Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 16
Diálogos


Notas iniciais do capítulo

O nome desse capítulo tem tudo à ver com ele. Acho que é o capítulo que mais tem diálogos até agora, em comparação com o restante dos detalhes de sempre.
Não é o melhor capítulo da fic, mas esse ficou como uma premissa de tudo o que o próximo terá. E esse sim, será bem melhor.



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Meu celular toca outra vez, penso que pode ser minha mãe, provavelmente perguntando se sua ideia deu certo, mas quando olho para o número na tela, não o reconheço.

– Alô?

– Felicity? – uma voz nervosa me chama do outro lado.

Sorrio, reconhecendo-a.

– Oi, Barry.

– Oi. – ele diz, posso ouvir seu riso nervoso – Eu sei que peguei o seu número ontem e pelas regras eu não deveria te ligar tão cedo, mas eu estava pensando se você não gostaria de sair nesse fim de semana. Talvez ir ao cinema... – incita ele.
Tento me conter para não dar pulinhos de alegria no mesmo lugar. Eu tinha um encontro!

– Claro. – digo, tentando parecer normal – É, seria legal.

Ouço Barry suspirar. Ele estava prendendo a respiração?

– Certo, então... Amanhã, você está livre?

– Sim, sim. Você pode passar na minha casa. – digo, e dou meu endereço à ele.

– Ok. 7 horas, amanhã, na sua casa.

– Estarei pronta pra você. – digo com um sorriso, mas logo em seguida me dou conta do duplo sentido na frase – Quero dizer, não pronta daquele jeito, pronta para você chegar e a gente sair.

Barry ri.

– Entendi. – ele diz – Te vejo amanhã, então.

– Certo. Até.

Respirei fundo depois que desliguei o celular. Até que eu não me saí mal. Poderia ser melhor, é claro, se eu não tivesse feito aquele comentário no final; mas para alguém que não fazia isso com frequência, eu poderia dizer que a missão tinha sido um sucesso. Agora eu só tinha que ir bem amanhã, no encontro em si.

Eu já estava nervosa.

Procurei manter o foco no trabalho que eu tinha para fazer.

Oliver estava no telefone quando entrei em sua sala com as novidades sobre a investigação. Não prestei muita atenção sobre o que ele estava falando, e assim que entrei ele desligou o celular.

– Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Qual você quer primeiro? – pergunto.

Ele pondera por um instante.

– Você escolhe. – diz ele, sentando-se.

– Ok. – digo – Na verdade é até melhor eu escolher porque você poderia escolher a ruim primeiro e ela só faz sentido se eu contar a boa antes e...

– Felicity. – Oliver me traz de volta ao assunto.

– Sim, desculpe. – suspiro – A boa notícia é que graças à minha mãe e seu aparente talento em anagramas, descobrimos que Abdam Erlack não era o nome que nós deveríamos procurar. Adam Aberlack, sim. E esse nome eu consegui rastrear. – fiz uma pausa para que ele absorvesse tudo e então continuei – Mas, a má notícia é que esse tal Adam morreu, há um mês atrás.

Pude ver a raiva endurecer no olhar de Oliver. Eu sabia o que ele estava pensando: um beco sem saída, mais uma vez.

– De volta à estaca zero. – comentou ele, esfregando os olhos com a ponta dos dedos. Ele parecia bastante cansado ultimamente.

– Você não anda dormindo direito, não é? – pergunto antes de conseguir controlar minha língua.

Ele levanta os olhos e me encara.

– Não. – responde ele, tão baixo que eu mal ouço. – Isso tudo está me dando nos nervos.

– Talvez você devesse tirar uns dias de folga...

Oliver me lança um olhar nada amistoso. Levanto as mãos, em sinal de rendição.

– Apenas uma ideia. – digo.

Ele inspira e expira algumas vezes.

– Olhe pelo lado bom, – acrescento – os próximos nomes que investigarmos, poderemos verificar se também são anagramas. As chances são boas.

Oliver concorda com a cabeça, e então, do nada ele ri.

– O que foi? – pergunto.

– Nada, é só que... você tinha ido almoçar com a sua mãe.

Não foi uma pergunta, pareceu mais uma afirmação em voz alta. Não entendo onde o seu raciocínio quer chegar.

– Sim. – digo – E...?

– Eu pensei que talvez você... – Oliver diz, mas então parece pensar melhor na frase e interrompe a si mesmo – Nada. Bobagem.

Ele ri mais uma vez. Não gosto de ficar de fora da piada, ainda mais quando ela parece ser sobre mim, mas sei que Oliver não vai revelá-la. Então reviro os olhos para ele, deixando claro que não estava gostando daquilo.

– Preciso voltar para minha mesa. – falei, já dando-lhe as costas.

– Espere... – Oliver chamou, virei-me à tempo de vê-lo se aproximar. – Gosto da ideia dos anagramas. Talvez devêssemos dar uma olhada nos nomes da lista; ver se reconhecemos alguns deles, ou pelo menos, se alguém ainda está vivo.

Concordo com um aceno.

– Ficaremos até mais tarde hoje? – pergunto.

– Não. – Oliver sorri – Hoje é sexta-feira.

Ah, claro. O velho Oliver não está morto afinal...

Ignoro a pontada que sinto no peito ao me dar conta disso.

– Tenho que ir às compras. – acrescenta ele.

Franzo as sobrancelhas.

– Compras?

Oliver ri.

– Preciso comprar alguns presentes de Natal. Aparentemente minha mãe não quer quebrar a tradição da ceia em família. Mesmo tendo que comemorá-la quase um mês depois.

Não consegui conter o sorriso. Fazia sentido que Moira quisesse um pouco de normalidade e tradições depois dos últimos meses agonizantes que ela e Thea vivenciaram enquanto Oliver ainda estava em coma. Ambas passaram o Natal e a virada de ano no Hospital, e com a volta da família à rotina, essa parecia ser uma boa hora para se comemorar. Mesmo que seja com um pouco de atraso.

– Você deveria ir. – falou ele.

– Ir onde? – pergunto, meio confusa.

– Ao jantar. Pode levar sua mãe, se quiser.

Congelei. Minha mãe e os Queen numa mesma mesa? Ah não, obrigada.

– Nós já temos planos. – falei, lançando-lhe um sorriso – Além do mais, ela vai embora no domingo à tarde, então... – deixei o restante da frase no ar.

– Mas o jantar é amanhã. – ele diz, sorrindo ao me colocar em um beco sem saída.

– Amanhã eu não posso. – sorrio ao me lembrar da conversa ao telefone que tive alguns minutos atrás. Oliver franze as sobrancelhas ao observar minha alegria, mas ele ri também – tenho um encontro. – explico à ele.

Instantaneamente o sorriso de Oliver desaparece. Ele pigarreia e se afasta alguns metros.

– O garoto psicopata do elevador? – pergunta ele.

Desta vez é o meu sorriso que desaparece. Não gosto da forma como ele se refere ao Barry.

– Ele não é um psicopata.

– Mas é ele, não é?

– Sim. É ele.

Oliver volta a se sentar atrás de sua mesa. Concorda levemente com a cabeça, mas não diz mais nada.

Achei que ele ficaria feliz por mim, porque depois dos últimos meses e de ele ter confessado que confiava em mim à ponto de me chamar para trabalhar em sua investigação secreta, imaginei que nossa relação era mais do que profissional. Pensei que fosse amizade.

Talvez eu estivesse enganada.

– É melhor eu voltar ao trabalho... – digo, e então saio da sala.

Assim que fecho a porta, vejo Sara aproximando-se. Ela senta-se de frente para a minha mesa.

– Nossa, que cara é essa? Você está branca como giz, Felicity.

– Nada demais. – digo, dando de ombros e sentando-me também.

– É o Senhor Gelo? – pergunta ela, lançando um olhar rápido para a sala de Oliver – Vocês andam bem mais próximos ultimamente, não é?

Sara sorri, um sorriso malicioso.

– É só trabalho. – digo, mas fico vermelha mesmo assim.

– Mesmo? – ela continua rindo – Porque parece que depois que você começou a trabalhar para ele, ninguém mais viu Oliver Queen em uma festa. As revistas de fofoca estão quase indo à falência.

Isso era verdade. Oliver tinha mudado quase que da água para o vinho. Mas os seus motivos eram muito mais profundos do que uma nova assistente, como Sara imaginava que fosse.

– Isso não tem nada a ver. – digo.

– Ah, por favor. Vai me dizer que com toda essa proximidade entre vocês nada aconteceu... – incita ela, a expressão cética.

– Nada aconteceu. – afirmo. – Aliás, algo aconteceu – sorrio, agradecendo aos céus por ter um assunto que mude o foco da conversa – Tenho um encontro amanhã.

Sara começa a pular na cadeira, o sorriso e os olhos verdes imensamente brilhantes.

– Com o Oliver? – pergunta ela, quase gritando.

– Não! – digo, incrédula com a ideia – Com o Barry.

Sua expressão murcha.

– Quem é Barry?

– Um cara do departamento de ciências. – falei, empolgada.

– Oliver já está sabendo disso? – pergunta ela.

Mas qual era o problema de todo mundo? Primeiro minha mãe, agora Sara. Por que elas pensavam que Oliver e eu tínhamos algo?

Suspirei, revirando os olhos.

– Não que seja da conta dele, mas ele sabe.

– E qual foi sua reação?

Foi então que eu percebi onde ela queria chegar. Senti um arrepio atravessar minha coluna ao me dar conta de que a reação de Oliver tinha sido realmente estranha. E não era a primeira vez.

– Nada boa, pra falar a verdade...

– Ahá! – falou ela, apontando para mim – Viu? Ele ficou com ciúmes.

Tentei negar, tanto para Sara quanto para mim mesma. Mas a verdade é que parecia ser exatamente esse o caso.

Oliver estava com ciúmes de mim? Isso era impossível, porque se fosse verdade, significava que ele gostava de mim de alguma maneira...

Afastei a ideia de meus pensamentos. Sara estava me deixando confusa. E esse não era um bom momento para isso. Eu tinha um encontro com Barry amanhã e não podia ficar pensando em meu chefe dessa forma.

– Você veio até aqui só para jogar conversa fora? – perguntei à ela.

– Mais ou menos... é que eu estou sem trabalho pra fazer. Nem demissões eu ando fazendo ultimamente, já que agora o nosso chefão está andando na linha. – ela sorri lançando-me uma piscadela – Mas vou deixar você voltar ao trabalho.

Sara levanta-se, acena levemente com um sorriso e volta para sua sala.

– Felicity, poderia vir aqui, por favor? – Oliver me chama pelo telefone logo em seguida.

Suspiro enquanto abro sua porta e entro, as suposições de Sara ainda rodopiando em minha mente.

Aproximo-me de sua mesa estranhando o sorriso malicioso que Oliver está me lançando.

– Cancele seus planos para amanhã. – ele diz – Nós vamos para a Espanha.


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Notas finais do capítulo

Estou pensando em fazer todo o capítulo da viagem pelo P.O.V do Oliver. O que vocês acham?
Ainda não decidi se postarei o próximo quinta-feira ou sexta, porque quinta eu pretendo postar a one shot e vai ficar meio difícil escrever as duas em tão pouco tempo. Mas uma ou outra vocês terão quinta-feira, prometo. ;D