é Possível Um Amor Recomeçar? escrita por Trezee


Capítulo 2
Sinestesias


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo para quem estava esperando



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Se fosse possível um coração sair pela boca, o meu não teria saído, dado umas andadinhas e voltado. Custei um pouco a piscar e acreditar no que via.

Sim, era quem eu esperava, o negócio era que ele não estava como eu esperava. Há muito que não nos víamos e na minha cebecinha só havia ficado com aquela vaga imagem infantil. Sou um pouco sem perspectiva de tempo, então aquele garoto perdurou nas minhas lembranças sem mudança alguma desde os 11 anos.

Mas não era mais este garotinho que estava parado na minha frente. Fitei-o de cima a baixo sem me preocupar se ele estava me achando com cara de idiota. Até porque ele também estava me encarando com uma cara muito gozada. Seus cabelos castanhos estavam um pouco maiores e jogados de lado sobre a testa. Seu rosto, sem duvidas, havia criado um torneado mais quadrado e as bochechas ficaram mais convexas. Seu ombro largo sustentava seus braços que apresentavam claro volume definido sob a manga da camisa. Ele estava bem mais alto do que eu esperava. Bem mesmo.

Acho que gastei bons segundos fazendo esta avaliação. Mas segundos necessários para eu ajeitar minha cabeça na mais nova realidade em que eu me encontrava.

- Shao... Shaoran? – tremi muito ao falar e isto com certeza condenou meu nervosismo.

Aquele sorriso que foi aberto diante dos meus olhos nunca havia sido visto por mim, pelo menos não daquele jeito. Algo muito estranho estourou dentro do meu peito, mas eu não senti dor, e sim uma onda de sensações que eu não sentia há anos.

- Sakura. – seus olhos se fixaram nos meus e eu com certeza eu corei. – Olá!

O mais óbvio para se fazer nesta situação, é responder com uma frase recíproca. Mas não, eu estava muito lesa para conseguir fazer uma façanha tão grande.

- Sakura, tudo bem? – perguntou Shaoran com um rosto meio tenso. Com certeza eu não estava com a melhor das caras. Eu precisava me recompor urgente.

- Ah... Claro! – forcei um sorriso natural.

- Que bom... – murmurou ainda me olhando com de forma curiosa. – É bom te ver novamente... – seu sorriso abriu um tanto que tímido, mas indescritivelmente diferente.

Mas era um diferente bom. Shaoran Li estava por inteiro diferente. E isto estava me deixando mais estranha a cada vez que eu reparava em um detalhe diferente dele. Até sua voz estava cativante.

- Também gostei de te reencontrar... muito. – praticamente sussurrei a última palavra, não sei se eu queria que ela fosse ouvida, pelo menos não nessa hora.

Nós dois fitamos o chão por um instante, não que eu pudesse ver o que ele estava fazendo, mas o breve silêncio que pairou entre nós já traduziu a situação.

- Você ainda mora onde morava? – ele quebrou o silêncio com a fala que deveria ser minha, já que o recém chegado é ele. Mas fiquei grata por não ter que começar o assunto.

- Ahan. – respondi com voz fraca. Eu ainda estava inerte nos meus pensamentos, confusa com a sinestesia que brotava do meu peito.

- Que bom...

Suas palavras foram seguidas de uma nova grande pausa. Mas agora ou eu falava ou eu falava. Não havia segunda opção. Bem, na verdade havia, mas eu não queria optar pelo silêncio novamente e perder a oportunidade de resgatar nossa amizade.

- E você, voltou por quê? – tentei procurar o tom mais sensato o possível, não queria que ele pensasse que eu estava o julgando.

- Por vários motivos, nada muito coerente.

Esta foi brecha perfeita para eu continuar perguntando. Até porque conversas são sempre sustentadas por perguntas. Porém o tempo que tanto me angustiou deu pra me trair também. A capainha estridente do sinal tocou e cortou por completo o clima do meu raciocínio. Eu precisava continuar conversando com ele, então implorei para que a sorte estivesse conspirando ao meu favor.

- Estamos na mesma sala? – indaguei afoita esperando por uma resposta.

- Eu estou na B e você?

Claramente o sorriso do meu rosto cessou e se a sorte fosse uma coisa palpável eu juro que teria dado um ponta pé bem grande nela.

- A – murmurei e baixei meu olhar.

Não sei se ele percebeu meu momento de frustração, só sei que senti novamente a mão suave repousar no meu ombro e imediatamente meu corpo estremeceu com um simples toque. Isto foi estranho, mas extremamente reconfortante.

- Não faz mal. – silabou entre um sorriso. – Nos falamos na saída, está bem? Eu espero você e a Tomoyo na frente do chafariz.

Olhei para ele e apenas assenti com a cabeça. Ele ficou me olhando por alguns segundos, deu um sorriso bobo e caminhou até sua sala. E eu fiquei plantada lá, por que não? Eu precisava pensar e colocar minha cabeça no lugar. Tudo se passou tão rápido e tão intenso que custou para se ajeitar. Mais do que nunca desejei uma aula de Física, só para poder ficar inerte nos meus pensamentos e encontrar desesperadoramente uma luz entre várias sensações.

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Notas finais do capítulo

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