Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 21
Alucinações


Notas iniciais do capítulo

Gente, pra quem não entendeu é o seguinte: Nora está tendo alucinações depois de ficar entre a vida e a morte, é a mente dela que ta criando, não tem nada a ver com a realidade...são os medos e os desejos dela em forma de imagens e possibilidades.



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"Ela vai morrer?" ouvi alguém perguntar. Essa pergunta não me é reconfortante. Será que eu estava morrendo?

Será que eu já estava morta?

Meu coração deu um solavanco, bateu descompassado, eu podia ouvir tudo muito bem. E então, falhou.

Assim que eu meu coração parou, uma escuridão densa e agradável me envolveu.

...

Eu quero esconder a verdade, quero abrigar você...mas com a fera dentro, não há onde nos escondermos.

Seus olhos são escuros como a noite, sua pele naturalmente bronzeada (alguns tons mais escura que a minha) e os seus cabelos ondulados são tão negros quanto seus olhos. A camisa de manja longa, botinas marrons e calças jeans com uma lavagem esbranquiçada terminavam de compor um look no melhor estilo bad boy.

Ele sorriu para mim assim que seu olhar indecifrável encontrou com o meu. Como o esperado, borboletas se agitaram como em uma dança dentro do meu estômago, lembrando-me que hoje seria a primeira vez que conheceria os pais de Patch. Desci os poucos degraus da varanda, tomando cuidado para não tropeçar em nada e cair estabacada no chão. Digamos que um piso irregular e saltos de 7 centímetros não combinavam em nada.

–Você está incrível - murmurou assim que cheguei perto o suficiente para sentir seu delicioso aroma de hortelã, sabonete e terra molhada. Eu não conseguia parar de sorrir desde que abrira a porta e o vislumbrei diante de seu Jeep Commander negro.

Muchas gracias. - Olhei para baixo e mordi meu lábio inferior.

Patch me puxou pela a cintura, deixando nossos corpos o mais próximo que dava. Beijou o alto da minha cabeça, pressionando os lábios delicadamente, deixando essa parte da minha pele quente. O fitei desapontada e ele abriu o sorriso mais sexy do mundo, e então pigarreou alto.

–Sua mãe está parada em frente a porta com os braços cruzados - sua expressão sugeria que ele estava achando muita graça. Me virei lentamente para trás e forcei um sorriso comportado.

–Até as 23 horas, mãe!- Gritei para fazer com que minha voz chegasse até ela claramente. Mamãe sorriu, balançando minimamente os cabelos lisos e avermelhados. Apontou para o seu relógio de pulso invísivel.

–As 23, nennum minuto a mais. - Gritou ela de volta.

–Vou trazê-la sã e salva, sra. Grey - Respondeu Patch, me puxando suavemente pela a mão, abriu a porta do carona e me ajudou a subir. Claro que ele não perderia a oportunidade de me constranger, me apertando mais que o necessário e roçando simuladamente a ponta dos dedos pela a minha perna, fazendo-me corar um pouco. Enquanto ele dava a volta pela a frente do jeep, um sorrisinho cafajeste e lindo brincava nas extremidades de seus lábios.

–Pronta? - Indagou assim que entrou e fechou a porta com um baque baixo.

Respirei fundo e assenti com um movimento rápido de cabeça.

–Sem dúvidas - respondi.

Uma hora depois Patch estacionava a camionete na entrada de carros de sua casa. Fiz menção de abrir a porta e sair, mas Patch segurou minha mão e sorriu de lado, para então inclinar-se sobre meu corpo e ele próprio destranca-la. Antes de tornar seu tronco ereto novamente, ele depositou um beijo demorado na minha coxa, na parte interna, fazendo com que um arrepio delicioso me atravessasse feito fogo.

–Sou um cavalheiro, não é? - perguntou com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho maroto e divertido.

Revirei os olhos e suspirei.

–Tá mais pra cafetão - disse, curtindo com a sua cara. Patch jogou a cabeça para trás, me presenteando com uma gargalhada gostosa.

–Quero casar com você, ficar velhinho do seu lado. - Disse simplesmente.

Lhe dei uma piscadela.

–Se não aparecer ninguém melhor... - murmurei com uma expressão que fingia indiferença. Patch passou a ponta da língua em seu lábio superior e deu aquele sorriso que podia causar um ataque cardíaco em qualquer garota.

–Você me ama, eu te amo. Vamos casar, sim - retrucou enquanto seu hálito quente roçava a pele do meu rosto. Balancei a cabeça, incapaz de pensar com coerencia com ele tão perto assim.

–Me beija logo,vai - pedi, mas sem antes sentir o rubor subir dos meus pés até as bochechas.

–Seu pedido é uma ordem - sussurou. Nossos lábios se encontraram um segundo depois, nossas línguas movimentando-se como loucas e tudo o que eu pensava era que poderia ficar assim com ele eternamente.

–Com licença - ouço uma voz masculina e me separo de Patch instantaneamente, passando as costas da mão pelo o canto da boca. Patch se afastou com um grunhido frustrado e baixo.

–Pai - cumprimentou ele, endireitando os cabelos e lhe lançando um sorriso cúmplice.

Me encolhi no banco um pouco e empurrei Patch para o lado. Ajeitei meu vestido e tentei sorrir da forma mais simpática que era capaz.

–Prazer em... - pigarreei, minha voz soou meio estridente. Tentei outra vez: - Prazer em conhecê-los.

O pai de Patch era muito parecido com ele, porém tinha a pele um pouco mais escura, uma barriguinha saliente que se sobressaia através da camisa social branca e pelo menos uns trinta anos a mais. Sua mãe sorria com todos os dentes a mostra. Seus cabelos eram negros e a pele branca como a minha, com olhos atentos que me davam a impressão de que sabiam de tudo o que acontecia ao seu redor.

–Temos quartos dentro de casa - ela disse com uma expressão divertida.

Eu corei, fiquei vermelha feito um tomate maduro enquanto Patch e seu pai riam alto.

–Me-e desculpe, eu não...- rodei meu cérebro em busca de alguma desculpa plausível.

–Relaxe, menina. Já tivemos a idade de vocês - disse o sr. Cipriano, dando-me uma piscadela.

–Estavamos ansioso por conhecê-la, querida. - A mãe de Patch falou e gesticulou para seu filho esparramado ao meu lado no banco. - Ele não para de falar de você. - Seu sorriso era muito bonito, agora já sabia a quem ele tinha puxado.

Patch envolveu seu braço pelo meu ombro.

–Está aqui, mãe e pai, é a mãe de seus futuros netos.

...

Quando você sentir o meu calor, olhe dentro dos meus olhos. É onde meus dêmonios se escondem.

Estou sentada no sofá do nosso novo apartamento. Vermelho, desbotado, cafona e herdado da avó de Patch, mas que nos era muito confortável.

–Finalmente casados. - Murmura Patch com um suspiro, me olhando com tanta intensidade que chegava a aquecer meu coração.

–Finalmente. - Repito, sorrindo para ele. Me viro inteiramente para seu rosto e corpo e respiro profundamente. - Tenho uma novidade pra te contar. - Informei.

Patch mostra curiosidade e se endireita no sofá.

–O que é?

Olhei intuitivamente para as minhas mãos que repousavam sobre a minha barriga ainda lisa. Sorri mais abertamente, mostrando todos os dentes.

Patch escancarou a boca, seus olhos vacilaram entre mim e o nosso futuro bebe. Eu nunca tinha visto Patch chorar antes, mas sempre tem uma primeira vez para tudo. Uma lágrima cristalina escorreu pelo seu olho esquerdo, então ele me puxou para o seu colo e me beijou exatamente como a primeira vez que nos encontramos. Era quente, sexy e apaixonado.

...

Não se aproxime muito, é escuro aqui dentro. É onde meus dêmonios se escondem...é onde meus dêmonios se escondem.

As rugas que estão em volta de seus olhos me parecem mapas. Como se cada traço profundo em sua pele fossem letras e frases que mostravam como viveu a sua vida. Seus olhos ainda são tão escuros quanto a noite, como quando era jovem...quando tinhas lá seus 22, 23 anos. Os cabelos agora já perderam a cor, o escuro foi substituidos pelo o branco.

Patch está sentado a mesa, o jornal está em suas mãos e os óculos de grau está pendurado por uma cordinha de couro no pescoço. Balancei em negativa e depositei um café recém passado em sua xícara. Ele sorriu para mim.

–Você é um anjo, sabia?- Ele perguntou, olhando-me como sempre. Eu agradecia a Deus todas as noites por ter encontrado um amor assim, que dura através do tempo e das dificuldades.

Retribui o sorriso.

–Eu sempre soube. - Me sentei de frente para ele. - Por quê não está usando os óculos? Você já não é mais um garoto para ter que ficar te chamando atenção- repreendi.

Patch gesticulou com desdém.

–Estou na flor da idade- murmurou.

Eu ri alto.

–Você não existe- eu digo.

–E eu te amo.

Estava prestes a abrir a boca para dizer que o amo mais, mas bem na hora uma garotinha de cabelos cacheados e negros entrou na cozinha. Seu vestido de borboletas estava completamente sujo e os pés deixavam marcas de barro no assoalho. Dei um tapa estalado na minha testa.

–Eliza! Acabei de limpar esse chão- resmunguei.

Ela fez um biquinho com os lábios.

–Desculpa, vó.

Patch riu e abriu os braços, num gesto que pedia para Eliza ir até ele. Ela sentou-se em uma de suas longas pernas.

–Não dá bola pra sua avó, ela é uma velha ranzinza.

Estreitei os olhos.

–Falou o velho birrento.

Eliza soltou uma gargalhada.

–Amo vocês - ela falou.

–E eu também- falei, piscando para ela e olhando nos olhos de Patch, que me encaravam de um jeito que fazia minhas pernas balançarem.

...

Não quero deixar você para baixo, mas meu destino é o inferno. Embora tudo isso seja para você, não quero te esconder a verdade.

Olhei para trás, sentindo meu pescoço rígido ao fazê-lo. Patch me observava, sentado no capô de seu Jeep Commander com aquele sorriso condenscendente que lhe era típico. Virei-me com o corpo todo rapidamente e olhando para os meus pés corei as bochechas, como já era de praxe.

Suspirei satisfeita.

–Feche os olhos, anjo - murmurou. Mordi o lábio inferior para restringir a área do sorriso que se formou no meu rosto.

–Por quê? - Perguntei enquanto puxava um fiozinho solto da barra da minha camiseta e obedecia. O que ele estava aprontando? Independente do que fosse, eu provavelmente adoraria. Tudo que vinha dele era adorável.

–Você não vai querer ver - falou baixo, sua voz fez com que alguma coisa, uma densidade estranha, pairasse no ar. Senti um alerta vermelho soar minha cabeça. Gelei.

–Se não for me matar e nem nada disso, está tudo bem- falei em tom de brincadeira, mas o tremor dos meus lábios me entregava.

Patch riu, meio divertido, meio sério.

–Patch? - Chamei após alguns segundos de silêncio desconfortável. Meu coração disparou. - Patch?!- Gritei.

Mais silêncio.

Minhas pernas estavam duras e por mais que eu mandasse ordens para que meus olhos se abrissem, eu não conseguia. Apertei-os mais ainda.

Abra, abra, exigi em pensamento.

Finalmente consegui abri-los e de imediato entendi porque não estava conseguindo fazer com que ficassem abertos. Um método da minha mente inconsciente para me defender, me poupar.

Eu estava em choque, parecia que todo o ar havia sido arrancado de mim.

–Falei para você que seria melhor ficar de olhos fechados, anjo. - Patch disse, com as sobrancelhas franzidas. Aos seus pés está os corpos de Damon, Elena, Vee, mamãe, Bonnie e muitos outros rostos que eu não conhecia, porém todos tinham a mesma expressão: dor, medo, angústia. Tive que me segurar na cerca de madeira da varanda para não vacilar e cair. Suas roupas estavam manchadas de vermelho e em seu colo um corpo me chamou atenção, estava esparramado, machucado e já sem vida.

Pisquei várias vezes antes de conseguir afastar as lágrimas que me turvavam a visão. Eram lágrimas salgadas, quentes e doídas.

–Pai...- sussurrei.

Patch massageou a ponte do nariz e suspirou.

–Me perdoe... - ele agitou o ar com as mãos. - Não consegui me controlar...você me conhece.

Eu fiquei sem reação apenas por um segundo, então gritei furiosamente até sentir que minhas cordas vocais estavam a ponto de se romper.

–Eu te odeio! - Falei com o restinho de energia que ainda tinha.

Ele não podia ter feito isso. Patch arrancara meu coração de todas as formas possíveis.

Ele me matou por dentro.

...

E o baile de máscaras chegará anunciando a bagunça que você fez.

Acordei muito assutada. Meu peito doía e uma luz forte e branca impedia que eu enxergasse direito. Me sentei com a mão no peito e lágrimas nos olhos. Dentro de mim havia um caos, uma angústia.

–Nora - falou Patch, um sorriso alastrando-se pelo o rosto.

Contraí a mandíbula e respirei fundo.

Que sensação era essa?


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Notas finais do capítulo

As frases em itálico são da música Demons, da Imagine Dragons