A Filha do Mar escrita por A OLD ME


Capítulo 77
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Depois do desentendimento no Olimpo Apolo e eu fomos para um hotel, mas nem mesmo nós estávamos muito bem, chegamos quietos ao hotel, trocamos meia dúzia de palavras até que ele decidiu tomar banho e enquanto ele fazia isso fui para a piscina no terraço coberto do hotel 5 estrelas que ele escolheu.

O lugar era quente e a água também, assim que entrei senti todos meus músculos relaxarem simultaneamente. Não sei bem quanto tempo fiquei em baixo d’água, mas só sai de lá quando percebi Apolo chamando meu nome da borda, eu o convidei a se juntar a mim, mas ele não parecia de bom humor então sai da água.

— O que foi Apolo? O que está acontecendo?

— Nada, só quero abraçar você e ficar assim para sempre.

— Não seja tolo...

— A palavra com T não é a melhor maneira de descrever um deus, mesmo eu que sou seu futuro marido, palavras tem poder.

— A frase original não era “nomes tem poder”?

Ele ri e coça a cabeça...

— Licença poética... – diz ainda rindo e então me ergue no ar e me beija enquanto começa a caminhar.

— O que está fazendo Apolo?

— Levando minha noiva para nosso quarto provisório nos braços.

— Achei que isso fosse depois da Cerimônia de casamento...

— Não voc... Não – ele fala me largando com cuidado – Não foi isso que eu quis dizer...

— Ei tudo bem... eu me referia a ser carregada pela porta.

Ele sorri vermelho e eu retribuo o sorriso estendendo a mão para ele e voltamos assim para o quarto de hotel. Tomo um banho rápido e coloco uma camiseta que tinha em minha bolsa e me deito, Apolo logo aparece e se deita ao meu lado por cima das cobertas, me aninho contra seu tórax e assim durmo rapidamente.

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Quando acordo, como de costume, Apolo não está mais lá e em seu lugar há um bilhete dessa vez:

“Minha princesa do mar,

Tive que partir para meus afazeres, sei que você provavelmente tinha muitas perguntas para mim, coisas com as quais até mesmo Quiron está confuso, mas não sei se poderia ajudar, talvez só atrapalhasse. Não poderei voltar a vê-la por hora, mas espere por mim minha bela.

P.S. tomei a liberdade de comprar algumas coisas para você e pedir o café da manhã.

P.S². Pégasus já esteve rondando as janelas.

De seu noivo, Apolo”

Me arrumo e tomo café rapidamente, subo para a parte do terraço onde não é coberta, está deserta, então, chamo Pégasus. Não demora muito para chegarmos ao acampamento onde ele me deixa longe, no meio da colina para que ninguém me veja.

Não dou meia dúzia de passos e encontro uma Rachel bem perdida olhando para uma arvore.

— O que faz aqui Rachel?

— Estava esperando...

— Pelo o que?

— Você.

— Por que? Alguma novidade sobre Percy?

— Infelizmente não, mas eu tive a sensação que veria você aqui.

— Bem, estou aqui, mas que tal descermos para a casa grande? Acho que Quiron talvez queira me ver. – Digo colocando a mão em seu ombro.

Quando Rachel se vira para mim, seus olhos estão verdes e muito aberto e a fumaça verde já está se espalhando, O oraculo estava se manifestando.

“Com o filho da morte você deve buscar

Os guerreiros de roxo e o inimigo enfrentar.

Os perdidos você irá encontrar,

Porém só um deles retornará. ”

— Rachel!

— Ah, ops, acho que era por isso que eu queria te ver... O que eu disse?

— Minha segunda missão.-  disse me afastando dela – Preciso ver umas coisas, não fique por aí sozinha.

Corri para a casa Grande atrás de Quiron e lhe contei por alto que havia visto Apolo, mas ele não me explicará nada. Terminado com Quiron fui atrás de Annabeth mas acabei encontrando Will no caminho, gritando muito com uma garota de Ares.

— O que está acontecendo aqui? – Gritei mais alto depois de separa-los com um belo jato de água em cada um.

— Esse estressadinho tá dando Piti...

— Cala a boca, se não quer ajudar não fale merda!

— Will!

— É o Malakai... Ele Sumiu Marina.

— Como assim sumiu?

— Não o vejo desde ontem antes da reunião, ninguém o viu, a última coisa que sabemos é que ele estava na praia e então não estava mais.

Tentei respirar fundo e me manter calma.

— Tudo bem, vou falar com as Nereidas e as Náiades para saber se alguma delas viu Malakai.

— E o que eu faço?

— Você avisa Quiron e diga para dois de seus irmãos mais velhos se unirem a um filho de Atena e um sátiro e fazerem duas equipes para procurar por ele nas proximidades até a cidade de NY.

Na praia, nem náiades nem nereidas sabiam de Malakai, diziam estar distraídas e eu acreditava, elas não costumam ligar muito para os semideuses, ainda mais um novo como Kai e não ousariam mentir para mim. Estava indo ao meu chalé, pensando sobre o sumiço de Kai e tentando entender se havia algo relacionado ao sumiço de Percy, mas eu sentia que uma coisa não tinha proximidade da outra.

— Hey, não vai me dar oi.

Olhei para o lado, nada, no outro, o chalé de Hades com um Nico sorridente a sua porta.

— Nico! – Corri para abraça-lo.

— Eai prima?

— Nem pergunta... – disse e então lembrei. – Nico, preciso que você me leve aos guerreiros de roxo.

— Como?

— O filho da morte me auxiliaria, é você, você sabe quem são os guerreiros de roxo.

— Ah não Mari, não vem me envolver...

— NICO DI ANGELO, MEU IRMÃO SUMIU, MEU NOIVO ESTÁ INCOMUNICAVEL NO MOMENTO, OS DEUSES SE FECHARAM E AGORA PARA COMPLETAR MALAKAI SUMIU, SEM CONTAR COM ESSA HISTÓRIA DE ROMAN...- uma luz brilhou em minha cabeça - São eles, os guerreiros de roxo, são os romanos, semideuses romanos em um acampamento romano!

— Isso não foi uma pergunta. – Ele resmunga.

— Não eu sei que não... – reviro os olhos - Nico, como você sabe deles?

— Como você sabe deles? – Ele devolveu.

— Eu cai, acidentalmente no acampamento deles, mas não lembro com exatidão onde fica, mas preciso chegar lá. – Expliquei e logo contei a ele sobre a profecia.

— Ah Mari... eu sou um filho de Hades, não gosto de me envolver nessas coisas lembra?

— E eu sou neta e mesmo assim estou sempre envolvida, vamos, ande logo, descole o trazeiro daí e vá arrumar sua mochila... – digo enquanto me afasto em direção ao meu chalé para fazer o mesmo.

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Nico e eu partimos montados em Pégasus e como sempre deixei uma carta para trás, dessa vez para Will, explicando o que podia.

— Mas então, essa história de maldição e profecias?

— Bom, segundo a minha profecia eu receberia três missões, teria de completa-las sozinhas o que é meio equivocado, porque a segunda disse que eu precisava de você, enfim, completando as três eu poderei finalmente acabar com a maldição de Apolo e não morrer em um trágico acidente por ama-lo.

— Nossa, que cansativo! – Ele respondeu simplesmente.

— Você tem visto o vovô?

— Sabe que ele odeia quando você chama ele assim né? – Ele revira os olhos – Mas sim, estive por lá esses dias que andei sumido, ele tem andado bem chatinho quanto a eu sair por aí com essa coisa de Gaia despertando.

— E quem não anda assim? Todos estão meio loucos ultimamente.

Voamos o dia inteiro e quando Pégasus finalmente começou a descer seguindo as instruções de Nico pudemos avistar luzes fracas em uma cidadela próxima a caída do morro.

— Veja, a cidadela...

— Há uma cidade próxima ao acampamento?

— Sim – responde Nico – Quando o período servindo ao acampamento termina os semideuses podem morar, estudar e trabalhar ali. Existem muitas famílias romanas ali e algumas gregas também, que não sabem que são gregos.

— Nossa... – digo imaginando uma vida tranquila, família e estabilidade, alguns segundos e volto a mim – Certo, Nico, onde devemos descer?

— Acho melhor eu ir sozinho, você fica aqui pela cidade.

— Mas...

— Por favor, Marina.

— Certo, vá, mas se descobrir alguma coisa sobre qualquer um dos dois volte e me avise.

Então Nico sumiu nas sombras me deixando com Pégasus na floresta. Algumas horas se passaram e nada acontecia, até que Nico voltou.

— Finalmente! – Comecei a reclamar, mas ele me fez calar com um gesto de mão.

— Eu vi Percy, mas não podemos interromper. Ele só se lembra do próprio nome e de Annabeth. Já sabe de quem é filho e usa os nomes gregos, mesmo estando em um acampamento romano.

— Mas... Nico, temos de leva-lo para casa.

— Você não entende Marina? São os planos de Hera, ela trocou os líderes do acampamento, Jason por Percy, ela está tentando juntar os acampamentos, não podemos interferir, não cabe a nós.

— E quanto a Malakai?

— Nem sinal dele...

— Porque a profecia me mandou para cá se não posso fazer nada! – Grito explodindo o riacho próximo a nós.

Nico fica encharcado assim como eu. Ele me olha assustado e corre em minha direção segurando firme meus braços.

— Marina para ou vamos acabar caindo no Japão.

Olho em volta e toda floresta escureceu, Nico só conseguiu chegar a mim porque enxerga no escuro por ser filho de Hades.

— D-Desculpa. – Falo concertando tudo.

— Vamos encontra-lo, mas acho melhor descansarmos, há uma única pensão na cidadela, espero que tenha quartos disponíveis.

Nico e eu vamos então para a pensão onde ele pede dois quartos e me acompanha até o meu. Ele pergunta umas cinco vezes se vou ficar bem e só depois de eu confirmar sorrindo ele se vai. Tomo um longo banho e me deito, estou tão cansada mentalmente que logo sou puxada para meus sonhos adormecendo profundamente.

No meu sonho Nico e eu estamos voltando para o acampamento Meio-Sangue e deixando cada vez mais para trás um grito, uma criança, um grito de uma criança apavorada, implorando para alguém salva-lo.

Acordo dando um pulo da cama e há fracas batidas na porta. Estou completamente suada e mais cansada do que quando havia ido dormir e lá fora o dia parece estar amanhecendo. Nico está abrindo a porta sem minha permissão.

— O que faz aqui tão cedo?

— Cedo? Marina já está anoitecendo, de novo!

— Como assim? Nico?

— Você dormiu quase 24 horas, Marina. Eu não estava conseguindo te acordar, você tremia, gritava que não podíamos partir, mas não acordava. Mandei mensagem de íris para Will, ele falou que poderia ser o cansaço por causa do seu surto na floresta, disse para eu não me preocupar que você acordaria em no máximo 48 horas.

— Droga, eu, parecia que mal havia dormido.

— Tenho novidades, mas antes você tem que comer isso. – Ele fala me entregando uma bandeja cheia de comida e com alguns comprimidos.

— Ordens do Will.

Comi tudo que Nico havia trazido e enquanto ele comia o seu jantar eu fui tomar outro banho. Quando sai vesti meu vestido preto longo e sapatilhas e me sentei na cama encarando meu primo que ainda mordiscava um pedaço de bolo de laranja.

— O.K. Me conta! – Exigi.

— Percy recebeu uma missão, irá com Frank um garoto filho de Marte e com Hazel, minha irmã....

— Você tem mais uma irmã? – Perguntei interrompendo-o.

— Sim, ela é filha da personalidade romana de Hades, Plutão, mas é minha irmã eu a trouxe até Roma.

— Que legal...

— Cala a boca e me escuta Marina! – Me encolhi, pondo a língua para ele que revirou os olhos – Percy se foi e Malakai chegou logo depois, está na enfermaria.

— Você me deixou aqui e passou o dia inteiro lá, para voltar só com informações? Por que não o trouxe até mim?

— Eu não podia Marina! Ele conseguiu, atravessou o Tibre fugindo de alguns monstros, chegou muito ferido e foi levado desmaiado para a enfermaria do acampamento. – Nico me encara sério – Marina, ele está morrendo, ainda sinto sua morte.

— Eles não têm ambrosia e néctar?

— Sim, mas ainda estão ministrando. Ele continua fraco, com algum tipo de veneno em seu corpo.

Mesmo Nico tendo me contado tudo que havia descoberto, continuou me barrando, dizendo que eu não poderia interferir. Passei a noite acordada esperando por algum sinal, algo para fazer, mas nada acontecia. No dia seguinte Nico me deixou sozinha, dizendo que iria ao acampamento para saber como Kai estava, porque não o sentia mais, não sentia mais sua morte. Duas horas passaram e esse foi o meu limite, chamei Pégasus e fui para o acampamento, causando um breve tumulto entre os romanos.

— Quem é ela?

— É o Pégasus?

— O que está acontecendo?

— SAIAM TODOS DA MINHA FRENTE! – gritou uma garota vindo em minha direção - Você...

— Não Reyna... Deixa ela passar. – Fala Nico antes que ela chegue a mim.

— Você a conhece Nico?

— Sim ela é minha prima... – ele diz segurando minha mão – e é parente do garotinho novo que chegou – ele fala e me puxa para longe da multidão – Droga Marina, não podia uma vez na vida fazer o que pedi? Sabe como ele vão ficar incomodando agora, que história pretende contar?

— Quando chegar a hora.... Direi a verdade sobre quem sou.

Estamos parados em frente a um pavilhão, Nico indica com a cabeça.

— Ele está ali... está melhorando.

Entro correndo e assim que as camas da enfermaria aparecem vejo meu garotinho loiro sentado em uma das camas do fundo, chamo por ele que me olha animado e assim que ele responde chamando meu nome corro para ele abraçando-o.

— Fiquei com tanto medo Kai! – digo ainda apertando-o – O que aconteceu?

— Não me lembro Mari, eu juro, é tudo tão confuso, em um minuto tudo estava bem e no outro eu acordei no meio de um caos e com monstros me atacando e agora meu poder... ele se descontrola.

—Você não pode invadir nosso acampamento assim. – berrou a garota atrás de mim.

— Posso quando alguém importante pra mim é trazido a força para cá.

— O garoto chegou pelas próprias pernas!

— Mas não por vontade própria! – gritei de volta e no mesmo instante Nico entrou na sala pedindo para que eu me acalmasse – Quer saber, chega disso, vamos embora.

Kai me seguiu levantando e vestindo o casaco e fomos logo para a rua.

— Você está bem? Se sente bem para voar?

— Você não pode leva-lo, o garoto pertence a Roma agora!

— Fala como se ele fosse uma arma e não um guerreiro.

— Um guerreiro é uma arma.

— Não, é uma vida. Com decisões própria!

— Então deixe-o decidir...

— Mari... – Malakai chamou ofegantes e começou a desmaiar.

Segurei ele a tempo antes de cair e ele ficou em um meio caminho entre a consciência e a inconsciência.

— Ele está com problemas... todos eles... todos deuses encrencados.

— Malakai? – tentei acorda-lo.

De repente ele começou a brilhar e eu percebi o que iria acontecer.

— Nico, cegue-os! – o garoto mais que rápido entendeu porque em segundos Reyna e outros a nossa volta gritavam que não conseguiam enxergar nada – Segurei o rosto de Kai fazendo-o olhar em meus olhos, fazendo-o se acalmar.

Muitos minutos se passaram antes que Kai voltasse a consciência e por fim Nico clareou a visão de todos a nossa volta.

— O QUE VOCÊ FEZ?

— Se ele não tivesse escurecido a visão de vocês, estariam todos cegos.

— Por que? – perguntou o garoto que tentará me interrogar da outra vez.

— Ele é filho de Lorde Apolo. Muito raro. Emana luz solar.

— Mas a séculos...

— É, sabemos, Lorde Apolo nos contou.

— Vocês o viram? – perguntou Reyna.

— Mais vezes do que você pode imaginar... – resmungou Nico.

— Não posso partir, não é seguro para Malakai. – informei Nico enquanto segurava Kai agora adormecido em meus braços – Reyna, não posso partir, por hora, então temos que conversar.

— Finalmente explicações. – disso o garoto.

— A sós! – corrigi.

Nenhum dos dois gostou, mas depois de levarmos Kai de volta a enfermaria, Nico ficou com ele e Reyna me levou para um campo longe que dava nos templos, havia um para cada deus romano.

— Não sei por onde começar, não sei até onde posso lhe contar então não faça perguntas e não contarei mentiras, tente absorver apenas aquilo que posso lhe contar.

— Prossiga.

— Pelo o que sei da história, meu pai não é famoso entre os romanos, Poseidon, parecia ser bem diferente em sua forma romana.

— Você fala nomes gregos, como...

— Percy. Meu irmão.

— Como..?

— Não importa. Percy foi levado, não sei como, nem porque, estive fora por meses e quando voltei descobri que meu irmão havia sumido. Malakai sumiu logo depois e Nico, me ajudou a encontra-los.

— Ele os conhecia? Ambos?

— Sim, mas ele não lhe responderá nada, tal qual eu não farei se não achar necessário.

— Mas...

— Venho de duas linhagens de deuses. Sou filha de Poseidon e neta de Hades e um dia estarei ligada a uma terceira.

— Como?

— Há alguns meses, tornei-me noiva de Lorde Apolo. Fomos abençoados por nossos pais e pelos demais deuses e um dia quando essa confusão que se instala terminar, enfim nos casaremos.

— Por isso cuida do garoto?

— Não. Minha ligação com Malakai talvez seja sim mais intensa por causa de Apolo, mas os deuses sabem o quanto aquele garotinho significa para mim. De qualquer forma, há um certo tempo fui amaldiçoada e desde então tenho tido que passar por provações, meu destino ao lado de meu Lorde depende do meu resultado perante essas provações, por algum motivo uma profecia me trouxe aqui e temo que por hora eu não possa partir.

— O que isso significa?

— Significa que permanecerei no acampamento, pelo menos até meu irmão voltar se nada ocorrer antes. Ajudarei nas tarefas, farei minha parte, mas entenda que não posso ser revelada, sinto que não devo e preciso que você contenha seus campistas.

— E o que pretende que eu diga a eles?

— Não sei, mas tenho a impressão que você é boa em controlar as situações.

Reyna e eu continuamos a discutir por horas até que ela finalmente cedeu. E voltamos para a enfermaria.

**************************************************************************************************

No resto do dia treinei com os campistas, porém os comentários não pararam e Reina me deixou ajudando na enfermaria para que eu pudesse cuidar de Malakai que na manhã seguinte já estava totalmente revigorado e ansioso para participar das atividades.

— Não acho prudente Malakai!

— Mari, eu tô bem, juro!

— Kai...

— Por favor??? – ele implorou.

— Ok, vai, mas fique longe dos filhos de Ares.

— Aqui são filhos de Marte... – Brincou Nico enquanto Kai passava correndo por ele na porta – Crianças, o que fazer com elas?

— Nem me fala!

— O que você tem?

— Saudades de casa, do meu irmão, do meu noivo. Não gosto desse lugar, não são como a nossa casa, parece um campo de batalha 24 horas, é tudo tão sério, tão intenso. E também tem a profecia, somente com um retornará. Tenho medo do significado dessa última linha.

— É, não é meu lugar favorito também. Apolo não deu sinal mesmo?

— Não... Tem algo errado, sei que ele já passou meses sem fazer contato, mas...

— Quer treinar? – sugeriu ele.

— O que?

— Treinar, você e eu!

— Certeza?

— Ah, fala sério, acha que tenho medo?

— Não!

— Vamos então. – disse ele dado a volta em mim e me empurrando porta a fora.

Nico e eu fomos a um campo arenoso distante da área de dormitório, eu tinha certeza que todos tinham uma visão ampla de nós ali, mas não me importava. Estava animada com a ideia de algum movimento e divertimento.

— Poderes?

— Claro! – exclamou ele.

Me posicionei pegando minha espada que era no momento um simples bastão negro e cliquei. Nico ergueu uma sobrancelha e pegou sua assustadora espada de gelo Estígiano. Ele me atacou primeiro e eu defendi sem ter a oportunidade de atacar porque ele me cegou momentaneamente e para fugir de seu golpe tive que sumir nas sombras. Ressurgi a uns três passos dele assustando-o com um jato de água que o atingiu nas costas empurrando o para frente, fazendo ele cair aos meus pés.

— Você não está se esforçando. – reclamei.

— Eu não tive aulas particulares com os deuses.

— Isso não é desculpa.

Ele fez um muxoxo e se colocou de pé.

— Bom, você venceu, agora tenho que ir.

— Ir como assim?

— Hades precisa de ajuda, o mundo inferior está uma loucura.

— Mande lembranças ao vovô por mim.

— Você sabe que é muito estranho pra mim ter uma sobrinha mais velha que eu não sabe?

— Tecnicamente você é bem mais velho que eu e minha mãe, só ficou parado no tempo.

— Odeio que você tenha razão.

— Se cuide.

— Você também.

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Depois que Nico partiu voltei para a enfermaria e sai de lá o mínimo possível. O que se resumia a saída para refeições, banho e dar uma olhada em Malakai. Reyna decidiu que devíamos dormir pela enfermaria mesmo para não causar conflito nem mais comentários nos romanos.

Eu ia todas as manhãs antes do nascer do sol até o templo de Apolo, na esperança de que ele ouvisse minhas orações, mas nada acontecia, Apolo assim como os demais deuses continuavam inalcançáveis.

Reyna havia parado de tentar me fazer perguntas também, e por onde eu andava via Octavius espreitando meus passos.

Hoje era 24 de junho e pelo o que eu havia ouvido era o dia da Festa da Fortuna e isso significava que Percy deveria voltar hoje. Ele havia partido a quatro dias com a irmã de Nico e um filho de Marte.

Decidi não ficar na enfermaria e me sentei no campo observando os romanos treinarem e entre eles Malakai.

— Nunca fui bom com espadas, mas sou bom com arco e lanças e bestas, enfim, tudo que der para arremessar. – disse Malakai gabando-se – Mas Marina, Marina é a melhor com espadas, ela luta com duas laminas, uma espada de duas pontas. E elas se dividem e viram duas espadas separadas quando ela quer.

Revirei os olhos para seus comentários enquanto os olhos de alguns romanos me alcançaram. Reyna caminhou até mim.

— É assim tão boa quando o filho de Apolo diz?

— Ele está exagerando.

— Deixe que eu decida, lute comigo.

— Não.

— Porque? – perguntou ofendida.

Antes que eu respondesse o sino tocou anunciando o almoço e Reyna foi obrigada a se levantar e chamar seus soldados para a pausa.

O sol estava caindo quando as trompas tocaram.

Malakai e eu estávamos na enfermaria e ignoramos o sinal para nós desconhecido. Porém todos a nossa volta começaram a se levantar e os menos feridos que já estavam se recuperando saltaram de suas camas.

— Vão ficar parados ai? – gritou um garoto ruivo sardento.

— O que está acontecendo? – perguntou Kai.

— Ataque. – respondeu correndo porta afora.

Kai se levantou e tentou segui-lo, mas eu o parei.

— Mari, nem tente! Eu lutei na batalha contra Cronos. – ele me repreendeu.

— Certo, mas lutará no ar.

— Não temos Pégasus aqui.

— Temos sim. – corrigi e assobiei o mais alto que consegui puxando Kai para rua logo em seguida.

Com minha espada em uma mão e segurando Kai na outra corri o campo de Marte onde os soldados se preparavam.

— Volte para dentro. Fique fora disso. – Reyna brigou ao pé que o exército inimigo surgiu no alto da colina.

— Você não está em condições de negar ajuda. – respondi olhando para cima dela onde Pégaso e um pegaso mais jovem surgiram voando – Sempre no momento certo. – disse quando ele pousou atrás de Reyna e fez uma reverencia.

“Esse é Rowey, um dos meus mais valentes filhos, Malakai pode monta-lo”

— Malakai, ele é Rowey.

— Vamos lá Rowey. – disse ele pulando no lombo do pégaso.

— Não vou montar Pégaso, você pode sobrevoar, fique alerta.

“Sim, minha senhora”

— Você fala com Pégasos?

— Filha de Poseidon! – expliquei.

— E aquele era..? – ela sussurrou perdendo o dom da fala.

— Sim! Reyna?

— Diga.

— De a ordem!

*********************************************************************************************

Eu estava lutando ao lado da primeira e segunda legião enquanto Malakai ajudava sobrevoando e cobrindo a terceira, tentávamos cercar Polybotes mas nada estava saindo como planejado. Em meio a nossos soldados basiliscos caiam jorrando veneno e cuspindo fogo. Peguei uma das minhas conchas quando um estava indo em direção a Reyna por suas costas e joguei no chão o mais perto dela possível. Água surgiu daquele ponto impedindo que o fogo a atingisse. Ela olhou para trás assustada e então para mim enquanto eu afogava o basilisco.

— Obrigada! – gritou.

Ela continuou para olhando não em minha direção mas através de mim. Segui seu olhar e vi correndo em nossa direção meu irmão e toda quinta corte.

— Romanos, se reagrupem na águia. – Reyna ordenou.

— Duodécima legião Fulminata. – Urrou Percy do outro lado ao tempo quem um raio explodiu da águia que ele carrega desintegrando boa parte de nossos inimigos.

Sorri observando meu irmão e corri ao seu encontro e pulei para abraçar meu irmão mais novo que era agora um homem mais alto e mais forte que eu.

— Percy. – sussurrei – Tive tanto medo.

— Desculpa, longa história, depois. – ele falou se desprendendo de meu abraço e então me abraçou novamente beijando o topo de minha cabeça – Eu te amo, mana.

— Te amo, mano. – respondi.

— Filhos de Neturno, isso não muda nada!

— Vamos mata um gigante? – perguntei com um sorriso malicioso o qual Percy devolveu como se essa fosse uma marca dos filhos do mar.

Ele caminhou até uma menina dando a ela a águia a um casal instruções. Suas palavras porém foram abafadas trompas soadas no alto da montanha. Guerreiras surgiram a cavala, com lanças, escudos e flechas flamejantes.

— Amazonas! – gritou Frank.

Elas desceram a montanha atacando os monstros que se espalhavam pelo campo de batalha.

— Rainha Hylla – exclamou a garota próxima a Percy.

— Romanos, avante! – berrou Reyna.

Nesse instante a batalha se instalou, com nossas forças renovadas Percy e eu avançamos em direção ao gigante que embora não parecesse tão confiante agora ainda parecia perigoso.

— Venham filhos de Neturno, vejamos o que a água fará a vocês depois que eu tocá-la. – provocou o gigante ao arremessar um punhado em nós.

Percy instintivamente fez a água desviar, queimando a grama a nossa volta. Polybotes tentou de novo e dessa vez juntos fizemos a água voltar direto em seu rosto. Percy o atacou no estomago, perfurando-o com contracorrente enquanto eu mergulhei nas sombras no momento de cegueira do gigante.

— Você corre covarde! – disse ele quando ressurgi em sua sombra – Fique quieto e morra.

— Assim seria fácil demais você não acha? – gritei chamando sua atenção enquanto perfurava o mesmo local do estomago ganhando tempo para Percy -Qual seria a graça? – provoquei sumindo novamente na sombra dele.

Repeti o movimento cortando hora o joelho, hora o tornozelo. Espetando aqui e ali, mantendo-o longe o suficiente de Percy.

Surgi na sombra dele e acompanhei a corrida.

— Algum Deus que possamos usar? – perguntou ele a mim.

— Apolo não me responde... – lamentei.

— Bom, então esse terá que bastar! – exclamou – Ganhe mais tempo para mim?

— Seja rápido. – adverti sabendo que não conseguiria muito tempo.

A sombra de Polybotes estava agora a suas costas o que não fazia sentido já que o sol estava do lado oposto, mas aceitei como um momento de sorte sumindo e ressurgindo em suas costas. Empoleirada em seu ombro dividi minha espada cravando uma em cada lado do pescoço, mas não fui rápida o suficiente para sair dali e ele me atirou longe sem minha espada que continuará em seu pescoço.

— Mari... – chamou Malakai acertando um escorpião e atirando para mim uma espada ao pousar ao meu lado.

Matei o escorpião dois golpes depois.

— Os basiliscos? – Kai pediu.

Respirei fundo ouvindo os gritos de Polybotes, ajudar Percy ou a quarta corte? Olhei na direção de Percy e o vi sorrindo parado jogando insultos para o gigante ao lado de uma estátua, ele tinha um plano. Larguei a espada de ouro imperial tomando folego mais uma vez afastando a tontura e me concentrei.

Ergui os dois braços puxando a água do pequeno Tibre, lavando o campo de batalha no ponto em que os basiliscos avançavam. Atordoados por um momento me concentrei na terra e em um último esforço abri o chão debaixo deles e os soterrei em um grito por busca de forças.

Os berros e pulos de comemoração da quarta Corte foi tudo que vi antes de tudo a minha volta começar a ficar escuro. Eu estava consciente, mas exausta demais para fazer qualquer movimento ou emitir qualquer som, Malakai me chamava assustado e me sacudia fazendo meu corpo doer.

— Água, alguém me traga água! – ele gritava – Ela precisa de ajuda.

— Marina! – Percy chamou longe e de novo se aproximando até estar bem perto.

Ele apertou minha mandíbula e eu senti o gosto doce do Nectar.

— Vamos lá mana!

Minhas forças foram se renovando, o silencio a minha volta era quase mortal. Por um segundo foi como se ninguém respirasse e o ar que eles pouparam foi todo para meus pulmões e eu arfei tossindo e levantando. Percy apoiou minhas costas segurando uma de minhas mãos.

— Pelos deuses.

— O-bri... – tentei falar emitindo um som rouco – Obrigada. Acabei me exaurindo.

— Isso foi irresponsável! – brigou ele.

— Eu estou bem!

Ele me abraçou depois me ajudou a levantar, só naquele momento percebi que todos nos rodeavam. O silencio acabou quando Percy finalmente sorriu para o casal com quem estava antes e todos romano se puseram gritar “Percy. Pretor. Percy. Pretor”.


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