Goodbye escrita por MihChan


Capítulo 4
Aquela doença...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Major V pelos comentários lindíssimos. Você é uma fofa!
Boa leitura ~>



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/613980/chapter/4

– Manu, você não devia ficar tão encanada com isso. – Aki disse, preocupada.

– Eu preciso. – falei, convicta do que queria.

– Foi ele que não aceitou. – Mirela argumentou.

– Isso mesmo. – Gabi concordou.

– Mas ele não podia... – justifiquei me sentindo mal novamente.

Tinha passado o final de semana inteiro remoendo aquilo e precisava dar um jeito logo. Só não corri atrás de algo durante o fim de semana, porque tinha um trabalho para entregar.

– Mas pelo menos ele podia ter sido gentil e pegado o presente. Depois ele jogava fora. Simples assim. – Lara disse e isso nos fez rir.

– Eu me sentiria bem melhor sendo iludida, Lara. – ironizei – Você me conhece tão bem.

E ela fez uma pose de superioridade e nos chamou de gafanhotos.

Estávamos todas na fila da cantina. Eu queria comprar um suco e uma coxinha, mas nem sabia se daria com os três reais que eu tinha. Se não desse, eu deixava na conta da Aki, a rica.

Quando o sinal tocou, voltamos pra sala. Aki tinha comprado montes de bala porque estava muito feliz, já que Guilherme tinha adorado o presente dela e agora sempre falava com ela e contava como estava se divertindo. A japa tinha uma aura de orgulho imensa e só faltava venerar Lara por ter sido sua "fada-madrinha".

Entrei na sala. Elas pararam na frente da porta, como quase todo mundo fazia, e ficaram conversando. Não tinha muita gente na sala só Murilo, que continuava sentado com seus fones de ouvido, parecia nem ter saído para o intervalo.

Olhei ao redor. Ele sentava na penúltima cadeira. Me aproximei dele e esperei que ele me percebesse mas, se é que ele me percebeu, fingiu que eu era invisível e não deu a mínima.

– Ãhn... – tentei chamá-lo.

Estava em sua frente, era impossível que ele não estivesse me vendo, por mais que estivesse com a cabeça deitada na mesa.

– Murilo... Está tudo bem? – tentei novamente.

Nada. Ele estava mesmo me ignorando. Deve me odiar por eu ter sido tão inútil ao ponto de comprar uma caixa de bombons quando ele não podia. Mas, ora, eu não sabia. Não sou nenhuma vidente. Me irritei de repente.

Com esse pensamento inflei as bochechas, frustrada, e fui para o meu lugar. Sentei-me, apoiei o queixo em uma das mãos e fitei a área aberta do pátio, lá em baixo, pela janela.

Depois que todas as aulas terminaram, eu desmarquei com as meninas, que quase me mataram, e fui correndo do jeito que estava mesmo para o centro comercial. Iria à livraria e compraria algo que qualquer pessoa gosta.

Entrei ofegante dentro do estabelecimento e me olharam torto. Não, eu não estou fugindo da polícia, sem pânico, pessoal.

Comecei a olhar todas as prateleiras e ver os livros do momento, os filmes do momento, os jogos do momento, as bandas do momento e no meio de tudo aquilo, eu colocava algum defeito em tudo.

– Mas e se ele não gostar de ler? – murmurei enquanto empurrava um livro, que quase caiu da prateleira e a mulher que arrumava a mesma me olhou feio – E se não gostar dessas bandas? – ignorei os CDs.

Saí da loja sem levar absolutamente nada e com cara de derrotada. Talvez estivesse complexada e não quisesse ter meu presente rejeitado mais uma vez de jeito nenhum.

Comecei a andar sem rumo no meio de pessoas estressadas ou animadas demais. O centro comercial é um caos.

Meus olhos foram atraídos por uma banquinha cheia de toucas penduradas. Achei uma roxa com discretas orelhas de gato que ganharam meu coração na mesma hora. Por um momento lindo, eu esqueci completamente o que estava fazendo ali e torrei o meu dinheiro na touca como se não houvesse o amanhã, mas houve.

Quando recordei a minha sanidade já era tarde demais.

Olhei para sacola com uma touca roxa com orelhas de gato e corei ao me imaginar entregando aquilo pra ele. Mas o que eu poderia fazer? Era a única coisa que eu tinha. Só me restava manter a calma, embrulhar e rezar para que ele aceitasse.

Acordei com pedaços de fita colorida grudados na cara. Tinha dormido sentada à mesa da cozinha por ter ficado até tarde embrulhando o presente, ou tentando, é muito difícil fazer um embrulho bonito. Na caixa de bombons minha mãe me ajudou e nesse não. Eu estava constrangida demais com o presente.

Admirei o embrulho. Até que não tinha ficado tão ruim assim. Peguei-o e coloquei na minha mochila para não acabar esquecendo. Fui para o banheiro fazer minha higiene e esperei alguns poucos minutos, fazendo café, para acordar meus irmãos.

– Já está acordada? – dona Lidia brotou, como ela sempre faz, me assustando.

– É o que parece. – respondi e ela fez careta.

Depois que acordei meus irmãos, minha mãe os colocou para tomar um banho e os ajeitou para a escola. Eu tomei banho depois e me arrumei também. Tomamos café.

– Vamos, crianças. – a loira olhou para os gêmeos que ainda bebiam copos de leite.

– Sim! – gritaram, correram jogando o copo na pia e depois correram novamente para o carro, sumindo de vista

– Tchau, Manu, tome cuidado. – minha mãe se aproximou.

– Certo. – ela deu um beijo na minha testa e foi embora, enquanto dizia para não mexerem nos botões do carro.

Levantei e larguei a xícara na pia. Prendi o cabelo em um coque e peguei a mochila. Saí, tranquei a porta e segui, vagarosamente, pelas ruas para a escola mal assombrada.

Todas as primeiras aulas foram puro tédio, a não ser pelos comentários de Victor para Lara e as surras que ela dava nele depois dos mesmos, mas ele sempre alegava ser amor.

Na hora do intervalo esperei que todos saíssem. Não tive coragem para dar o tal presente na frente de todos.

– Vamos, Manu. – Aki me chamou junto às outras.

– Ãhn, eu vou depois. Preciso terminar isso aqui. – menti.

– Tudo bem. – Mirela disse e saíram.

Depois de longos segundos olhei para trás e ele estava lá. Com o mesmo capuz na cabeça, os fones e a cara de paisagem, enquanto batucava com a caneta em seu caderno.

Peguei o embrulho na mochila, o encarei, me levantei e me aproximei de Murilo. Esperei um pouco e ele me olhou como se perguntasse o que eu queria e, como eu não disse nada, ele tirou os fones e me encarou.

– Isso é pra você. – estendi o embrulho.

– Você não precisava. – ele disse depois de encarar o embrulho por alguns segundos sem mudar a expressão, mas eu podia jurar que ele estava corando.

Talvez eu tenha porpurinado esse embrulho demais...

– Eu me senti mal por aquilo. – me referi aos bombons – Pegue, por favor.

Fiz cara de quem morreria se ele não aceitasse aquilo ao menos por agora e pareceu convencê-lo de se fazer de bonzinho e aceitar.

– Se isso faz tanta diferença pra você... – ele suspirou e pegou o embrulho.

Esperei que ele abrisse e seus olhos brilharam de empolgação. Ele encarou a touca com mais animação do que eu tinha imaginado e depois me encarou como se não acreditasse no que via. Sorri satisfeita.

– Acertei dessa vez? – sorri torto.

– Ah, dá pra usar! –tentou disfarçar, tossindo, toda a animação que tinha demonstrado e desviou o olhar para o chão.

Nunca tinha o visto assim. Sorri mais ainda. Talvez eu estivesse me aproximando dele. Permaneci o intervalo inteiro sentada ao lado dele e conversamos sobre coisa aleatórias. Pensei em como ele não me parecia mais tão frio ou tímido. Ele era um garoto normal, como qualquer outro, só não o davam chance de demonstrar.

Algum tempo mais tarde, eu constataria que ele não seria como outro garoto qualquer para mim.

– Você é a primeira pessoa desde o início do ano que conversa desse jeito comigo. – ele sorriu, melancólico.

– Desse jeito parece até que você tem uma doença contagiosa. – ri e ele me encarou, sério – Você não tem, né? – foi a vez dele rir da minha mudança de atitude.

– Não, mas as pessoas não costumam conversar muito com o estranho aqui, sabe? – encarou o teto, inclinando-se pra trás na cadeira – Meus cabelos já caíram, eu já fui muito mais pálido que isso... Meus médicos disseram que podíamos parar um pouco com o tratamento agora. Os remédios parecem estar fazendo efeito e não posso ficar sempre fazendo o que estavam aplicando nos últimos meses.

– O... que? – perguntei um pouco impressionada com aquilo tudo.

– Quimioterapia.

– Eh? – soei sem querer, acho que pareci apavorada porque ele me encarou e sorriu, maroto.

Eu só nunca pensei que alguém com esse tipo de problema apareceria na minha vida. O clássico “pode acontecer com os outros, mas comigo não vai”.

– Vai. Pode correr e nunca mais falar comigo agora. Eu sei que quer fazer isso.

Não entendi porque eu faria algo assim, mas me apressei em responder sua fala.

– Não quero, não. – protestei.

– É que... normalmente, as pessoas não acham bom criar laços com alguém que vai morrer. – sorriu novamente.

– Todos nós vamos morrer um dia, óbvio. – falei sem o encarar, mas percebi seu olhar surpreso em direção à mim e um sorriso se formar no canto da boca.

Ficamos em silêncio por um tempo, mas eu resolvi quebrá-lo da pior maneira:

– O que... Exatamente você tem? - perguntei sem pensar.

Eu e minha curiosidade! Ele, no entanto, pareceu não se importar com o tanto que eu era intrometida.

– Câncer no sangue. Leucemia. – ele fez um drama estranho e fingiu chorar, mas depois sorriu e deu uma picadela.

Fiquei pasma por alguns segundos. Baixei o olhar para as mãos apoiadas no colo e me segurei para não começar a roer as unhas.

– Eu...

– Não diga que sente muito. – me cortou – É irritante! Ninguém sente muito de verdade.

– Desculpe.

– Tudo bem. – mostrou a língua.

Ficamos em silêncio nos últimos minutos do intervalo. O clima havia ficado meio tenso. Comecei a assimilar tudo. Por isso ele era tão branco, tão magro. Talvez seu cabelo não tivesse crescido totalmente e por isso ele sempre usava o capuz.

Saber um pouco mais sobre ele, me fez querer bombardea-lo de perguntas que já rondavam minha cabeça há muito tempo, mas eu sabia que eu estava sendo muito enxerida.

O sinal tocou. Me levantei para ir para o meu lugar meio a contragosto. Ele sorriu pra mim e balbuciou um “obrigado”, retribui o sorriso e me sentei em meu lugar.

As meninas voltaram e ralharam por eu não ter ido para o intervalo. Jogaram na minha cara que tinham comido coxinha, me fiz de triste e ganhei um pirulito de Aki, que era gentil demais para conseguir ver alguém triste, por mais que eu estivesse apenas fingindo.

– Estou começando a achar que você está mesmo se interessando pelo garoto Murilo. – Mirela comentou, me analisando, quando paramos num telefone público para que Gabi avisasse sua mãe que iria para a casa de Lara direto da escola com todo o resto de nós.

Queria poder dizer que não, mas eu senti meu rosto esquentar bastante, o que fez Mirela cruzar os braços, sorrir de lado e erguer apenas uma sobrancelha.

– Não, é só que-

– O que? – Gabi pulou em mim depois que acabou a ligação.

– Manu e Murilo... – Mirela continuava com a mesma expressão sem tirar os olhos de mim, como se eu pudesse fugir a qualquer momento, o que eu queria mesmo.

– Marilo! Estou shippando! - Aki sorriu cobrindo a boca com as mãos.

– O que? Ele se declarou? – Gabi perguntou, extasiada.

– Não, eu que-

– Você que se declarou?! Não creio! – ela gritou ainda mais.

– Gente, por quanto tempo eu dormi? – Lara parecia perdida. Aquilo me fez rir e aliviar a tensão.

Mirela, Gabi e Aki explicaram e conversaram como se eu nem estivesse presente, sobre como eu estava interessada de saber mais sobre o Murilo. Disseram até que eu estava dando uma de stalker e vigiando a casa dele, o que é uma injustiça, porque a casa é realmente bonita e eu não fazia ideia que era dele.

Mas ouvir o ponto de vista delas me fez perceber o que eu estava fazendo. Eu nunca fui tão enxerida e intrometida na vida dos outro desse jeito. Desde o dia que ouvi o nome dele uma curiosidade despertou em mim, um sentimento estranho. Será que eu, inconscientemente, estava na verdade me enganando em relação ao que eu estava sentindo?

– Olha, gente! – a voz de Gabi, escandalosa, me despertou de meus devaneios – Ela está até corada!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem se estiverem gostando, por favor.
Até o próximo!