Thorns escrita por Kamereon


Capítulo 19
Capítulo 19 - final


Notas iniciais do capítulo

Pra estrear minhas férias, posto o último capítulo aqui pra vcs. Boa leitura! ♥



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Sasuke’s P.O.V

Ela chegou, e eu estava feliz por isso. Muito feliz, exageradamente feliz. Ainda não podia sair correndo, abraça-la e girá-la no ar, sentiria dor se o fizesse. Mas poderia vê-la. Isso já estava de bom tamanho por enquanto. Foi horrível ficar sem Sakura por perto, a ansiedade pra que ela voltasse logo era enorme; eu não tinha absolutamente nada pra fazer o dia inteiro. Os primeiros dias de conversa com a minha mãe e leitura de livros até foram agradáveis, mas logo eu não tinha mais assunto com ninguém e tudo se tornou tedioso demais. Fora isso, eu tinha constantes pesadelos sobre o acidente. Às vezes eu revivia as cenas que presenciei, outras vezes eu sonhava com um acidente parecido acontecendo com Sakura. Isso também me dava medo. E se ela sofresse algo na volta? Sakura era uma motorista prudente, ao contrário de mim naquele dia. Mas os fatos me deixaram impressionado e juntando com a minha mente vazia, eu acabava pensando demais em coisas como essas.

Contudo, finalmente Sakura chegou sã e salva. Ela veio falar conosco, mas logo saiu em direção à rua. O caminhão de mudança veio junto, e como eu já estava em casa, da janela da sala eu pude ver pessoas entrando e saindo da casa em frente a minha – aquela que Sakura tinha comprado -. Ela entrava e saía de lá também, carregava algumas coisas, gesticulava e aparentemente, dava ordens aos funcionários do frete, ao Sai e ao pai dela, que estavam ajudando também. Às vezes eu custava a acreditar que ela realmente tivesse comprado aquela casa e virado sócia da minha mãe na confeitaria. Quando me lembrava disso eu sorria sozinho. Parecia um sonho! E a minha promoção na oficina? Completamente surreal e inimaginável. Nem em meus melhores devaneios eu pensava em algo assim. Uma sensação boa se espalhava por mim. Parecia que tudo finalmente, depois de tantos altos e baixos, estava dando certo. Comecei então a pensar em algo que selasse esse período de boas notícias e que facilitasse a manutenção desse clima tão bom que se fazia presente.

–--x---

Mais tarde, depois que todas as caixas e móveis tinham sido devidamente postos no interior da nova casa, Sakura veio ficar comigo um pouco mais. Sentou-se no sofá visivelmente cansada.

–E então, mocinho. O que me conta de novidade? – Perguntou.

– Nada... Apenas tédio. – Respondi apático. Ela sorriu e se aproximou. Examinou meus ferimentos como se fosse médica.

– Você tem se alimentado bem? Parece melhor mesmo.

– Minha mãe tem me entupido de comida natureba. Não vejo a hora de comer uma pizza bem gordurosa e cheia de queijo. - Desabafei. Eu estava chateado. Na verdade, meu humor andava oscilando desde que o tédio se instalou em mim.

– Eu tive uma ideia - Sakura disse baixinho, quase cochichando. - Acho que até o fim de semana eu consigo terminar de arrumar a casa. Daí no sábado à noite você vai pra lá, nós comemos pizza, assistimos filmes e podemos jogar vídeo game se você puder.

– Sim! A minha costela ainda está cicatrizando, mas eu dou um jeito de ir. E você compra pipoca? E também sorvete! - Eu disse e ela riu do meu desespero por carboidratos e um pouco de diversão.

Logo um mês se passou e com ele se foram os meus gessos e ataduras. Minha rotina agora tinha melhorado, tinha sessões de fisioterapia algumas vezes por semana e já andava sem muletas. Não poderia ainda voltar ao trabalho e nem abusar dos movimentos, mas com certeza a situação estava melhor.

–--x---

Sakura’s P.O.V

Às vezes eu precisava me certificar de que não estava vivendo em um mundo paralelo. Eu estava morando onde deveria morar, com um emprego suficiente para meu sustento e descanso, perto das pessoas que amava. Aos poucos, Sasuke se recuperava. Parecia que tudo de bom que estava acontecendo havia se desmontado, e agora estava se montando novamente e de maneira ainda melhor.

Sasuke passava algumas noites comigo, na minha nova casa. Na verdade, desde o início queríamos um tempinho pra ficar juntos com mais, digamos... Privacidade, se é que me entendem. Mas no início ficamos em dúvida de que explicação daríamos à sra. Uchiha. Os meus pais eventualmente saberiam também, mas creio que evitariam pedir explicações.

Eles sabiam que eu vivia no apartamento de Sasori e ele no meu, quando eu estava morando na capital. Na ocasião, tivemos uma conversa um tanto monossilábica sobre o assunto “privacidade com seres do sexo masculino”, onde eu disse que eu já era grandinha, sabia me cuidar e não era nenhuma desajuizada. Digamos que eu estava um pouco irritada. Na verdade, envergonhada, muito envergonhada por ter que passar por esse assunto com meus pais. Mas tudo ficou devidamente acertado e eles prometeram me dar esse tipo de liberdade, desde que eu prometesse que continuaria me cuidando e que conversasse com eles quando necessário, sobre qualquer assunto.

Bem, isso foi com meus pais, mas e com a sra. Uchiha? Sasuke me disse que nunca conversou sobre esse tipo de assunto com ela, ela nem mesmo sabia se o filho era virgem ou não. Como faríamos? Sasuke diria “Ah mãe, eu vou dormir na casa da minha namorada essa noite. E também na próxima. E nos próximos fins de semana também.” Seria muito óbvio. Parece até bastante normal, afinal de contas somos dois adultos! Mas com certeza não era normal para eles que nunca haviam tocado no assunto. Apesar de Sasuke já ter 25 anos, muitas vezes era tido como “o garotinho da mamãe”, o que é compreensível já que moraram apenas os dois por tanto tempo. Agravava a situação ainda o fato de que nos conhecemos desde crianças. Como será que ela reagiria quando soubesse que andamos fazendo “coisas de adulto”?

Numa sexta feira, perto das 22hrs da noite, Sasuke chegou a minha casa com o rosto ruborizado. Perguntei o que havia acontecido e ele não disse nada, apenas ficou olhando pra qualquer ponto vago na parede com um olhar esquisito, nunca tinha visto antes.

– Vamos, me fala logo o que houve. Senão eu vou à sua casa perguntar pra sua mãe o que aconteceu. – Falei.

– Não! – Ele disse e segurou o meu braço. – Tá, eu falo. É que a minha mãe estava adiantando outra encomenda em casa... Eu reclamei com ela, disse que ela devia descansar. E aí ela disse uma coisa estranha pra mim.

– O que ela disse? – Perguntei, super curiosa. Ele começou a narrar os fatos e então contou exatamente o que a sra.Uchiha falou.

“Me deixa trabalhar em paz, sua namorada mora aqui na frente, não sei o que você ainda está fazendo em casa em plena sexta feira à noite. Mas passe na farmácia antes, ainda não está na hora de vocês me darem netos.” – Sasuke contou. - Ela disse isso depois de jogar uma vasilha em mim. Olha só o meu ombro. – Ele afastou a blusa e mostrou um vergão vermelho na pele. – Ainda bem que era de plástico.

Abri minha boca em surpresa, e acho que senti pelo menos metade da vergonha que Sasuke sentiu na hora. A sra. Uchiha era sempre tão meiga, sempre tinha as palavras certas no momento certo, sempre cheia de doçura... E agora agiu como um vulcão em erupção. Foi assim que descobrimos que ela já sabia sobre a profundidade que nosso relacionamento havia tomado. Talvez tivéssemos subestimado a inteligência dela; qualquer pessoa que tivesse um contato mais próximo conosco poderia supor que nossa relação já havia ficado séria a ponto de passarmos algumas noites juntos.

Também fiquei chocada pelo comportamento explosivo e incomum que a sra. Uchiha apresentou. Sasuke disse que não era tão incomum assim, não para ele que morava com ela e a conhecia como ninguém. Ele me contou que “ela fica nervosa assim por causa da tpm, menopausa, ou qualquer dessas coisas.”, palavras do próprio Sasuke. Ele ainda me disse que acabou acostumando com essas crises de nervosismo que ela dava de vez em quando, mas que realmente não conseguia entender como ela pôde dizer algo assim com tanta naturalidade. Nunca havia ouvido sair da boca de sua santa mãezinha nenhuma palavra nem relacionada a sexo, para ele foi muito constrangedor ouvi-la falar daquele jeito sobre nós. Bem, para mim também.

Mas algum dia ela ia saber mesmo, não é?

–--x---

Havia alguns dias que Sasuke andava agindo estranho comigo. A cada fim de semana ele parecia mais romântico. Me olhava de modo tão gentil e protetor, mais do que de costume. Uma vez, cochilei no sofá enquanto assistíamos a um filme e acordei com ele passando os dedos carinhosamente sob a minha aliança prateada, a qual ele pegou do chão e guardou com cuidado pra que eu usasse depois daquele fatídico dia.

– Que foi? – Perguntei ainda sonolenta.

– Agora sim, vai dar tudo certo, né? – Ele disse, e eu continuei sem entender nada. Fazendo enigma enquanto eu estou praticamente dormindo? Não dá Sasuke, não dá.

– Hm? – Resmunguei. Ele sorriu e continuou.

– Nada. Volte a dormir, vou te levar até o quarto.

E mesmo que eu tentasse dizer que não era preciso, Sasuke me pegou no colo e me deitou na cama, beijando meu rosto e sussurrando um “eu te amo” cuja sinceridade era indiscutível. Me cobriu delicadamente e depois de alguns minutos veio deitar-se ao meu lado.

Na manhã seguinte, acordei com o barulho da porta do quarto se abrindo.

– Sakura? Eu vou levar minha mãe pra fazer uma entrega... Volto logo, tá? – Ele disse, apenas colocando a cabeça pra dentro do quarto. Seu tom de voz parecia um pouco hesitante. Nem veio me dar um beijo de bom dia, nem nada... Insensível.

– Ok. – Respondi curtamente enquanto assimilava que estava acordada.

Cerca de um minuto depois eu me levantei. Também não era tão cedo assim, mais ou menos 9 da manhã de um belo domingo de sol. Fui me arrastando até o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, e quando cruzei o corredor em direção à cozinha algo me chamou a atenção. Havia um espelho no meu corredor, um espelho onde eu havia deixado presas duas fotos. Uma foto era minha e de Sasuke quando éramos crianças, ele tinha um sorriso infantil e bem sapeca no rosto, enquanto eu fazia pose levando o bracinho à cintura. Já a outra foto era uma que tínhamos tirado no dia do nosso passeio no parque. Ao lado das fotos, no vidro do espelho, havia algo escrito com batom. Geralmente isso acontece em filmes de terror! Quando parei para ler o que estava escrito meu coração quase parou. Mas não foi como num filme de terror, muito pelo contrário...

“Sakura,

Desculpa por usar o seu batom e sujar o seu espelho. Cheguei à conclusão de que sempre fiz tudo errado e vou continuar fazendo. Por exemplo, eu devia dizer isso de outro modo, mas definitivamente não tenho jeito com as palavras. Eu sou o Sasuke, afinal. Você sabe o quanto eu sou incomum. Meu pedido vai ser tão incomum quanto eu.

Sakura, case comigo, por favor. Não quero sair do seu lado nunca mais.

Eu te amo, sua irritante”.

Como lidaria com isso? Quase surtei. Tanta coisa boa passou pela minha cabeça em tão pouco tempo! Minha respiração ficou acelerada e eu dei um passo em direção à porta. Queria ir atrás dele, quem sabe desse tempo! Com essa ideia na cabeça, corri o mais rápido que pude até a rua sem perceber que eu estava de camisola e hobby. Avistei-o antes de entrar na casa da mãe dele.

– Sasuke! – Chamei-o e parei, ainda ofegante pela surpresa e pela corrida. Com a voz começando a embargar, continuei – Aquilo, é... Aquilo que você escreveu... É verdade mesmo? É sério?

– Bem... Eu não encontrei canetinhas, e achei que um bilhete na geladeira seria ridículo...

– Sasuke! Só me responde! – Ele ia enrolar, dizer que não sabia como fazer o pedido e tudo mais. Mas eu sinceramente não estava me incomodando com nada. Sorrindo da maneira mais linda que já vi na vida ele finalmente me respondeu.

– É sério.

Terminei a corrida e me lancei em seus braços. Sasuke retribuiu o abraço com a mesma força que eu; giramos abraçados pelo jardim como descrito nos romances. Quando paramos, estávamos sorrindo como duas crianças. Até me lembrei da maneira como dávamos risada quando brincávamos há muitos anos. Ainda envolvida em seus braços, ele me beijou com paixão, mas ao mesmo tempo com muito carinho. Retribui do mesmo modo.

– Isso foi um sim? – Ele perguntou, unindo sua testa à minha.

– É claro que foi um sim. – Respondi olhando firmemente em seu olhar. Quando íamos selar outro beijo, a sra. Uchiha saiu de casa.

– Filho, vamos? Eu já peguei tudo. – Ela falou enquanto terminava de fechar a porta. – Querida, o que está fazendo na rua vestida desse jeito?

Foi aí que me dei conta de como havia saído de casa. Com vergonha, senti meu rosto esquentar e Sasuke fechar melhor o meu hobby.

– Eu volto logo. – Ele prometeu.

– Tudo bem. – Sasuke beijou minha testa e eu entrei rapidamente.

Depois que ele voltou nós almoçamos todos juntos, eu, Sasuke e a sra. Uchiha, na casa deles. Ela já soube do pedido e nos parabenizou. Pude ver o brilho em seus olhos só de falar no nosso casamento. Aos olhos dela, seu “garotinho” finalmente iria se tornar um homem e se casar. Casar... Até eu me arrepiei algumas vezes só de pensar. Quando era adolescente costumava pensar muito nisso, planejar detalhes e imaginar como seria me casar com Sasuke.

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Sasuke’s P.O.V

Algum tempo se passou e o grande dia havia chegado. Eu não sei quanto a Sakura, mas eu me sentia muito ansioso. Escolhemos a pequena capela de madeira da praça central da cidade, cuja porta principal dava para uma bela vista de um lago. Os raios dourados do sol penetravam o local, deixando a decoração ainda mais bonita. Fizemos questão que a cerimônia fosse simples, porém de muito bom gosto. Depois que os casais de padrinhos entraram, as portas se fecharam para logo se abrirem e revelarem a minha futura esposa. Eu não conseguia parar quieto, mexia as mãos, colocava-as no bolso, tirava-as de lá, passava pelos cabelos... Até que a porta finalmente se abriu, com Sakura e seu pai conduzindo-a pelo braço. Foi só aí que parei completamente, e fiquei abobalhado olhando para ela. Toda nossa história juntos passou pela minha mente em um segundo; me arrepiei. Sorri quando ela sorriu e não fui capaz sequer de desviar meus olhos dos dela. O vestido escolhido por ela era simples como a decoração, diferente dos modelos que acabei sendo obrigado a ver nas milhares de revistas de noiva que ela comprou. Era simples, bonito, delicado e decididamente era a cara dela. Não fazia com que me lembrasse daquela Sakura que chegou aqui para o velório do avô, uma mulher de negócios, moderna e sofisticada. Lembrava-me a doce e gentil Sakura de quando acampávamos e nadávamos em cachoeiras na adolescência. O tecido leve dava a impressão de que ela estava flutuando pela igreja.

A cerimônia transcorreu serenamente, como se estivéssemos em um ambiente de sonhos e fantasias. A recepção foi bastante animada, e aconteceu na confeitaria da minha mãe. No meio da festa, após as várias fotografias que tiramos, nós nos despedimos da nossa família e fomos para a casa da Sakura, que seria nosso novo lar.

– Ah, foi cansativo... Mas foi tudo lindo. – Ela disse, tirando os sapatos e as flores que enfeitavam seu cabelo.

– Você gostou? – Perguntei, um pouco sem jeito.

– Eu adorei. – Ela disse. Seus olhos verdes me olhando profundamente, junto da pouca iluminação da sala me deixaram hipnotizado. Segurei-a pela cintura e a beijei, simplesmente porque quis. Seus dedos finos envolveram minha nuca, me aproximando mais.

– Sabia que eu sonhava com isso tudo? Sempre sonhei em casar com você.– Ela me confessou baixinho, entre nossos beijos.

– Posso imaginar. Você não era a única. – Seus olhos brilharam intensamente e seu sorriso iluminou tudo. A verdade é que eu não sonhava exatamente com “o casamento” em si. Quando era mais novo, esse não era um detalhe que passava muito pela minha mente, acredito que isso seja mais característico de meninas. Mas sonhava com o dia em que ela pertenceria a mim. Corpo, alma, coração e meu sobrenome ao lado do nome dela. Agora era real.

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Acordar no dia seguinte olhando para Sakura ali, compartilhando os mesmos lençóis que eu já não era tão novidade assim. Porém dessa vez era diferente. A noite anterior, dentro daquele quarto, havia sido uma das mais especiais de nossas vidas. Talvez empatasse com a primeira vez em que fizemos amor no meu quarto, quando ela ainda estava hospedada lá em casa. Os sentimentos, as sensações, tudo era diferente. Tudo era mais significativo. Ela era minha agora, e pra sempre.

A pele de suas costas nuas se arrepiou quando passei de leve o meu dedo indicador pelo contorno de sua coluna. Ela acordou sorrindo, coisa rara de se ver.

– Bom dia. – Ela disse, se virando pra mim e se aconchegando em meu peito.

– Bom dia. Pelo jeito, a senhorita acordou feliz hoje.

– É a primeira vez que eu acordo e tenho uma aliança dourada na minha mão esquerda. Isso não acontece sempre, não é? E tem mais...

– Hum, o que mais?

– Eu tenho uma surpresa pra você. Arrume as malas. – Ela disse. Me olhava divertida e sapeca, como quem tramava algo.

– Que?

A princípio eu não entendi por que ela tinha dito aquilo. Mas logo Sakura me explicou que tinha preparado uma lua de mel pra nós. A mais nova senhora Uchiha havia me enganado direitinho. Me disse que não daria para viajarmos por enquanto, usou vários tipos de desculpas... Agora me dizia que iríamos viajar. E nem me contou para onde! Quando perguntei pra onde iríamos, ela disse que era segredo. Apenas disse que eu deveria colocar na mala as roupas mais leves que tivesse. Mais tarde chegávamos ao litoral do país; Sakura sabia que eu nunca havia visto o mar. Passamos quatro dias conhecendo praias, tomando água de côco e assistindo o sol se por. Ela acertou em cheio, como em tudo que faz.

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Já chamei a Sakura de muitas coisas durante toda a minha vida. Quando éramos crianças, ela era a “menina chata da rua de trás” e posteriormente, a “Sakura irritante”. Crescemos um pouco e aí eu simplesmente a chamava de “Sakura”, mas internamente queria chama-la de “minha namorada”. Depois que ela decidiu partir, por alguns dias ela virou uma “garota maldita” que me deixou sozinho e infeliz. Depois que a tristeza passou, eu a diminuí. Me referia a Sakura como “ela”. Não queria lembrar como era bom dizer o nome dela, na verdade eu queria não me lembrar de mais nada. Mas então ela voltou e acabou com todo o meu plano de esquecê-la de uma vez por todas. Eu até tentei dar continuidade ao plano, mas ele fracassou completamente.

E foi o melhor fracasso da minha vida.

–--x---

Quatro anos depois.

– Sasuke, por que você fez isso comigo?! Eu vou morrer! Eu com certeza vou morrer! – Sakura dizia aos berros. Eu estava assustado, completamente estático, com os olhos arregalados e a respiração descompassada, sem saber o que podia fazer para melhorar a situação. “Eu sou um inútil”, pensei e logo em seguida ela gritou mais uma vez.

– Mas Sakura... Você quis, lembra? Você me disse que queria. – Tentei me defender.

– Eu sei o que eu disse! Ah meu Deus, eu nunca senti tanta dor na minha vida!!! - Sakura reclamou mais uma vez. De repente a campainha tocou. Graças a Deus, era Ino e Sai.

– Ino, ajude a sua irmã, por favor, eu não sei o que vocês fazem nessa situação, mas eu não sei mais o que fazer, ela está chorando e gritando, e...

– A Sakura é tão dramática! Nem parece minha irmã, eu mantive a calma em todos os meus dois partos.

Estávamos prestes a ganhar nosso primeiro bebê. Sakura se contorcia e gritava no sofá enquanto Ino foi tratar de acalmá-la e eu fui procurar as chaves e o documento do carro, os quais eu jurava que não sabia onde tinha colocado.

– Sai, fica com as crianças, tá bom? Eu vou com eles. Avisa a sra. Uchiha e os meus pais, por favor. Vai dar tudo certo. – Ino dizia ao marido que carregava a garotinha mais nova no colo e olhava Inojin, que agora já tinha oito anos, andando de bicicleta na calçada.

– Tudo bem. Me ligue se precisar. Sasuke?!

– O que? – Me virei e da cozinha olhei para o meu amigo na porta da minha casa.

– Fica tranquilo, cara. Vai ficar tudo bem. – Sai disse para me tranquilizar.

– Vai mesmo? – Me aproximei e diminuí o tom de voz. - Ela está me culpando por estar grávida! Acho que se ela pudesse ela estaria me batendo agora. – Desabafei e Sai riu.

– Não se deixe levar pela calma da Ino, na primeira vez que ela ficou grávida foi igualzinho. Mas logo passa, não se preocupe.

Respirei fundo e voltei a procurar as chaves e o documento. Voltei para a cozinha, algo me dizia que tinha sido lá que havia os visto pela última vez. Abri a geladeira na intenção de pegar um pouco de água, mas encontrei algo mais lá dentro.

– Achei! – Na hora eu nem liguei, mas depois achei estranho. O que as minhas chaves e o documento do carro estavam fazendo na geladeira? Eu definitivamente não era mais o mesmo. Estava ficando louco!

– Ótimo. Agora pega a minha bolsa e a bolsa do bebê, rápido! – Sakura disse. Aparentemente estava mais calma. Depois ela me disse que era um intervalo entre uma contração e outra.

Liguei o carro já completamente suado e nervoso. Dirigi até o hospital o mais rápido que pude porém com o maior nível de segurança que consegui. Ino ia no banco de trás junto com Sakura que tinha voltado a sofrer de dor.

–--x---

Sakura’s P.O.V

A dor era insuportável. Antes eu achava que não havia dor pior que cólica, mas agora penso totalmente diferente. Ali estava eu, em pleno trabalho de parto. Estava nervosa, com medo e horrível. Sim! Toda descabelada e inchada. Eu não queria que Sasuke me visse naquele estado por isso pedi pra que ele ficasse fora da sala enquanto eu tentava empurrar o bebê para fora da minha barriga. Sabia que ele ficaria assustado ali, além disso, pensei que teria forças sozinha. Mas eu não conseguia... Ao mesmo tempo em que precisava de alguém em quem confiasse pra segurar minha mão e dizer que tudo ficaria bem, eu também pensava em Sasuke fora da sala. Devia estar andando de um lado para o outro, preocupado.

– Doutor, eu queria fazer um pedido. – Falei com dificuldade. Eu não sabia se seria possível que Sasuke entrasse na sala àquela altura. Mas eu queria perguntar, tinha que tentar. – Será que é possível que o meu marido venha ficar comigo?

O médico perguntou se era isso mesmo que eu queria, já que no início eu pedi pra que ele ficasse lá fora. Mas logo uma enfermeira foi busca-lo. Ele entrou com touca, máscara, e toda aquela roupa esterilizada, mas mesmo assim o reconheci no momento em que entrou.

– Ainda bem que você me chamou, eu estava preocupado.

– Desculpa... É que eu não queria que você me visse nesse estado. – Tentei explicar.

– Você é boba, Sakura. – Ele disse sorrindo, porém aparentemente nervoso.

– Eu preciso que você me ajude, Sasuke! Eu estou com medo, eu não aguento mais fazer força... Eu não consigo!

– Você consegue sim, eu sei que consegue. – Sasuke disse firmemente, segurando minha mão sem que eu precisasse pedir. – Eu estou aqui com você agora. Vamos, mais um pouco de força, logo ela vai estar aqui. Deixa eu ver se ela já está saindo e...

– Não! Não, eu faço força, mas fica aqui, não vá ver nada.

Imagina só se ele fosse ver o que estava acontecendo? Com toda certeza ele desmaiaria. Sasuke não era lá muito forte pra ver sangue, sabia disso desde o dia em que ele caiu de bicicleta e rasgou o braço, fazia uns 10 anos. Ele precisava ficar comigo.

E comigo ele ficou. Respirei fundo, inspirei o máximo de ar que pude. Apertei bem forte a mão dele enquanto eu fazia força pela ultima vez. Um choro enjoadinho logo foi ouvido por todos, e eu suspirei aliviada. A dor ainda estava lá, mas quem é que se importava com ela? Eu, certamente não me importava mais. Sorri em meio as lágrimas, tantos sentimentos se misturavam... O médico logo a trouxe para perto de mim, e assim que conversei com ela, ela parou de chorar.

– Não chore, meu anjinho. A mamãe e o papai estão aqui. – Falei com alguma dificuldade. O pai chorava disfarçadamente, achando que eu não repararia, e segurava de leve a mãozinha esquerda do neném tão esperado por nós.

Posso dizer que essa foi a história de como meu melhor amigo se tornou alguém indesejável para mim, e depois se tornou o homem da minha vida. É claro que não para por aí; depois de ver nossa filha pela primeira vez eu esqueci toda a dor que passei, e consequentemente tivemos mais duas crianças nos anos seguintes, exatamente como eu sonhava. As fotos na sala, a banheira relaxante no nosso quarto, os tênis cheios de lama do gramado em que as crianças brincavam – tudo como pensei. A vida seguiu simples como deveria ser, porém em nenhum momento a simplicidade em que vivíamos foi um problema. Acho até que fomos mais felizes justamente por isso. Quando olho pra trás, vejo que muitas coisas boas e ruins aconteceram antes de conseguirmos chegar onde estamos. Eu poderia dizer que gostaria de voltar atrás e tomar atitudes diferentes, excluir as más decisões e os momentos ruins. Mas não, eu não mudaria nada. É como os espinhos de uma rosa. Eles são resultado de dificuldades e adaptações, terminando em amadurecimento e tornando a rosa uma flor excepcional, sem deixar de ser linda e ter um aroma agradável. Os espinhos são como os momentos ruins que passamos. Mas cada momento, bom ou ruim, contribuiu de alguma forma para a nossa situação final. Aprendemos tanta coisa, crescemos tanto! Essa é a nossa história, com todas as suas particularidades. Às vezes a gente só precisa de um empurrãozinho do destino pra ver que nossa felicidade é mais simples de se conquistar do que se pensa. Não dá pra perder tempo pensando no quanto somos inferiores ou incapazes de fazer isso ou aquilo. A felicidade está logo ali, basta estender os braços.

FIM


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Notas finais do capítulo

Acabooou! E aí, gostaram? Eu sei que eu não sou a melhor escritora do mundo, nem tenho a melhor criatividade. Também não tive todo o tempo do mundo pra revisar e reescrever a fic do modo como deveria e gostaria (não tenho palavras pra descrever como meu semestre foi difícil, uhauh). Mas essa história é tão especial pra mim que quis muito postá-la aqui, espero que tenham gostado mesmo com detalhes a serem corrigidos e tal.
Espero também que eu tenha conseguido passar alguma mensagem através da fic, acho legal quando podemos tirar algo de importante pra nossa vida, mesmo quando lemos por prazer.

Também queria ser um pouco chata. Houve épocas em que eu pensei seriamente em desistir da fic pq não tinha retorno de vcs. TODO, absolutamente todo comentário de incentivo REALMENTE incentiva o escritor. Eu agradeço de coração por cada uma q tirou um tempinho pra me incentivar, mas também queria que aquelas q não comentaram (e que tem conta aqui kkk) pensassem um pouquinho não só em mim, mas em todas as autoras. Quando a gente não recebe comentários e recomendações, dá um desânimo gigantesco, sério. A gente até se pergunta coisas do tipo "será que eu sou tão ruim assim?" kkk. Eu sinceramente ainda penso se vou voltar a postar alguma coisa aqui no nyah, mesmo com projetos na cabeça. Ah! Comentários do tipo "cadê o hentai, eles tem q se pegar logo" também chateiam demais as autoras, porque poxa, a história tem um fluxo e isso é importante! (não que eu tenha recebido um comentário assim. Recebi um parecido, mas muito mais educado e q não me deixou chateada, kkk. Só que eu fiquei sabendo de autoras que receberam assim e pensei que ia ficar mto mal se acontecesse cmg.)

Mas enfim, mesmo com altos e baixos eu amei a experiência, não sou super experiente em postar longfics e essa aqui foi especial pra mim. Espero poder contar com vcs no futuro, caso volte a postar.

Beeeeijos