Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 11
Chamas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/61203/chapter/11

- Saiam pelos fundos, já! – gritou Kaito enquanto outra explosão de chamas surgiu atrás dele.

Ryozaki puxou Hikari pelo braço enquanto levava ela para os fundos da casa. A casa estranhamente foi construída em formato transversal de frente a praia, o que significava que sua maior extensão estava não entre as janelas laterais, mas sim entre a porta da frente a dos fundos. Seria um fato interessante perceber essa peculiaridade na arquitetura da casa, se ela não atrapalhasse tanto na hora de fugir quando estava em chamas. Os três correram até a cozinha, dando a volta no balcão americano. Kaito na verdade pulou, passando pelos dois e mostrando o caminho.

- Vamos. Temos que ser rápidos.

Logo uma sombra se ergueu atrás de Kaito. Hikari tentou gritar quando viu que era um dos homens de terno, mas segurou o grito quando percebeu que Kaito o havia atordoado meso estando de costas para ele.

- Evite barulhos. Vamos tentar escapar aproveitando os barulhos das explosões. – ele disse botando o dedo em frente a boca em sinal de silêncio. Infelizmente eles não tinham esse tempo. Outro dos homens o avistou eles e gritou seus companheiros. – Atrás de mim! – gritou Kaito enquanto corria na direção do homem.

O homem correu para ele sem medo e puxou a pistola de dentro do seu paletó. Mas quando o apontou para Kaito ele já havia chegado nele e com agilidade, torceu seu braço fazendo-o atirar contra o chão. Depois aplicou uma joelhada no peito, inclinou seu corpo para frente e o jogou para o lado, tirando-o do caminho. Quando acabou com o primeiro, outro veio em seguida sem avisar. Ele pulou sobre Kaito ferozmente para agarrá-lo, mas um golpe veio zunindo e atingiu o homem no ar. Era Ryozaki lhe aplicando uma voadora com o impulso que tinha pegado lá atrás. Kaito o olhou surpreso.

- Não vou deixar você fazer isso sozinho. – Ryozaki assentiu confiante enquanto estalava os dedos. Kaito fez um sinal positivo.

Os dois foram abrindo caminho, com Hikari logo atrás deles. Porém, quando passaram pela lateral da casa estavam completamente cercados. Eles se agruparam, enquanto tentavam arranjar uma abertura. Os homens foram os encurralando até uma posição que eles não teriam mais escapatória. Com as laterais cercadas, agora tinham o mar as suas costas e uma casa em chamas a sua frente. Nenhuma das opções parecia boa. Mesmo se conseguissem chegar ao mar e tentassem pegar umas das embarcações para fugir não iam conseguir ir muito longe. Provavelmente já estavam esperando por isso. Um dos homens surgiu atrás de Hikari e tentou agarrá-la. A tensão era tanta para achar uma saída, que os Ryozaki e Kaito agiram lentos de mais. O homem a pegou e quando eles se moveram, um som de várias pistolas sendo armadas foi ouvido. Os dois se acalmaram e botaram as mãos para o alto. O homem levou a menina até seu chefe. Ele sorriu, pegando-a em seus braços e botou a pistola em sua cabeça. O outro homem voltou ao seu lugar.

- Parece que agora podemos conversar. – disse o homem de cabelos castanhos e terno esporte. Ele estava com um grande broche prateado em forma de gato brandido em seu peito.

- Deixe-a em paz! Ela não tem nada haver com isso! – exclamou Ryozaki.

- Ah, meu nobre Dragão. Receio que não posso fazer isso. Não antes de você se entregar. Você nos deu muito trabalho hoje. Mas do que deveria. A isso, devo agradecer a esse seu guardião. Mas parece que a família Tatsuma não possui guerreiros tão habilidosos assim. – ele riu.

 - É melhor não nos subestimar, discípulo do Gato. – ele rangeu os dentes.

- Parece que você não está em condições de argumentar isso. – ele sorriu e pressionou a arma na cabeça da menina.

 Os olhos de Ryozaki arderam em raiva. Ele cerrou os punhos e rangeu os dentes com força. Kaito poderia dizer que ele havia quase rosnado para o homem segurando Hikari. Os três se entre olharam enquanto os homens continuavam com as armas apontadas. Os dois abaixaram as mãos, mas continuavam imóveis.

- Então... Como vai ser, Dragão? – disse o homem. – Você ou a garota? Você escolhe.

 - Porque não atira em mim logo de uma vez! – Ryozaki afrontou-o.

- Não se preocupe com a sua morte, ela virá em breve. Para vocês dois com certeza. Mas ainda temos planos para você. Mesmo assim, se tentarem algo, não eu não hesitarei em matar todos vocês. Porém, você ainda pode salvar essa garota. É só se entregar “pacificamente”. – ele deu outra risada debochada.

Ryozaki cerrou os punhos com tanta força que se tivesse com uma pedra em suas mãos, com certeza ela viraria pó. Mas o homem parecia estar despreocupado. Ele até gostava do que via. A raiva, o desprezo, o ódio. Ele estava com todas as cartas em sua mão. Só esperava pacientemente até que os jogadores admitissem a derrota humilhante para que ele mostrasse as cartas. Mas foi quando Kaito tocou o ombro de Ryozaki. Ele pareceu sair de um transe. Kaito o encarou sério e conversou em voz baixa.

 - Eu sei que você está pensando. Mas as coisas não se resolvem assim. Isso é exatamente que ele quer. Ele que ver sua raiva. Você tem que se acalmar.

 Os músculos de Ryozaki pareceram relaxar um pouco. Agora ele olhou para Kaito com o olhar entristecido. Era como dissesse desesperado “O que tenho que fazer?” com os olhos. Kaito o encarou firme e cochichou para ele. O homem que os via apenas sorria. Uma difícil decisão, não?  Ele ria internamente triunfante.

- Ryo... Por mais que eu quero dizer que podemos sair dessa, eu não posso garantir nada a você. – Kaito disse.

O garoto baixou a cabeça.

- Porém eu prometi que faríamos de tudo para ajudá-lo até as ultimas conseqüências. E eu pretendo manter essa promessa. Ou melhor, Nós iremos.

Nós? Foi quando Ryozaki olhou para e Hikari. Ela estava com medo, mas se mantinha forte sobre as próprias pernas bambas. Ela a olhava para ele dizendo mentalmente: “Você vai conseguir”. O corpo de Ryozaki se estremeceu sozinho. Como se pela primeira vez ele tivesse sentido aquele dragão dentro dele se mover. O silêncio pairou o local. Apenas o barulho da madeira estalando em chamas e as ondas eram ouvidas de lados opostos.

- Há uma chance de conseguirmos sair dessa. Mas preciso de sua ajuda. Você vai precisar controlar sua raiva nesse momento e se concentrar. É a nossa única chance. Você consegue? – ele o encarou.

Ryozaki assentiu. Os dois continuaram a cochichar, mas o homem já estava ficando impaciente. Ele armou a pistola perto da cabeça de Hikari. O corpo de menina pareceu estremecer quando ouviu aquele som.

 - Espere! – gritou Ryozaki dando um passo a frente. – Eu decidi. Não atire, por favor. – Ele continuou andando vagarosamente.

- Muito bem. Tomou uma sábia decisão. – ele sorriu.

- É eu sei. Eu sempre fui péssimo em tomar decisões. – ele continuou andando. – Normalmente, ou eu não decidia nada ou apenas quebrava algo na minha frente achando que isso iria resolver. Eu não consigo escolher entre duas coisas, eu sou assim.

O homem pareceu não se distrair com isso. Ele olhou um de seus homens e ele levantou a mão. Os outros armaram as pistolas e apontaram diretamente para Ryozaki em movimento. Ele prosseguiu sem medo.

- E é por isso que tomar essa decisão para mim foi muito difícil. Mas quando a tomei com ajudas de pessoas a quem confio foi ai que percebi. – ele parou de repente. – Eu realmente não sei tomar decisões!

- Agora! – gritou Kaito, fazendo todos olharam para ele.

Ryozaki disparou para contra o homem.

 - Realmente, você não sabe. – sussurrou o homem.

Quando ele estava prestes a apertar o gatilho, ele sentiu algo em sua mão. Uma corrente havia a prendido. Ela torceu seu braço bruscamente e afastou de Hikari. Ele confuso olhou de onde veio aquela corrente. Estava saindo de baixo da areia e vinha das mãos de Kaito.

- Maldito! Atirem! – ele gritou.

 - Eu acho que não! – Kaito gritou enquanto levantou as mãos puxando as correntes.

Foi quando dezenas de correntes se levantaram da areia. Eles formaram uma espécie de corredor entre Ryozaki e Hikari. Os homens atiraram enfurecidamente contra Ryozaki. Mas de alguma forma as correntes ficavam suspensas no ar, ondulando de várias formas e bloqueavam cada uma das balas. Por mais que os homens atirassem, nenhuma das balas parecia se quem chegar perto de Ryozaki, que estava quase chegando a Hikari. Um deles se arriscou a atirar uma molotov, mas uma das correntes agarrou-a e a jogou de volta contra ele. Era como se estivessem vivas. Eram como dragões dançando aos céus, girando e ondulando de um lado para outro, em que seu movimento gerava uma pequena corrente de ar em volta delas. Ryozaki finalmente alcançou Hikari, enquanto o homem se levantava e praguejava. Porém ele reparou que a corredor feito pelas correntes, só levavam os dois a dois lugares. A casa em chamas ou de volta a Kaito.

- Cerquem o guerreiro! Eles não têm como passar. – ele tirava areia de seu terno.

Os homens atenderam prontamente e foram cercar Kaito. Ryozaki abraçou Hikari e sentiu o corpo dela por um instante. Ele a botou em suas costas e olhou para casa. As chamas reluziram em seus olhos.

- Você confia em mim? – ele perguntou a Hikari.

- Sim. Eu confio. – ela respondeu, enquanto e segurava forte.

- Que bom. Pelo menos alguém tem que confiar em mim. – falava enquanto as pernas tremiam.

Hikari parecia um pouco mais calma, talvez ela estivesse pensando em uma cena de uma mangá e que no final iria dar certo. Ryozaki não pensava assim, mas teve que confiar em si mesmo. Ele só tinha essa chance. Foi quando ele correu com tudo para dentro da casa. O homem quase não acreditou quando viu a cena.

Ao entrar o calor tomou o corpo dos dois. Os pensamentos de Ryozaki estavam a mil. Novamente era como se não fosse a primeira vez que ele estivesse fazendo aquilo.

- Pela primeira vez eu me sinto eu mesmo. Meu corpo não está se movendo sozinho como de costume. Eu sinto cada músculo meu trabalhando para isso. Meus olhos estão concentrados nas chamas. Não é como das outras vezes. Eu sei que estou fazendo isso. Eu estou no controle. O Dragão dentro de mim está me dizendo para andar, mas não estou fazendo isso porque ele quer. Eu tenho que fazer isso. Mas sinto como de alguma forma ele cooperasse. Como se estivéssemos nos comunicando. Eu vou conseguir. Eu não preciso ter medo de mim mesmo. Eu sei o que sou agora. Eu sei o que posso fazer.

Com forme seus pensamentos iam fluindo era como se as chamas reagissem. Elas se afastavam como se fossem sopradas para longe dos dois, como se um vento contornasse seu corpo. Ele correu, cortando os obstáculos que apareciam em sua frente. Faltava pouco para ele sair.

- Eu sei quem eu sou agora. Eu não sou uma fera. Eu não sou um garoto hiperativo com problemas de temperamento. Eu sou...

Foi quando ele olhou para saída bloqueada. As chamas haviam chegado ao segundo andar e derrubado uma das colunas. Ele estava bem em frente aos dois. Foi quando ele pulou.

- Eu sou... Eu sou... Sato Ryozaki! – ele exclamou, enquanto seu chute partia a coluna ao meio com um tufão e os libertava do mar de chamas. Os dois caíram no chão rolando, enquanto começou a desabar.

[...]

Do outro lado os homens acabaram de cercar Kaito. Quando viu a casa desabando, viu a chance que precisava. Ele arrancou suas vestes ficando de peito nu. Por baixo de suas roupas, havia várias foices como aquela que usava enroladas em mais correntes. Ele forçou o peito e como mágica as corrente soltaram de seu corpo enquanto ele recolhia as outras. Eram cerca de doze Kusarigamas (correntes com foices) que voaram. Ele começou a grilá-las com força até que formaram um tornado que cortava e jogava para longe todos os homens que estavam ali. Exceto um. O homem de cabelos castanhos olhava aqui e praguejava, enquanto se soltava da corrente e corria. Kaito percebeu rapidamente e tentou prende-lo jogando outra corrente. Mas assim que estava a poucos centímetros de prendê-lo novamente, algo zumbiu no cortando o ar. Uma adaga havia sido fincada na areia, levando a corrente de Kaito ao chão no momento exato. Ele olhou para os lados e viu apenas uma sombra de uma mulher que logo desapareceu. O homem acabou fugindo enquanto Kaito se lembrará dos dois garotos.

[...]

Ao chegar até os dois contornando a casa desabada, ele os encontrou caídos no chão. Estavam abraçados e um pouco queimados, mas nenhum dano grave. Ele tentou dizer alguma coisa, mas Hikari fez um sinal de silêncio. Quando olhou mais de perto, Ryozaki estava dormindo. Ele então se ajoelhou perto deles.

- Parece que ele fez mais do que podia. – disse Hikari.

- Talvez. Ou quem sabe foi a primeira vez que ele fez algo que sempre pode fazer. – Kaito sorriu. – E você pareceu tranqüila com tudo isso no final das contas. Normalmente as pessoas em volta se assustam.

- Talvez seja porque eu não seja normal. Afinal, sou só uma menina maníaca por mangás. – ela riu de si mesma.

 Àquela hora da noite parecia tranqüila apenas iluminada pela lua e o que restara das chamas na casa. Eles sabiam que logo teriam que voltar e que por hoje estava tudo terminado. Mas muita coisa ainda iria acontecer. Mas apesar de saber disso, Ryozaki dormia um sono como nunca dormira antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hontou Seishin" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.