Eu cortei o beijo assim que confirmei o que era uma dúvida na minha cabeça.

Eu não amava mais o Ryan. Não daquele jeito.

Empurrei seu peito para que não fizesse aquilo de novo. Ryan me puxou ainda mais pela cintura encostando sua testa na minha.

–Por favor, Jessie. Não faz isso comigo. - sua voz era embargada. Eu tinha que ser forte e me lembrar quantas vezes eu já ouvi aquelas palavras da sua boca e nunca tinha dado certo.

–Ryan. - ouvi Vivien e me afastei rapidamente dele. -Me desculpa, eu não queria atrapalhar.

Eu ajeitei a minha roupa e dando de ombros, disse:

–Você não atrapalhou nada, eu já estava de saída.

******

Tyler's P.O.V.

–Achei que tinha se perdido lá dentro.- eu fui abraçar a Jessica assim que ela saiu do camarim. Sua expressão não era a das melhores. -O que houve?

Ela apenas se jogou nos meus braços e me abraçou com força.

–Ryan. - ela disse simplesmente contra o meu ombro e eu passei a mão pelo seu cabelo.

Tinha que ser. Será que ele falou alguma coisa de mim para ela? Não, caso tivesse dito algo ela não estaria me abraçando agora.

–Quer conversar sobre isso?-eu disse com a boca em seu cabelo.

–Só me tira daqui, eu não quero ficar perto do Ryan de novo.- eu assenti com a cabeça. Se ele tinha feito ou dito algo grave para ela, eu não iria me importar com o que ele fosse revelar sobre mim, eu quebraria a cara dele.

–Pra onde você quer ir?- ela ainda me abraçava com força.

–Eu só preciso sentar um pouco e colocar o pensamento em ordem.- ela enxugou os olhos na minha camisa.

Eu fui abraçado com ela até o meu carro e abri a porta do passageiro para que ela entrasse.

–Quer que eu te leve para o apartamento do Daniel?-eu disse ligando o carro e já saindo dali.

–Não, não quero que ele me encha de perguntas que nem eu mesma sei responder.- ela encostou a cabeça no vidro do carro.

Poderia não ser o momento certo, mas não deixei de pensar se ela choraria desse jeito se descobrisse a verdade sobre mim. Então eu me xinguei mentalmente só por ter mentido meu bendito nome para a garota bonita da academia. Ela não merecia sofrer por mim. Ela não merecia sofrer.

–Vou te levar para meu apartamento, pode ser?- eu olhei para o lado quando não recebi nenhuma resposta.

Jessie estava dormindo.

Mandei uma mensagem para Marc mandando-o ficar na rua por algum tempo e ele respondeu com piadinhas sem graça.

Dirigi em direção até meu apartamento e Jessie ainda dormia profundamente.

–Jess? - eu dei um beijo em sua bochecha, ela murmurou alguma coisa e abriu os olhos.

–Desculpa, eu caí no sono. - ela se ajeitou no banco e olhou ao redor.

–Sem problemas, se você quiser dormir pode ir no meu quarto, eu vou fazer alguma coisa para comermos. Marc só vai chegar mais tarde.

Eu destranquei a porta e Jessica esfregou os olhos pasma.

–Quem é que paga isso aqui?Me dá o endereço da empresa que você trabalha, que eu vou também. - ela deu uma risadinha e eu a acompanhei.

Ah, empresa do meu pai você quis dizer.

–Ah, nem é tudo isso vai.-ela sentou no meu sofá, ainda percorrendo cada canto com o olho.

–Porra, é uma cobertura, sua garagem fica no mesmo andar. Se isso não é tudo, nem me mostre o que é porque não quero ser humilhada.- ela apoia a cabeça no cotovelo olhando para mim e eu gargalhei.

–Agora quer conversar?- eu perguntei meio receoso. Nós estávamos juntos sim, mas era curto demais o espaço de tempo para eu querer me intrometer na relação dela com Ryan.

E se ela ainda sentisse algo significativo por ele ? Nós não estávamos namorando oficialmente e nem nos conhecíamos há muito tempo, mas eu não gostava da possibilidade de ela me deixar.

Mas que droga, parecia que eu nunca tinha gostado de alguém na vida.

Talvez eu não tivesse mesmo. Pelo menos não daquele jeito.

–Eu não sei nem por onde começar.- ela deu um sorriso triste e eu peguei um copo de água para ela.

–Que tal pelo começo?- eu brinquei sentando ao lado dela, que empurrou meu ombro.

–Okay. Eu vou ser super honesta contigo e você também vai ter que ser honesto comigo, se não isso não vai funcionar.-sua voz era calma mas havia alguma coisa debaixo daquelas palavras que fez meu corpo ficar tenso.

Eu apenas assenti com a cabeça enquanto ela respirava fundo olhando para o teto.

–Hoje não foi o primeiro dia que Ryan falou comigo depois do ocorrido na academia, ele já tinha me mandado umas mensagens antes.- ela suspirou -A maioria era sobre você.

Eu não sei muito bem a cara que eu fiz, mas tentei ao máximo não ficar abalado.

–O que exatamente ele disse?- eu tentei passar uma calma que não existia no momento.

–Ele disse algo sobre provar que você
não é melhor do que ele. E hoje vocês estavam com olhares estranhos um pro outro... Enfim, eu só quero saber se você tem alguma coisa para me contar, sei lá.- ela estava mais nervosa do que aparentava.

Seus olhos ainda estavam meio vermelhos.

Eu tinha que contar. Agora.

Mesmo que ela nunca mais olhasse na minha cara. Mesmo que ela me odiasse pelo resto da vida. Mesmo que...

—"...the drums they swing low and the trumpets they go."- Marc entrou pela porta e começou a assoviar o ritmo da música.

Só podia ser brincadeira.

—Finjam que eu não estou aqui só vim pegar minha carteira que eu esqueci. Olá, linda Jessie.- ele foi em direção ao balcão da cozinha depois de dar uma piscadinha para Jessica que acenou para ele.—Oi, marido.

—Meio difícil não perceber sua presença.- eu disse, ele mostrou a língua e continuou:

—"It's the way that your bra reminds me of a Katy Perry's song..."- Jessica ria enquanto Marc apontava pra mim e fazia falsetes.

Finalmente, ele nos deixou a sós novamente.

E eu respirei fundo e ela voltou a olhar pra mim firmemente.

—Nós não podemos começar uma coisa do jeito errado.- ela me encorajou, mas as palavras tão simples como "eu tenho uma noiva" pareciam rudes demais, pesadas demais. Elas se enroscavam em minha garganta.

—Eu não... Eu acho que... Olha, eu não quero que você pense que estou tentando fazendo uma imagem ruim dele, mas Ryan falou comigo também esses dias.- Jessica arregalou os olhos. —Ele queria...queria que eu me afastasse de você.

Ela suspirou e passou uma mecha de cabelo, que caía em sua testa, para trás.

—Eu não sei até que ponto ele pode chegar, mas eu acho que você sabe. - eu não conseguia olhar nos seus olhos. Não era só isso que eu tinha para dizer.

—É... Eu sei bem onde ele pode chegar- eu olhei para ela e ela também não me encarava. —Ele me beijou hoje.

A surpresa me atingiu como um tiro mas me segurei. Ele realmente não tinha limites.

Mas não era isso que me incomodava, e sim se ela ainda sentia algo por ele.

—E não, isso não significou nada para mim. - ela respondeu minha pergunta e se aproximou de mim colocando sua mão na minha.—Mas eu sei que ele pode fazer coisas muito piores.

Ela nem tinha ideia do que ele realmente faria.

—Então, se você achar que vai ver melhor nós pararmos por aqui, não que eu vá ficar feliz com isso, porque realmente não é o que eu quero, eu vou entender.- eu olhei para nossas mãos juntas e subi o olhar até onde um par de olhos cinzentos me encaravam profundamente.

Nossas respirações se misturavam. Sua respiração era bem mais forte que a minha, ela fechou os olhos e era como se eu tivesse perdido meu chão.

Era isso. Ela iria me deixar. E eu merecia isso. Tinha certeza que sim.

Por isso fechei também meus olhos, já podendo ouvir sua voz doce dizendo "Sim, acho melhor pararmos por aqui".

Senti seus dedos tocarem meu queixo e eu aproveitei a sensação enquanto podia.

—Jason - eu já estava criando antipatia por aquele nome. Queria que ela me chamasse de Tyler, mas mais uma vez tudo isso foi por negligência minha, então continuo de olhos fechados, rezando para que quando eu abrisse os olhos todos os meus problemas estivessem resolvidos, até que ela me chama novamente. —Stanley, olha pra mim.

Eu não queria olhar justamente porque sabia o que viria a seguir, mas eu abri os olhos e constatei que Jessica devia ser mesmo a garota mais bonita que eu já vi.

E Ela poderia ser sua, mas você estragou tudo. Meu subconsciente acrescenta.

—Preciso que você me responda: Se eu te deixar não vai te fazer feliz, porque não é o que você quer.- nossos olhos estavam presos um no outro e nem um dos dois ousava ceder —Então me diga o que você quer?

Sua pergunta me pegou desprevenido apesar de eu já saber a resposta.

Com o pingo de honestidade e o poço de egoísmo existiam em meu corpo, eu soltei a respiração, que nem tinha notado que estava presa, e disse:

—Você. Eu quero você, Jessica.