Finalmente luz. As pupilas de Ryozaki doeram ao ver a luz do sol ao sair pela entrada sul do metrô. Ele piscou forte para amenizar a dor, enquanto tentava também relacionar as coisas que estavam acontecendo. Ele estava com Hikari em seu colo, enquanto seguia um homem que acabara de salvar sua vida. Aquele homem com vestes... Ryozaki esfregou os olhos. O homem agora não estava mais em sua indumentária de guerreiro com as vestes árabes por cima. Estava vestido como uma pessoa normal, com uma jaqueta surrada do exército aberta mostrando a camisa promocional antiga do filme “O Tigre e o Dragão”, uma calça jeans clara e um tênis de corrida branco. Ryozaki sabia que estava um pouco escuro lá em baixo, mas não podia ter imaginado aquela roupa nele com todos os detalhes. Ele acelerou o passo e ficou ao lado do homem de cabelos negros azulados.

      - Mas como você... – ele tentou comentar algo sobre a mudança repentina de vestuário do homem.

      - Não acharia muito esquisito um homem de vestes árabes andando no meio da multidão de Kyoto se visse um? – ele respondeu sem ao menos olhar para Ryozaki.

      Obviamente isso não respondeu a pergunta de como ele tinha feito aquilo tão depressa, mas acho que agora era o que pouco importava. Ele puxou Ryozaki para um beco e começou a vasculhar o local.

      - Parece que os despistamos, por enquanto. Devem estar tentando socorrer os outros no subsolo. – disse o homem enquanto olhava para as ruas.

      - Então parece que você tem bastante para me explicar o que está acontecendo. Afinal quem é você? – disse Ryozaki sem muita paciência.

      - Aqui não é um bom lugar e nem em uma boa hora.

      - Pra mim é sim! Nós quase fomos mortos, minha amiga está desmaiada e você simplesmente aparece do nada e não dá uma explicação se quer. Sem falar...

      Ryozaki parou de falar instantaneamente quando viu a foice apontada para sua garganta. Ele engoliu seco.

      - Eu disse que não é uma boa hora. Eu quero mesmo te explicar tudo e como queria que fosse fácil de você entender. Mas no momento temos que arranjar um lugar bom para nos escondermos.

      Ele tirou a lâmina de perto da garganta do rapaz e a botou dento da jaqueta. Ele continuou andando e Ryozaki foi logo atrás dele sem pestanejar. Eles seguiram pelas ruas, tentando se misturar pela multidão e passando pelos lugares mais escondidos que conseguiam. Logo eles adentraram um ônibus bem cheio. Nele havia diversas crianças e senhores de idade com roupas bem folgadas, camisetas e utensílios de praia. Ryozaki já sabia. Eles estavam indo ao litoral.

[...]

      Naquele mesmo prédio em Tóquio, o homem com o terno dentro de sua sala via a clarabóia de cristal com os símbolos do Zodíaco brilharem em seu chão, enquanto sentava relaxadamente em sua cadeira de escritório. Seu terno agora um pouco mais desarrumado estava aberto com a gravata folgada e seu cabelo levemente caído em seus olhos. Ele estava entediado. Esperando por notícias ansiosamente, mas parecia que seu telefone não tocava há anos. Foi quando uma silueta apareceu na porta de entrada do escritório. Como se a porta dupla de mogno tivesse aberta sozinha, uma bela mulher havia entrada no salão. Ela andava calmamente, até para no símbolo refletido do gato no chão. Era uma mulher deslumbrante. Seus sedosos cabelos negros quase chegavam a tocar o chão de tão longos. Parecia ter um corpo de uma mulher de 20 e poucos anos, mas o seu olhar calmo e profundo era como de uma mãe experiente que já tinha idade e sabedoria para ser avó. Ela arrumou seu vestido negro, com babados brancos lembrando um pouco o estilo Gótica Lolita e foi até o homem que surpreso com a visita se recompunha na cadeira.

      - Parece que você está ansioso, meu querido. – ele sorriu calmamente e com ternura.

      - De fato... – ele arrumou seu cabelo, jogando o para trás e tentando alinhá-lo. – Eu estive há muito tempo esperando por isso.

      Ela simplesmente sorriu. Ela sentou-se sobre a mesa e o olhou firmemente nos olhos.

      - Você não devia ter tanta pressa. Você sabe que isso é mais difícil do que parece. – Ela puxou uma das fichas que estavam espelhadas sobre as mesas. – Então esse é o nosso Dragão? – ela sorriu para ele.

      - Sim. Já o rastreamos. Logo ele estará em nossas mãos. – ele assentiu com orgulho.

      - Sabe... Você não deveria subestimar a família do Dragão. – ela chegou a poucos centímetros de seu rosto e sussurrou em seu ouvido. – Ou você pode se arrepender muito...

      - Não se preocupe comigo. Eu sei bem que estou fazendo. – ele falou firmemente tentando não demonstrar seu nervosismo.

      Ela sorriu com gosto. Esse é o meu menino. Ela se levantou da mesa e jogou a ficha perto dele. Ela saiu andando enquanto falava.

      - Fique atento. Logo você vai receber a ligação que tanto deseja. – ela saiu e as portas se fecharam sozinhas.

      No bater das portas, o celular dele começou a tocar. Ele apenas encarou a foto do rapaz colado a ficha do arquivo. Sato Ryozaki. Ele leu mentalmente. Logo depois atendeu ao celular.