é Possível Um Amor Recomeçar? escrita por Trezee


Capítulo 4
Crueldades




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Era tão incrível a capacidade absurda que eu tinha de submergir em meus próprios pensamentos, que quando eu queria, mas queria mesmo me desligar do mundo, nem o tempo, meu fiel inimigo me perturbava. Por mim eu estava plantada a borda daquele chafariz por uns quinze minutos, vinte no máximo. Para uma pessoa normal, um tempo de espera assim já traria uma pequena angustia, mas para mim não. Eu estava completamente completa.

Nem me dei o capricho de olhar para o relógio para confirmar os minutos que para mim já estavam óbvios. Dispersei um pouco minha mente dos meus pensamentos obsessivos e corri os olhos ao meu redor.

A escola já estava deserta e minha cabeça estava recoberta por uma sombra gostosa. Estranhei de início, pois não havia uma árvore exatamente em cima da minha cabeça, só havia uma há uma distância razoável. Foi então que olhei para o céu e procurei o Sol a pino, que para minha imensa surpresa havia fugido da sua posição. Ele estava tombado, quase oculto pelas folhas de um carvalho velho. Custei a crer no que via, pois era tão cedo para o Sol estar tão baixo.

Relutei contra meus olhos que baixaram imediatamente para meu relógio de pulso. Minha pequena lentidão para ler os ponteiros se resumiu em uma dor incrível que cortou meu peito.

- O que...? – murmurei incrédula.

Não, só podia ser brincadeira. Dei uns tapinhas para confirmar que os ponteiros estavam soltos, mirei o céu para ver se realmente o Sol não havia me pregado uma peça. Mas nada, tudo estava perfeitamente normal. Apenas meu corpo estava desfalecido.

Penso ter ficado de pé em algum momento da minha surpresa, pois senti uma dor aguda quando cai sentada no cimento frio que circundava a fonte. Eu estava pasma e tentando não acreditar na verdade que buzinava na minha mente idiota.

- Mas é claro! Sakura sua tola, caiu em uma brincadeirinha infantil de um cara infantil que já foi capaz de te abandonar! – eu parecia uma esquizofrênica falando sozinha. Mas e daí, eu queria falar, então se alguém não quisesse ouvir, que saísse dali.

Duas horas de atraso sem justificativa não é um atraso, e sim uma bela de uma enganação. Um brincadeira estúpida com meus sentimentos!

- Lógico! Ele sabia que eu ainda gostava dele, ou melhor, que só precisava de um empurrãzinho para eu entrar nesse estado tosco de nirvana que eu estou. Ele já me deixou uma vez, se me quisesse de fato, teria vindo. Mas não veio! Me deixou posta aqui para rir a minhas custas! Só pode ser isso. – comecei a murmurar mais alto e, muitas vezes, minhas falas se coincidiam com os gritos dos meus pensamentos.

Nossa, não dá nem para justificar que foi um imprevisto. Imprevisto uma ova! Celular existe para essas coisas e que imprevisto aconteceria ao sair da escola e atravessar a rua? Não vi ninguém com os miolos esbugalhados por ter sido atropelado!

Que precipitada que eu fui em me deixar levar por uma baboseira de sentimentos. Isso sim é persistir no erro. É ser deixada uma vez, sem saber se a pessoa está viva, se está morta, se está bem, sem nunca mandar uma carta ou fazer uma ligação. Ao passo que a promessa era de nunca perder contato. Essa foi a maior lorota que já me contaram e eu, inocente, cedi ao primeiro contato.

Fraca. Esse é o melhor adjetivo que o espelho poderia esfregar na minha cara. Não resisti ao foguinho que se acendeu ao ver Shaoran novamente, mesmo sabendo que ele poderia ter mudado, e muito nos longos anos que não nos vimos. Uma pessoa que se dizia meu melhor companheiro foi muito capaz de me abandonar. Em síntese, isso não resume a melhor pessoa do mundo e a cega aqui, não conseguiu nem desconfiar disso.

A frustração tomou conta do meu corpo, ao passo que por menor que fosse a causa de tudo aquilo, naquele instante, naquele bendito instante, nada importava, apenas a multiplicação de qualquer sensação ruim por mil. E eu não pensei duas vezes para fugir daquele lugar. Patinei o mais rápido que pude para minha casa e sem mais delongas passei como um furacão por tudo. Porta, escada, porta e cama. Lancei-me com tudo sobre o colchão que pareceu me abraçar. Eu queria muito chorar, mas esmaguei qualquer gotinha ridícula que se manifestasse em sair. Eu estava com muita raiva para desperdiçar meu choro com ele.

Encostei a cabeça no travesseiro e passei a rir das minhas próprias idealizações. Minha parte volúvel era tão cômica, pois era hilário de mais pensar que alguém é capaz de se apaixonar quase instantaneamente por um praticamente estranho, que não se via há anos e com quem trocou poucas palavras. E o que deixava isso mais engraçado era pensar que essa pessoa em questão era eu.

Melhor ainda era pensar que quando alguém está apaixonado, basta um pequeno tropeçãozinho para o amor virar raiva uma questão de segundos. Essa flexão absurda de sentimentos me amedrontou um pouco, mas assim como a paixão foi intensa e saborosa, toda a raiva que eu estava sentindo pelo meu duplo abandono também tinha seu gosto bom.

Era só meu paladar se acostumar com essa pitadinha de crueldade. Fato.

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Notas finais do capítulo

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