Entre suas asas escrita por AndreZa P S


Capítulo 22
É o fim




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O quarto está com uma luminosidade azulada, vinda das duas lâmpadas longas e finas de led. Minha cama é de solteiro, com lençol limpo e branco cobrindo o colchão desconfortável e outro para servir como cobertor. O travesseiro, ao menos, era bastante cheio e bom de deitar. Sentei-me na maca, meus olhos fixados no grande relógio pendurado na parede branca, tiquetaqueando com aquele som horrível, absurdamente alto. Conseguia ouvir os passos do outro lado da porta, as vozes calmas. Como era possível? Puxei o travesseiro para o meu colo, abraçando-o apertado contra o peito, tentando me reconfortar e entender o motivo de eu estar tão lúcida, de estar com a garganta tão seca e doída. Meus olhos piscam devagar, estava sonolenta...acho que me encheram de calmantes.

Pouco a pouco comecei a enxergar os pontos de poeira, as rachaduras da porta. Não era para eu estar calma? Então porque meus sentimentos eram um turbilhão? Por que parecia que minhas emoções eram como um vulcão entrando em erupção? Alguns minutos atrás expulsei Patch do quarto, e até agora não entendia exatamente o motivo de ter feito isso. As alucinações não foram reais...nenhuma delas. Felizmente...ou não. Escuto o som de passos batendo forte contra o chão, acho que eram femininos... Meu coração acelerou, eu podia ouvir tão bem que parecia que ele estava pulsando em meus ouvidos. Como...como isso era possível? Espero mais alguns segundos, então a porta range minimamente e Vee entra, fechando-a logo em seguida. Seus olhos estão tão estranhos, sua postura me diz que as notícias não eram boas.Tentei sorrir para ela, mas acredito que não tenha o feito direito, pois Vee não me retribuiu.

–Oi...- digo baixinho, enquanto observava ela sentar ao meu lado, pegou minhas mãos e fitou-as por alguns segundos, e então suspirou alto.

– Como você está? - Questionou-me, olhando para o meu rosto agora. Encolhi um pouco os ombros e balancei a cabeça para que meus cabelos caíssem pelo meu rosto, parecia idiota, mas isso me fazia sentir mais segura.

–Acho que poderia estar melhor - respondo, me sentindo nervosa de repente. Todo som me fazia tremer, estava tão alto. Vee assentiu, franzindo o cenho. Seu rosto me sugeria que algo estava muito errado. Muito, muito errado.

–Você se lembra de alguma coisa? - Perguntou, a voz soando tensa. Eu me lembrava? Franzi as sobrancelhas, fazendo força para trazer as memórias a tona, mas a única coisa que sabia era que estava fugindo de Elena e Damon...e das alucinações. Soltei o ar lentamente, sentindo meu peito apertando.

–Sei que Elena e Damon me encurralaram, mas não consigo saber como consegui fugir deles. - Pus as mãos na lateral do meu rosto, balançando a cabeça como se assim eu pudesse recuperar a parte da minha memória que faltava naquele momento. Voltei minha atenção pare Vee. - Por que estou em um hospital?

Vee virou o rosto para um jarro cheio de flores artificias, seu pescoço ficou em evidência com o movimento e pude ver muito bem sua veia pulsante, carregando sangue. Minha língua começou a produzir saliva. Meu coração batia tão forte e rápido quanto antes. Fechei os olhos com força.

Senti seus braços me envolvendo e puxando meu corpo para si, num abraço tão aconchegante que queria ficar ali até que tudo de ruim que estava acontecendo tivesse terminado.

–Não sei muito bem....mas Patch conseguiu resgatar você, mas depois...Nora, pensei que iriamos te perder. - Sua voz embargou.

–Vou ficar bem - murmurei, tentando reconfortá-la.

–Eu espero...eu não sei o que vai acontecer com você, baby.

Me afastei o suficiente para olhar firme em seus olhos. Alguma coisa estava faltando naquela história.

–O que você está me escondendo? - Disse, ao endireitar meu corpo e ficar ereta, minha respiração acelerou. Vee acariciou meu braço e abriu sua bolsa, retirando dali um caderno de capa dura e azul bebê. De dentro do caderno pegou uma folha e me entregou. Seu sorriso se ampliou. Olhei para a folha por uns bons 5 segundos antes de pegá-la.

–O que é isso? - Quis saber ao erguer as sobrancelhas.

–Seu dever de casa, você não pode ir a aula hoje.

–Quanto tempo fiquei desacordada?- Minha voz soou alarmada até para mim.

–Só faltou a aula de hoje, nada demais.- Ela gesticulou com as mãos, sugerindo que matar aula não era digno de uma importância real.

–E o seu? Já fez?- Perguntei ao abrir um sorriso minimo. Vee deslizou uma mão pelo o cabelo e me deu uma piscadinha.

–Está no lixo.

Eu comecei a rir, rir muito. Vee me olhou, procurando, provavelmente, em sua mente o que dissera de tão engraçado.

Mas a verdade é que nem mesmo eu sabia. Só sei que minha barriga chegou a doer de tanto que eu ri.

E então, sem mais nem menos, as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

–O que está acontecendo comigo? - Perguntei, enquanto limpava os olhos com as costas das mãos enquanto meu peito subia e descia rapidamente.

Vee parecia atordoada, a sua testa estava franzida.

–Nora...eu vou deixar Patch te contar - ela se levantou, andando de costas e me olhando com os olhos bem abertos. - Sério, eu não vou conseguir fazer isso sozinha...eu não vou - sua expressão estava triste, estava pedindo desculpas.

Ouvi um coração batendo alto, e primeiro achei que fosse o meu, mas não era...

Era de Vee. A fitei maravilhada e assustada ao mesmo tempo. Ela me deu uma última olhada, os olhos prestes a se encherem de lágrimas e então partiu.

Me levantei da cama ligeiro, o que acabou me causando uma vertigem desagradável. Fui em direção ao pequeno espelho, olhando minha pele mais clara do que o normal, quase translucida. As olheiras embaixo dos meus olhos eram de um roxo horrível e os lábios estavam completamente ressecados. Quando a porta abriu novamente, eu estava em prantos. Num choro convulsivo, mas no momento em que me virei para trás para confirmar quem tinha chegado, já que havia sentindo seu cheiro antes de entrar pela a porta, tentei me recompor.

Patch não deu mais do que dois passos depois que entrou. Seus olhos estavam cuidadosos, a expressão cansada e desolada.

–O que está fazendo aqui? - Falei, a hostilidade em mim estava evidente.

Patch tirou o boné que usava e deslizou as duas mãos pelos cabelos escuros e ondulados. Respirou profundamente e quando finalmente falou, sua voz era tingida de medo e alívio.

–Vim ver como você está.

Dei de ombros, minha ira tomando minha mente. Eu estava descontrolada, todas as emoções eram fortes e me dominavam.

–Não quero ver você.

–Por quê?- Ele perguntou, magoado, cansado. Avançou mais alguns passos, mas eu estendi uma mão para frente.

–Não chegue perto. -Alertei.

–Não faça isso comigo, anjo. -Patch fechou os olhos, e eu me senti mal, culpada. O choro ameaçou voltar, o que eu estava fazendo? Patch jamais mataria as pessoas que eu amo...eu o conheço.

Não é?

Me ajoelhei no chão, tapando o rosto com as mãos.

–Me desculpe, eu não devia...não sei o que tá acontecendo comigo -sussurrei. Um segundo depois Patch já me pegava no colo, me levando para a maca do quarto.

–Shh, meu amor. Tudo vai ficar bem. - Ele parecia convicto no que dizia, mas não me senti reconfortada, muito pelo o contrário.

–Patch, eu não sei...minhas emoções, eu escuto tudo muito bem...enxergo e...- não consegui terminar a frase.

Ele me abraçou forte, repousando seus lábios quentes na minha testa.

–Pode me contar, estou aqui pra te ajudar, Nora.

Senti minhas bochechas queimando.

–Estou com vontades estranhas.

Patch não pediu explicações, apenas pareceu compreender.

–Você vai ficar bem.

Minha ira voltou.

–Então porque cada minuto que passa eu me sinto pior? Me sinto mais fraca? - Quase gritei, me desvincilhei de Patch, olhando dentro de seus olhos tão negros, tão...indecifráveis.

Patch hesitou por um instante, uma ruguinha surgiu entre suas sobrancelhas e seus lábios curvaram-se para baixo.

–Me perdoa.

–Me conta o que está acontecendo. Agora. - Exigi, sentindo a vertigem vindo mais uma vez, junto com uma dor quase insuportável na garganta. Parecia queimar.

Estreitei os olhos. A luz do quarto estava fraca, mas mesmo assim começava a me incomodar.

–Você está em fase de transição.

Pisquei várias vezes.

–Não sei o que isso significa- eu disse por fim. Mas eu tinha uma vaga ideia.

Patch abaixou a cabeça, apoiando os cotovelos nas pernas e entrelaçando suas próprias mãos uma na outra.

–Damon te deu o sangue dele...seu organismo não reagiu bem, ainda não sabemos como isso aconteceu, isso é raro...então você morreu. -Suas palavras foram muit simples, provavelmente querendo que eu não tivesse duvidas sobre o que ele dizia.

Eu sorri duramente para ele, mesmo com as lágrimas que vertiam sem controle dos meus olhos. Balancei a cabeça em negativa.

A boca de Patch tremeu quando ele terminou a frase, era verdade.

–Eu sou vampira? -Não conseguia parar de fitar o seu rosto que estava tão amargo naquele momento, tão doído que parecia que ele sentia tudo o que estava passando por mim.

Talvez fosse um reflexo do meu.

–Não.

–Não entendi.

–Você precisa completar a transição, ou...- ele deixou a frase inacabada, pairando no ar como se fosse uma fumaça escura e tangível.

Ou então eu morreria de verdade, pensei.

Balancei a cabeça. Será que eu queria passar uma vida inteira como uma vampira? Sugando sangue alheio? Matando?

Será que eu seria eu mesma se completasse isso? Se eu não me sentia como a boa e velha Nora Grey agora, imagina se a transição tivesse sucesso.

E se eu acabasse matando minha mãe por que o desejo de sangue era mais forte que tudo?

Mas...e se eu morresse?

Minha cabeça começou a latejar, o choque fizera com que as lágrimas secassem.

–Me deixe sozinha, por favor- eu pedi, enquanto observava em detalhes uma pequena formiga subindo a parede, a mais de 10 metros de distância.

–Nora, eu sinto...

–Fala baixo - grunhi rispidamente, me dando conta tarde demais de que ele devia estar falando baixo, eu é que...estava escutando demais.

Patch assentiu, mas não se moveu para sair do quarto.

–Me deixe pensar - murmurei.

–Anjo, independente de qual seja a sua resposta, eu...- Patch parecia estar procurando as palavras certas. Sabia que ele jamais me pediria para me transformar em vampira, sabendo que isso seria tão ruim quanto morrer para mim. - Eu te amo, só quero que saiba disso - concluiu por fim.

Então eu o abracei, sentindo todo o meu amor por ele vindo a tona. Sua pele aquecia a minha, meu desejo por ele era igualmente tão forte quanto a dor na garganta. Decerto era sangue o que meu corpo pedia, era a sede.

–Eu te amo - falei, tentando sorrir para encoraja-lo. - Vou escolher o certo, não se preocupe...só quero que entenda. Que me entenda e não julgue a minha escolha.

Patch marejou os olhos por um instante, mas entou vestiu sua expressão cautelosa e quase indiferente de sempre.

–Sei que vai fazer a escolha certa...independente de qual seja.

Eu já estava sozinha há horas, e em nenhum momento fui capaz de relaxar. Não sabia o que fazer, e a imagem da minha mãe me cercava a todo momento. Também não havia parado de chorar.

Só fui tirada do fundo do poço quando a porta rangeu e Vee entrou no quarto. Já passavam das três da manhã.

–Invadiu o hospital?- Perguntei com a voz rouca.

Vee abriu um sorriso tão rápido e pequeno, que me perguntei se ela tinha realmente sorrido.

Ela não murmurou nada, apenas sentou-se na poltrona bege ao lado da minha maca e retirou um canivete de dentro do bolso. Cortou o pulso e estendeu-o pra mim.

Seus olhos estava alarmados e cheio de lágrimas, assim como os meus.

–Vee...o que está fazendo?

Fui tomada pelo o aroma do sangue, que entrava pelas minhas narinas, queimando, causando-me dor. Minha boca salivava freneticamente. Deus, como eu estava ansiando aquele sangue.

Como um estalo, me levantei e me afastei dela, de repente ciente do que estava prestes a fazer, do que meu corpo implorava que eu fizesse.

–Não vou suportar perder minha melhor amiga- disse simplesmente.

–Não vou mais ser a Nora de sempre...vou ser uma versão monstruosa minha - falei baixinho, meus olhos ainda fixos no ferimento recém feito de Vee.

–Você sempre vai ser minha amiga, mesmo que se se transformasse em lobisomem, fada ou o próprio Coisa Ruim.

Ela levantou-se, vindo em direção a mim.

–Por favor, Vee...você não sabe o quanto ver isso me machuca - choraminguei, fungando.

–Não me decepcione, Nora. - Falou. - Fique viva...ou quase isso, por mim...por sua mãe e...por Patch.


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