Uma Atrapalhada História de Amor escrita por Gabi


Capítulo 2
Aquele rádio inútil e uma irônica hora para conversarmos!




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BETO

  - Mas Betinho! Por que eu não posso usar seu vídeo game?

  Minha irmã é um ser bem insistente! Seu nome é Clara, e ela é minha cópia versão menininha em miniatura. Sua pele clara e seu cabelo ondulado acobreado não enganam de quem ela é irmã. Meu quarto é um quarto bem pequeno, cabe nele minha cama com suas duas gavetas embutidas, minha escrivaninha com meu notebook e uma pilha de livros, meu pufe frente a escrivaninha, uma gaveta escura e algumas prateleiras. Tem também minha tevê, que é uma boa tevê por sinal, sobre uma mesa pequena que cabia meus jogos e algumas outras tranqueiras. Antigamente era mais ocupado por quadros e decorações diversas, mas agora é só meu quartinho pequeno. E por ser meu quartinho pequeno, eu e a Clara estávamos perto um do outro de uma forma irritante já que ela tinha a mania de puxar minha blusa cada vez que pedia algo!

  - Não, não e não! Eu ainda preciso passar para buscar o Renato, viu? Ele e o Sam estão em um lugar um tanto quanto problemático, e eu tenho que ser pontual para evitar maiores complicações. Então contenha-se! Não é não!

  - Mas Betinhooo!

  - Tchau Clara! – Dei um beijo em sua testa e a levei para fora do meu quarto.

  Tenho também um cão. O nome dele é Ruffles, já que eu ganhei ele em um dos meus aniversários de namoro com a minha ex. Comemoramos indo ao cinema e chegando em casa fizemos ainda uma maratona de mais filmes comendo Ruffles. Ela me disse que era um nome destemido e bravo, e é óbvio que era uma brincadeira, mas estava tudo tão bom e tão bonito que o nome me pareceu uma boa opção. Ruffles, aquela batata...

  Meus pais não estavam em casa, então pendurei a mochila no ombro e nem do café da manhã me lembrei. Disquei o número do Renato no meu celular.

  - Oi? – Ele disse.

  - Tô a caminho!

  - Mas eu ainda estou esperando o Sam, carinha. Por eu ter dormido aqui, estou seguindo as regras da casa.

  - Você é idiota mesmo! Falei que não posso me atrasar merda!

  - Não precisa ser agressivo! Ele já está saindo do quarto e já estamos a caminho da casa da Lari. Passa lá daqui a 20 minutos que estaremos prontos!

  - Vai e não demora, droga, já estamos atrasados!

  Desliguei o celular e ajeitei o carro. O Renato é um suíno! Costumo dar carona pra ele e ele sempre vem com um café da manhã diferente. Ele me irrita profundamente! Irrita ainda mais por eu ter que ir para a casa da Larissa! Ok... Acho que o Sam e ela são melhores amigos e não é surpresa vê-los juntos, mas essa hora da manhã? E ainda negam esse romance de droga. Ela é meio estressada de manhã e isso só a torna mais fofinha já que ela é pequena e parece uma criança e.... Droga!

  Liguei o carro e fui até a casa dela. Demorei os vinte minutos pedidos e mesmo assim ainda não tinham saído. Já estava atrasado mesmo!

  A casa dela é cerca de uns oito quarteirões depois da minha, o que é coisa rápida quando não se tem trânsito. Feliz ou infelizmente, quando fui não tinha. Cheguei e fiquei arrumando o carro por impulso. Eu tenho aqueles bonecos de cabeças balançantes no carro, meus dois super-heróis favoritos: o Batman e o Hulk. Transformavam meu humilde Sedã em um potente carro heroico, ou não, mas ainda são meus heróis favoritos, então precisam estar ali de qualquer forma.

  O Renato e o Sam demoraram incríveis quatorze minutos e trinta e sete segundos a mais da minha chegada para saírem do raio da casa! Supus que estivessem explicando para a Larissa porque não poderiam acompanha-la hoje em sua jornada até a escola, então fiquei aliviado, era um tempo de espera bem gasto. Pacientemente, liguei o rádio. Tinha esperanças de encontrar algo de interessante nele. Não precisava nem ser interessante, eu me contentaria com razoável, muito razoável mesmo. Enfim, não encontrei nada de razoável! Assim que liguei me veio um disparate de "sarrei a novinha no grau", "beijinho no ombro" e algo que falava sobre o dia de hoje repetidamente. Juro! Parecia um tipo de esperança, algum tipo de reza repetida para que seu desejo se realize. O ponto é que tem coisas muito mais interessantes para serem desejadas. Quais problemas mentais têm essas pessoas? Repitam paz, repitam amor, repitam alegria, repitam barra de chocolate, QUALQUER COISA! Aliás, não repitam nada porque seria um porre da mesma forma, mas parem para fazer algo mais útil! É interessante ser útil na vida e as pessoas poderiam experimentar vez ou outra. Minha penúltima tentativa foi trocar para uma música que cantava sobre meteoros e paixão. Confesso que foi um tanto quanto interessante. Imaginei corações gigantes caindo e destruindo a Terra. Pensando melhor... não! Última tentativa! Eu já sentia meu sangue subir à cabeça. Odeio músicas ruins, odeio pessoas desocupadas, odiei estar parado frente à casa da Larissa, odiei estar esperando o idiota do Renato, odeio esse rádio! Última tentativa! Escolhi então uma estação que tocasse músicas relativamente antigas, elas tendem a serem melhores. Sabe o que escutei? "Tchê, tchererê, tchê, tchê." MAS O QUE MERDAS É TCHETCHERERETCHETCHE? E foi aí então que quebrei meu rádio.

  - Droga, droga, droga! – Reclamei e bati no volante, meu fiel escudeiro nas minhas horas de estresse.

  Senti uma mão pesando no meu ombro e notei que era o Sam.

  - Bom dia garanhões! – Cumprimentei sem nem olhar para ele.

  Estava tentando consertar o meu rádio que, vítima do mundo atual, não tem culpa do tipo de música que as pessoas estão fazendo ele transmitir. Comecei a escutar uns ruídos mais claros nele e repentinamente voltou a vida! Era uma música conhecida, uma que falava que a pessoa era bonita da forma que ela era. Uma canção apaixonada que me fez sentir aversão a certas lembranças... Engraçado, as lembranças estavam tão claras que cheguei a escutar uma voz feminina! Como era mera brincadeira da minha imaginação eu continuei focado no rádio, mas minha imaginação estava sendo tão profissional providenciando até mesmo perfumes, decidi então olhar para o lado para me certificar. Claro que não era ning-

  - Jesus! – O sussurro escapou, não sei se por nervoso ou surpresa ou se pelos dois.

  Aqueles dois traíras! Como planejaram tudo isso? Fizeram de propósito! Estavam se olhando e rindo! Que ódio senti naquele instante! O Renato me encarava surpreso com a minha reação. O único! Os outros dois estavam rindo sem nem discrição nenhuma! Amigos da onça!

  O Sam entrou no carro e se sentou na janela do meu lado oposto, e ela logo foi atrás pedindo licença e com um sorriso que esticava todo o seu rosto, de tão descarado que era.

  - Cara, está tudo bem? – O imbecil do Renato me perguntou.

  - Está. Tudo. Ótimo!

  Tentei ligar o carro... Tentei de novo... Outra vez... Outras muitas vezes! O ar dali de dentro era quase sufocante e esta merda não queria andar! Outra vez!

  - Merda! Merda! – Usei do meu fiel escudeiro novamente, o volante, e saí do carro em seguida.

  Fiz sinal para que todos saíssem também. Palhaçada ficarem dentro do MEU carro enquanto nem EU mesmo conseguia ficar ali!

  – Vou a pé! – Completei.

  Escutei mais risadas atrás de mim e senti minha unha na palma da minha mão, os punhos fechados, a respiração ainda controlada, mas com grande esforço. Conspiração! Blasfêmia! Enquanto fui caminhando todas as drogas das lembranças voltaram a minha mente! Todas as drogas das lembranças!

  - O que houve Robertão? Parece nervoso. – Sam me perguntou.

  - Traíra!

  Assim que eu me virei vi ele parecia surpreso, mas logo que a surpresa acabou, ele e a Larissa começaram a gargalhar sem dó.

  - Claro, claro. Agora vamos porque no mínimo chegaremos atrasados. – O falso-traíra-duas caras falou.

  Ainda tentou pôr a mão nos meus ombros! Óbvio que eu saí de imediato afim de manter minha masculinidade. Por pouco tempo, talvez. Precisei de um momento sozinho então caguei pro horário, me sentei na escada da porta da casa e comecei a pensar mais claramente e me acalmar.

  Ela não tem culpa de nada. Nada! Fui eu quem terminei. Eu! Todo ressentimento é bobeira!

  Precisei repetir isso mais algumas vezes até eu me convencer de que estou certo, não em minha oração, mas no fato de que eu estou certo e ela errada em tudo, porque eu estou sempre certo!

  Não, não é assim Roberto! Vamos de novo. Lembre-se do que aconteceu na realidade.

  Bem, na real eu sempre gostei dela! Éramos melhores amigos e eu tinha conseguido escapar dessa zona. Até uma outra garota chegar e estragar tudo, pra variar. A jovem me chantageou e disse que se eu não parasse de falar com a Lari, transformaria a vida dela em um inferno. Ela já estava começando a tramar, já tinha feito a Larissa acertar um direto bem na sua cara, só para ter a imagem de bruta perante toda a escola, e, claro, a menina em questão de vítima. Essa jovem é a minha ex. Ela não suportava eu ter terminado com ela para ficar com uma menina mais nova, e confiava fielmente no que sua intuição dizia que eu teria a traído antes de terminar, já que eu já era melhor amigo de quem eu nutria já uma paixão. Eu me senti profundamente ofendido, mesmo que na situação contrária essa dúvida também estaria me perseguindo, mas a garota passou um bom tempo comigo! Já era de se esperar que me conhecesse, que eu acho traição algo ridículo e que não considero uma hipótese viável independente da condição. Continuando, foi péssimo pra mim, não queria que minha moleca (apelidos melosos fazem parte de uma relação saudável) passasse por mais problemas desnecessariamente e, principalmente, por minha culpa. Fiz o soco então se tornar motivo para término sem maiores explicações. Foi bem chato, eu tinha entendido o motivo dela e gostava desse jeito peculiar da Lari, sempre gostei, ela não guarda nada e é uma garota com atitudes que sempre surpreendem a todos que estão à sua volta.

  Achei que a raiva amoleceria a mágoa, achei também que não teria causado tanta dor para ela por causa disso. Achei que simplesmente me afastar fosse insensibilidade demais, Ok, isso eu achei certo, mas achei que iria passar, achei que com o tempo a falta seria nutrida por outras, muitas outras coisas, pessoas e momentos. Achei errado! Completamente errado! Posso até ser muito novo para falar sobre sentimentos, como muitos falam, mas eu conheço os meus, o que eu sinto agora eu sei, e sei que não diminuiu nunca, eu só faço uma força tremenda para não lembrar. Não lembrar não é esquecer, e seria inclusive uma ofensa eu considerar a possibilidade de esquecer algo tão intenso que senti e que a fiz sentir também.

  O que realmente me derrubou foi, depois de tudo isso, depois de eu ter sido incoerente e ríspido, ter sussurrado meu nome em meio a tantas lágrimas, como a me mostrar que eu estava mentindo, que tudo era mentira, e que se era, pela primeira vez, ela não precisava resistir. A Larissa passava as costas da mão freneticamente pelo rosto e ficava repetindo meu nome, começou a puxar minha camisa e até tentou me dar um beijo, alegou que estava tudo bem, que não gostava de brincadeiras e que isso poderia até fazê-la desgostar de mim! Depois riu dizendo que era impossível, e que por isso estava tudo bem, nós sempre nos gostamos muito e tudo ficaria sempre muito bem, independente dos ocorridos. Não consegui mais ficar parado ali... Queria abraçá-la, queria beijá-la, contar tudo e dizer que ficaria tudo bem, mas o que eu poderia fazer? Falar para a direção? Eu conhecia minha ex, ela arranjaria uma forma de importunar e, apesar dos pesares, a Lari nunca foi muito segura de si, bastavam poucas mentiras para balançar sua autoestima, não queria saber o que muitas mentiras fariam. Eu a protegi! Eu estava protegendo ela e foi extremamente horrível! Antes que eu saísse, me virei uma última vez e a vi arrancando o colar e jogando no chão, saindo com raiva, confusa. Eu peguei o colar quebrado e guardei. Era um colar de arroz dentro de um vidrinho. Era o nosso colar, eu tinha um com o nome dela e um coração. Eu tenho, aliás, mas guardei ele dentro da minha gaveta muito bem guardado, como todas as fotografias, cartas etc.

  - Entrem nessa merda, e rápido! – Abri a porta do meu querido Sedã heroico com mais força do que eu deveria, mas as consequências disso eu vejo depois.

  O Renato entrou sem questionar e o Sam foi logo atrás, justo a Larissa ficou de pé do lado de fora.

  – Isso também te inclui, jovem. – Falei.

  - Você não tem esse direito de me dar ordem, até onde eu sei não sou mais uma criança!

  - Realmente não é, dá para ver pelos seus peitos!

  Em minha defesa, sei o quão machista e ruim foi essa piada, mas eu tinha certeza de que ela ainda me conhecia do pé à cabeça, e sabia que era mais uma das minhas piadas infames e que TODAS as minhas piadas infames têm objetivos. A dessa foi deixá-la nervosa, chateada, com raiva, risonha, que fizesse ela esboçar qualquer emoção se não o deboche, uma prova de que eu ainda mexia com seus sentimentos! Eu conhecia a Lari o suficiente para saber que ela cagava para piadas machistas, sabia que eram erradas e que vinham de mentes problemáticas, da mesma forma que eu sei que ela só se ofende com algo quando se ofende com a pessoa que disse. Foi um bom plano pensado rápido. Corrigindo, foi um bom plano, pensado rápido e eficaz, e me rendeu só um ponto negativo, que foi a marca da mão dela em vermelho no meu rosto.

  - Fala sobre eles de novo. Anda, fala!

  Escutei um assobio do banco de trás e ela me encarou quase que me engolindo com os olhos. Eu quebrei o momento com uma risada exagerada e ela ficou desconcertada, vermelha. Muito bom, foi o suficiente!

  - Você vai entrar? Está nos meus planos chegar ainda hoje na escola.

  Agradeci aos céus pela porta estar aberta para ela. Com a vermelhidão do rosto e com certeza com a coceira na mão para estalar mais um tapa no meio da minha face, ela teria danificado a minha humilde portinha.

  - Ridículo! – Sussurrou.

  Não consegui segurar um largo sorriso.

  Pus a chave outra vez no carro para tentar ligar e esperei. Dez segundos depois o carro deu sinal de vida e minha alegria só aumentava mais. Fui para a escola sem vergonha do atraso e sem dar mais um pio. Ninguém deu, aliás. Todos completamente calados dentro do Sedã heroico.

  Assim que chegamos a Diana, nossa amiga hiperativa, correu até a gente com um sorrisão no rosto. Pelo canto do olho consegui ver o Renato de braços abertos correspondendo ao sorriso dela. Comicamente (aqui caberia um infelizmente, mas eu estaria mentindo, já que acima de infeliz foi uma situação muito cômica), a Diana correu foi para tagarelar com a Larissa, e o guerreiro disfarçou fingindo que estava no meio de um alongamento muito animado.

  - Oi meninos! – A Diana notou a situação, cumprimentou e riu.

  Eu me mantive sério, estava feliz demais e pensando em algumas memórias. Só quanto notei o idiota do Renato vermelho e a estridente risada da Larissa que decidi ajudar.

  - Di, mais tarde eu, o Renato e o Sam vamos assistir um filme, quer ir?

  - Foi mal Beto, mas depois da aula eu e o Sam vamos na casa da Sissa ver um filme, não é Sam?

  - Sim, claro. – Consegui sentir no meu pé a dor da pisada da Diana.

  Esses tais saltos altos parecem mais armas do que calçados!

  - Posso ir também? – Arriscou o idiota do Renato.

  Eu quase bati palmas tamanho meu orgulho desse idiota!

  - Olha, olha, como o Renatinho está ousado! – O Sam fez essa piada genial.

  Por que genial? Ok, certa vez estávamos lanchando na rua quando passamos por uma loja de perfume e apenas o Renato pegou um papel de cheiro, já que são papéis desnecessários e eu não vou ficar cheirando a porra de um perfume enquanto eu como! Enfim, o nome do perfume era "Ousadia e Alegria", e é de algum cantor famoso aí das atualidades, acho que de pagode. Ele ficou animado dizendo que era um sinal porque o cantor ficava com várias garotas, e ele então finalmente ficaria com a Diana!

  Na realidade eu e o Sam tentamos alertá-lo que faltava a fama do cara e, mais importante ainda, a beleza ou mesmo o dinheiro dele. O idiota do Renato se sentiu ofendido, mas acabou rindo e disse que, quando finalmente conseguisse falar feito gente com a Diana, que poderia ser considerado ousado. Eu tive que rir histericamente pra registrar esse momento. O Renato só ficou cada vez mais vermelho, parecia que ia estourar, já o Sam ria histericamente junto a mim, enquanto a Lari e a Di ficaram com seus olhares de confusão.

  - Pode ir "Renatinho". – A Diana brincou e ele sorriu, suponho que o nervosismo tenha diminuído.

  - Virou festa na minha casa agora? – A Larissa reclamou e depois sorriu para mostrar que era brincadeira.

  - Virou sim, e eu vou. – Eu falei.

  Pronto, a brincadeira se esvaiu! Eu só me convidei porque quando ela estava falando com o Renato eu senti que ela ficava voltando seu olhar para mim, nervosa e de forma discreta. Oportunidades como essa são para serem abraçadas!

  - Vai ser ótimo que você vá! – Ela mentiu.

  Consegui ver o nervosismo em seus olhos e suas mãos juntas, uma coçando a outra, como faz sempre quando se vê em uma situação difícil.

  - Não duvide! – Desafiei.

  O rosto dela imediatamente avermelhou e esquentou, e isso é tão bonitinho nela! Quis abraçá-la e ignorar o que passamos, mas vamos lá, me mantendo firme e forte eu consigo esta conquista novamente!

  - Sinceramente, vindo de você eu não duvido de nada, Roberto. – Ok. Isso foi quase um tapa. – Vamos Sam, Di... – E levou eles pelos braços para um outro canto.

  - Cara... Admiro sua coragem, porém você tem sérios problemas! – Pasmo, o bobalhão se manifestou.

  - Sim, o nome deles é Larissa.

  - Tá apaixonado? – Ele gargalhou.

  - Sempre estive né, idiota! Sempre estive... Espero que ainda seja recíproco. – Como resposta, ganhei apenas um tapinha no ombro como incentivo e fomos para a sala de aula.

  Nossa, que saco de aula! O som frenético da minha caneta batendo na mesa era tremendamente mais interessante do que a voz do professor profetizando sobre fatos históricos. Sim, profetizando! Ele se considerava um Deus, e quem o questionasse era fortemente reprimido com suas palavras longas, maçantes e, segundo ele, sábias. Como eu já estava cansado de escutar sobre a Independência das Américas, na verdade, sobre a Independência de qualquer lugar, usei meu tempo para armar um plano que, se tudo desse certo, seria genial! Já tendo o raciocínio, só faltava a prática!

  A mesa da sala de aula é pequena e embutida na cadeira colorida acolchoada. Sim, colorida, os coordenadores dizem que é para os alunos se acostumarem com o desvio de atenção por cores e aprenderem a focar. Enfim, as cadeiras coloridas, a mesinha embutida, o quadro de caneta a uns 10 passos de mim, considerando que sento no meio da sala, e o professor extremamente distraído com seus valiosos ensinamentos que coçavam para serem passados. Pensei num problema que parecesse ser real para alguns dos alunos ali presentes. Uns podiam ter esquecido de dar comida pro cachorro e precisavam dar um telefonema pra avisar ao colega de quarto, enquanto outros podiam estar preocupados com problemas alheios a escola e ansiosos, de forma que precisassem ir pra casa, já outros poderiam ter esquecido o trabalho de valiosos pontos em casa e também precisavam dar um telefonema. Isso, o mais lógico é ter esquecido o trabalho em casa! Eu conheço a letra da mãe da Larissa, então imitei e escrevi que ela precisava se encontrar comigo na portaria o quanto antes porque eu estava de saco cheio de servir de babá para os trabalhos dela, sempre levando-os para escola! Como a mãe dela sempre foi muito sutil, devia funcionar. E funcionou! Assim que entreguei na coordenação, alegando que o porteiro entrou na sala errada e deixou com o professor, que ignorou a mensagem, eles foram na aula de gramática da Larissa e mandaram ela descer a portaria de imediato sem desconfianças.

  A brecha que eu precisava! No pátio que antecede a portaria, tinha um outro banheiro para os professores usarem no intervalo, afim de não se misturarem com os alunos. Estava destrancado. Ótimo! Peguei ela pela cintura e carreguei para dentro dele.

  - Que merda é essa? – Ela gritou enquanto me batia freneticamente.

  - Calma Larissa! Para! Isso dói! Preciso manter a porta encostada, então espera! – Continuei segurando ela pela cintura e pendurando-a nas minhas costas.

  Segurei a porta com o pé enquanto esperava ela se acalmar para eu pegar um papel e prender a porta. Não pretendia ficar trancado para ser pego depois!

  - Você enlouqueceu, seu demente? Como você me prende assim Roberto? Você está louco? – Ela continuou me socando freneticamente e para alguém tão pequena ela é muito forte!

  Bem, ela me mordeu... Bem, eu tirei o pé da porta... Bem, ficamos presos...

Bem, merda.

  - O que você fez?! – Eu a coloquei no chão e ela estava enrubescida de raiva.

  - Eu? Você quem nos prendeu aqui!

  - EU? – Ela berrou.

  Eu imediatamente a segurei por trás com um abraço e tapei sua boca. Ela não podia gritar assim! Eu precisava pensar num modo de tirar-nos de lá.

  - Me desculpa, Lari. Me desculpa mesmo. – Eu já não conseguia pensar mais e o rosto dela foi embranquecendo.

  Talvez fosse a irônica hora certa de conversamos. E talvez agora realmente tudo pudesse ficar bem para sempre.

Talvez.


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