Cinco minutos, cinco minutos que parecem não passar. Sempre que a aula esta acabando o relógio parece andar mais de vagar, mas hoje ele estava me sacaneando.

Senti o celular vibrando,uma mensagem de numero desconhecido:

“ Sua beleza me deixa sem fôlego”

Quem diabos me mandaria isso? Provavelmente era alguém querendo me estressar então apenas ignorei. Mas o celular voltou a vibrar:

“Fica ainda mais linda com essa carinha de brava”

Comecei a olhar ao redor para ver se alguém mais mexia no celular, mas a tarefa se complicou quando percebi todos usando o aparelho.

“Quem é?” Respondi esperançosa, mas sabendo que não teria uma resposta”

“Me chame de admirador secreto” Revirei os olhos, seria melhor ter ficado sem resposta.

O sinal bate fazendo todos saírem da sala as pressas, eu ainda guardava o material, como sempre eu era a ultima a sair da sala. Me surpreendi ao ver Thais com a mão na cintura olhando pra mim.

—Ainda ta me devendo uma resposta dona Jessica. – Disse Thais impaciente

—Sobre? – Me fiz de desentendida

—Jessy! – Protestou – Dormiu ou não dormiu com a Camila?

—Dormi – Respondi fazendo pouco caso.

—O que?! – Se indignou

—Você perguntou.

—Achei que não tivesse dormido. - Confessou

—Mas dormi.

—Quando?

—Faz muito tempo...

—Tipo?

—Tipo quando a Lucy ainda estudava aqui e a Camila ainda curtia ménage.

—Então a Mila não curte mais ménage?

—Eu que sei? Você que vive colada nela.

Vi os olhos de Thais se encherem de lagrimas, não era por ter descoberto que eu havia dormido com Camila, era por eu ter lembrado que elas sempre estavam juntas e agora nem por telefone se falavam.

—Desculpa... – Pedi com a cabeça baixa.

—Ta tudo bem, eu já sabia disso mesmo...

—Sabia? – Arqueei a sobrancelha – Porque diabos estava me interrogando então?

—Queria ver a sua cara falando que teve um ménage com a Lucy e Mila – Disse rindo.

—Você não presta – Disse acompanhando ela para fora.

—E você presta? – Perguntou com um sorriso sarcástico.

—Presto, presto para ir pra casa e me jogar de baixo do chuveiro. – Disse me despedindo de Thais

Peguei meu celular para ver as horas enquanto eu esperava no ponto de ônibus. E havia outra mensagem do “Admirador secreto”

“Eu percebi você me procurando na sala antes do sinal tocar.Te deixo curiosa?”

“Talvez, só queria saber o rosto de quem esta conversando comigo” – Respondi na esperança de uma resposta útil.

“Talvez um dia...” Sorri sem ao menos saber o porque.

Meu ônibus chegou e o caminho inteiro fui olhando para o celular na espera de mais uma mensagem carinhosa do meu Admirador secreto.

Sorria a cada mensagem que recebia. Dificilmente eu respondia as mensagens mas continuava as recebendo.

X

Na manhã seguinte, uma mensagem me acorda antes mesmo do despertador tocar.

“Se eu fosse te presentear com uma flor, sabe qual seria?”

“Qual?” Respondi a mensagem enquanto me levantava para me arrumar.

Material já organizado, fui saindo de casa, caminhando sem pressa em direção a escola enquanto abria a nova mensagem do meu admirador

“Te daria um lírio. Sabe o que significa o lírio?”

“Não. Mas tenho a impressão que você vai me contar”

“Significa: Eu te desafio a me amar”

Corei ao ler a mensagem.

—O que você ta fazendo aqui a essa hora? Faltam uns 20 minutos pra escola abrir – Perguntou Roberta se aproximando de mim.

—Digo o mesmo a senhora, dona Roberta. O que esta fazendo aqui a uma hora dessas? – A encarei.

—Tomar café na nossa lanchonete. – A nossa lanchonete era onde almoçávamos juntas nas sextas – E você? O que esta fazendo aqui?

—Vim tomar café com você...?

—Eu vou fingir que acredito. Mas só porque eu quero companhia.

Fomos até a lanchonete e pedimos dois cafés.

Nós conversávamos, sobre a mulher que apresentava o jornal, sempre tínhamos coisas estranhas e sem sentido que conversávamos, entre nós e com mais ninguém, talvez até por vergonha dos nossos assuntos idiotas eles ficavam entre nós.

—Não vai abrir mesmo? – Perguntou Roberta olhando para meu celular

—Ele vibrou? – Perguntei não acreditando que eu não havia sentido ele vibrar

—Ele não para de vibrar dês de que chegamos... –Comentou – Quem é hein? – Disse pegando o celular das minha mãos – Numero desconhecido? Quem é que troca tanta mensagem com um numero desconhecido? – Disse tentando desbloquear meu celular.

—Ruby! – Protestei – Devolve meu celular!

—Ta namorando e não me contou? – Disse vendo a quantidade de mensagens recebidas do mesmo numero.

—Não estou namorando – Fiz bico – Eu nem sei quem é que me manda as mensagens – Comentei

—“Eu te desafio a me amar” – Sussurrou ela, eu sei que ela só estava recitando a mensagem mas, aquelas palavras saindo de sua boca fez meu coração bater mais forte – Linda frase – Disse desfazendo o sorriso. Acho que ela percebeu que eu meio que suspirei ao ouvir ela recitando cada palavra.

Ela pagou nosso café e seguimos em silencio para a escola. Eu tentava puxar assunto mas via desinteresse em sua voz quando respondia.

Nos separamos no portão. Ela entrou e eu fiquei do lado de fora esperando meus amigos.

—Oi... – Disse Ju quase sussurrando.

—Que desanimação é essa criatura?

—A Thatty foi la em casa ontem com aqueles desafios malucos...

Quando Thais ficava entediada ela gostava de deixar a Judith bêbada. Eu sei que não tem muita lógica, mas como Judith não é acostumada com bebidas é engraçado vê-la bêbada.

—Qual foi dessa vez?

—A cada dois copos dela, eu virava um.

—Nem foi tão ruim assim... – Comentei despreocupada.

—Ficou ruim sim. Quando o Arthur entrou no jogo ele dividiu o desafio com a Thatty. Isso significa que ele bebeu um, ela outro, e eu bebi dois... – Ri baixinho para que ela não escutasse

—O que beberam dessa vez?

—Tequila...

—Tequila? – Me surpreendi

—Não grita! – Disse Judith tampando os ouvidos. – Minha cabeça vai explodir

—Espera o Arth chegar. Ele sempre tem remédio pra essas coisas.

—Ele não vem...

—Por que?

—Ele e a Thatty foram pra uma festa depois que saíram da minha casa.

—E por que diabos a gente ta aqui fora esperando quem não vai chegar?

Judith não respondeu, apenas levantou e me seguiu para a sala de aula.

—Vou atrás de um remédio pra você Ju. Já volto. – Disse saindo da sala e deixando Judith sozinha.

Fui atrás da Roberta, se alguém teria um remédio pra emergências com certeza seria ela. Bati na porta e esperei.

—Ela não esta aí... – Disse uma voz atrás de mim – Ela esta em reunião com os outros professores sobre a semana de provas... – Completou Inácia com um sorriso.

—Por que você não esta na reunião? – Perguntei curiosa

—Bom... Como as provas foram feitas antes de eu assumir as aulas, acho um tanto desnecessária a minha presença...

—Sabe se a reunião vai demorar? – Roberta não tinha me falado nada de reunião... talvez tenha esquecido, ou talvez não achou tão importante para comentar comigo.

—Acho que sim... Você precisa de alguma coisa? – Sorriu mas ainda com um olhar preocupado.

—Na verdade sim, preciso de um remédio...

—Você não esta bem? – Perguntou se aproximando de mim e colocando uma de suas mão em meu rosto para medir a temperatura.

—Não é pra mim, é para uma amiga...

—O que ela tem? – Perguntou tirando sua mão de meu rosto mas sem se afastar nem um centímetro

—Ressaca... – Disse rindo baixinho.

—Manda ela tomar dois – Disse me entregando uma cartela de comprimido que havia no bolço de trás de sua calça.

—Você anda com remédios por ai?

—Nunca se sabe quando alguém vai precisar...

Eu agradeci e voltei para a sala. Judith tomou os comprimidos e encostou no meu ombro reclamando do barulho dos outros alunos. Como os professores estavam em reunião as salas ficavam uma bagunça. Não sei como Judith conseguiu dormir com todo aquele barulho.

Peguei meu celular que estava vibrando e logo imaginei que seria o admirador. A mensagem não era dele mas não fiquei decepcionada ao ler o nome do Remetente “Dia”