Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 17
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Hey, desculpem a demora, mas como eu havia dito antes, esse capítulo está bem extenso, tanto que eu demorei dois dias pra terminar. Meus dedos ainda estão doendo kkkkkkk
Tive que dividir a viagem, porque ficou maior do que eu previa. Mas aqui está.
Boa leitura!



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Felicity não esconde a surpresa em sua expressão. Os olhos arregalam-se e ela fica sem palavras por um momento.

– Isso não é sério. – falou ela, percebi que ela estava falando aquilo para si mesma, mas resolvi responder do mesmo jeito.

– É muito sério. – digo.

Ela pisca algumas vezes, ainda absorvendo aquilo tudo.

– Espanha? Como... Por que?

Tento ao máximo não sorrir de sua expressão.

– Fiz algumas pesquisas depois que você saiu. – falei – Vai haver um leilão de bens do senhor Aberlack amanhã, em Barcelona.

Felicity suspira.

– Certo. E por que você quer atravessar o oceano por algumas obras de arte? Não se contratam mais representantes para se fazer isso? – ela parece meio irritada.

Eu concordo com um aceno.

– Não estamos indo em busca de obras de arte, Felicity. Nós vamos atrás disto. – virei a tela do computador para que ela pudesse ver a imagem.

Ela pareceu ainda mais incrédula com minha explicação.

– Um livro?

– Não é um livro qualquer. – falei – Ele contém uma lista de nomes que eu estava investigando, foi dela que eu consegui encontrar as primeiras pistas do rombo nos cofres da empresa.

– E como o senhor Aberlack conseguiu roubar esse livro de você? – perguntou ela.

– Não sei. Mas acredito que comigo passando dois meses em um hospital, é tempo suficiente para se executar um plano.

Felicity cruza os braços e suspira, ainda pensando sobre aquilo tudo. Era compreensível, aquilo era novo para mim também, mas não parecia haver outra saída; eu não podia simplesmente entregar essa missão à outra pessoa.

– E por que você precisa que eu vá junto? – pergunta ela, por fim.

Não consigo esconder minha surpresa com sua indagação.

– Por que você está nessa comigo. – falei – É importante. Eu não pediria se não fosse. – acrescentei quando vi que ela ainda estava relutante com a ideia.

Ah claro, ela tinha um encontro amanhã com aquele cara. Eu não poderia dizer que estava me sentindo mal por aquilo, pois eu realmente não estava. Na verdade, uma parte de mim estava feliz por aquele imprevisto ter surgido de última hora.

Claro que eu odiei ter que cancelar os plano com a minha família para o fim de semana. Liguei para casa minutos antes de avisar à Felicity. Minha mãe apenas suspirou, não entrei em detalhes, mas sabia que quando chegasse em casa, precisaria estar com as desculpas na ponta da língua.

– E o jantar com sua família? – Felicity perguntou.

– Adiado. – falei – E se eu posso adiar isso, acho que você pode remarcar seu encontro. – digo, não quero soar ríspido, mas é o que aparenta.

Vejo Felicity ficar vermelha, mas não é o tom de vermelho que geralmente cora suas bochechas, é mais vivo, e eu sei que é raiva.

Imagino quantos xingamentos ela deve estar dizendo para mim em pensamento.

Preparo-me para uma possível leva de reclamações e recusas, mas ela me surpreende mais uma vez, quando sorri e fala calmamente.

– Diggle vai também?

– Sim.

Ela pondera por alguns segundos, suspira mais uma vez e então dá seu veredito.

– Tudo bem.

Não consigo esconder o sorriso com sua resposta.

– Ótimo. – respondo – Então acho melhor você ir para casa e fazer as malas.

– Quantos dias ficaremos lá? – pergunta ela com a expressão franzida.

– Apenas o fim de semana. – digo.

Felicity concorda com um aceno.

– Muito bem, então é melhor eu ir. – diz ela por fim.

– Passarei para te buscar por volta das 7. – aviso, e então ela se vai.

Não havia muito tempo à perder. O leilão seria às 15h, horário local, a viagem demoraria 9 horas, por isso precisávamos sair o mais rápido possível, para que tivéssemos tempo de chegar em Barcelona não muito em cima da hora.

***

Entrei apressadamente em casa, sem muitos rodeios. Por sorte não encontrei com minha mãe no caminho. Eu não pretendia sair sem me despedir, mas preferia adiar as desculpas o quanto pudesse. Não queria discutir com ela logo antes de sair em uma viagem tão longa.

Tomei um banho rápido, deixei o terno de lado, sentindo um alívio enorme por poder vestir algo mais casual. Coloquei jeans e uma camiseta branca por baixo da jaqueta de couro marrom. Já estava fechando minha pequena mala quando alguém bateu à porta.

– Entre. – falei, mesmo que com receio.

Mas era Thea quem estava do outro lado.

– Então você vai mesmo dar um bolo na gente? – perguntou ela, cruzando os braços, mas sorrindo.

Sorrio também.

– Desculpe. Foi de última hora. Mas eu prometo compensar nos presentes. – falei, mesmo me lembrando que não tinha comprado nada ainda. Que merda.

Thea apenas concordou com a cabeça.

– Ela está muito brava? – perguntei.

– Claro que está. – respondeu ela – Mas acho que também está secretamente orgulhosa desse novo Oliver. – Thea apontou para mim da cabeça aos pés.

Nisso eu não podia discordar. Eu mesmo conseguia ver as mudanças em minha personalidade. Aliás, eu conseguia sentir, de uma forma que ninguém mais conseguia.

Eu não pensava mais como o garoto de nove meses atrás. Na verdade, era como se aquele Oliver não existisse há muito mais tempo. Aquela vida de irresponsabilidade parecia distante.

Thea desceu comigo até a sala de estar, onde minha mãe estava sentada, lendo um livro. Ela suspirou quando ambos paramos ao seu lado.

– Não posso dizer que estou feliz em saber que você vai sair em viagem justo nesse fim de semana. – falou ela levantando-se da poltrona – Mas também não vou negar que uma parte de mim está orgulhosa com a sua responsabilidade.

Minha mãe sorriu, Thea cutucou-me com o braço.

– Eu disse. – sussurrou ela em meu ouvido, entre um sorriso animado.

Abracei minha mãe.

– Cuide-se. – falou ela, apertando minha cintura.

Era engraçado perceber como os papéis inverteram-se depois de tantos anos. Eu me lembrava da época em que eram os meus braços que envolviam a sua cintura enquanto ela abraçava-me por cima, muito maior do que eu.

– Prometa para mim. – insiste ela.

Eu rio.

– Prometo que vou me cuidar.

Eu a solto e vou me despedir de Thea. Beijo o topo de sua cabeça.

– Não apronte muito enquanto estou fora, Speedy. – digo à ela, usando o apelido que eu lhe dei quando ainda éramos crianças.

Thea ri.

– Olha quem fala.

Recebo uma mensagem de Diggle, avisando que o avião já está pronto e ele já está nos esperando.

Minha mãe e Thea me acompanham até a porta. Eu aceno e então entro no carro, rumo ao apartamento de Felicity.

***

Quem me recepciona na porta é Donna.

– Oliver, que bom te ver outra vez! – cumprimenta ela com um sorriso animado.

Gosto do fato de que ela me chamou pelo primeiro nome, sem cerimônias, como se nos conhecêssemos há tempos.

– É um prazer novamente. – digo enquanto entro no apartamento.

Quase esbarro em Felicity, que está saindo de seu quarto com uma pequena mala e uma bolsa nos ombros. Me surpreendo com o fato de que ela vai levar muito menos roupa do que eu imaginei.

Paro por um momento para absorver a imagem de Felicity usando calça jeans, e não posso negar que gosto muito do que vejo. A calça é modelada por suas curvas, e eu fico encarando seu corpo por mais tempo do que o necessário.

Talvez o antigo Oliver não tenho desaparecido por completo.

Pigarreio para retomar a linha de pensamento.

– Pronta? – pergunto à ela, e vejo que seu rosto está rosado, provavelmente ela deve ter me pegado secando-a com os olhos.

Era engraçado ver como ela ficava envergonhada com esse tipo de coisa, quando claramente era eu quem tinha sido pego no flagra.

– Sim.– responde ela.

Felicity despede-se de sua mãe.

Abro a porta e a deixo passar primeiro. Aceno para Donna.

– Cuidem-se. – diz ela, enquanto já estamos indo em direção às escadas – E não deixem de fazer algumas loucuras!

Eu rio, mas Felicity apenas balança a cabeça, negando-se a acreditar que sua mãe realmente havia dito aquilo.

O caminho até o aeroporto privado foi silencioso. Mas não pareceu estranho.

Liguei o som, deixando-o baixo para que não desse à entender que eu estava evitando conversar com ela. Felicity não pareceu se importar, seus olhos vagavam pela estrada, enquanto uma sensação estranha me fazia perceber o quanto estávamos próximos naquele pequeno espaço.

Mas antes que eu pudesse começar a pensar em coisas idiotas que eram resquícios do Oliver de antes; nós chegamos ao destino.

Diggle veio nos recepcionar. Ele também não estava vestindo o usual terno e gravata de sempre, e eu podia ver que ele também se sentia bem com isso.

Cumprimentei o piloto e o co-piloto enquanto Felicity entrava no jato. Estava tudo certo.

Entrei no avião e aconcheguei-me no banco de frente para Felicity, Diggle ficando do outro lado do corredor. Uma aeromoça aproximou-se com um sorriso.

– Boa noite senhor Queen. – falou ela, eu tinha a impressão de que a conhecia...

Olhei em sua identificação. Lindsey.

Ah sim, eu a conhecia muito bem. Tínhamos dado uns amassos na última vez que usei o jato, quase um ano atrás, em uma viagem não autorizada que fiz com Tommy para o México. Lembro-me que meu pai ficou uma fera quando voltamos, dois dias depois, com uma ressaca tão grande que eu quase desmaiei enquanto ele gritava comigo sobre falta de responsabilidade. Aquele fim de semana tinha sido memorável.

Felicity pediu uma Coca-cola à aeromoça, eu não pedi nada e John também parecia bem, por enquanto.

O avião começou a se mover na pista, preparando-se para decolar e indicando que nossa viagem estava começando.

***

Felicity estava dormindo confortavelmente quando o jato tocou no chão de Barcelona. Por um momento eu só a observei, admirando a calma de sua expressão. Diggle já estava se preparando para levantar, então eu não tinha muita opção senão acordá-la.

– Felicity... – chamei-a em um sussurro, me aproximei e toquei em seu braço levemente – Acorde – falei, mas ela não se mexia, eu ri, ela dormia como uma pedra, se seu peito não se mexesse eu ficaria preocupado – Felicity, chegamos.

– Hm? – finalmente ela abriu os olhos, piscando algumas vezes.

– Chegamos. – repeti.

Ela assentiu com a cabeça, tirando o cobertor de cima de si.

O sol foi o primeiro a nos recepcionar quando saímos do avião. Mesmo sendo inverno ali também, o clima parecia mais quente.

Eram quase duas da tarde quando fizemos check-in no hotel Pullman Barcelona Skipper, que tinha uma vista ótima de frente para o mar.

Claro que usamos nomes falsos; eu não queria que ninguém pudesse rastrear essa viagem. Por um momento fiquei nervoso quando a recepcionista demorou para verificar se tudo estava certo, mas não deixei transparecer.

– Eu deveria querer saber onde e quando você nos arrumou documentos falsos? – Felicity perguntou quando já íamos em direção aos elevadores.

Eu ri e apenas neguei com a cabeça.

Por sorte, conseguimos quartos próximos. Diggle ficou com o quarto no final do corredor, enquanto Felicity ficou no quarto ao lado do meu.

– O leilão será às 15:00, o que nos dá uma hora para nos arrumarmos. – avisei à eles antes de entrarmos em nossos quartos. Ambos assentiram e então se foram.

A vista da sacada era espetacular. As pessoas ao longe, na praia, pareciam pontinhos pretos rolando pela areia branca e infinita.

Tomei um banho e vesti uma camisa, um blazer preto e uma calça jeans. Não era despojado nem social demais, então não chamaria atenção, o que era exatamente o que eu queria.

Eram 14:32 da tarde quando bati na porta do quarto de Felicity. Ela a abriu, já pronta.

Eu não conseguia me acostumar com a beleza dela. Eu já tinha ficado com muitas mulheres lindas antes, modelos que todo cara sonha em ter esquentando sua cama. Mas Felicity tinha algo diferente. Eu não sabia ao certo o que era, mas algo em seu olhar brilhava mais que em qualquer outro par de olhos azuis que eu já tinha visto.

Ela havia trocado a calça por um vestido azul claro que marcava até sua cintura e depois caía solto até a metade da coxa. Um batom rosado no lábios, uma jaqueta azul escura e uma sapatilha nos pés, o que a deixava tão baixinha perto de mim que eu quase ri.

– Uau.– falei, não conseguia formar palavras com mais de uma sílaba.

– Exagerei? – perguntou ela, olhando para si mesma.

– Não, não você está linda. – eu a tranquilizei. Linda demais até, penso.

Ela sorriu.

– Obrigada.

– Prontos? – Diggle perguntou, vindo em nossa direção – Está bonita – ele falou para Felicity.

Ela corou. Droga, eu não ia conseguir me concentrar se ficasse olhando para ela o tempo todo.

O local do leilão seria na antiga casa do então Adam Aberlack. Tínhamos escolhido aquele hotel por ficar justamente à 15 minutos de distância do nosso destino.

Não deixei que Diggle dirigisse desta vez. Eu precisava manter o foco e não conseguiria fazer isso se ficasse olhando para Felicity. Além do mais, havíamos alugado uma BMW M3, e eu simplesmente amava dirigir aquele esportivo.

Não foi muito difícil encontrar a mansão, à começar pela quantia de carros de alto nível que estavam estacionados no pátio e em volta da casa.

Os portões eram altos e majestosos e toda a estrada em volta da propriedade era ladeada por palmeiras altas e imponentes.

Desliguei o motor do carro e nós descemos.

Dentro era ainda mais espaçoso do que aparentava. E apesar de toda a mansão ter toque visuais neogóticos, por dentro era extremamente moderno.
Felicity pegou um dos roteiros que indicavam quais peças seriam vendidas e em que ordem.

– Olha. – ela cutucou-me e indicou uma das seções no roteiro onde a imagem do livro estava – Trigésimo primeiro item.

Suspirei, ia demorar. Não tínhamos outra escolha senão sentar e esperar.
– Você precisa comprar algo além do livro. – Felicity me falou.

Pensei por um instante.

– Para disfarçar, sim, tem razão.

O leilão iria começar. Estávamos indo em direção aos assentos quando vi um rosto familiar ao longe, vindo em nossa direção.

Puxei Felicity para o lado, nos escondendo atrás de uma das colunas próximas.

– O que está fazendo? – perguntou ela, presa entre mim e a coluna de concreto.

Diggle estava atrás de nós.

– Malcolm Merlyn está aqui. – falei em um sussurro. Olhei de soslaio para onde ele estava cumprimentando alguns homens de terno, o sorriso gélido em seu rosto.

– O pai do Tommy? – Felicity sussurrou também, estávamos tão próximos que senti o calor de suas palavras em meu pescoço. Olhei para baixo, o rosto dela estava à centímetros do meu.

Ela também estava me encarando sem dizer nada. Senti minha pulsação ficar mais forte, um desejo familiar se instalando em meu peito.

– Ele já se sentou. – John nos avisou, saindo de onde quer que ele estava e ficando de frente para nós. Ele pigarreou para chamar nossa atenção.

E então o encanto se dissipou. Engoli em seco por alguns segundos quando me afastei de Felicity. Ela também parecia afetada com o momento.

– Vamos então. – falei, Diggle nos observava com um meio sorriso no rosto.

***

Voltamos para o hotel duas horas depois. Minhas compras no leilão estavam previstas para chegar amanhã no início da tarde. Tive que comprar um quadro de Antoni Tàpies para disfarçar meu real objetivo, mas a obra era realmente interessante, então não me importei muito, além do mais, daria um bom presente de Natal/desculpas para a minha mãe.

Passei o leilão todo com medo de que Malcolm nos visse ali. Mas o mais surpreendente de tudo foi a disputa que travamos pela posse do livro. Tive que desembolsar 14 mil €, mas consegui ficar com o prêmio. Por sorte, o lugar estava cheio, e nós estávamos sentados nos fundos, próximos à saída. E usamos nomes diferentes outra vez, para despistar caso alguém tentasse investigar quem eram os clientes com a placa 97.

Eu estava ansioso para ter o livro em mãos, mas fiquei feliz por tudo ter corrido bem, apesar da surpresa que foi encontrar o pai de Tommy ali. Eu não conseguia parar de imaginar como ele conhecia o então dono da propriedade; mas eu tinha certeza de que precisava começar a investigá-lo.

A noite estava agradável, então sugeri que todos fôssemos jantar em algum restaurante típico. Diggle agradeceu o convite, mas recusou.

– Estou morto. Só quero deitar e dormir. – falou ele com um sorriso.

Concordei com ele e então fui até o quarto de Felicity.

Ela já estava de pijamas. Tive que rir, mas ao mesmo tempo eu tinha que admitir que ela estava bastante sexy daquele jeito.

– Eu já pedi serviço de quarto. – falou ela depois que a convidei.

– Então cancele. – ela meneia com a cabeça, mas eu insisto – Vamos lá, é Barcelona! – sorri, eu realmente queria que ela aceitasse meu convite.

– Tudo bem. – concordou ela, sorrindo também. – Me dê dez minutos.

– Te dou até vinte. – respondi – Estarei no bar.

Ela concordou.

Dez minutos depois, ela desceu, usando um vestido vermelho que me deixou sem fôlego. Eu não conseguia acreditar em como ela tinha se arrumado tão rápido e ainda assim estava deslumbrante.

Soltei um assovio de espanto.

– Você está... – suspirei – Está linda.

Ela sorriu e agradeceu.

Dirigi até um restaurante tranquilo à beira mar.

– Como você achou esse lugar? – Felicity perguntou, enquanto esperávamos por nossos pratos.

– Meu pai me trouxe aqui quando eu era criança. – comentei – Acho que é o primeiro lugar em que eu consigo falar dele sem me sentir estranho.

Depois do jantar, fomos para uma boate. Felicity não queria, mas eu a convenci de que ela precisava conhecer a noite de Barcelona.

O lugar era agitado, a música soava alta e mal podíamos conversar. Fomos até o bar, onde eu pedi duas doses de tequila.

– Não. – Felicity recusou a bebida. – Já é demais eu ter aceitado sair com meu chefe. – gritou ela em meio à música.

Aproximei-me de seu ouvido, sentindo o seu perfume. Eu sabia que aquilo era perigoso, principalmente para ela, mas não conseguia me controlar. O velho Oliver estava falando mais alto naquela noite.

– Essa noite eu não sou seu chefe. – falei – Somos só um cara e uma garota em uma festa. Vamos, aproveite!

Eu não sabia como aquilo estava funcionando, talvez porque Felicity não conhecia a cidade e era eu quem estava dirigindo, por isso ela não tinha muita escapatória; então ela cedeu, pegou a dose de tequila e a tomou num gole só.
Eu ri e pedi mais doses.

Quando dei por mim, já não conseguíamos mais contar quantos copos vazios estavam à nossa frente. Eu ainda estava relativamente bem, meu corpo era acostumado à essa vida noturna, mas Felicity estava tão bêbada que até tentou me tirar para dançar. Eu expliquei que aquilo não era a minha praia, então ela foi para a pista sozinha.

Eu não podia negar que ela sabia o que estava fazendo.

Seu corpo acompanhava as batidas da música de uma forma muito provocante. Ela parecia livre na pista de dança, os cabelos loiros adquirindo as cores das luzes da boate; não demorou muito para que alguns caras aparecessem como gaviões ao redor dela.

Tomei mais duas doses de tequila e então fui até onde ela estava. Coloquei minha mão na cintura de Felicity, dando à entender que ela não estava sozinha.
Ela viu que era eu quem estava ali e sorriu, continuando sua dança. Eu não me movi, não conseguia sair do lugar. Felicity dançava à minha volta, suas mãos passeando por mim.

Eu sabia que aquilo era errado, sabia que não deveria ter convencido-a à vir para essa boate, sabia que não podia ultrapassar as barreiras profissionais que ficavam entre nós, mas naquele momento eu não conseguia pensar em nada disso, a única coisa de que eu tinha consciência era do corpo dela me provocando em sua dança.

Senti um rosnado feroz escapar por minha garganta logo antes de eu puxá-la pela cintura e beijá-la bem ali no meio da pista de dança.

De início, ela pareceu surpresa com a minha investida, mas logo em seguida sua boca abriu passagem para que minha língua chegasse até a dela. Felicity passava as mãos por meus cabelos, e eu segurava sua cintura firmemente contra o meu corpo. Ela correspondia ao beijo com tanta avidez quanto eu. O gosto de álcool misturava-se com o cheiro de seu perfume, me inebriando.

A sensação de suas mãos passeando por meus braços, pescoço e cabelo estava despertando uma fome primitiva dentro de mim, que nada tinha à ver com comida.

A única coisa levemente sóbria que passava por minha cabeça, era a vontade de que tudo aquilo não acabasse tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? O próximo tem previsão para segunda-feira. Só digo pra vocês não fazerem muitas suposições com esse final, porque a viagem ainda não acabou...
Ah, quinta eu postei a one shot, como eu havia prometido, e caso algum de vocês não tenha lido ainda, vou deixar o link aqui também: http://fanfiction.com.br/historia/619492/Peaceful/
É isso, beijos e até o próximo capítulo!