Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 8
Pesadelo.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612635/chapter/8

Clarke ainda andava, na medida que a noite caía.

Ela descansou por algum tempo, nos últimos dois dias, atrás de moitas ou no meio de arbustos e clareiras, mas nada que valesse a pena ficar. E ela também se recusava a voltar ao acampamento sem que Bellamy procurasse por ela. Então, a única coisa que restava a fazer era andar pela floresta.

Nenhum lugar parecia suficientemente seguro para dormir, porque, na verdade, não havia nenhum lugar seguro ali. Mas ela não tinha muita escolha: ou achava um lugar muito rápido; ou morreria de frio.

Ela ouvia umas vozes, vindas de algum lugar ao seu lado. As vozes eram baixas, quase ausentes, mas Clarke tinha certeza que não era a sua língua. Ela olhou para todos os lados e não encontrou nenhum sinal dos terrestres.

Talvez ela apenas estivesse ficando louca ou isso é só um efeito da dor que ela sentia por estar caminhando durante horas.

Assim que ela se virou, viu dois terras-firme correrem em sua direção. Um deles golpeou sua mão, errando por alguns centímetros, mas acertando a pistola em cheio, fazendo-a cair na terra molhada.

Clarke sacou uma pequena faca do bolso, que Bellamy dera, já que seria a única coisa útil ali. Ela abaixou, desviando de mais um golpe, por pouco, e segurou a lâmina com força, cravando-a no estômago do primeiro terra-firme.

Assim que o corpo dele atingiu o chão, o seu companheiro avançou, furioso, para cima da garota.

A loira queria chutar sua mão, a fim de derrubar sua espada. Mas não teve tempo, pois o terra-firme agarrou sua perna, derrubando-a friamente. Clarke sentiu a espada entrar em sua perna de forma devagar e dolorosa.

Assim que ele retirou a lâmina da coxa da garota, de modo torturante, Clarke sentiu um soco no rosto. Ignorando a dor, que praticamente consumia seu corpo, ela impulsionou sua perna no peito do homem.

Não causara o efeito desejado, mas ela conseguiu um atraso quase que milagroso.

— Ah! - ela gemeu de dor, enquanto rastejava até o lugar onde sua pistola estava caída.

O terra-firme não tivera tempo de se levantar, ela disparou três vezes contra ele. E, depois de ter certeza que o primeiro estava realmente morto, deixou-se cair na terra.

Sua perna doía como nunca, as costas e o maxilar estavam dormentes, a calça manchada de sangue, e lágrimas escorriam por seus olhos azuis, enquanto ela pensava como conseguiria sobreviver mais um dia naquele lugar infernal.

De repente, a forma de um homem aparaceu, bem a frente de uma cortina de fumaça desconhecida por ela. Talvez... Névoa?

Clarke não teria forças para uma luta agora e, mesmo que tivesse, ainda teria que fugir da névoa, que avançava sobre o tal homem como um predador. Ela fechou os olhos, sentindo a morte de perto.

— Clarke! Clarke, sou eu! - a voz de Bellamy a puxou de volta para a realidade. - Temos que correr!

Ela abriu os olhos. Ele não parecia muito machucado, apenas alguns arranhões no rosto e um fio de sangue saía de seu lábio inferior.

Clarke tirou forças do inferno para se levantar. Ela se fixou a terra, ignorando sua visão, que estava se tornando turva. Bellamy continuava com os olhos pregados em sua coxa.

— A sua perna. - ele soou desesperado. - Você não pode correr assim.

— Não temos tempo para isso. - ela limpou o sangue do terra- firme, que agora escorria pela sua mão.

Os dois correram, tentando fugir da névoa, e adentrando a floresta sombria.

(X)

Bellamy estava tão alterado que teve de recomeçar a fazer a atadura na perna de Clarke umas três vezes.

Não havia nada que pudesse ajudá-lo a dar pontos ou cauterizar o machucado, então a atadura teria que servir, pelo menos por enquanto.

A verdade é que ela era o "cérebro" da dupla. Tudo o que Bellamy sabia fazer era atirar. Então, em momentos como aquele, onde Clarke se encontrava ferida e praticamente inconsciente, ele ficava completamente perdido.

Vez ou outra, Clarke murmurava alguma coisa, e Bellamy ficou feliz por isso.

Ele não fazia ideia se a névoa já havia dissipado lá fora, mas a tenda que a loira trouxera tornou tudo muito mais seguro. Ela, definitivamente, era o cérebro.

— Devíamos ter trazido mais uma tenda. - ela disse, fazendo uma careta de dor, quando se sentou de frente para ele. O ferimento doía, mas era algo suportável.

— Na verdade, não. Vai ser legal dormir com você. - ele disse, e percebeu o olhar divertido da loira. - Hã...De um jeito completamente não sexual, é óbvio...

— Claro. - ela sorriu e logo desviou sua atenção.

Bellamy queria fazer ou dizer alguma bobeira que a fizesse sorrir novamente, que pudesse animá-la, mas parecia impossível. O olhar de Clarke estava tão...tão "nebuloso", se é que isso existia.

— Parece preocupada. - ele comentou, vendo a loira abraçar os joelhos.

— Eu matei mais duas pessoas hoje.

— Dois terras- firme. - ele corrigiu.

— Ainda são pessoas, Bellamy. E estamos atirando, bombardeando, e matando essas pessoas como se fossem animais selvagens. Não sente nem um pouco de remorso por isso? Porque eu...eu me sinto um monstro. - ela dizia tudo aquilo devagar, seus olhos vagando por todo o interior da tenda. - Tenho certeza que não somos essas pessoas.

— Olha, Clarke...Eu sei que você se acha a pior pessoa do mundo agora, e como eu sei como é se sentir assim, mas quem somos e quem temos que ser para sobreviver são coisas muito diferentes. - ele pousou a mão sobre a dela, hesitante. Para sua surpresa, Clarke não retirou a mão. - E...eu não quero que você se sinta assim de novo.

(X)

Tudo estava escuro, ao redor de Bellamy.

Ele não conseguia ver nada, além de uma garota. A garota possuía sua própria aura, uma luz pessoal. Era uma morena, com lindos olhos envoltos em uma máscara. Bellamy não precisava ver mais do que isso para saber:

— Octavia! - ele tentou correr para abraçar a irmã, mas nunca saia do lugar. Um tipo de força invisível o forçava a ficar parado.

O que estava acontecendo?

Octavia franziu a testa, um sorriso sarcástico botando em seus lábios:

— Mamãe teria vergonha de você.

— P-por que está dizendo isso? - Bellamy realmente não entendia o que estava acontecendo ali.

Ela cruzou os braços:

— Um covarde, é isso. Se lembra que a suamãe fazia tudo por você? Você se lembra das vezes em que ela dormia com um dos guardas, para que você pudesse ter sua maldita recomendação? Se lembra que ela só foi morta e eu só fui presa, porque vocênão foi capaz de cuidar de nós duas?

— Eu não entendo... - Bellamy disse, sua voz cada vez mais fraca e baixa, e a voz de Octavia ecoava no quarto escuro.

— É claro que você não entende. Olha só para você. Finge que é um soldado, que tem o mundo em seus pés, que é o rei de todos, mas nem consegue dizer para Clarke que gosta dela.

— E-eu não gosto... - ele tentou falar, mas estava muito atingido para isso.

Bellamy sabia que nada que ela dissera era verdade. Ele sabia que não devia dar ouvidos a esse tipo de coisa, que isso só faria ele perder o foco na verdadeira missão: sobreviver. Mas então...por que aquilo machucava tanto? Por que cada palavra caía sobre ele como uma tonelada?

— Ela podia ter morrido hoje, você sabia? Você foi tão idiota em deixá-la sozinha que, se ela não fosse tão corajosa e determinada,estaria de debaixo da terra agora. Não percebe? Tudo que você faz é machucar pessoas.

Então, Octavia balançou a cabeça e se jogou em algum tipo de abismo.

Bellamy abriu os olhos, em um sobressalto. Estava escuro também, mas ele sentiu melhor, pois Clarke estava ali, o observando atentamente.

— Tudo bem. Está seguro. - ela sorriu, de uma forma gentil.

— Clarke, hã...você...pode...? - Bellamy procurava por palavras, mas, felizmente, Clarke entendeu.

Bellamy puxou a garota para perto dele, e a envolveu nos seus braços. A garota ficou surpresa por sua reação, jamais esperaria algo assim da parte dele, porém encostou sua cabeça em seu peito.

Clarke parou de pensar sobre a névoa lá fora, sobre os terras-firme, sobre a Arca, ou sobre qualquer coisa que a incomodasse, e Bellamy fez o mesmo.

Nada daquilo importava. Não agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bellarke - Antes dos 100" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.