Sophia escrita por Belle17


Capítulo 24
Anjos


Notas iniciais do capítulo

Continuação do dia do aniversário de Sophia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612945/chapter/24

Quando a aula acabou, papai e mamãe me levaram a um parque com meus primos para comemorar meu aniversário. Liguei para o Luís e o convidei; mas infelizmente a Vitória não pôde ir também: não pode ficar muito tempo longe do hospital devido aos efeitos dos remédios. Soube que ela fez mais uma sessão de quimioterapia hoje. Seu primo disse que perdeu os cabelos completamente.

– Você a viu hoje? - perguntei ao Luís enquanto caminhávamos para uma região coberta do parque. Não estava mais fazendo sol, então eu podia correr à céu aberto, mas escolhi ficar em uma cabana perto das árvores.

– Sim... - respondeu ele.

– E como ela está?

Avistei meus pais de longe, indo à piscina. Eu não podia nadar; o máximo que poderia fazer era pôr os pés na água. E não podia tirar minhas luvas.

– Sophia... hã...

Novamente senti meus pelos se arrepiarem.

– Por favor, Luís... como ela está? - indaguei, olhando seriamente no fundo de seus olhos.

– Não se preocupe, ela está bem. Só está meio murchinha por causa da quimioterapia que fez hoje. É muito desagradável para ela.

– Tem certeza de que está tudo bem?

Ele rapidamente desviou seus olhos dos meus e esfregou suas mãos uma na outra. De cabeça baixa respondeu:

– Olha... Sophia, você é muito criança para entender o que está acontecendo com a Vitória... acho que nem ela mesma entende direito, sabe... é uma coisa muito complexa... muito difícil para crianças compreenderem.

– Luís, eu sei o que é câncer. Eu posso entender.

Suas bochechas coraram e vi que sua expressão era de tristeza.

– Olha, não estou me sentindo muito bem, So... vou ali comprar um sorvete. Você quer?

– Não, obrigada... - respondi, com uma voz branda, porém preocupada.

O que será que a Juliana e o Luís Ricardo tentavam esconder de mim?

Enquanto o rapaz caminhava em direção a um quiosque, minha prima Malu veio até mim com um biquíni amarelo. Ela tem seis anos.

– Sophia! Vem nadar!

– Não posso, Malu! Esqueceu que meu médico não deixa?

– Mas você já tomou seu remédio! - disse ela, de cara emburrada.

– Eu sei, prima, eu também queria brincar na piscina. Mas não posso...

– Aaaaaaah!!!

– Mas não se preocupe! Daqui a pouco vamos nos divertir comendo bolo de chocolate!

– Iupiiiiiiiii!

E lá foi a criança saltitando, gritando "booloo! booloo". Tomara que ela goste de chocolate com pouco açúcar...

Eu amo este parque. Ele possui diversas árvores bem grandes. Tem piscinas, lanchonetes, restaurantes... e até um local para festas de aniversários! O papai o reservou para mim hoje, e os funcionários já estavam arrumando tudo.

O tempo ia se passando e nada do Luís Ricardo voltar. Alguns familiares chegavam ao parque e me parabenizavam, assim como a Isabel. Mas nada da volta do Luís.

Resolvi brincar no balanço que havia por perto e perdi a noção do tempo. Meu relógio de pulso amarelo marcava três e meia da tarde. A mamãe chegou para mim e disse:

– Venha, Soso, é hora do bolo!

Levantei-me do balanço e marchei até a área reservada onde aconteceria a festa. Todos os convidados estavam lá, exceto a Vitória...

Cantaram "parabéns a você" e no final vi o Luís Ricardo perto da mesa de salgadinhos. Iria perguntar onde ele havia se metido, mas várias pessoas me interromperam para tirar fotos.

O bolo foi cortado e os doces e salgados foram distribuídos. Todos adoraram, mesmo contendo um baixo teor de açúcar e poucas calorias. Tudo isso por causa dos meus exames.

Não sei o que houve, mas às quatro horas o Luís veio até mim dizendo que precisava ir urgente.

– Desculpe, Sophia. Acabaram de me ligar e é importante. Não que você não seja, não é isso, mas...

– Tudo bem, Luís... espero que esteja tudo bem com você - seus olhos novamente se desviaram dos meus - a mamãe está preparando embalagens com fatias de bolo, docinhos e salgados. Pegue uma pra você.

Nós nos abraçamos e ele me entregou uma carta, saindo rapidamente do local em seguida. Acho que não queria que eu lesse na sua frente.

Distanciei-me dos convidados e comecei a ler.

–---

Querida Sophia

Estou pedindo para meu primo Luís Ricardo escrever esta carta por mim, pois estou perdendo os movimentos das mãos. Sim, o câncer é uma droga e só serve pra fazer você sofrer. Quer dizer... nem sempre.

Desde que conheci você, Soso, aprendi o verdadeiro sentido da vida. Você já se perguntou porque viemos ao mundo? Por que é que algumas pessoas sofrem e outras são felizes, se somos todos iguais? Amiga, eu descobri que muitas pessoas têm a missão de sofrer na Terra para encontrarem amigos especiais que as deem força. E você foi essa amiga para mim. Um anjo fantasiado de humana.

Você sabe, fora o Luís, quantas outras crianças ou jovens foram me visitar no Hospital por vontade própria? Nenhuma, Sophia. Você foi a primeira. Lembra do dia em que a doutora Ana te convidou para nos visitar? Muitas outras crianças são convidadas, mas nunca voltam. Umas por pena, outras porque não querem. Não conseguem enxergar a importância dessas visitas. Aquelas risadas que dei com você no centro de oncologia foi a primeira em muitos meses. E te agradeço eternamente por isso.

Hoje é o seu aniversário. Queria muito, muito mesmo estar aí ao seu lado. Mas você viu como estão minhas condições aqui. Talvez não esteja sabendo que piorei muito nos últimos dias. Meu primo falou que fiquei com falta de ar? Estou respirando com aparelhos. Fiz quimioterapia e passei muito mal. Mas queria que soubesse que, se não fossem por esses meus problemas, eu sempre, sempre estaria aí ao seu ladinho, toda vez que fosse possível.

No envelope desta carta há uma pulseira de ouro. Eu pedi para comprarem pra você. Ela tem coraçõezinhos, e representam nossa amizade.

Dentro de algum tempo, posso não estar mais ao seu lado fisicamente. Mas acredite: estarei sempre em espírito. Nunca vou te abandonar.

Obrigada por me fazer sorrir. Obrigada por me mostrar o que é felicidade. Eu te amo e sempre vou te amar. Obrigada por tudo e até breve.

Com muito amor, Vitória.

–---

Quando terminei a leitura, meu rosto estava encharcado. Vários convidados vieram ao meu redor. Agora eu já sabia o que tudo aquilo significava: a Vivi iria embora...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem o que estão achando!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sophia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.