É uma festa. Balões, espuma e confete. O uísque está num copo transparente ao meu lado. As pessoas dançam músicas de décadas atrás, com movimentos descoordenados e pouco maliciosos, brincando entre elas.

Me lembro de ter visto a cabeleira loira bagunçada e desgrenhada. Então tive um vislumbre de seus olhos. Não me importei com mais nada, nem com tamanho dos seios, maciez da pele, as curvas do corpo ou qualquer outra coisa de natureza mortal. Não eram olhos claros e exóticos. Eram castanhos eu acho. Mas eles transmitiam uma sensação única. Olhavam para mim.

E eu pude ver a alma dela.

Um último gole. Uma primeira tentativa.

Quanto mais me aproximo, mais longe fico. Sinto cair num vórtice de escuridão e luz.

Corro numa estrada vazia e longa. De início, postes com luzes amareladas guiam meu caminho. Mas isso me impede de ver ao meu redor e observar o quanto o tudo é amplo. Mais segurança, menos visão. Então sumiram.

Uma rodovia sem luz cruza o meio do deserto, onde posso olhar para o mais brilhante dos céus. Massas de energias verdes, roxas e douradas se chocam sobre mim enquanto um mundo afunda nas trevas eternas. Na estrada, posso ver o horizonte vazio e seco. O tudo é nada e eu sou único.

Mas arrumo tempo para correr de volta ao baile. Arrumo tempo de voltar a ver a garota loira que cheira a perfume e cigarro mentolado. Não penso, se pensar não faço. A boca úmida e cheia de vida possui todo o meu ser, toda minha essência.

Todos os convidados se divertindo desaparecem. O mundo volta a emergir das sombras.

Aproveite e continue correndo. Depois de seus pés cansarem, corra ainda mais. Divirta-se. Não viveremos para sempre amanhã.