23 de abril

Querido diário,

A doutora da escola ligou para meus pais, e eles foram me buscar. A professora Pauline abraçou e fui embora, nos braços do meu pai (não conseguia andar por causa das feridas).

Quando cheguei em casa, me tranquei no quarto e comecei a chorar. Chorei muito. Por quê? Por que comigo? Por que eu tinha que nascer com todos esses defeitos? Não podia ser normal como todos os outros?

Peguei Amy, minha boneca preferida. Ela tinha pouco menos que um metro de altura. Deitei na cama e a abracei com força, fechando os olhos. De repente, apareceram espécies de flashes em minha memória, do dia anterior. Vi minha "audição" do show de talentos. Meu sorriso. O sorriso da professora Pauline. Suas anotações. E de repente... o tombo. As risadas. Daniela.

Sem perceber, comecei a cantar a música. "Pode ser que alguém veja em meus olhos o que eu não posso ver". Como eu queria que as pessoas me enxergassem como uma criança normal...

Lembrei que não havia terminado a música para a professora avaliar. Um pânico tomou conta de mim e chorei ainda mais. Será que estaria desclassificada?

Ainda de olhos fechados, cantava.

"Um dia a estrela vai brilhar e o sonho vai se tornar realidade"... ai... tomara que sim...

Acabei adormecendo e só acordei às 18:34, quando minha mãe me chamou para o jantar.

"Além do arco-íris" não saia da minha cabeça. Acho que é a música mais bela que já ouvi em toda a minha vida. E retrata o que estou passando...

Lembrei-me, enquanto saía do quarto, do papai me dizendo para nunca, nunca desistir. Sempre seguir em frente, não importa o que as pessoas pensem. Ele gostava de cantar para mim o trecho "e leve o tempo que levar, eu sei que encontrarei a felicidade".

Pois é... espero que ele esteja certo. Tradução: espero que ainda me deixem participar do show de talentos...

Hoje não fui à escola. Minhas pernas estavam doendo muito. As bolhas estavam muito vermelhas e liberando pus. Mamãe resolveu me levar ao médico. Estou usando uma espécie de gesso, para não coçar as bolhas. Ai, esqueci de acrescentar mais um desejo na minha lista...

Desejo n° 11: ser normal como os outros.