Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 33
É guerra


Notas iniciais do capítulo

Olá meus seguimores! (é, eu adotei mesmo...)
Primeiramente devo dizer que a explicação para esse atraso de dois dias foi devido a uma confusão que arrumei no meu novo trabalho, mas vida que segue estou me adaptando!
E esse é um "capítulo bomba", afinal, CHEGOU A HORA DA VERDADE!
Boa leitura!!!



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Após o quarto toque, Killian atendeu o telefone, deixando-me curiosa - juntamente com Belle, claro. A cada murmúrio e palavras soltas como, por exemplo, "perfeito" ou "compreendo", nós ficamos ainda mais ansiosas. Ele, por sua vez, não dava-nos sequer uma pista do conteúdo, mesmo que já suspeitávamos da entrega de Neal. Dando um largo sorriso, Jones finalizou a ligação e encarou-nos com tranquilidade, como se não tivesse acontecido.

– E então? - French foi direta.

– Eu acho que está na hora de irmos para cama.

– Killian Jones! - disse entre dentes - Você fala agora ou...

– Ou o que, Swan? - arqueou a sobrancelha de forma provocativa. Maldito!

– Ou eu faço greve de sexo! - afirmei rapidamente fazendo-o me encarar assustado e Belle curvar o corpo para trás em uma sonora gargalhada.

– Ouch, irmãozinho, a coisa está feia para o seu lado. - tentou dizer enquanto escondia o riso - Eu avisei que seria bom ela vir morar aqui...

– Isso é injusto! - protestou - Duas. Duas mulheres contra mim, que chance eu tenho?

– Ok, vítima, pode começar a falar! - ordenei.

– Tá. - bufou contrariado - Neal não aguento e vai confessar tudo. Aliás, devo lembrar que vocês me devem 20 dólares?

– Então vamos! - disse levantando-me.

– Emma, olha bem para mim. Sério, olha para a minha cara. Você acha mesmo que, depois de tudo o que aconteceu, eu vou deixar de deitar na minha cama e dormir uma noite completa para ver a cara daquele Cassidy de novo?

– Agora que a verdade está nas nossas mãos você quer descansar? E Graham?

– Amor, nós não podemos fazer nada. Não sabemos o que aconteceu ou o que vamos ouvir, temos que estar preparados. E, sinceramente, nenhum de nós está. Além disso, David acabou de levar Zachary e Mary para casa, nós precisamos dele lá, ele é o xerife.

– Ele tem razão, Emma. - Belle disse sutilmente.

– Ótimo, traidora. - resmunguei, revirando os olhos e cruzando os braços.

– Eu ganhei dessa vez, Swan. - começou enquanto se levantava - E nós vamos dormir.

– Boa noite, vou terminar esse episódio aqui. - minha cunhada disse com a boca cheia de pipoca fria.

– Nós três vamos. - Jones disse de forma autoritária e ofereceu a mão para ajudá-la a ficar de pé.

– Eu já comecei a me arrepender da ideia de dormir com vocês.

– Não acostuma não, French. Seu tempo de dormir com seu irmão já acabou faz tempo. - brinquei.

– Estou tão animada que mal consigo me expressar. - comentou sarcástica e aceitando a mão de Killian.

Levantei-me assim que os primeiros raios de sol atravessaram as finas cortinas brancas do quarto. Não me preocupei em ser cautelosa para não acordá-los, afinal, isso pouparia-me tempo e trabalho de fazê-los mais tarde. Desvencilhei-me dos braços de Killian e passei por cima de Belle para chegar até a janela. Eu poderia ter, simplesmente, dado a volta pela cama, já no chão, mas como havia dito: vamos economizar nossas energias, certo? Pude ouvir alguns murmúrios assim que a claridade entrou pelo cômodo e logo dois pares de olhos encaravam-me, provavelmente me amaldiçoando.

– Só uma pergunta: por qual motivo? - ele perguntou aborrecido.

– Temos compromisso!

– Ela é sempre assim? - Belle perguntou esfregando os olhos.

– Só quando quer alguma coisa. - respondeu, passando as mãos nos cabelos e respirando fundo antes de continuar - Ok, eu vou tomar banho antes de descer.

– Vou copiar sua ideia, irmãozinho. Ninguém merece ser acordada de madrugada! - resmungou.

– Ah, parem de show os dois! São seis horas da manhã, temos muita coisa para fazer hoje e não, não vou parar até que eu as resolva. Fui clara? - ambos assentiram com a cabeça - Ótimo. Vão para o banho que eu faço o café.

O humor dos dois melhorou enquanto estávamos na cozinha, embora ainda estivessem um pouco sonolentos. Talvez eu tenha exagerado no horário, mas que culpa tenho? Espero por esse momento há anos, não posso simplesmente deitar e dormir fingindo que nada está acontecendo. Eu tenho respostas! Quando vim para Storybrooke eu não esperava, ou sequer sonhava, em fazer amigos ou encontrar alguém como Killian, meu único objetivo era solucionar todo o mistério que envolvia Graham. Não faltaram pessoas que me diziam para esquecer, que isso passaria e que eu jamais teria êxito, assim como tiveram aqueles que não titubeavam em apontar-me o dedo e decretar uma "situação doentia". Não discordo de nenhum deles, mas também não estou certa de que a "aceitação" seria uma alternativa para mim. Sim, deixei de viver e aproveitar muitos momentos, mas não me arrependo das escolhas que fiz, não agora. Mais do que nunca eu estava diante de todas as minhas respostas e eu não iria recuar.

Confesso que sinto-me extremamente traída por Neal no momento. Todo esse tempo em que eu colecionava peças de um enorme quebra-cabeças, ele estava ao meu lado com o mesmo pronto. Cassidy via meu sofrimento e, mais do que esconder o pequeno período de vida de Graham, ele me escondeu tudo o mais que veio adiante. Eu estava passando por momentos de confirmação, tanto das minhas escolhas quanto das pessoas que me cercavam. Não consigo imaginar como uma pessoa poderia, simplesmente, deitar a cabeça em seu travesseiro e ter boas noites de sono sabendo que fazia parte daquilo que retirava o descanso de outra. É como um choque de realidade perceber o quão ruins as pessoas podem ser e que, além disso, podem ser capazes de fazê-lo de cara limpa, transvestindo-se de anjos e enganando os mais inocentes. Talvez fosse um teste... E eu falhei. Não mais, eu capturei o falso anjo e vou arrancar-lhe tudo o que é de meu direito.

– Neal Cassidy, por favor. - disse rapidamente assim que cheguei à recepção do hospital.

– Oh, sim. Emma Swan e Killian Jones, certo?

– Correto, podemos ficar no corredor? - meu namorado respondeu.

– Claro, já sabem onde é?

– Sabemos sim. O xerife Nolan chegará em alguns minutos, pode levá-lo até lá o mais rápido possível?

A moça respondeu afirmativamente com a cabeça.

– Swan, não sabia que estava tão animada para ver seu ex. - Killian comentou no corredor.

– Agora. Não.

– Emma, eu estou tentando te descontrair um pouco. Belle seria boa nisso, mas ela fugiu de nós enquanto deu tempo... Você pensa que eu sou bobo? Você dormiu mau, se debateu a noite inteira com sonhos ruins e acordou cedo demais. Se isso fosse um jogo de apostas, a resposta mais segura a se acreditar seria que você passou a noite inteira pensando no que aconteceria hoje.

– Você tem razão. Mas o que tem de errado nisso?

– A expectativa. - disse pegando em minhas duas mãos e se posicionando em minha frente.

– Como assim?

– Eu sei que você esperou muito por esse momento, mas eu avisei que seria difícil. Por isso falei para descansarmos. Amor, não sabemos o que Neal irá nos contar.

– Mas ele vai falar alguma coisa. - insisti.

– Escuta, meu amor... - começou paciente e com o mesmo tom sereno que costuma me acolher - Existe a possibilidade de que ele não nos diga nada, ele pode estar apenas nos testando. Contudo, ele também pode entregar o esquema do grupo. Nos dois casos temos problemas quanto a sua expectativa. Se ele não contar, já pensou o quanto você ficará desapontada? Já imaginou ter perdido sua noite de descanso, depois do que aconteceu na Jolly Roger, por mais um joguinho do Neal?

– É... Típico dele mesmo. - disse desanimada.

– Mas ele também pode nos contar. O que eles fazem é um mistério para todos nós, rodamos em círculos com todas as poucas provas que conseguimos. Como policiais, eu e David falhamos nas investigações. Se Cassidy não fosse perturbado ao ponto de segui-la até a Jolly, talvez não conseguíssemos nada disso. E me preocupa o fato de que uma peça tão substituível quanto ele foi capaz de ameaçá-la dessa forma o que, consequentemente, me faz refletir sobre toda essa quadrilha. Emma, você é uma mulher forte... Talvez a mais forte que eu tenha conhecido em minha vida, mas não é inquebrável. Lembre-se que existe uma causa que você apoia nessa história, existe algo que você ama e acredita em risco nesse processo. Sei que é difícil controlar toda ansiedade, mas tome cuidado. Por favor.

– Por que tudo tem que ser tão difícil? - iniciei tentando impedir que as lágrimas formadas escorressem por meu rosto - Eu queria contestar e tentar argumentar, dizer que você está errado em algum ponto, sabe? Mas não está. Eu só quero que tudo isso acabe logo.

– Ei, eu não vou sair do seu lado. Vou ficar com você o tempo inteiro.

Killian segurava meu queixo e sorria docemente e, naquele instante, mais uma afirmação: existem falsos anjos, mas também existem os verdadeiros. Eles podem vir de qualquer lugar, em qualquer forma e exercer qualquer papel e eu nunca fui tão grata por ter encontrado uma pessoa. Abracei-o o mais forte que conseguia, queria ter certeza de que ele era real e que estava ali por e para mim. Sentindo que eu, de fato, necessitava de sua presença, Jones apertou-me ainda mais e começou a afagar meus cabelos, depositando alguns beijos em minha cabeça.

– Detestaria interromper o casal, mas temos que trabalhar. - David chegou bem humorado, embora aparentemente exausto.

– Dave!

Sai do abraço de meu namorado e corri para abraçá-lo. Não sei ao certo o motivo de tal atitude, mas parecia-me mais como uma ordem de meu coração. Eu queria e precisava do apoio de Nolan também.

– Ei, o que te deu hoje? - perguntou rindo mas sem deixar de me abraçar.

– Nada, eu só precisava disso. - respondi sorrindo e, enfim, saindo de seus braços para que Killian o cumprimentasse.

– E o nosso príncipe?

– Está ótimo! Não deixou que eu e Mary Margareth tivéssemos uma boa noite de sono, claro, mas está tudo bem com ele. - falava com brilho nos olhos.

– Desculpa te fazer vir aqui hoje. - comentei sem jeito, afinal, Zachary acabara de nascer, ele deveria e gostaria de passar mais tempo com o filho e com a esposa...

– Emma, nós precisamos fazer isso. E você, Killy, já conversou com ela?

– Estávamos falando sobre isso agora.

– Está tudo bem? - questionou preocupado. Era óbvio que falavam de mim, mas será que eles não poderiam ao menos notar a minha presença ali? De novo isso?

– Olha, eu só gostaria de falar que eu ainda estou aqui. Posso responder por mim mesma, tá? - comentei fazendo-os desviar a atenção para mim.

– E ela vai mesmo entrar? - David se voltou novamente para Killian, me ignorando.

– Vou, eu vou entrar. E se vocês continuarem nessa conversinha inútil ai, eu faço isso sozinha!

Nada como uma bela ameaça para estimular esses dois... Sempre funcionava!

Entramos para o quarto de Neal e ele estava deitado, alheio a tudo e todos, inclusive à televisão. Toda a concentração do homem estava em um pequeno objeto em sua mão, o qual não conseguimos ver da distância em que estávamos até ele o levantar e comentar.

– É linda não é? Você se lembra, Emma?

– Por que diabos você ainda tem a aliança que a gente usou? - perguntei incrédula. Por qual motivo ele guardaria aquilo? Que espécie de perseguidor obsessivo ele havia se tornado? Isso era horrível.

– Nem pra escolher uma aliança ele presta. A minha é muito melhor. - Killian resmungou e, felizmente, apenas eu e Nolan escutamos. Revirei os olhos e voltei minha atenção a Cassidy.

– Suponho que queiram que eu fale logo, certo? - disse com um sorriso travesso nos lábios.

– Não, viemos só tomar um chá e comer alguns biscoitos. - Jones retrucou sarcástico.

– Talvez terminar fazendo tranças e maquiagem. É claro que queremos que você fale! - David completou ríspido.

– Eu vou falar, mas só para Emma.

– Oi? - perguntei assustada.

– Você escutou o que eu disse, Em.

– Tipo, sozinha?

Neal afirmou com a cabeça e, então, olhei para os meninos apavorada. Não, eu não podia fazer aquilo sozinha, Killian disse que estaria comigo! Eu não posso ficar sozinha.

– Não.

– Então eu não falo nada. A escolha é sua.

– Emma, o que está acontecendo? Você queria tanto isso, por que está recuando agora? - David perguntou delicadamente enquanto íamos para um canto um pouco afastada do quarto, evitando que Neal nos ouvisse.

– Não é recuando é que... - dei um longo suspiro e continuei - Ok, eu estou recuando. Eu tenho medo do que vou ouvir. Neal disse que Graham fez parte disso por meses, e se eu descobrir um Graham que eu, na verdade, não quero descobrir?

– Ele está brincando com você. E se você recuar agora? Ficar sem respostas vai doer menos?

– Não sei... E eu nem posso interrogar ele.

– Realmente não pode, mas isso não é um interrogatório. É uma confissão e o suspeito só quer fazê-la para você. É nosso único recurso, precisamos usá-lo. - David disse de forma calma.

– Mas só se você quiser, amor. - Killian completou delicadamente.

Respirei fundo e fechei os olhos na tentativa de buscar alguma resposta. Automaticamente levei as mãos ao colar que usava e, sendo bem sincera, não havia notado que estava com ele. Tratava-se de uma joia dourada com um pingente em formato de pena que Graham havia me dado anos atrás. Era meu aniversário e ele, sem nenhuma novidade, não estava ao meu lado. Um mês depois, quando retornou, me levou ao boliche e então me presenteou com o lindo acessório.

– O que é isso, Graham?

– Achei que sabia o que era um colar, Emma. - respondeu rindo.

– Eu sei o que é, eu só não esperava ganhar um presente um mês depois do meu aniversário.

– Em minha defesa, eu estava viajando.

– Você sempre está. - revirei os olhos.

– Por que uma pena?

– A mulher da loja minha disse que é algo como libertação e espiritualidade. É como um espírito livre que age num impulso e desejo de fazer coisas incríveis e épicas. Não sei explicar direito, não nas palavras bonitas dela. - ele riu - Mas eu gravei uma parte!

– Qual? - disse curiosa.

– Sei que você gosta muito de mitologia egípcia e, bom, para eles a pena tem relação com aquela balança sabe? O equilíbrio. A pena significava justiça. É leve, sutil, mas se colocada em um dos pratos da balança...

– Pode desequilibrar tudo. - completei sorrindo

– Obrigada por esse presente, é maravilhoso.

Segurei ainda mais forte o pingente, apertando-o, e abri os olhos. Eu tinha feito a minha decisão.

– Eu vou. - disse firme.

– Tem certeza? - David perguntou, certificando-se e eu respondi positivamente com um aceno de cabeça.

Os meninos preferiram não falar nada e, após lançarem um olhar mortal direcionada a Neal, saíram da sala. Entretanto, na porta, Killian entregou-me um gravador e disse que já estava ligado, eles usariam como prova da confissão. Ou algo assim. Jones deu-me um breve beijo de boa sorte e fechou a porta.

Virei-me para Cassidy que já me encarava com um sorriso torto nos lábios. Não comentei sobre, optei em respirar fundo e restabelecer minhas forças para encarar aquilo que ele estava disposto a me contar. Coloquei o aparelho gravador em cima da cadeira e parei ao lado da maca.

– Começa.

– Você sabe que falar dessa forma só vai dificultar as coisas não é?

– Sinceramente? Não. Chega de curvas e obstáculos, Neal, fala logo.

– Emma, eu não quero que você me veja como um monstro. Eu não sou assim.

– Correção: você não era assim. Por algum motivo você se envolveu com esse tipo de gente, mentiu para mim e sequer se importou com os meus sentimentos.

– É claro que eu me importei com o que você estava sentindo!

– Sério? Escondendo que Graham estava vivo? Vendendo-se à máfia de Gold e Dylan por dinheiro para pagar faculdade por ser preguiçoso o suficiente pra deixar de estudar e conseguir bolsa? Me humilhando com suas "amigas" de faculdade dias após o rompimento? É evidente mesmo toda sua preocupação.

– Eu fui um idiota. Ok, eu entendi. Mas não diga que eu não me preocupei porque não é verdade, pensei em você por vários e vários dias.

– Neal, isso não importa mais... Você não percebe? Eu estou feliz agora. Estou onde deveria estar, Storybrooke é o meu lar agora. E eu suspeito que sempre pertenci a esse lugar, apenas demorei para encontrá-lo. O que realmente me importa agora são as palavras e confissões que sairão de sua boca. Se você se importa tanto comigo, fala logo!

– Me promete que não vai me odiar?

– Não. Agora continua. - disse impaciente.

– Mesmo gênio forte... - comentou rindo brevemente, mas logo respirou fundo e apoderou-se de um semblante mais sério - Então... as pistas de vocês não eram tão boas assim, elas apenas apontavam algumas coisas, mas teriam trabalho para conseguir outras informações. As fotos do caminhão que eu trouxe, por exemplo, era a melhor aposta de vocês. Sim, a madeira que Gold utiliza para os móveis do antiquário são ilegais.

– Sabia! - soquei o ar animada, mas logo me dei conta de que não havia terminado - Não é só isso, não é?

– As dicas do Graham bom... são pontos de troca e pagamentos, mas também, ironicamente, denunciam o grupo. Quer dizer, Indiana, Delaware e Kansas eram os postos de entrega e devolução de mercadoria, o restante fazíamos em outros lugares.

– Que restante?

– O pagamento de nós, "funcionários", por exemplo, era sempre na Carolina do Norte.

– O dia do aeroporto... - comentei.

– Sim.

– Por que Carolina do Norte?

– Não sei. Gold tem uma casinha beira-mar antiga em Wrightsville e sempre nos encontrávamos lá para receber.

– E o resto? - insisti.

– Emma, eu não sei se quero falar isso.

– Como é que é? - esbravejei - Você faz a enfermeira ligar no meio da noite pedindo para que viéssemos até aqui para ouvir sua confissão e, de repente, você "não sabe" se vai? Qual o seu problema?

– Eu disse, não quero que você me veja como um monstro.

– MAS VOCÊ JÁ É UM! Independe se eu souber ou não o que você faz, você continua com esse histórico na sua vida. Me esconder a verdade não tira de você a responsabilidade pelos seus atos.

– Também não sei se você vai aguentar.

– E agora está me chamando de fraca?

– Pelo que vi vocês estavam um pouco adiantados nisso, já que seu namoradinho provavelmente ouviu meu último encontro com Gold em Wrightsville. Você sabe que isso envolve uma causa que você e Graham apoiavam. Você vai querer me matar.

– Não, eu espero que o governo faça isso. E, sinceramente, não acredito nisso. Afinal, por que Graham se envolveria em algo que é contra?

– Lembra quando você foi procurar estágio voluntário na sede da Unicef?

– Unicef? - disse com certa dificuldade, o que diabos isso teria relação?

– Viu? Já ficou pálida.

– Fala. - insisti sem êxito em ser firme, afinal, agora sim eu estava com medo do que iria ouvir.

– Dylan achou que você seria um problema e mandou Graham tentar te convencer a não fazer isso.

– E ele conseguiu... - falei atônita.

– Sim. Você passou a ser uma preocupação e, como não estava entendendo nada, Graham questionou o pai por tempos o motivo de ter feito aquilo. Embora tenha demorado muito, Dylan finalmente contou a verdade e o puxou para o ramo. Ou era isso ou ele se juntava a você e os dois morriam.

– Impossível. Naquele mesmo ano Dylan me convidou para viajar com eles. Eu só não fui porque minha mãe não permitiu, você sabe disso.

– Sim, eu sei. Sei também que iriam vir para Storybrooke.

– Se eu era uma ameaça por que ele iria me trazer para cá?

– Precaução. Homicídios podem levar à penalidade máxima se forem descobertos, não há pena de morte no Maine.

– Por isso ele matou Graham aqui. Meu Deus, estava tudo planejado? - questionei incrédula e com os olhos já marejados.

– Graham só tentou te proteger, mas isso não significa que ele teve estômago para ficar conosco. Ele conseguiu um acordo com o pai: aprendia as regras e infiltrava-se na polícia de Storybrooke para facilitar as ações e, em troca, receberia a "liberdade".

– Então ele enganava Killian e David?

– Infelizmente não. Humbert gostava do que tinha começado a fazer, estava feliz com a vida policial que tinha iniciado e, por esse motivo, estava bolando uma forma de derrubar o pai.

– Mas Dylan descobriu.

– Correto.

– Volta pra Unicef. - disse com a voz falha.

– Eles queriam reduzir extremamente os custos com mão de obra e transporte da mercadoria, mas o gasto com o deslocamento era inevitável e, então, resolveram apostar tudo na questão trabalhista. A madeira que Gold utiliza vem de algumas reservas ambientais aqui dos Estados Unidos mas vem, especialmente, de florestas brasileiras.

– Espera, por "florestas brasileiras" você não quer dizer Amazônia e Mata Atlântica não, né?

– Não, claro que não, Emma. Estou falando do Saara.

– PARA DE BRINCAR, CASSIDY! - urrei e, rapidamente, levei minhas duas mãos à perna dele fazendo-o contrair de dor, mas não soltei - Para de bancar o malandro numa hora dessas como vocês tem coragem? O pior é saber que você sequer completou a história, fica rodeando e me enchendo de meias afirmações. FALA AGORA, É A SUA ÚLTIMA CHANCE.

Assim que parei de apertá-lo, notei que o lençol que estava o cobrindo começou a manchar-se um pouco devido ao sangue do ferimento. Ele parou um tempo para recuperar-se da dor que sentia e, enfim, encarou-me repleto de raiva.

– Gold e Dylan recrutam crianças órfãs e de periferias para fazerem todo o serviço. - soltou rapidamente.

Tombei um pouco para trás, sentindo minhas pernas bambearem por um momento e as lágrimas se intensificarem sem quaisquer condições de ficarem retidas. Como se já não bastassem usar madeira ilegal, contribuindo para o desmatamento e destruição de florestas, eles ainda usam mão de obra infantil? Eu não conseguia processar tudo aquilo, não sabia sequer se queria continuar a ouvi-lo e saber de mais detalhes. Aliás, eu desconhecia minha força para isso. Quanto mais pensava, mais a dor no peito se agravava causando-me enjoos sucessivos e tontura. Apeguei-me ao colar de Graham e tentei controlar o choro que, a essa altura, já deveria ser alto e preenchido por soluços.

– Como? - perguntei simplesmente e torci para que ele tivesse entendido o quase miado que saíra de minha boca.

– Eu prefiro contar essa parte para o xerife. Emma, por favor, eu não quero te ver chorar mais.

Parecia existir algum tipo de verdade em seu olhar. Mas somente parecia, que espécie de pessoa se importaria com o choro da outra após tirar pessoas de suas famílias nas periferias? O que eles diziam? Que elas teriam um futuro melhor ou somente arrancavam-nas de suas família? Como uma pessoa pode se preocupar tanto com lágrimas de uma mulher formada enquanto em algum acampamento inúmeras crianças choravam todas as noites com saudade dos pais? Sem contar aquelas que sequer tinham para quem retornar. Aquelas que já não possuíam um futuro certo, que viviam dependentes da sorte, o que elas tinham depois disso? Uma pessoa que retira futuros e sonhos, promove tamanho abuso com inocentes crianças e apoia esse tipo de prática, que humanidade existiria dentro dela? Não, Neal Cassidy, definitivamente não expressava verdade alguma em seu olhar.

Abri a porta rapidamente e logo a soltei, fazendo-a bater. De relance vi Killian e David vindo em minha direção, entretanto, apenas levantei meus braços e implorei para ficar sozinha. Eu já não enxergava tão bem devido ao embaçamento causado pelas lágrimas, por isso não pude perceber qual fora a reação de nenhum dos dois. Entretanto, ambos não fizeram menção alguma em me pressionar, apenas deram um passo para trás e deixaram o caminho livre para que eu passasse.

Eu precisava ficar sozinha, gritar talvez. Mas, especialmente, eu precisava digerir toda a situação e pensar, o quanto antes, em algo para ajudar essas crianças. Eu nunca havia conseguido ser, efetivamente, uma voluntária da causa, algo sempre estava no caminho. Contudo, isso não significa que eu não estivesse envolvida. Até antes da morte de Graham, meu foco era voltado para área infantil e não jurídica da Psicologia, mas mudar o curso só me deu ainda mais possibilidade para intervir por elas dentro de uma profissão. E eu vou fazer isso, nem que seja a última coisa que eu faça. Eu pagarei o preço.

Killian P.O.V

Emma saiu transtornada do quarto após a conversa com Neal. Embora eu e David tivéssemos ouvido alguns gritos, pensamos que era apenas pela falta de paciência que ela estava em saber da verdade. E, além disso, sabíamos que ele era malandro o suficiente para brincar com a cara dela - o que me preocupava profundamente. A ideia de deixar Swan sozinha com aquele homem não me agradava nem um pouco, mas que escolha eu tinha? Torcia, apenas, que ele não jogasse com ela e brincasse com seus sentimentos como fez anos atrás. Emma era forte, mas guardava rancor de várias situações, um tiro certeiro de Neal poderia desencadear diversos sentimentos dentro dela e tudo o que eu menos desejava era vê-la sofrer novamente.

Os cabelos bagunçados e levemente levantados na raiz apontavam o quanto ela havia ficado nervosa ao ponto de descontar nas mechas loiras e, mais expressivo que isso, o rosto inchado e coberto por lágrimas. Swan sequer conseguia controlar os soluços, o que dificultava um pouco sua respiração. Ela sequer permitiu que eu e David nos aproximássemos, apenas levantou as mãos e pediu para que ficasse sozinha. Se, antes, eu estava com medo do que Cassidy havia feito a ela, agora era o momento do pânico.

– O que ele fez com ela? - ele perguntou incrédulo. De certa forma, meu amigo jamais havia a visto chorar e a forma com que ela saiu do quarto não era uma primeira vez "normal" para se presenciar.

– Eu vou matar ele.

Disse entre dentes e entrando rapidamente. Eu ia matá-lo, era minha única certeza. Ele não parecia tão bem quanto eu imaginei encontrá-lo, pude jurar que vi seus olhos marejados por um momentos, mas quem liga?

– O que você fez com ela? - perguntei.

– Eu preciso contar o restante para vocês.

– O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? - gritei indo para cima dele, mas sendo impedido por David que me abraçava e puxava-me para trás.

– Calma, Killian! Deixa ele falar.

Teria preferido a morte.

Corte ilegal de árvores com envolvimento internacional, violência e mão de obra infantil, corrupção e formação de quadrilha. Existe pena para outras vidas? Aliás, se isso existe, há possibilidade de que pessoas assim simplesmente não tenham outras? Afinal, essa já lhes fora um grande prêmio - embora um erro grotesco. Eu, sinceramente, não sabia por onde começar a justificar a raiva e ódio que sentia. Minhas emoções oscilavam sempre que os pensamentos iam das crianças para Gold casando-se com Belle, para Emma envolvendo-se com Neal, para Graham, para a conversa dura que Swan teve que encarar sozinha e até para os danos ambientas que aqueles monstros causavam. David não estava diferente a mim, entretanto, tenho certeza que seus recentes instintos paternos queriam dizimar Cassidy e sua tropa com apenas o olhar.

– Vá procurar Emma, Killian. Esse aqui eu finalizo.

Não contestei, precisava sair dali e ele era o único que poderia resolver o restante da burocracia.

Assim que coloquei meus pés para fora do hospital, veio-me à cabeça uma sensação horrível de vingança e ela iria começar ali. Retornei para a recepção e Evelyn, a enfermeira, recebeu-me rapidamente.

– Algum problema, senhor Jones?

– Quarto 2004, paciente Neal Cassidy, aumente o volume da televisão. Canal de esportes pela manhã e tarde, à noite ele precisa de um canal infantil.

– Mas o senhor pediu para cancelar a...

– Eu mudei de ideia.

Canal infantil, está ai algo que ele precisava. Eu não gostava nem de pensar nas consequências da crueldade que eles estavam fazendo. Uma criança, oriunda de periferia ou orfanato, já possui dentro de si toda uma questão de desamparo e falta de perspectiva e existem, claro, as exceções, mas esse não era o foco da quadrilha. Ouvir Neal dizer que Gold e Dylan iam até as casas e prometiam aos pais que, levando os filhos, eles teriam um futuro melhor só me faz ter mais descrença quanto ao mundo. Ao mesmo tempo, não deixo de pensar no quão abalado David ficou sendo que até eu mesmo imaginei Zachary em uma situação parecida!

E tinha Emma.

Swan demonstrou fisicamente o quão transtornada estava com o ocorrido e claramente bloqueou qualquer tentativa de intervenção naquele momento. Minha preocupação ia muito além de como ela estava lidando com a notícia (incluindo o tempo sozinha com Neal): eu simplesmente não sabia para onde ela tinha ido. Não a encontrei em casa, nem na Jolly ou na casa de Mary, Ruby e Regina. Da forma como ela havia saído do hospital, eu pensei em todas as besteiras possíveis e não conseguia manter uma hipóteses positiva sequer na cabeça. Aliás, estava extremamente difícil pensar em qualquer coisa naquela situação.

Resolvi, então, ir à delegacia como último recurso. Não queria encontrar notícias de Emma lá, afinal, qual notícia seria boa se fosse encaminhada para a polícia da cidade não é mesmo? Ninguém nos ligava para contar o quão divertida fora a festa de aniversário, ao menos que algo tenha dado errado. Ao chegar, deparei-me com David escrevendo nervoso em alguns papéis.

– Oi. - disse simplesmente.

– Ah, oi... Emma está no escritório ao lado.

– Está tudo bem? Aconteceu algo a mais com você e Neal?

– Não... Para as duas perguntas. - ele suspirou profundamente - Isso é pior do que esperávamos, Killian.

– Eu sei... E como ela está?

– Ainda chorando, mas não disse nada.

– Certo... eu vou lá tentar conversar um pouco.

Entretanto, antes que eu pudesse ir, o telefone da minha mesa tocou e isso era algo estranho pois aquele aparelho era apenas um ramal: ou a ligação era transferida do escritório ou feita por alguém que já possuía o número. Ambas as pessoas que poderiam ter aquele acesso estavam impossibilitadas de fazê-lo: Emma estava na sala de depoimentos e David em minha frente. Pensando nisso, talvez, Swan saiu rapidamente de onde estava e, assim como meu amigo, parou e encarou-me esperando uma resposta.

– Pronto. - atendi.

– Killian Jones? - a voz masculina perguntou.

– Sim, quem fala?

– Meu nome não é importante, não por agora. Você pegou um de meus brinquedos.

– Oi? - perguntei confuso.

– Não achei que se importaria se eu pegasse um dos seus.

– Como assim?

Ao perguntar, já demonstrando apreensão quanto a resposta, ouvi ao fundo a voz de minha irmã gritando "Killian, por favor, me tira daqui!". E, em seguida, o homem retornou ao aparelho e disse que eu ouviria mais duas pessoas e logo reconheci os pais de Emma. Não poderia ser, Gold e Dylan não seriam tão baixos... Ou seriam? Não poderia explodir ali, caso contrário estragaria toda conversa, e, além disso, Swan já estava sofrendo, não era justo que soubesse do possível sequestro dos pais dessa maneira.

– Neal Cassidy está no quarto 2004. - falei enquanto lutava com as lágrimas que teimavam em se formar.

– Quem disse que estamos falando sobre Neal? É guerra, senhor Jones.

E a ligação foi finalizada.

Apoiei minhas mãos sobre a mesa e abaixei minha cabeça, permitindo que o choro saísse silenciosamente em tentativa de encontrar algum plano de contra ataque. Quantas já não foram as vezes que David e eu resolvemos um caso desse tipo? Poderia fazer de novo. Seria fácil... Se não tivesse o maldito afeto envolvido de novo. Soquei a mesa num impulso para tentar aliviar a raiva, esquecendo-me completamente de que não estava sozinho.

Nenhum dos dois perguntou nada, apenas encaravam e esperavam que eu mesmo estabelecesse o meu tempo.

– Eles pegaram Belle. E os seus pais, amor... Eu sinto muito.

Eu tinha certeza que o choro de minha namorada, antes cessado, iria retornar após vê-la levando as mãos à boca, mas logo ouvimos um barulho vindo do corredor tomando toda nossa atenção. Um homem bem vestido, usando roupa social e com uma maleta em mãos, parou na porta e nos observou por um tempo.

– Eu conheço você. Quer dizer, eu acho. - Nolan comentou enquanto franzia o cenho e apertava os olhos como se estivesse com dificuldades para enxergá-lo.

– Quem é você? - questionei firme, posicionando-me na frente de Emma e David, como um primeiro escudo.

– Fique tranquilo, não sou uma ameaça. Não diretamente... Meu nome é Thomas Grabeel e eu estou disposto a colaborar com as investigações contra Dylan Humbert.

– Thomas, amigo de Graham? De Boston? - Emma questionou e o homem respondeu positivamente com a cabeça.

– Ei, espera! Não foi você quem me avisou que ele corria perigo dias antes o assassinato? - disse David tentando lembrar-se de homem o rosto do homem lhe era familiar.

– Eu mesmo. - respondeu brevemente. - E então, posso ajudar?

– É guerra. - falei sorrindo, reafirmando o que havia escutado na ligação. Eu não precisei pegar o "brinquedo" deles, ele mesmo veio até mim.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Confesso que estou um pouco insegura com essa questão, afinal, posso ter destruído a Open Wound inteira só nessa capítulo mas né... sem pressão! HAHAHAHA Essa era a minha ideia desde o início, mas os comentários generosos de vocês me fez ter um pouco de receio em desapontá-los, espero que isso não tenha acontecido. E espero que compartilhem comigo o que acharam, nem que seja para me dizer que eu realmente desapontei hahaha
Espero vocês no próximo? Beijão



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