Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 8
Capítulo 8




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O resto da noite foi perfeita, para não dizer o contrário. A criatura e a besta se sentaram numa mesa e ficaram bebendo, conversando e trocando beijos. Tentei falar com a criatura que ela estava em horário de trabalho, mas logo fui ameaçado pela besta. Resultado: O burro aqui teve que atender quase todas as mesas, já que quando ela tentava trabalhar a besta a puxava de volta para continuarem bebendo. O abuso da besta é tanto que ainda, na hora de pagar, disse que não me daria gorjeta já que não gostou do serviço.

Eles foram embora de táxi porque a besta não queria andar no mesmo ônibus que eu. Jonas ficou sem fôlego de tanto que riu e zombou de mim. Peguei um ônibus lotado e fui para a pensão. Comi aqueles biscoitinhos que o Camilo me deu e apaguei na cama.

Acordei no dia seguinte com um agouro vindo do quarto ao lado. Como se não bastasse a música alta, a besta ainda cantava. Que voz horrível. Como não havia mais nada para se fazer, fui tomar um banho. Como sempre, o banheiro estava ocupado. Assim que desocupou, já ia entrando, mas a besta veio correndo e me empurrou entrando na minha frente. Esse aí não conhece o conceito de fila.

–Não se importa se eu tomar meu banho primeiro, não é? Eu tenho que sair agora e você só vai mesmo trabalhar mais tarde. –Ele falou rindo e fechou a porta na minha cara.

Sai de lá bufando. Não queria enfrentar ele novamente, meu olho ainda tinha as marcas da última vez. Joguei as coisas de volta no meu quarto e saí. Fui me sentar um pouco no meio fio, desparecer, mas, como aqui não se pode ficar sozinho, seu Rodolfo, o marido da Odete, colocou uma cadeira ao meu lado e se sentou.

–Ele só está se sentindo inseguro com você. –Ele falou.

–Como?

–O Carlos. Eu vi vocês ali no banheiro.

Viu e não fez nada para colocar ordem. Ótimo proprietário mesmo que o senhor é.

–Aquele homem é uma besta.

–Não. Ele só é ciumento demais com a Lívia. Sei que ele tem esse jeito meio bruto, mas não faz por mal.

Se fizesse por mal agora estaria morto, então.

–Sei lá. Só queria que ele me deixasse em paz. Nunca olharia para a mulher dele. A Lívia é a última mulher com quem me envolveria.

–Sabe que eu falava a mesma coisa da Odete e olha como estamos hoje: Casados, 11 filhos e com uma pensão.

Tá bom, como se eu fosse terminar com aquela lá casado e dono de pensão.

–Não é meu caso, acredite.

–Espero que não. Odiaria ter que ir no seu enterro porque, com certeza, se olhar para a Lívia, o Carlos te mata. Apesar do seu mal humor e de ser amargado, como a Lívia diz, até que eu gostei de você.

–Obrigado, eu acho.

–Vou te deixar aí sozinho. Se precisar de alguma coisa, basta me falar. Já te considero um amigo.

O velho se levantou, me deu um tapinha no ombro como se eu fosse um cachorro e saiu. Será que todos aqui nessa pensão são loucos?

Continuei ali até ver a besta sair. Pude então, finalmente, entrar e tomar meu banho. Banho tomado, fui para o meu quarto. Por sorte ou azar, ainda não sei como definir, esbarrei com a criatura no corredor.

–Lívia, posso falar com você um minuto? –Pedi.

–Fale.

–Olha, eu sei que ontem teve pouco movimento, mas não poso ficar trabalhando enquanto você e sua bes, digo, namorado ficam bebendo e se divertindo.

–Sei disso e peço desculpas pelo Carlos. Hoje trabalharei direito. Se quiser, desconte o dia de ontem.

Bem que merecia.

–Não, não vou descontar. Mas que isso não se repita.

–Obrigada. Hoje não deixarei que o Carlos interfira no meu trabalho.

–Ok. Agradeço se fizer isso.

Nesse momento só escutei uma voz bastante conhecida e indesejada atrás de mim. Pude sentir até o bafo.

–Posso saber o que faz aí parado com a minha mulher? –A besta resmungou.

–Só estava aqui tratando uns assuntos de trabalho com ela. Mas já vou para o meu quarto.

–Trate no serviço. Isso não é hora para falar dessas coisas ou vai pagar hora extra?

–Foram apenas umas palavras, mas já foi resolvido e vou para o meu quarto. Com licença.

Saí de lá o mais rápido que pude antes que a besta me atacasse. Se um olho roxo já estava feio, não queria ficar com os dois. Ainda alcancei escutar os dois discutindo pelo corredor antes de baterem a porta. Esses 15 dias irão custar a passar. Não sei se vou sobreviver.

Continua.


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