Thorns escrita por Kamereon


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, chuchus



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Sasuke’s P.O.V

Não tem como dizer o quanto foi bom acordar e ver Sakura ali, dormindo do meu lado e usando os mesmos lençóis que eu. Não foi como da ultima vez, em que eu tive um pesadelo e acabei dormindo na cama dela como uma criança dormiria na cama da mãe. Não... Dessa vez eu que pedi pra ela ficar. E ela não só ficou como cuidou de mim. Aliás, aquela dor nas costas praticamente sumiu, graças a minha "enfermeira particular". Se não fosse essa dor nas costas, talvez, só talvez, nós tivéssemos dado um passo a mais na nossa relação. Dessa vez não havia achado estranho ou me sentido envergonhado por todo aquele clima entre nós. Muito pelo contrário. Senti que estava cada vez mais deixando de lado a imagem de apenas melhor amiga que eu tinha da Sakura. É claro, nada apagaria o fato de que éramos melhores amigos. Mas finalmente eu podia dizer “estamos namorando” sem achar estranho, ou pensar que estava sonhando. Foi algo como “cair a ficha”.

Surpreendi a mocinha, abraçando-a bem forte e escondendo meu rosto na curva de seu pescoço.

– Bom dia... - Sussurrei. Ela resmungou ainda de olhos fechados, enquanto puxava o lençol até cobrir nossas cabeças. Definitivamente isso significou um "não me faça levantar agora".

– Teimosa! - Fingi que brigava com ela. - Daqui da pra ver pela janela que o sol está bem forte lá fora. Não demore muito pra levantar, tenho planos pra hoje.

Beijei-lhe o pescoço e saí da cama. Fui logo preparar o café da manhã, porque se dependesse de mim o dia seria bastante longo.

Essa saída da minha mãe mexeu bastante comigo. Eu ficava o tempo todo olhando para o celular, pra ver se ela ligava ou mandava algum sms. Ela me pediu pra que eu esperasse ela ligar, porque se eu ligasse poderia atrapalhar o trabalho dela. Como bom filho, estou obedecendo, mas com uma vontade enorme de desobedecer.

Por outro lado, a saída dela também fez com que eu me sentisse diferente em relação à Sakura. Era a primeira vez na vida que ficávamos completamente sozinhos em uma casa. E durante o fim de semana inteiro! Isso fazia com que vez ou outra eu me pegasse pensando em nós como um casal recém casado.

– Bom dia. - Sakura disse com sua voz rouca de quem havia acabado de levantar. Ela estava usando a camisola do Bob Esponja, aquela que eu disse que gostava.

– Ainda bem que você levantou, eu estava quase indo te chamar de novo. Vem, senta aqui. - Eu puxei uma cadeira pra que ela se sentasse. Sorriu brevemente quando viu que eu coloquei a mesa do café sem trocar o açúcar pelo sal dessa vez. Fiz questão de fazer suco de laranja natural, comprar pão fresco e fatias de queijo. Cortei em pedacinhos o bolo de banana que minha mãe fez antes de viajar e coloquei num prato bonito, não esquecendo os cereais e o iogurte. Assim aprontei a mesa para que tomássemos um café tranquilo e farto, diferente dos demais dias da semana quando tínhamos menos tempo disponível.

– Uau, quanta coisa... - Ela dizia enquanto se sentava ainda sonolenta.

– Coma bem, e depois vá se arrumar. Nós vamos sair. - Eu disse.

– Onde nós vamos?

– Onde você quer ir?

– Eu pensei em um lugar, mas acho que você não vai gostar. Por isso te perguntei...

– Pode me levar onde você quiser. Eu confio no seu gosto. – Ela dizia enquanto se espreguiçava outra vez e sorriu, quase fechando os olhos.

–--x---

Sakura despertou de vez logo depois que começou a comer e beber. Conversamos bastante sobre coisas sem muita importância como o clima, sobre um filme que ia entrar em cartaz no cinema e sobre marcas de pasta de dente. Terminamos a conversa no meio de uma leve discussão sobre a diferença entre "biscoito" e "bolacha". Essa cidade grande definitivamente não havia feito bem pra ela. Voltar pra cá chamando bolacha de biscoito, onde já se viu?!

Ela subiu e foi se arrumar. Eu, primeiro arrumei aquela bagunça que fizemos na mesa, e só depois disso subi pra me arrumar também. Eu pensei que poderia deixar a bagunça lá, mas imaginei o olhar assassino da minha mãe se eu fizesse isso.

Não demorei muito a colocar uma calça jeans e uma camisa polo confortável. Bati na porta do quarto de Sakura pra perguntar se ela já estava pronta, mas "espera mais um pouquinho" foi tudo o que ela respondeu. Desci e fiquei esperando no sofá. Olhei no relógio, eram quase 10hrs da manhã. O sol estava bonito, as nuvens bem brancas e o dia não estava exageradamente quente. Eu olhava o céu pela janela quando ouvi os passos dela descendo as escadas.

Sorri abertamente. Ela estava usando o vestido que eu havia comprado pra ela há alguns dias. Seu rosto estava diferente, possivelmente estava usando um pouco de maquiagem. O cabelo estava solto, e ela usava uma sapatilha e bolsa combinando.

– Você me deu o vestido e eu nem te mostrei como ficou... Você gostou? - Ela perguntou um pouco sem jeito. - Eu não sei aonde vamos, por isso não sei se a roupa tá adequada e... Sasuke? Por que está sorrindo assim? O que eu fiz? - Ela dizia enquanto baixava a cabeça, na intenção de procurar algo que estivesse diferente demais em sua roupa, e puxou a bolsa provavelmente pra pegar algum espelhinho.

– Está linda. Muito linda. - Sorri e beijei-a, aprofundando o beijo delicadamente.

– Você está diferente, Sasuke. Você está bem?

– Só estou dizendo que você está linda. O que tem de estranho nisso? Você não é minha namorada, afinal? E seu vestido foi comprado por alguém que tem muito bom gosto. – Pisquei para ela e tratei de me recompor. Não dava para ficar o dia todo com a cara de babaca que eu com toda certeza estava fazendo, isso não era do meu feitio.

– Você é uma pessoa tão humilde que até me emociona, Sasuke. – Sakura disse, secando lágrimas falsas no canto dos olhos esverdeados.

Sim, ela havia ficado mais linda do que normal dentro daquele vestido. Eu faço besteira de vez em quando, mas não dava pra negar que ter comprado aquele vestido para Sakura foi decididamente algo mais do que certo. Era quase como se uma obra de arte tivesse saído de um quadro e estivesse bem na minha frente.

Foi aí que notei que estava ficando um pouco meloso demais. Ainda bem que nunca verbalizei essas palavras, pareceria uma moça.

–--x---

– Então... Você ainda não me contou aonde nós vamos. - Sakura disse

– Hum... Lembra aquele parque em que acampamos uma vez? Faz bastante tempo.

– Lembro sim. Como esquecer aquele acampamento? Você jogou um sapo na minha barraca.

– Justamente, eu imaginei que você não ia gostar de lembrar isso - Eu disse sorrindo. - Mas reformaram lá, e uma parte do parque se tornou um mini zoológico. Achei que você ia gostar de ver. Você costumava gostar de animais.

– Menos de sapos. - Sakura dizia. Aparentemente ainda guardava rancor daquele dia.

– Ah, deixe disso. Já faz tanto tempo! E eu até te pedi desculpas.

– Pediu sim, mas porque sua mãe obrigou! - Ela disse, apontando o dedo indicador em minha direção, enquanto sorria pela lembrança. - Mas vamos lá sim. Quero ver como ficou depois da reforma.

O caminho até lá não foi assim tão longo. O lugar ficava em uma região um tanto afastada da cidade, porém não tão distante. Assim que chegamos, Sakura saiu do carro em disparada, e começou a falar várias frases do tipo "uau, esse lugar mudou tanto!" ou então "nossa, há quanto tempo não venho aqui?" e coisas do tipo. Não seria exagero dizer que a animação dela era comparável à animação de uma criança.

– Sasuke, eu esqueci minha carteira... - Ela disse um tanto envergonhada.

– Você quer comprar alguma coisa?

– É que eu fiquei com vontade de algodão doce. Quero o azul! - Sakura contou, apontando para o senhor que vendia doces próximo ao portão do parque. - Tem problema você comprar pra mim? Eu te pago depois.

– Sakura, por favor, né?! É só um algodão doce. Não precisa me pagar por isso.

– Hum... Obrigada. - Ela dizia enquanto segurava meu rosto e dava um beijo estalado na minha bochecha.

Foi uma manhã realmente agradável. Caminhamos juntos pela parte onde havia as jaulas dos animais, e Sakura até tirou foto de alguns deles, usando o celular. Na verdade não foram alguns... Acredito que o celular dela já estava cheio de fotos de animais de diversos tipos. Tanto dos maiores quanto dos menores. Até que ela inventou de tirarmos uma foto juntos, já que não tínhamos nenhuma atual. Tiramos algumas, e na última foto Sakura sugeriu que fizéssemos careta, e lá foi ela pôr a língua de fora pra ficar engraçada. O que aconteceu foi que eu reparei que a língua dela estava azul por conta do algodão doce, e não pude sustentar a minha careta. Comecei a rir, e então ela desfez sua careta inicial para direcionar a mim um olhar de dúvida por que não sabia do que eu estava rindo. E foi exatamente nesse momento que a câmera finalizou a foto. Em vez de caretas, tivemos uma Sakura confusa e eu dando risada.

– Você estragou a foto! Tá rindo de que?

– Sua língua tá azul!

– Nunca viu ninguém com a língua azul, não? Eu comi algodão doce, é natural que esteja colorida.

– Me lembrei daqueles cachorros chow chow, que tem a língua azul igualzinho a sua.

– Mas você é um ridículo mesmo, um idiota! - Ela me xingava enquanto me batia e dava risada ao mesmo tempo. Não sei se ria de si mesmo ou da minha piada boba, o que importa é que ela estava sorrindo e que eu tive um deja vù. Quando éramos adolescentes, essa coisa de fazer piada com a Sakura e apanhar depois era muito mais que frequente. E talvez o mais engraçado de tudo isso fosse que eu sabia que ela queria ficar brava comigo, mas não conseguia.

Implicamos mais um com o outro, mas não durou muito tempo. Logo a frente estava a jaula do leão, um dos animais que a Sakura mais gostava. Ela sempre achou bonito, me lembro até de um ano na escola em que o caderno dela tinha a figura de um leão na capa. Vi Sakura emudecer e caminhar até lá perto.

– Uau... É tão lindo! - Ela disse, com seus olhos brilhando e um leve sorriso brotando em seus lábios. O leão andava de um lado para o outro, exibindo sua juba e seu porte, como se estivesse em um desfile. Era possível ainda ver ao fundo uma leoa e um filhote dormindo, perto da entrada de uma caverna improvisada.

– Por que você gosta tanto de leões?

– Ah, eu não sei. Eles são tão grandes, tão imponentes... Parece que estão sempre protegendo o bando. É bonito.

– Você devia ser veterinária e cuidar de leões no zoológico. - Falei brincando.

– Não, não. Gostar é uma coisa, mas ter coragem de ir lá cuidar e tudo mais... Não, acho que eu não teria coragem. Gosto de ser administradora, gosto muito mesmo. - Sakura disse, dando uma risada curta. Alguns instantes de silêncio se seguiram, com Sakura observando cada movimento do animal e eu ali, apenas parado observando-a.

– Está gostando do passeio? - Disse. Eu queria fazer daquele dia, um dia especial. Não por algum motivo específico, só queria que fosse especial, divertido, que fosse particularmente memorável. Mas eu não tinha muita ideia do que fazer ou do que falar.

– Claro que sim! - Sorriu. - Mas estou ficando com um pouco de fome... Onde vamos almoçar?

Naturalmente, algumas horas se passaram desde que chegamos ao lugar do passeio. Durante esse tempo nós caminhamos bastante, debaixo de um sol um pouco forte. O cansaço e a fome eram consequências naturais disso tudo, porém Sakura não parecia cansada e com fome. Se ela não mencionasse isso provavelmente eu continuaria caminhando com ela e observando os animais durante mais tempo.

Eu disse que comeríamos pela cidade mesmo, então encontramos um restaurante pequeno e aconchegante pelas redondezas. Depois de comermos, permanecemos sentados à mesa por mais alguns minutos. A mesa em que estávamos era ao lado de uma janela, a qual dava uma boa visão de outra parte do mesmo parque em que havíamos ido.

– Então, eles usaram apenas uma área pra fazer o mini zoológico não é? Porque eu estou vendo o lago daqui. - Sakura disse.

– Ah, sim. Isso mesmo. - Respondi simplesmente, distraindo-me com o copo de refrigerante.

– Vamos aos pedalinhos?

Ah não. Os pedalinhos não! Sempre achei ridícula essa coisa de subir num... Pato gigante, ou seja lá o que fosse, e pedalar lago a dentro. Que coisa mais boba! Eu não fazia ideia que Sakura gostava de coisas assim. Parando pra pensar melhor eu descobri que não conhecia tão bem assim o lado romântico dela. Quando eu iria parar de descobrir coisas sobre a Sakura?

Ela pediu algumas centenas de vezes, enquanto eu tentava arrumar outras centenas de desculpas para evitar essa situação. Contudo, é claro que ela conseguiu me convencer. Não havia argumentos suficientes pra convencer Sakura, sempre que ela colocava uma coisa na cabeça é porque já estava tudo praticamente decidido. Sendo assim nos dirigimos até aquele lugar "mágico" onde ficavam os pedalinhos.

– Ai que cara de enterro é essa, Sasuke? - Sakura perguntava, balançando os braços euforicamente.

– A minha dignidade está morrendo. – Cochichei, esperando que ela não ouvisse.

– Que exagero, é só um pedalinho... Não é como se você tivesse que se vestir de mulher, ou algo do tipo. Não é vergonha nenhuma!

– Isso é coisa de menininha! Coisa de criança, sei lá! Me sentando nesse pato gigante eu posso me sentir qualquer coisa menos um homem. Só você pra me fazer passar por isso...

– Isso é um cisne, não é um pato. - Ela protestou, cruzando os braços.

Resignado, cansei de reclamar e fui logo me adiantando a ajudá-la a sentar naquele bicho, já que havia chegado a nossa vez. Depois que me sentei, olhei de um lado para o outro para me certificar de que não havia nenhum conhecido por perto. Tá certo, podia até ser exagero meu essa coisa de não querer andar no pedalinho. Mas eu só estava... Cismado. Não sei! Não queria que me vissem naquela situação, seria constrangedor. E o problema em si era só aquele pato gigante, mais nada! Oh, ela disse que era um cisne, pois bem.

–--x---

Sakura's P.O.V

Segurei a risada quando Sasuke entrou no pedalinho. Garoto bobo! Com vergonha de uma bobagem como essa. Mas eu queria muito ir, na verdade eu sempre quis ir a um pedalinho e nunca tive a oportunidade. O parque em que estivemos havia sido reformado há relativamente pouco tempo, por isso era a primeira vez que tinha essa oportunidade, já que na capital não se encontrava um desses de maneira alguma. Segurei a risada mais uma vez quando ele tentou encaixar suas pernas compridas no vão do bote, e quase se desequilibrou.

Eu estava gostando muito do nosso passeio. Pude notar que Sasuke queria que fosse um dia diferente para nós, mesmo que ele não tenha dito isso com todas as letras. Modéstia à parte, sempre achei que o meu namorado era do jeito que toda garota sonha. Me sentia tão bem ao lado dele! E ele não precisava de dinheiro ou de um carro novo pra me impressionar e tornar nossos momentos mais memoráveis. Nem o bico que ele fez por causa do pedalinho me deixou chateada.

Depois da - segundo Sasuke - "tortura" nos pedalinhos, nós caminhamos um pouco pelo parque. O sol já não estava tão forte quanto antes, e um vento leve fazia voar algumas folhas de árvores e balançava a barra do meu vestido. Andávamos de mãos dadas e relembrando de algumas vezes em que passeamos no mesmo parque há muitos anos, bem como a única vez em que acampamos. Vez ou outra parávamos a caminhada e apontávamos para algum local conhecido. "Quando acampamos aqui, foi nessa área de montamos as barracas", Sasuke dizia, e eu completava com "É mesmo, e era ali que tinha uma colmeia, lembra? Eu morria de medo das abelhas virem até nós", entre outras pequenas memórias.

Já no final da tarde, encontramos um lago menor, que ficava em uma área mais afastada do parque, depois de um caminho cheio de grandes árvores. Esse lago menor geralmente era usado para pesca, mas não havia ninguém lá no momento. A essa altura nossas pernas já doíam um pouco, e então o deck de madeira se tornou um tanto atrativo. Primeiro nos sentamos, mas logo tiramos nossos sapatos e nos deitamos um ao lado do outro no deck. Minhas pernas ficavam suspensas, e quando as balançava pra frente e pra trás os dedos dos meus pés tocavam de leve a água. Enquanto Sasuke com suas pernas compridas tinha seus pés quase inteiros dentro d'agua.

O dia havia sido um tanto quente, e o vento fresquinho combinado com a sensação de ter os pés molhados causava uma refrescancia e tanto. Estendi meus braços pra cima, me espreguiçando. A cena fazia parecer que eu estava tentando pegar uma das nuvens cinzas que povoavam o céu que já queria começar a escurecer. Por mais que o passeio no zoológico, o almoço em um lugar diferente e o passeio de pedalinho tivessem sido maravilhosos, acho que o momento do deck foi o ponto alto do dia. Foi tão simples e acolhedor! Me senti dentro de uma poesia árcade. Conversamos sobre tantas coisas, até que aparecessem as estrelas.

– Gostou mesmo do passeio? Já tem um tempo que eu queria te levar no zoológico. Eu sei o quanto você gosta de animais e tudo mais... – Ele disse.

– Eu já disse que gostei, Sasuke. Não acredita em mim?

– Acredito... É que eu me preocupo. Só isso. – Sasuke disse. Pegou minha mão direita e começou a brincar com os meus dedos.

– Isso é incomum. Quer dizer, nunca passei por nada assim... Você me cerca de cuidados e preocupações, mas ao mesmo tempo não deixa de ser o meu melhor amigo como antes. Não deixa de me me zoar ou brincar comigo.

– Você não gosta? – Ele perguntou, direcionando o olhar preocupado a mim.

– Ah, Sasuke... Pare de se preocupar tanto. – Eu ri. – Eu não disse que não gosto. Eu gosto! E muito. Só acho diferente. Quando começamos a ter esse relacionamento, eu achei que nada seria novidade, afinal eu te conheço há tanto tempo. Mas eu me enganei, foi tudo tão novo! As coisas que eu senti e as coisas que notei de diferente em você...

– Eu também me senti assim. Quando começamos eu pensei que tudo seria do jeito que eu sempre imaginei. Mas na verdade foi bem diferente.

– Como você imaginava? – Perguntei interessada, tanto que me levantei, me apoiando no meu cotovelo, para observá-lo melhor.

– Ah, não sei explicar... – Sasuke disse vagamente. Eu conhecia aquele olhar. Ele estava com vergonha. Achei que devia tentar descobrir com mais sutileza.

– Você tinha algum tipo de “sonho”? Pensava em alguma situação em especial? – Notei que ele suspirou e tentou entender a pergunta. Sendo assim, continuei. – Por exemplo, aquele acampamento do qual passamos quase a tarde toda relembrando...

– O que tem ele?

– Eu prometi a mim mesma que ia me confessar a você. Foi mais ou menos na época que comecei a me dar conta que sentia alguma coisa diferente por você, eu tinha só 13 anos. Eu pensei em te chamar aqui mesmo, pra esse deck, e aí dizer que gostava de você. E então, na minha mente você me daria o meu primeiro beijo. – Ele sorriu. Sasuke deu um dos sorrisos mais lindos e ternos que eu já presenciei, além de seus olhos brilharem com uma intensidade diferente. – Eu passei o tempo todo tentando criar coragem, mas antes que eu pudesse fazer isso você colocou o tal sapo na minha barraca.

E então não havia mais doçura ou olhos brilhando. Sasuke simplesmente desembestou a rir bem alto. Me dei conta que eu não ria, apenas fazia um bico decepcionado. Não estava decepcionada por ele estar rindo, mas por me lembrar da situação. Engraçado, essa cena foi quase igual a do dia em que ele aprontou comigo. Sasuke rindo de mim, e eu emburrada.

– Será que algum dia você vai me perdoar por isso? Eu não sabia, nem fazia ideia. Por isso que você nunca esquece, né? – Ele disse, enxugando as lágrimas feitas pelo riso. – Coitadinha da pequena Sakura.

– Estou até hoje pensando no seu caso. – Respondi, sorrindo de lado. – Mas então, e quanto a você?

– Hum... Eu não vou te contar.

– Por quê? Que injustiça!

– Ainda pretendo tornar algumas dessas “situações” realidade.

–--x---

Só me dei conta do quanto estava cansada quando chegamos em casa. Fui direto para o banho, e quando saí do banheiro senti o cheiro de pipoca tomando o ambiente. Desci as escadas ainda com a toalha no cabelo.

– Vamos fazer a sessão cinema hoje? – Perguntei.

– Sim! Já fiz esse pacote de pipoca, e tem mais isso tudo. – Ele apontou para a sala. Notei refrigerante e sorvete na mesinha de centro. Ele queria me ver gorda, por acaso? – Eu vou tomar um banho rapidinho e aí colocamos o filme, tá? Não devore tudo antes que eu chegue.

Colocamos uma comédia bem tosca e nos acabamos na comida. No início eu realmente me preocupei se eu ia conseguir entrar nas minhas roupas novamente, porém logo esqueci isso. Estava tudo muito bom, e o filme apesar de tosco nos fez dar muitas risadas, de doer a barriga e faltar o ar. Passamos cerca de uma hora e meia – o tempo do filme – sentados no chão da sala perto da mesinha de centro, comendo e rindo, nada mais.

Ao fim do filme nós estávamos já visivelmente cansados, era hora de dormir. Tínhamos acabado com quase toda a comida também. Sendo assim me levantei do chão, mas logo senti uma “força misteriosa” me puxando para baixo. Achei que estava literalmente sentindo o cansaço me puxar, ou o peso da gravidade. Quando olhei pra baixo só pra constatar, vi que Sasuke já se encontrava no sofá e era ele quem me puxava pra sentar ao seu lado.

– Vamos ver o outro filme?

– Mas você já está morrendo de sono! E eu também. Devemos ir dormir. – Disse, com autoridade de mãe.

– Ah, vamos assistir. Amanhã é domingo, podemos acordar tarde. Vem, senta aqui do meu lado. – E me deixei cair no sofá. Estava cansada pra tentar convencê-lo de ir dormir, então que fosse, que colocasse o tal filme. Ele se levantou e trocou os dvds, logo após veio se sentar comigo.

Não demorou muito. Apenas 10 minutos mais tarde ele já estava deitado no sofá respirando profundamente, de vez em quando soltando um ronco baixinho. Eu acabei me deitando ao seu lado e estava muito próxima ao seu corpo, já que estávamos em um sofá e não numa cama. Cochilei um pouco, mas não peguei no sono como Sasuke. Não sei ao certo quanto tempo mais se passou, ou o que acontecia naquele filme, o que sabia era que queria muito ir dormir numa cama. Não entendia como Sasuke conseguia dormir no sofá, era incômodo e fazia doer as costas. Quis acordá-lo, mas fiquei observando-o por uns instantes. Meu coração se acostumou, por anos a fio, a bater acelerado por causa de Sasuke. Mas aquele instante foi diferente, meu coração experimentou uma velocidade nova. Ele dormia com a boca entreaberta, com um braço sobre a barriga e o outro em baixo da cabeça. Suas pernas estavam abertas; a esquerda se enrolava na minha, e a direita caía do sofá em direção ao chão. Uma cena engraçada, mas o que senti foi contraditório. Apesar de rir silenciosamente da posição dele, senti como se quisesse vê-lo dormir todas as noites. A ideia de deixá-lo passou levemente pela minha cabeça e pareceu muito dolorosa. Não tinha como, não havia a menor condição de que eu encontrasse forças para deixá-lo. Queria cuidar dele quando precisasse de cuidados, queria dar broncas quando precisasse. Não queria magoá-lo. Nunca, nunca! Não queria ver nenhuma lágrima em seu rosto.

Passei minha mão em sua testa afastando o cabelo do rosto, quando ele deu mais um ronco, dessa vez mais alto.

– Levanta Sasuke. Vamos subir, amanhã vemos o filme. – Eu disse baixinho.

– Fica comigo essa noite outra vez? – Ele disse. Em vez de levantar, me abraçou com certa força contra o sofá.

– Respondi, colando nossos lábios. Já ia me afastar, quando Sasuke segurou delicadamente meu rosto e aprofundou o beijo. Foi um beijo cheio de significados. Foi doce, e ao mesmo tempo possessivo. Algo parecido com o nosso primeiro beijo, e a sensação que eu tive foi parecida também.

– Eu te amo. – Ele sussurrou. Sorri em resposta, enquanto Sasuke me olhava com seus olhos inchados pelo sono.

Ele desligou a tv e as luzes, e eu coloquei a louça suja na pia. O resto nós arrumaríamos no dia seguinte. Subimos as escadas tateando as paredes pela escuridão. Logo que abri o quarto eu procurei pelo interruptor, mas Sasuke me abraçou.

– Sakura... Mesmo se você tiver que ir embora, promete que vai voltar? – Ele disse. – Se você ficar aqui eu não vou te deixar em paz, eu quero estar presente em todos os dias da sua vida, mas se você tiver que ir embora... Promete que volta, Sakura? Por favor.

Aquilo me deixou desconcertada. Ele não estava pedindo, estava praticamente implorando, suplicando! Sem me soltar do abraço nem um segundo, ele veio em busca dos meus lábios, os quais cedi. Não apenas cedi como dessa vez, quem aprofundou o beijo fui eu. E foi descontroladamente. As palavras de Sasuke e o jeito como foram proferidas acertaram um ponto especial do meu coração, e então eu não medi mais nenhum dos meus atos. Os lábios úmidos unidos aos meus e o abraço quente foram trocados, não me recordo quando, por uma trilha de beijos no meu pescoço e por mãos calejadas e ao mesmo tempo cuidadosas em minha cintura, por baixo da minha blusa. Apenas quando senti a pele desnuda de seus braços e peito junto ao meu corpo é que me dei conta que eu mesma fui quem tirou a blusa dele. Logo depois ele tirou a minha, e então parou.

– Está tudo bem? – Perguntou preocupado.

E estava tudo bem. Na verdade estava tudo muito mais que bem. Era como se eu flutuasse cada vez que sentia seus braços me envolvendo, sua pele quente em contraste com a minha pele fria e seu cheiro me hipnotizando. Eu não sei o que eu disse, não sei nem se disse algo. Também não sei como conseguimos encontrar a cama naquela escuridão. Mas sei que nossos lábios e nossos corpos se encontraram muitas e muitas vezes durante aquela noite; a noite em que nos amamos pela primeira vez. Não havia escuridão que impedisse que seus lábios percorressem meu corpo ou que minhas mãos deixassem de tocar e acariciar calorosamente aquela silhueta acima de mim. Procurar um ao outro era como instinto, acontecia por que tinha que acontecer. Por que era assim que devia ser, que sempre devia ter sido. A sensação de possuí-lo e de pertencer a ele dessa maneira sempre foi como um borrão em minha mente. Eu não fazia ideia de como seria quando finalmente chegasse a hora certa. Mas agora eu sabia; eu sentia como se estivesse tendo minha primeira vez. Todo tipo de relação íntima que eu tive antes dessa veio á tona na minha memória para depois desaparecer integralmente da minha mente, pra sempre. Sim, porque tudo o que Sasuke me fez sentir naquela noite foi inteiramente novo pra mim. Nunca experimentei nada parecido com as sensações, sentimentos, e muito menos o mesmo prazer com o qual ele me conduziu noite adentro. Cada vez que sussurrava meu nome ao meu ouvido, cada toque mais intenso, fazia meu corpo arrepiar por completo.

Ao fim da noite, estávamos ofegantes e inertes, um ao lado do outro. Com a mente turva, tentei sem sucesso formar algumas frases. Dizer a ele o quanto o amava, o quanto ele havia tornado mágica aquela noite; não, o dia e a noite. Mas além do êxtase, também havia o impedimento da falta de palavras. Dizem que Shakespeare inventou cerca de 1.700 palavras do nosso vocabulário atual. Que inventasse mais! As que existem não eram suficientes pra que eu conseguisse me expressar no momento.

Tudo o que ele fez foi me puxar para que dormíssemos mais perto. E vagarosamente o sono se apoderou de nós.


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Notas finais do capítulo

sem recadinhos por hoje ( ͡° ͜ʖ ͡°)