estúpido e grosseiro comigo algumas horas antes. Mas esse fato não importava mais naquele momento. Não me fazia desejar mal algum a ele, pelo contrário, eu buscava por qualquer sinal que mostrasse que ele ficaria bem.

– Sasuke, você precisa ficar quieto... Depois conversamos melhor. – Eu disse sem tirar meus olhos dele nem um instante. Não era hora de conversar sobre nós.

– Eu amo você. – Ele falou, mas nenhum som saiu. Apenas entendi porque o movimento de seus lábios enquanto dizia tal frase era inconfundível.

– Vai ficar tudo bem. – Falei num sussurro, passando minha mão suavemente pelo rosto dele. Foi apenas para secar o suor; assim minha cabeça justificou meu ato. Mas meu coração batia forte, eu sabia que precisava qualquer tipo de afeição, carinho por ele.

Sasuke piscou lentamente, demonstrando sinais de sono. Quase chorei devido às suas palavras num momento tão horrível, mas segurei assim que ouvi a sirene da ambulância. Os paramédicos fizeram os primeiros socorros e levaram Sasuke em segurança até o hospital, onde esperei por notícias do médico que o atendeu. Ino, Sai e a sra. Uchiha logo chegariam.


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Notas finais do capítulo

Reta final da fic, só mais dois capítulos pra terminar. Espero que tenham gostado