Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 10
Histórias


Notas iniciais do capítulo

O maior capítulo até agora.
Mas acreditem, foi necessário.



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Ao descer do ônibus, Ryozaki não precisou pensar muito para saber onde estava. Ao avistar os grandes jardins, ele sentiu aquele energia fluir junto com o ar que entrava no pulmão de todos os japoneses que por ali passavam. O Konchi-in Zen Garden era muito visitado pelos turistas e até pelos próprios residentes do local. Era um enorme jardim que aspirava calma, com pequenos templos budistas e outras curiosidades para turistas ocidentais. E um pouco mais a frente, tinha acesso a praia onde as crianças poderiam brincar tranquilamente, enquanto os mais velhos admiravam os templos e a arquitetura dos jardins. Ao acompanhar o homem, Ryozaki percebeu que ele estava querendo brincar com as crianças. Estava apressadamente indo em direção a praia.

      - Onde estamos indo exatamente? – resolveu arriscar mais uma pergunta.

      - Para um local seguro. – o homem apontou para as pedras bem no final da praia.

      Nas pedras de uma praia movimentada perto de um templo cheio de turistas?  Ele continuou seguindo o homem, passando pelas pedras. O corpo de Hikari começou a pesar muito em seus braços. Ele havia a carregado por muito tempo e ela ainda não parecia ter acordado de seu “sono de beleza” que, por acaso, foi a desculpa que ele dava para qualquer pessoa que perguntava por que diabos ele estava a carregando no colo para lá e para cá. Ela está dormindo. O que mais ele podia dizer? O homem de repente parou e começou a tirar algumas pedras do caminho. Logo Ryozaki percebeu que aquelas pedras foram realmente “colocadas ali” por alguém. Uma passagem com água até os joelhos apareceu entre as pedras. O homem levantou o isqueiro até o rosto de Ryozaki.

      - Vamos. Fique bem atrás de mim. – ele disse enquanto descia até a passagem.

      Ryozaki entregou Hikari a ele para poder descer com um pouco de receio. No final, estava começando estranhamente confiar no homem. Ele tinha um tom misterioso, parecia ser tão impaciente quanto ele, mas parecia estar fazendo de tudo para ajudá-los. Era muito cuidadoso com tudo que fazia passando um sentimento de proteção aos dois desde o começo. Ele pós Hikari novamente nos braços de Ryozaki. Eles foram andando até o final da passagem. Surpresa! Ryozaki jurava que depois daquela parte da praia, não havia nada além de montanhas e lugares inabitados. Mas bem adiante estava outra praia com uma pequena casa de praia feita de madeira.

      - Então é aqui que você... Mora? – arriscou Ryozaki.

      - Temporariamente, podemos dizer. Mas foi o melhor esconderijo que achei em Kyoto.

      O que ele quis dizer com isso? Ryozaki olhou em volta, mas seja lá do que eles estavam mesmo despistando, parecia um bom lugar. Ninguém imaginaria uma passagem como aquela e tão perto de um ponto agitado. Um lugar calmo numa tempestade. Eles chegaram finalmente até a casa. Ryozaki colocou Hikari na cama que havia por ali. Ela ainda parecia bem apagada, mas não se mostrava ferida. Ele sentou-se em uma das cadeiras, tirou o tênis molhado e por um instante respirou fundo.

      - Você parece bem mais calmo agora. – disse o homem, que surpreendentemente estava tirando a parte de suas vestes árabes de novo, apesar de Ryozaki não saber como ela as colocou de novo para começo de conversa.

      - Um pouco, eu acho. - Ele esfregou os olhos cansados. - Mas ainda sim tenho muitas perguntas.

      - Eu sei. – ele suspirou. – Durante o caminho eu também estava tentando pensar em como iria dizer isso a você. Mas acho que não tem um jeito simples de se fazer isso. – ele puxou uma das cadeiras. – Você já ouviu falar sobre aquela história dos animais do Zodíaco chinês, de como eles foram escolhidos? – ele tentou começar.

      - Sim. – Ryozaki realmente tinha ouvido sobre. Mas hoje sua memória estava mais fresca quanto a isso devido a aula que o professor tinha lhe dado no museu. Ele havia comentado sobre o assunto.

      - Isso ficará um pouco mais fácil. Então...

      - Um momento. – interrompeu Ryozaki. – Você poderia pelo menos dizer seu nome? E... Obrigado por tudo até agora.

      O homem pareceu surpreso. Ele não precisou começar a história para ver que o rapaz já tinha certa confiança nele. Um mau sinal. Se eu fosse um inimigo você já estaria... Algo assim passou pela cabeça do homem de cabelos escuramente azulados. Mas ele sabia que não era aquilo. O garoto havia confiado em seus instintos até ali. E tinha um motivo forte para ele estar confiando nele.

      - Eu sou Tatsuma Kaito. – respondeu o homem.

      - Prazer, sou Sato Ryozaki.

      - Eu já sabia disso, Ryo-san.

      - Sabia? – Ryozaki tentou lembrar se tinha deixado algo que evidenciasse seu nome, mas não se lembrou de nada.

      - Eu posso dizer que já tinha esperanças que fosse você que estaria aqui comigo hoje. E parece que acertei.

      - Como? – perguntou confuso.

      O homem se levantou da cadeira e tentou explicar como pode. Ele lembrou Ryozaki sobre a lenda dos animais do Zodíaco Chinês e principalmente sobre o Gato nessa questão. As memórias de Ryozaki voltaram para cena do homem com o broche de gato.

      - Mas o que essa lenda tem haver com o que aconteceu hoje?

      - Pense um pouco. Parece estranho, mas você saberá a resposta. Já pensou com o que aconteceu depois de séculos com os espíritos dos animais que esperam por Buda até hoje?

      Foi quando aquela outra imagem voltou a sua mente. O Dragão! Realmente, Ryozaki sabia a resposta, mas preferiu continuar calado.

      - Aconteceu há mais menos um século depois que Buda foi embora. – O homem continuou. – Os animais não poderiam mais sustentar seus corpos e cada vez mais a raça humana começou a se tornar maior, mais influente no mundo. E foi quando o Dragão, o primeiro dos animais a desaparecer, tomou uma decisão com os outros animais. Ele procurou por uma nascença pura em meio aos homens. E nele, depositou seu espírito. Os outros animais que vieram em seguida fizeram a mesma coisa. O ano que o Dragão tomou essa decisão foi conhecido como o Ano da libertação, o ano em que os espíritos dos 12 animais se libertaram de seus corpos e se uniram as pessoas pelo mundo.

      Um silêncio assombroso passou pelo local. A noite começara a cair.

      - Mas o que houve depois? – Ryozaki quebrou o silêncio.

      - É claro que os humanos descobriram após algum tempo desse poder dentro deles. Muitos deles morreram sem saber, mas outros tomaram conhecimento disso e conseguiram se comunicar com os espíritos dos animais. Foi então que o portador do Rato, o primeiro do Zodíaco Chinês, teve uma idéia. Ele procurou seus irmãos animais e lhe mostrou o que eles poderiam fazer e qual eram suas missões. Então eles resolveram formar famílias com esses conhecimentos. Foi assim que nasceu o as 12 famílias Zodiacais que agora, carregaram os espíritos dos 12 animais para cumprir suas respectivas missões.

      - E você faz parte de uma dessas famílias?

      - Sim. Eu sou o encarregado da família do Dragão de proteger o Guardião do Dragão. E é por isso que eu estou aqui. Porque você possui esse espírito dentro de você. E preciso protegê-lo e ensiná-lo a controlar seus impulsos.

      A vida de Ryozaki começou a fazer mais sentido para ele mesmo. Seu nome, sua personalidade, seus impulsos incontroláveis, sua força. Eu tenho um Dragão dentro de mim. Por mais fantasioso que isso parecia, muita coisa fazia sentido para ele. Mas ainda havia uma dúvida.

      - E o gato? O que aquelas caras são realmente? O que eles querem?

      - Bom isso aconteceu há algum tempo atrás. Eu não era nascido nessa época, mas sempre me contam a mesma história. Após a formação dessas famílias, ficou predestinado pelo lideres das famílias que os filhos dos guardiões dos animais, herdariam os espíritos lendários. Porém num fatídico dia ele apareceu... O Gato, ou melhor, alguém que de alguma forma possuía o espírito amargurado do Gato atacou silenciosamente as doze crianças que estavam predestinadas a receber os espíritos do Zodíaco. Isso ocasionou uma desordem e um caos no local, pois agora os espíritos dos animais reencarnariam em pessoas diferentes no mundo, após séculos permanecendo dentro do controle das doze famílias. O suposto guardião do Gato foi morto, mas as famílias saberiam que ele reencarnaria em outra pessoa no próximo ciclo. Foi então que começamos a nos preparar para isso. Sabíamos que depois de um tempo ele retornaria. Foi para isso que fui treinado. Nós temos que protegê-los. Não sabemos o que ele pode fazer se possuir o poder dos outros guardiões. Agora que os espíritos dos animais estão verdadeiramente despertados devido ao Ano do Dragão, nós temos que encontrá-los antes dele. É por isso que tenho que te proteger. Pode parecer egoísta e sei que você realmente não queria ter nada haver com isso, mas infelizmente não somos nós mais que escolhemos quem recebe os espíritos.

      - Você já falou de mais... – A voz de Ryozaki saiu como um sussurro.

      Ele pareceu desolado. Estava tentando assimilar tudo que acabou de ouvir. E o pior, as coisas pareciam fazer sentido. Pelo menos para ele, que a todo tempo em sua vida, mesmo com seus pais, com seus amigos, com seus inimigos, sempre se sentiu deslocado. Pela primeira vez sentiu dentro de si algo mais poderoso que ele poderia imaginar.

      - Eu sei que é muita coisa para se pensar. Mas faça como estava fazendo antes de saber disso. Pense no que é importante para você primeiro. – o homem tentou consolá-lo e apontou para a menina que acabara de acordar e ouvir uma parte da história.

      Ele olhou com tristeza para ela. Mas ela sorriu de volta.

      - Eu sempre soube que havia algo de especial em você. – Hikari disse enquanto tentava se levantar.

      Ryozaki não parecia se sentir melhor. Ele sabia que estaria colocando a vida dela em perigo. Não só dela. De todas as pessoas que conhecia e gostava. Kaito se aproximou dele.

      - Não se preocupe. Ajudarei você em tudo para podermos seguir a frente Mas é você quem vai decidir isso. - ele parou por instante e se sentiu melancólico com aquela conversa. - Tenho certeza que você será um ótimo guardião. Afinal, eu tenho certeza que é algo que você quer. Ajudar as pessoas. Você não sempre quis isso de alguma forma? – ele assentiu com confiança no rosto. Hikari também o apoiou, mesmo estando confusa.

      Ryozaki sentiu aquela sensação de novo. Como se já houvesse passado por isso. Como se estivesse falando com amigos de longos anos juntos. Mas naquele breve momento de conforto, um estrondo foi ouvido. Ryozaki viu assustado a janela estourar em chamas na parte da frente da casa. Kaito correu para frente da casa.

      - O que está acontecendo? – Hikari perguntou aflita.

      - Acho que não foi uma boa hora para você acordar. – Kaito disse enquanto praguejava olhando para praia.

      Um número incrível de Jet Skis acompanhado por uma lancha acabava de atracar na praia. Uma multidão de homens em ternos pretos armados com pistolas e molotovs estavam abordando a casa onde eles estavam. Um homem com o terno perfeitamente arrumado, de cabelos castanhos jogados para trás impecavelmente estava com um sorriso triunfante em seu rosto. Ele desceu da lancha e deu as ordens.

      - Cerquem a casa. Eles são nossos. – disse enquanto via a lua nova sem nenhuma nuvem aparecer pro de trás das montanhas.


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