Naquele momento o garoto não se sentia a melhor pessoa do mundo, ou melhor, seu irmão não fazia com que se sentisse, revirou os olhos quando pela centésima vez Naoki lhe explicava por que não podia tratar mal as pessoas, nada que o outro não soubesse. O garoto não podia acreditar que estava tomando uma bronca de uma criança de apenas oito anos de idade, aquela cena era ridícula demais e mais ridícula ainda por que ele começara a se sentir mal com aquilo.

– Então irmão você não deveria tê-la chamado de suja e quando ela falou aquilo para você deveria no mínimo ter se desculpado.

– Ela me chamou de idiota. – Explicou o mais velho enquanto começava a entrar em seu prédio e dando um pequeno aceno de cabeça para o porteiro.

– Você foi o mal-educado primeiro. Ela tinha toda a razão. – O garoto olhou Naoki de canto de olho, ele ainda parecia bravo pela ação do irmão mais cedo e ele não acreditava que uma completa estranha estava colocando o seu gentil e pequeno irmão contra ele.

– Mas-

– Você está errado. – Interrompeu – Tudo que você vem me ensinando parece que não tem mais nenhum valor para mim. Acho que perdi meu respeito por você. – O garoto parou repentinamente, a boca um pouco aberta pelas palavras que ficaram entaladas em sua garganta, Naoki continuou em frente e quando o maior percebeu ele já estava na porta esperando-o. – Não vai vir? – Falou um pouco distante, sabia que era uma criança inteligente o irmão, porém o que fazia com ele era cruel demais.

Entraram no elevador calados e Naoki não estava com cara de que gostaria de falar, o irmão mais velho odiava o barulho que o elevador fazia ao subir era quase que incômodo e aquilo o deixava nervoso, foi mais para o fundo e encostou na parede olhou para o painel que subia de número ainda estavam no terceiro, o desconforto continuou, bateu o pé apressadamente, mas nada do andar chegar, quando o elevador deu seu sinal saiu em disparada e suspirou, preferia dez mil vezes a escada.

– Naoki?

– Sim? – O irmão falou distraidamente a cara ainda fechada, caminhavam lentamente até o final do corredor.

– Você não poderia falar para a nossa mãe que eu te perdi? - Ele fez uma pequena pausa o mais novo o analisou por um momento - Poderia me deixar falar? Você sabe como nossa mãe é protetora e ela vai dar um pequeno ataque.

– Tudo bem. – Naoki sorriu e o irmão notou que talvez ele não estivesse tão bravo com ele – Não vou falar nada.

Entraram no apartamento, a mãe se encontravam na cozinha, ouvia-se barulho de louça.

– Chegamos.

– Bem-vindos de volta. – Respondeu a mulher de cabelos longos que lavavam alguns pratos - O que acharam o centro da cidade? – Perguntou sem tirar os olhos do que estava fazendo.

– Foi meio estranho... – O irmão mais velho coçou a nuca, nunca foi muito bom em mentir, mas era uma mentira temporária. – Tem muitas pessoas talvez um pouco mais que as ruas movimentadas de Tóquio e também faz muito calor. Achei meio chato.

– E você Naoki o que achou?

– Achei legal. – Exclamou o garoto – Só não achei muito bom quando meu irmão me perdeu em meio a tanta gente. – Tudo o que se ouviu foi um copo que escapou da mão da mulher e de repente ela se virou encarando os dois filhos, o mais velho que se encontrava atônito a com boca semiaberta e o outro que simplesmente sorria, um sorriso quase infantil.

– Você perdeu o Naoki, Hiro?

– Bem... –

– Traidor, pensou Hiro , maldito irmão traidor deveria tê-lo deixado perdido na rua afinal ele se perdeu por culpa dele mesmo, ele está bravo só por que eu chamei aquela garota de suja? Perdendo a amizade do irmão por uma garota que jamais ira ver novamente.

– Hiro! – Chamou a mãe

– Sim, mas eu o achei. Aqui seu filho traidor. - um encarou o outro, o mais novo ainda sorria um sorriso inocente ao qual provavelmente não o pertencia o mais velho prometia mata-lo em outra oportunidade.

– Como isso aconteceu? Eu pensei que você tinha responsabilidade.

– Eu tenho. Foi em um momento de distração e quando dei por mim ele havia sumido.

Aquele provavelmente foi o momento que mais teve medo em sua vida, tudo passava em seu pensamento principalmente que jamais iria encontrar seu irmão novamente, que talvez alguém o tivesse sequestrado, que estivesse com fome e chorando e quando o achou foi o maior alivio do mundo.

– Como o encontrou? – Perguntou a mãe.

– Isso realmente importa? Ele se perdeu eu já o encontrei e ele está aqui. Fim de história.

– Eu posso explicar. Foi por causa de uma garota – Começou Naoki

– Uma garota?

– Sim. Depois que eu percebi que estava perdido do meu irmão um moço pegou no meu braço eu fiquei com medo e comecei a chorar. Foi então que uma garota apareceu. Ela falava japonês incrivelmente bem, até eu me surpreendi um pouco e ela me ajudou ficou andando comigo, me deu atenção e até comida.

– Essa garota parece ser uma boa pessoa ne? – A mãe sorriu.

– Sim. Quando eu comecei a novamente perder as esperanças de encontrar meu irmão, ela ficava dizendo que eu deveria chorar, ai de repente encontrei meu irmão.

– Entendi. Você encontrou uma pessoa incrível. A agradeceu devidamente? – Hiro revirou os olhos sabia muito bem o que estava para acontecer.

– Não.

– Como não? – A mãe piscou algumas vezes – Por que?

– Por que o meu irmão... – A criança abaixou a cabeça e fez uma pausa dramática. – Quando ela colocou a mão em minha cabeça, o irmão retirou sua mão e falou algumas coisas maldosas para ela.

– Como o que?

– A chamou de garota suja. – A mãe o encarou – E ainda discutiu com ela.

– Por que você foi tão grosso? A garota ajudou seu irmão. Você deveria ser grata a ela. – Hiro ficou em silencio e sua mãe esperou resposta;

– Você sabe como eu me sinto em relação com esse pais e com as pessoas que vivem nele. Você sabe não é como eu detesto e desprezo esse lugar.

– Mas gratidão não tem nada a ver com esse lugar Hiro. Eu te ensinei desse pequeno seja gentil com as pessoas não importa quem seja ou de onde, não importa sua nacionalidade, sua religião seja apenas gentil, você ainda não entendeu isso?

Hiro entendia, mas simplesmente não conseguia praticar tal coisa no lugar ao qual estava, ele odiava aquele país começou a odiá-lo aos poucos, principalmente pelos seus colegas de classe e ao procurar notícias na internet lia coisas que não ajudava muito a sua opinião sobre ele, nos ranking de corrupção, assalto e outras coisas sempre se encontrava no meio, começou a odiá-lo, detesta-lo mesmo que nunca estivesse lá e até mesmo as pessoas que moravam lá começou a sentir nojo delas, então um dia seu pai chega com a infeliz notícia que se mudaria para aquele lugar, para onde ele mais detestava no mundo, protestou pediu para ficar, cuidar da casa, porém seus pais foram contra, sempre eram e agora estava ali.

Ele não queria sair naquele dia também, mas sua mãe pediu para que ele conhecesse mais, observassem as pessoas, os costumes e a cultura, mas ele não tinha vontade, simplesmente não queira se encaixar conhecer ou se comunicar com ninguém, que tudo continuasse como estava, até que seu pai fosse transferido novamente e enfim voltassem para o Japão.

– Hiro estou esperando a resposta.

– Por que ainda estamos brigando sobre isso? Por que você e o Naoki fazem tanto caso sobre isso? Nós nunca iremos encontrá-la novamente, ela é apenas mais uma nessa cidade imunda.

– Não, nós iremos encontrá-la sim. – Informou a mãe, encarando o filho, aquela mulher sempre foi gentil demais parece que condizia com seu nome, odiava injustiça e principalmente quando esse ato vinha de sua família.

– Como? Vai sair por aí procurando ela?

– Eu não vou. Você vai.

– O que? – O garoto exclamou – Eu não vou fazer tal idiotice.

– Você irá sim, Hiro. E quando a encontrar vai pedir desculpas e chama-la para jantar com a gente.

– Mas isso é impossível.

– Não, não é. E você irá provar isso. Ira procura-la até acha-la começando a partir de amanhã.

Hiro desejou que aquilo que a mãe falara fosse da boca para fora que quando o dia se iniciasse no dia seguinte ela se esquecesse de tal tolice e intimamente odiou ainda mais a garota desconhecida por colocar sua família contra ele.