Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 35
Honestidade e confiança


Notas iniciais do capítulo

Olá meus seguimores! Como vão?
Como prometido, um novo capítulo para vocês. Espero que gostem!!!

Queria dedicar esse capítulo para minha amiga Maya que, durante os tempos difíceis, estava sempre me animando e me provocando. E nessa relação de amor e ódio, construimos as mais engraçadas apostas e brincadeiras. Pensei em fazer isso em forma de agradecimento, mas, agora, quem precisa de ajuda é ela. Então eu dedico, singelamente, esse capítulo para ela e desejo, de todo coração, que as coisas melhorem para ela e que ela volte logo a sorrir! Te amas, satan! ❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611582/chapter/35

Killian P.O.V

– Killian? - a voz perguntou assim que abriu a porta.

– Olá, Dave. Tem um minuto para conversar?

– Estou surpreso de vê-lo aqui.

– Estou atrapalhando?

– Não! De maneira alguma. Por favor, entre. Aconteceu algo? - perguntou preocupado.

– Não... Quer dizer, não sei.

Argh, isso era constrangedor! Eu deveria ter desistido antes de bater.

– Não fique ai parado na porta, entre. Mary está na sala com Zachary, não se preocupe, não estamos fazendo nada.

– Certo. - disse antes de adentrar e segui-lo até o encontro de sua esposa.

– Killian, querido! Como vai?

Mary Margareth veio alegremente me cumprimentar assim que cheguei à sala. Mesmo com o bebê em seu colo, fez questão de me abraçar da maneira que lhe era possível.

– Mary! Como vai a recuperação?

– Cansada, mas estou indo melhor do que esperava. Obrigada por convencer David a ficar em casa, não sei o que faria sem ele para me ajudar nesse momento. - agradeceu com um largo sorriso no rosto.

– Não fiz mais que minha obrigação. - respondi de maneira sincera - E meu amigão, como vai? Posso pegá-lo?

– Ora, claro, você é o padrinho! Posso deixá-lo aqui enquanto vocês dois conversam.

– Não, por favor, fique. Sua opinião será importante... Ou suas palavras, ainda não sei. - sorri sem jeito.

Ela entregou-me Zachary de maneira delicada e, com certa dificuldade, peguei-o em meu colo. Ele era tão pequeno, tão sensível e parecia vulnerável a qualquer toque. Sua pele era branca como a da mãe, a cada toque desajeitado, sua pele ficava rosada e isso me assustava. Eu não sabia direito como agir com aquela pequena criatura em meus braços. Mary ajudou-me quanto a postura, dando pequenos "ajustes" e dicas quanto a posição de meus braços e dedos. "Mantenha a cabecinha dele sempre segura e deixe a coluna bem apoiada!" ela repetia e, ei, eu não ia matar meu afilhado!

Sentamos no sofá para iniciar a mais constrangedora conversa que eu poderia ter com eles. O casal estava de frente para mim e, concentrado em Zachary, tentava encontrar as palavras certas. A propósito, elas existiam? O garoto era tão calmo e doce que me fez lembrar de minha infância, em como as coisas eram mais fáceis naquela época. Sempre havia alguém para resolver os problemas, você nunca precisava se preocupar com nada ou tomar responsabilidade por algo. Eu estava me sentindo preso, embora fosse minha missão prender outras pessoas. Sempre estive lá para provocar e pressionar David diante dos casos e, também, sempre tinha uma piada guardada para quando ele falhasse.

Parte de mim ainda era uma criança, parte de mim ainda se sentia como Killian Jones, filho de Davy Jones, confrontando os capitães Le Clerc e Jack Sparrow no navio de meu pai. Navio que, hoje, é meu. Eu não estava mais brincando, estava realmente confrontando dois capitães e estes não eram nada amistosos como Le Clerc e Sparrow.

Eu não era o Capitão Gancho. Não mais.

A vida já não era mais uma brincadeira e eu me sentia, novamente, numa tempestade em alto mar sem saber o que fazer. O mastro principal havia sido arrancado com a força das ondas e eu me sentia sozinho para resolver todos os problemas. Eu precisava de uma tripulação.

Aliás, fazendo uma pequena correção, acredito que problemas com a Jolly Roger seriam mais fáceis de serem resolvidos. Bom... eu saberia por onde começar ou, então, pelo menos conseguiria identificar as falhas.

– Eu não sei o que fazer. - disse simplesmente, focando-me apenas em Zachary. Não queria encará-los.

– Como assim? - David perguntou, fazendo-me finalmente encará-los. Afinal, se eu estava ali para pedir ajuda era melhor fazer isso de uma vez por todas não é?

– Eu não sei por onde começar. Eles tem Belle e os pais de Emma. E, pra piorar, eu fico lembrando constantemente de tudo o que aconteceu quando o insano do Neal invadiu a Jolly Roger. Eu quase perdi o controle quando vi que ele estava ameaçando Emma. A imagem dele com aquela arma e as mãos sujas em cima dela...

– E você tem medo de acontecer o mesmo com Belle, não é? - Mary perguntou de maneira serena, como se não quisesse ultrapassar minhas barreiras ou me ofender por tentar me compreender. Mas ela estava certa.

– E Ginnifer e Josh também. - completei - Querendo ou não eu me afeiçoei a eles. Eu quero protegê-los e não sei se vou conseguir manter o controle. Minha cabeça está pesada com essas mil teorias e hipóteses me rondando como fantasmas. E eu não consigo descartar nenhuma delas. É horrível! A única coisa que sei é que eu não posso confiar em ninguém. E isso inclui Thomas no topo da lista.

– Eu não sei quem ele é, mas se ele contou abertamente aquela história para vocês na delegacia, ele merece um voto de confiança.

– É confiar não confiando, Killian. - David complementou a esposa. - E devo dizer que você foi esperto em não querer saber onde Regina irá esconder as provas. Na pior das hipóteses, nem sob ameaça você saberá onde ela está. Não irá mentir se for questionado sobre.

Acenei com a cabeça aceitando o singelo elogio e ignorando a última parte. Era horrível ver que, para David, ameaças eram consideradas as “piores” coisas enquanto, na minha cabeça, até mesmo tortura marcava presença. Buscando em Zachary, novamente, um pouco mais de força, acabei lembrando-me de outro problema.

Típico.

– Mas e se encontrarem Regina? E se fizerem algo com ela ou Roland? E se Robin não estiver por perto para ajudá-la? Eu não quero ser culpado por isso, não quero que eles saiam machucados pela minha incompetência.
David bufou em reprovação pelo que eu disse. Mary se prontificou de forma doce, apoiando as mãos sobre as do marido, talvez para fazê-lo elaborar melhor uma resposta.

– Se irá lhe fazer bem, posso ligar para Robin. Talvez ele e Will possam ir acampar com Roland de novo. Regina com certeza não irá abandonar a prefeitura, mas posso ver o que consigo com Robin.

– Faria isso mesmo, M?

– Claro que sim. - respondeu com um sorriso nos lábios.

O bebê fez um barulho com a boca e, ao olhar para baixo, pude ver sua cara fechada como quem iniciaria um choro. As pernas e mãos estavam agitados e rígidos atingindo o ar.

– Ei, amigão, que cara amarrada é essa? Está com ciúmes do Roland é? Sua madrinha ia querer tirar várias fotos de você agora sabia? E ia colocar tudo na internet, toma cuidado com aquele sorriso viu?

Ele fez outro barulho, porém, dessa vez, mais parecido como o início de uma risada enquanto os pequenos dedinhos seguraram meu polegar.

– Ela é linda e vai te mimar muito! Logo, logo ela irá aqui tá? E, como disse, se prepara para todas as sessões de fotos. Tenho certeza que você será tratado como príncipe. Nesse caso, acho que eu deveria estar com ciúmes. Não você!

Eu brincava com as perninhas gordinhas de Zachary enquanto conversava com ele, tentando desfazer a careta amarrada do pequeno Nolan que cismava em aparecer novamente. Era a primeira vez que eu passava um tempinho com ele e, de acordo com meus piores pensamentos, também seria o último. Desejava ser mais otimista como David...

Dei-lhe um beijo no topo da cabeça e o passei para os braços da mãe. Mary, ao acomodar o filho em seu colo, acariciou meu ombro e deu-me seu melhor olhar de encorajamento. David levantou-se e passou por nós, indo me guiar até a porta.

– Obrigado por ter me ouvido.

– Acredito que nós não ajudamos em muita coisa.

– Eu não vim buscar respostas. Bom, talvez esse tenha sido meu plano inicial, mas na verdade eu precisava era falar. Colocar para fora de alguma forma, sabe?

– Por que não fez isso com Emma?

– Não acreditava que seria a coisa certa.

– E agora?

– Preciso ser honesto com ela. Será melhor... para nós dois. Até porque eu gastei nossa última conversa descontando nela todas essas minhas frustrações. Não é certo. Ela sempre foi tão correta e sincera comigo e como eu estou retribuindo? Sendo grosseiro e estúpido?

– O que você disse a ela? - perguntou assustado.

– Ei, calma. Nada demais, mas senti que poderia perder a cabeça. Magoar Emma agora seria o pior dos meus pesadelos.

Ele deu-me um sorriso torto e apoiou a mão em meu ombro, como sempre fazia quando iria me dizer algo importante ou quando começaria um sermão. Esse último era mais frequente. E não, um sermão não era algo importante.

– Eu sempre subestimei você, brinquei e zombei, mas sempre me inspirei em você. Você é grandioso, Killy. Você sabe o que quer e tem coragem para ir atrás disso. E é forte: passou por Milah e se reencontrou em Emma. Você consegue fazer tudo o que quiser, não precisa da aprovação de ninguém. Aliás, a única aprovação que você precisa é a sua.

– Você acha que eu sou capaz?

– Diga-me você: você acha que é capaz? Você precisa acreditar que se sairá bem, da mesma maneira que todo mundo acredita.

Acenei com a cabeça em resposta com um tímido sorriso se formando. Ele tinha razão... de novo. Abracei David o quão forte aquele momento pedia. Eu não poderia ter pedido por um melhor amigo. David Nolan sempre sabia o que falar, mesmo quando aparentava o contrário. Recorrer a ele jamais seria um erro, isso era uma certeza agora.

Emma P.O.V

Quarenta minutos. Quase uma hora desde que Killian havia ligado e dito que estava a caminho. E, até então, nenhum sinal dele: nenhuma outra ligação, nenhuma mensagem ou sequer um recado enviado por Oliver ou Colton. Aliás, onde estão aqueles dois inúteis quando se precisa? Esses dois recebem por hora de ausência?

De uma coisa eu não poderia reclamar: o telefone não havia tocado. Em dias de correria ele parecia não dar folga, enquanto nos dias tediosos ele queria brincar conosco e sequer dar sinal de vida. Agora, entretanto, não parecia ser nenhum dos casos. Era como uma questão de prioridade, de respeito a uma situação complicada.

Tinha consciência de que não era nada além da falta de acontecimentos, mas preferia levar tudo para um lado mais nobre. Isso era uma forma de pensar positivo, não era?

Tanto faz.

Onde diabos Killian estava?

Thomas estava sentado na cadeira de David com o mesmo olhar nostálgico de quando nos contara sobre seu passado. Preferi não interromper, reviver tudo aquilo deveria ser doloroso.

Eu andava de um lado para o outro sem saber se esperava mais ansiosamente por uma ligação pela chegada de meu namorado. Querer os dois era pedir demais?

Ouvimos um barulho vindo do corredor e levantamo-nos em alerta, mas logo relaxamos nossos músculos ao reconhecermos Jones adentrando o escritório.

– Onde você estava? Por que demorou tanto? O que aconteceu? - perguntei desesperada.

– Desculpa a demora. - disse simplesmente, evitando manter contato visual.

– E? - questionei com os braços cruzados.

– E o que?

– Nenhuma justificativa? Explicação?

– Sim, tenho, mas prefiro conversar com você depois.

– Depois? - repliquei incrédula.

Além de me deixar preocupada, ele chega agindo de maneira estranha e quer que eu aceite adiar a conversa? Ele deve ter percebido o rumo errado que aquele diálogo estava tomando e, relaxando um pouco os ombros, suspirou fundo e, finalmente, me olhou nos olhos.

– Pode ser, amor?

Ele aproximou-se de mim e beijou-me brevemente. Com os lábios encostados ele sussurrou "Por favor" e eu não vi outra maneira a não ser ceder. Eu apenas espero que seja algo extremamente importante, não aceitaria menos do que uma boa razão para ele me deixar preocupada na delegacia. E oh, devo lembrar que estava sozinha com um desconhecido e que estávamos na mira de uma quadrilha perigosa? Espero que não.

Era claro que eu não aceitaria sem nenhum outro questionamento. Ele demonstrou, além de exaustão, extrema necessidade de seu próprio tempo para aquela conversa. Por esse motivo eu cederia sim, mas ainda insistiria em alguma prévia de nosso assunto misterioso. Contudo, fui interrompida (antes mesmo de tentar) pelo som do telefone ecoando pela sala. Corri para atendê-lo e vi os dois homens enlouquecidos dizendo para que eu colocasse no viva-voz.
Eu não o fiz, estava nervosa demais para encontrar o botão correto naquele aparelho.

– Alô? - atendi temerosa.

– Senhorita Swan. Que surpresa!

– Gold. - disse entre dentes.

Ao ouvir o nome de Robert pude ver Killian quase pulando de um lado para o outro em desespero enquanto perguntava pela irmã.

– Creio que já soube da novidade, não é?

– Aquela em que vocês sequestraram meus pais e Belle covardemente? Sim, essa eu já sei.

– Vocês capturaram uma de nossas peças. Retiramos as de vocês. Só queremos estabelecer nosso acordo agora.

– Nós não capturamos nada de vocês. - respondi com calma, embora minha voz tivesse falhado.

– Dylan disse que sim.

– Então passe o telefone para ele. Não quero fazer acordo com alguém que sequer sabe do que está falando. - provoquei.

Nessa hora podia jurar que Thomas e Killian teriam um ataque cardíaco pelas expressões exageradas de "não" ou "o que você está fazendo?".

– Acredito que você não está em condições de apoiar-se em provocações, senhorita Swan. Veja, o acordo é claro e simples: a vida de seus pais por um longo e duradouro contrato de silêncio. Amanhã nas docas ao anoitecer. Sozinha.

– E Belle.

– Sem chances.

– Teria coragem de machucar Belle? Sua própria esposa? - perguntei incrédula.

– Alguém disse algo sobre machucar? Posso levar minha esposa comigo para qualquer lugar que desejar. Só não posso afirmar nada sobre seus pais. - riu de forma maliciosa.

O telefone de Killian tocou e, fazendo algum gesto, ele se retirou para atender. Enquanto isso, Thomas gesticulava, tentando ajudar-me de alguma forma. E, então, sugeriu que eu contasse da confissão que fizera mais cedo.

– Então acredito que seus fornecedores e contatos adorariam ouvir o que Thomas Grabeel tem a dizer sobre o caso.

– Quem? - perguntou confuso.

– Você disse que capturamos um de seus brinquedos e você sequer sabe quem ele é? Por Deus! Passe para Dylan, ele estará interessado nessa história.

– O que você quer de mim, Emma Swan? - Dylan atendeu de maneira áspera.

– Quero um acordo justo ou a história de Thomas Grabeel e Dylan Humbert nos noticiários. Não seria incrível um romance contado em meio ao--

– CALADA! NEM MAIS UMA PALAVRA. - esbravejou interrompendo-me.

– Um acordo justo. - repeti tentando ignorar a forma ridícula a qual aquele monstro havia se dirigido a mim.

– O que você quer?

– Quero meus pais e Belle livres em troca de nosso silêncio.

– Como quiser, desde que jamais repita essa história para ninguém. Aliás, que jamais pense a respeito dela!

– Sim, estou realmente tocada com essas suas palavras. Vamos aos negócios novamente, qual garantia terei de que cumprirão o combinado?

– A mesma que eu terei quanto ao silêncio de vocês.

– Justo.

– E vá sozinha.

Ele desligou o telefone impedindo-me de responder. Sentei-me exausta na poltrona de Jones, embora estivesse tentando me manter firme e até respondendo-os de maneira provocativa, meu coração pulsava de maneira intensa, como se a qualquer momento fosse sair de meu peito. Eu não sabia se tinha feito tudo certo ou o que deveria pensar sobre o acordo, estava, apenas, agradecendo aos céus que aquela ligação havia chegado ao fim.

Minutos depois meu namorado reapareceu na sala, anunciando a fuga de Neal do hospital. Agora era oficial, eles tinham um plano.

“Vá sozinha”, a frase começou a girar em minha cabeça repetidas vezes. Jones e Thomas estavam conversando sobre isso, mas eu sequer prestava atenção. Meus sentimentos estavam extremamente confusos e enlouquecidos. Eram como um cidade em caos, um trânsito infernal em que todos os motoristas eram Dylan Humbert e inúmeros cartazes luminosos dizendo para que eu fosse sozinha às docas no dia seguinte. Um forte aperto no peito havia aparecido, a voz de Dylan insistindo em ecoar em minha cabeça e o medo me dominando por completo.

– Não foi uma fuga. É claro que eles liberaram Neal do hospital! Eles vão trapacear, não haverá acordo. - desabafei rapidamente, quase como um grito.

– Que acordo? - Jones perguntou confuso e então contei-lhe do que fora dito no telefonema após a sua partida.

– Sozinha nas docas? De noite? - perguntou numa mistura de raiva e desespero - Nem por cima do meu cadáver, Emma!

– Ela não seria burra em fazer isso. - Thomas comentou.

– Por que não? - questionei.

– Porque ficou claro que não haverá acordo nenhum. Você mesma disse isso. Eles vão trapacear. Se algo acontecer com você eu não sei o que faço! - Killian disse vindo em minha direção e abraçando-me de maneira protetora.

– Eles querem terminar o serviço deles. Repetir a história de Graham com Emma.

– Você acha que eles me matariam? - perguntei com medo da resposta, embora ela fosse previsível.

– Infelizmente sim. Apagando-a seria uma ameaça a mais para todos, incluindo Killian. Graham seria a ligação da quadrilha com a polícia, desde que ele foi assassinado não existe nenhum "apoio" da lei.

– E me ameaçando, após matar Emma e continuar com minha irmã, ele teria isso. Através de mim. - ele completou.

– Exatamente.

– O que vamos fazer?

– Precisamos de calma. Thomas, eu agradeço pelos seus serviços e pela contribuição, isso será colocado em pauta e farei o possível para que seja considerado em julgamento. Sugiro que vá procurar algum lugar para descansar, amanhã pela manhã nos reencontramos e eu terei um plano em mãos. Não faremos nada de maneira impulsiva... Não dessa vez.

– Confio em sua palavra, xerife Jones. - o homem disse de maneira sincera enquanto oferecia a mão para o cumprimento de meu namorado.

Assim que Grabeel fora embora, tomamos rumo de casa em silêncio. Nem mesmo o som do carro havia sido ligado daquela vez. Entramos na casa vazia e senti algo percorrer todo meu corpo quando vi Killian ir para a sala e deixando-me para trás no corredor. Uma sensação bem parecida com medo... talvez pânico. Eu não queria ficar sozinha um segundo sequer.

Ele jogou-se no sofá, cansado, e fechou os olhos numa expressão nada agradável. Percebendo minha aproximação, ajeitou-se no sofá, e apoiou o rosto nas mãos.

– Acho que agora vem aquela nossa conversa, não é? - perguntei da maneira mais sutil que me era possível, afinal, estava curiosa. Furiosa pela espera e pela falta de respostas, mas “curiosa” soava-me menos ofensivo.

– Sim. - respondeu simplesmente, retirando as mãos e encarando-me.

– O que aconteceu hoje?

– Senta aqui comigo. Por favor. - ele pediu, estendendo-me a mão que logo aceitei e me posicionei ao seu lado. - Eu preciso ser honesto com você, Emma. Hoje mais cedo estava com David e Mary Margareth.

– Mas você não havia dado folga pra ele para que pudesse ficar com a esposa e o filho? Ou o convencido de fazer isso... Tanto faz.

– Sim. Acontece que eu não sei fazer isso. Sempre quis liderar, ser xerife como ele, tomar atitudes como ele. Mas eu não posso. - Killian começou a desabafar e as primeiras lágrimas se formavam em seu rosto, impedidas por ele de caírem.

– Você não pode porque não é ele. Você é diferente. É outra pessoa.

– Esse é o problema, amor. Eu duvidava de que esse "diferente" era algo bom. E, sendo sincero, ainda não estou certo do contrário. Eu não queria demonstrar fraqueza para você ou Thomas. Aliás, ele era outro que me preocupava... Eu estava enlouquecendo, duvidando de tudo e sendo cético até mesmo quanto ao que era capaz. Mesmo que tenha estudado e observado David por anos.

Era visível a insegurança de Killian, ele sequer conseguia manter um único assunto por muito tempo, sempre mudava o ponto de preocupação e falava sem parar. Eu nem sabia o que falar ou por onde começar a argumentar.

– Por que não me falou isso antes?

– Porque tudo o que eu sabia fazer era depositar todas as minhas frustrações nesse caso, em Thomas e, pior, em você. Perdão por tê-la tratado de forma errada no telefone.

– Não precisa me pedir desculpas. Eu entendo, de verdade.

– Desde o momento em que David se afastou, você e Thomas estavam sob os meus cuidados e atitudes. Qualquer decisão tomada errada, seria minha responsabilidade. Eu não me perdoaria se algo tivesse acontecido... E eu nem fiz nada! Isso é o mais assustador. Minhas ações serão feitas amanhã, não tivemos nada para fazer hoje.

– E ainda tem medo?

– Sim. - ele suspirou profundamente antes de prosseguir - Eu sei que amanhã tanto você quanto ele esperam de mim um plano. Vocês esperam que eu seja o guia e o condutor de tudo o que acontecerá, e não estão errados em fazer isso, eu sou a polícia nesse caso. Sei que o peso de tudo está sobre os meus ombros, mas estou mais tranquilo. Menos assustado... Pode ser um erro expor toda a minha insegurança para você horas antes de enfrentarmos uma quadrilha internacional perigosa, mas eu não poderia enganá-la. Não mais.

– Não é um erro, meu amor.

Disse honestamente e com a voz delicada. E eu realmente queria ter dito aquilo, era a verdade absoluta. Imagino como deve ter sido para ele esconder tudo aquilo, mesmo que por poucas horas. Killian era apenas o substituto, está sendo solicitado logo em um caso em que envolve sua família, seus amigos e namorada. Não esperaria que ele tirasse isso de letra, sem qualquer momento de dúvida ou receio. Apenas o fato de que ele me chamou para conversar mostra o quão focado ele deseja estar.

Não poderia decidir por ele, não poderia ensiná-lo a lidar com o conflito da vida profissional e da vida pessoal, mas o que me fora possível eu faria. Iria distraí-lo o quanto pudesse. Iríamos relaxar essa noite. Eu estava preocupada com minha família, e isso incluía Belle, claro, mas confiava cegamente em Killian. Nós conseguiríamos. E eu queria transmiti-lo essa minha certeza.

– Fico contente que tenha me dito todos os seus medos. Obrigada por compartilhar isso comigo mas, se me permite, gostaria de dizer algo.

– Como sempre querendo ser sincera comigo, não é? - ele brincou e afagou minhas mãos delicadamente. - Claro que sim. Diga, amor.

– Eu confio em você. Estranharia se você não se sentisse diferente ou pressionado de alguma forma, mas achei nobre da sua parte. Não por falar comigo, isso foi gentileza e confiança. Mas por falar com David, quebrar o orgulho que estava sentindo e procurá-lo como seu mestre. Foi nobre.

– Por que você sempre faz isso?

– Isso o que? - perguntei confusa.

– Sempre enaltece tudo o que eu faço, busca um lado completamente grandioso por quase nada. - ele questionava, mas não era uma reclamação, seus lábios em um grande sorriso denunciavam sua admiração.

– É assim que eu vejo o mundo, amor. E, querendo ou não, você está no meu.

– Obrigado.

Ele beijou-me apaixonadamente, depois de um longo tempo sem fazermos isso, não só pela presença de Belle, mas pelos problemas recorrentes. Suas mãos alcançaram meu pescoço e segurava-me docemente para aprofundarmos o beijo. Nossa línguas dançavam saudosas e, em alguns momentos, exploravam com urgência. Contrariando todos os instintos, Killian parou lentamente o beijo e, segurando-me pela cintura, sorriu.

– Vi Zachary enquanto estava lá.

– Oh, agora eu posso ficar brava com você. Viu meu afilhado antes de mim?! E como ele está? Aliás, como ele é? - perguntei animada, queria tê-lo conhecido melhor, passado mais tempo com ele.

– Ele é lindo, amor. Ainda parece muito com Mary, mas acredito que assim que crescer poderemos ver mais características de Dave. Ele é bem calmo e doce. Você precisava ver quando ele ficou bravo comigo uma hora lá, a carinha toda fechada! - ele contava com um largo sorriso nos lábios.

– Eu quero vê-lo logo! Promete que quando tudo isso acabar nós vamos visitá-lo? Oh, eu tenho que comprar alguns presentinhos!

– Bem que eu avisei para ele que você iria mimá-lo. - brincou fazendo rir - Agora, por que a senhorita não vai tomar um banho para relaxar enquanto eu preparo o jantar?

Considerei por um momento sua proposta, entretanto, achei justo realizar uma contraproposta.

– Que tal nós dois irmos tomar banho e depois preparamos o jantar? Juntos.

– Emma Swan... - disse malicioso.

– Eu disse tomar banho, Jones. Nada além disso. Será possível que você não para de pensar nisso até mesmo nesses momentos? Foi um dia cheio, precisamos relaxar.

– Sim. Dia cheio... - ele repetiu com um sorriso nos lábios.

– Exatamente. - respondi puxando-o em direção às escadas.

– "Tomar banho". Certo. É um novo código? - murmurou.

– Se você não calar a boca eu vou sozinha e ainda te jogo dessa escada. - não faria nenhum dos dois, afinal, estava morrendo de medo de ficar em um cômodo sem a presença de outra pessoa que, no caso, só poderia ser Killian.

– Lembra quando me disse que iria me fazer distrair? - assenti com a cabeça - Isso significava esquecer todos os problemas com a quadrilha. E bom... devo dizer que você já conseguiu.

– Ah, consegui? - perguntei surpresa.

– Sim, me fez lembrar que minha namorada é muito pior que qualquer um deles.

E, após uma sonora risada, Killian tomou-me pela cintura e beijou-me novamente seguindo em direção ao banheiro. Não estava fácil para nenhum de nós, talvez em algum momento começássemos a nos sentir culpados por tentar distrações diante de toda essa confusão, mas seria pior se nos deixássemos ser dominados pela expectativa.

Se a expectativa nos dominasse, não seríamos derrotados pela quadrilha, seríamos derrotados por nossa própria insanidade. Deveríamos ser nossas maiores armaduras, não nossas fraquezas. Iríamos vencer essa guerra por acreditarmos em nós mesmos, ao contrário de Dylan e Gold que confiavam apenas em seus contatos, armas e planos. Nós éramos melhores e iríamos provar isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Vejo vocês no último capítulo da Open Wound?
Espero que sim!
Obrigada a todas que já acompanharam até aqui, eu sou eternamente grata por todas. Obrigada por tudo, de verdade. Não estou pronta para dizer adeus.
Próximo capítulo será o último e, então, teremos o epílogo.