Sophia escrita por Belle17
Notas iniciais do capítulo
Continuação do dia do aniversário de Sophia.
Cheguei às 9:40 na escola. Estava no finalzinho do intervalo, então lanchei às pressas sozinha por não ter encontrado minhas amigas.
O papai já havia falado com a direção da escola sobre meus atrasos. Como era por motivos de saúde, os funcionários entenderam e não colocavam falta.
Meu bumbum ainda doía por causa das injeções, mas fiz o possível para ignorar a dor e me concentrar no meu aniversário. Mas foi difícil fazer aquilo sozinha, sentada num balanço do parquinho.
"Será que a Juliana poderia vir aqui agora?" pensei.
Naquele exato momento, ouvi uma voz.
– Estou aqui, Soso! - sussurrou minha falecida irmã.
– Juju?? - perguntei baixinho, mal movendo os lábios para ninguém perceber.
– Sim, linda, sou eu! Não posso aparecer na frente de todo mundo, então só irei falar mesmo. Feliz aniversário, minha querida!
– Puxa vida... obrigada! - agradeci, sorrindo. Vi que algumas pessoas que passavam pelo parque me olhavam de maneira estranha.
– Já comeu seu pirulito? Aquele que você ganhou do médico?
– Como você sabe?
– Eu não já disse que vejo tudo, Sophia?
– Ah é... mas se você vê tudo, saberia que ele está guardado para comer em casa!
– Eu sei, mulher! É só para puxar assunto! Mas e aí, você está feliz?
– Não muito... queria ter falado com a Vitória... você sabe quem é, não é?
– Sim...
Senti um arrepio quando Juliana me deu aquela resposta pausada.
– O que houve, Juju?
– Nada não, mana...
Meus olhos se arregalaram.
– Juliana, POR FAVOR, o que aconteceu com ela?? - senti meus olhos lacrimejarem.
– Calma, Sophia! Ela está bem! Acalme-se!
– Então por que você respondeu daquele jeito? - indaguei, enxugando as lágrimas discretamente. As pessoas voltavam a me olhar de um jeito estranho.
– Não é nada, irmãzinha! É que eu tenho muita pena dela. Sabe... os anjos estão... você sabe...
– O quê? O quê? Fala, Juliana!!!
– Soso, os anjos e o papai do Céu também sabem de tudo o que está acontecendo aí na Terra... eles... eles estão... hã... como posso dizer?? Tentando fazer a Vitória ficar boa...
Senti todos os meus pelos se arrepiarem. Lembrei-me do dia em que saí do hospital depois do exame de rotina e fui lanchar com a mamãe. "Ela não sabe que as pessoas, quando morrem, ficam completamente curadas?".
– Ju... Juliana... você não está querendo dizer que... que...
Estava paralisada. Será?
– Calma, Sophia. Só te peço para se acalmar. É sério! Olha, eu não deveria te dizer isso, então não conte a ninguém. Ninguém, se não eu estarei encrencada. Só para você se acalmar, a sua amiga ainda tem dias pela frente. Ela não vai morrer agora, ok? Mas por favor, não deixe ninguém saber disso!
– Eu sei... não contarei a ninguém, eu juro.
– Preciso ir, Soso. Não posso me comunicar com você muito tempo. É ordem dos anjos.
Fiquei mais tranquila depois que ela me disse aquilo. Espero mesmo que a Vitória ainda tenha dias pela frente.
Quando o sinal tocou, levantei-me do balanço para ir à classe. Alguns garotos maiores e malvados gritavam para os amigos:
– Olha! Aquela pirralha fala sozinha! Hahahahahahahaha!
– Hahahahahahahaha!
– Ai, essas crianças! Hahahahaha! Amiguinho imaginário, né?
– Ei! É a garota da língua enrolada! Hahahaha!
– Foi um milagre ela ter cantado bem no show de talentos! HAHAHAHAHAHA!
– Essa foi boa, Marcelo! Hahahahahahahaha!
Novamente senti meus olhos lacrimejarem.
– ME DEIXEM EM PAZ, SEUS IDIOTAS! - Gritei.
Um deles me zombou:
– "Bi deijem im baix, zeus idiodas"! Hahaha! O bebezinho nem sabe falar! HAHAHAHAHAA!!!
As lágrimas escorreram de meus olhos, mas um outro rapaz apareceu perto de mim.
– DEIXEM A CRIANÇA EM PAZ, BANDO DE COVARDES!
Sua voz era grossa e firme. Levantei o olhar e vi que era o Luis Ricardo. O primo da Vitória.
– SÉRIO MESMO, GENTE?? VÃO SER IDIOTAS O BASTANTE AO PONTO DE TIRAR SARRO DA DEFICIÊNCIA FÍSICA DE UMA CRIANÇA??
– Calma, Luis... era brincadeira - disse um dos garotos grandes.
– BRINCADEIRA TEM LIMITES, SEU IMBECIL. AGORA SAIAM DAQUI, TODOS! OU TERÃO UM PROBLEMA MAIOR LÁ NA DIRETORIA.
Os caras saíram assustados e o Luís me olhou firme.
– Você está bem, Sophia?
Assenti com a cabeça, ainda chorando. Ele me abraçou e eu agradeci por ter me defendido.
– Não ligue para aqueles caras. Para fazerem filhos, são marmanjões. Agora para rirem de uma menina pequena, são covardes, né?
Fiz uma cara estranha e perguntei:
– Filho se faz? Mas não é o papai do Céu que coloca ele na barriga das mulheres??
Não sei porque o rosto do Luís corou. Mas continuei com as indagações:
– Como é que se faz um filho?
– Sophia, é melhor você ir pra sala.
– Mas...
– É sério. Sua professora deve estar te procurando. Até mais!
– Luís...
– A propósito... feliz aniversário! Não esqueci, hein? - disse ele sorrindo e piscando para mim, enquanto caminhava para sua classe.
Lembrei-me que hoje teria aula de artes no ateliê do colégio. Então me dirigi até lá e encontrei meus colegas pintando... em telas! Uau! Eu nunca havia pintado um quadro antes! Iria realizar meus terceiro desejo!!
– Crianças, vocês tem várias tintas e pinceis as suas disposições - disse a professora Cátia - pintem o que quiserem!
Era meu aniversário, mas resolvi pintar um quadro para a Vitória. Para mostrar o quanto a amo.
Peguei tubos de tinta e um pincel. Resolvi retratar a Vivi e eu de mãos dadas no céu. Ao nosso lado, desenhei a Juliana e alguns anjos.
Levei um susto quando a professora Cátia chegou atrás de mim.
– Muito bem, Sophia! Quem são essas meninas que você pintou?
A classe toda olhou para minha pintura.
– Sou eu e minha amiga - respondi, molhando o pincel em um copo d'água para limpá-lo.
– E quem é essa garota bem aqui? - indagou a tia Cátia, se referindo à Juliana - é sua amiga também?
Como não podia contar nada sobre minha irmã, apenas assenti, mentindo.
– Por que vocês estão no céu?
– Porque é um lugar feliz - falei. Ela afagou minha cabeça e disse em voz alta:
– Pessoal! Não se esqueçam de que hoje é o aniversário da Sophia! Vamos cantar parabéns para ela?
Meu rosto ficou vermelho. Toda a sala gritou "eeeeeeeh" e começou a cantar parabéns pra você!
Deixamos as telas secando e voltamos à classe. No final da aula, quase meio dia, voltamos ao ateliê e retiramos nossas pinturas. Queria entregar à Vitória o mais rápido possível, se é que me entende.
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