Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 30
Mandar e cuidar


Notas iniciais do capítulo

Olá seguimores! Como vão?
Hoje o capítulo é especial, dedido esse para a Be, minha irmã de outra mãe! ♥
Espero que todos gostem, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611582/chapter/30

Sim, havia sobrado mousse. Depois que jantei, eu e Killian levamos a travessa com o mousse para a sala e ficamos comendo enquanto assistíamos televisão. O que menos fizemos fora, de fato, prestar atenção a algum programa ou filme, estávamos sempre conversando ou trocando carícias. Embora ele tentasse, algumas (muitas) vezes, beijar-me com mais ardor e desejo, eu sempre o parava. Não estava em clima e, além de tudo, sentia-me esmagada por mil tratores de tão cansada. A transição de Nova York para Storybrooke seria, mais uma vez, um desafio.

– Killian... Killian, amor. - disse com um pouco de dificuldade por ter nossos lábios colados, após interromper mais uma de suas tentativas.

– O que houve? - perguntou preocupado.

– Eu estou cansada.

– Viu só?! Nem nos casamos ainda e você já está me dando fora! - comentou divertidamente.

– E quem disse que vamos nos casar, rapaz? Não estou sabendo disso. - brinquei também, lhe empurrando para o lado oposto do sofá. Afinal, as carícias passaram um pouco dos limites nessa última tentativa, pois eu estava quase em seu colo.

– Você está rude hoje, Swan. E olha que eu te dei o meu mousse!

– Quem disse que era seu? Eu e Belle tivemos a ideia.

– Ideia para mim. - retrucou convencido.

– Ridículo. - disse cerrando os olhos - Só por isso pode contar mais um dia ai na sua agenda de "foras". - completei me levantando do sofá e indo em direção à escada.

– Ah é? Tudo bem, Swan. Tudo ótimo!

Eu nem tive direito de resposta, apenas senti suas mãos em minhas coxas e uma forte pressão tirando-me do chão. Passado o susto e restabelecida minha noção espacial, comecei a gritar seu nome pedindo que parasse, afinal, Killian Jones estava me carregando de cabeça para baixo como um saco de batatas apoiado em seu ombro.

– Me solta! - eu gritava enquanto batia em suas costas. Aliás, essa era a minha única arma contra ele naquele momento.

– Não mesmo! Nós deveríamos dar uma volta, Swan. O que acha de subir escadas?

– Não, não, não e não! Nem pense nisso.

– Já pensei.

E então ele começou a subir, iniciando as reclamações de meu estômago a cada passo dado. Jones não se contentou apenas em me levar escada à cima, ele estava fazendo todas as brincadeiras possíveis: subia um e descia dois, fingia desequilibro e, por fim, passava pelos degraus com pequenos pulos, fazendo meu mundo invertido chacoalhar de cima para baixo... Ou de baixo para cima.

Ao alcançarmos o segundo andar achei, por um minuto, que ele iria me soltar, mas estava enganada. Killian começou a girar de um lado para o outro. Eu queria ficar com raiva, desejava parecer brava com aquilo, mas já estava ficando complicado esconder todas as risadas.

– Se eu vomitar o mousse no chão inteiro a culpa é sua! - o acusei rindo.

– Sem chance! Você que vai limpar. - brincou - E eu não terminei!

Enquanto ele voltava a brincar de peão comigo, repeti seu nome inúmeras vezes e com mais dificuldade a cada segundo que se passava, afinal, o enjoo estava começando a realmente incomodar.

– Desculpa, eu não quis te acordar! - Killian disse rapidamente, colocando-me no chão. Apenas quando a tontura passou pude perceber Belle no meio do corredor.

– Oh Belle, desculpa. - falei sem jeito.

– Quer saber? Eu estou bem satisfeita de ser isso, me assustei com todos aqueles "Killian. Killian. Jones!". - comentou tentando imitar minha voz.

– Você não pensou que... MEU DEUS, BELLE! - falei assustada levando minhas mãos à boca. Isso fez tanto ele quanto ela caírem na gargalhada.

Eu queria rir com eles, era uma situação engraçada, mas extremamente embaraçosa. Portanto, entrei para o quarto de meu namorado espantada e com minhas bochechas vermelhas, tamanha era a vergonha que estava sentindo naquele momento. Como Belle pode pensar aquilo? E, a ainda mais, como pode pensar que faríamos esse escândalo? Por Deus!

Killian logo abriu a porta do quarto e lançou um olhar cúmplice para Belle no corredor, fazendo-me ouvir um "hey oh" abafado de minha cunhada antes que sua porta se fechasse. Ele, então, lançou um olhar divertido em minha direção com aquelas malditas sobrancelhas provocando-me.

– Sai daqui, Jones! - joguei um travesseiro em sua direção mas, como estava sem força, atingiu seus joelhos com delicadeza e caiu ao chão.

Ele não saiu.

Na manhã seguinte, após prepararmos toda a mesa do café, tive que aguentar os dois engraçadinhos trocando olhares e reprimindo algumas risadas e piadas sempre que eu estava os encarando.

– Escutem aqui, mais uma dessas e eu quebro uma jarra de suco na cabeça de cada um de vocês!

– Uau, Jones. O que você fez com essa garota? - Belle brincou.

– Eu? Nada, ela estava muito cansada. - ele respondeu olhando diretamente para mim.

– Por quê não abre a boca para falar de algo útil, Jones? Como, por exemplo, o seu dia na delegacia ontem com David!

– A coisa está feia para o seu lado, irmãozinho. - ela comentou rindo.

– Bastante. E vai ficar pior se ele não me responder. - sorri em sua direção, de forma mais ameaçadora que amistosa.

– Você não desiste, não é? - questionou retoricamente e finalizando o copo de suco num gole - Então... eu encontrei uma possível saída para o código do Graham, talvez ele estivesse utilizando as iniciais de cada palavra, já que o último estado ele escreveu de modo a ser uma só. E, se fizermos isso, encontramos a palavra "KIDS". Consegue pensar em alguma "causa" que você seja a favor que envolva crianças, amor?

– Várias! - disse espantada - Meu Deus, como eles tem coragem? Não sei, não faço ideia do que seja, mas tenho certeza de que não é nada bom. Como eles tem coragem? - repeti.

– Ei, calma. Não temos certeza de nada. - ele tentou me confortar.

– Será que Bob está envolvido? - Belle finalmente comentou, demonstrando-se abalada.

– Ele é um dos mandantes. É claro que está! - Killian respondeu.

– Eu vou falar com ele.

– Nem pense nisso, Belle French. Você não vai sair dessa casa se o seu destino não for a biblioteca. - Jones disse autoritário.

– E quem é você para falar o que eu posso ou não posso fazer? Meu pai? - ela retrucou se levantando.

– Não, eu não sou seu pai. Sou seu irmão mais velho e eu te proíbo de ir atrás daquele velho assassino. - Jones esbravejava em sua frente.

– Poucos minutos atrás você não tinha certeza de nada e agora ele é um assassino?

– Não sei de nada sobre crianças, mas se ele sabia do assassinato de Graham, ele colaborou com isso!

– Da mesma forma como David recebeu um alerta e não fez nada a respeito. - ela jogou as palavras em Jones.

Ele ficou tão abalado com o que ela disse que deu dois passos para trás e abaixou a cabeça. Belle também sentiu que havia pegado pesado e ultrapassado o foco daquela discussão, mas não estava vencida, isso eu podia ver claramente em seus olhos. Além disso, ela não pediria desculpas ao menos que ele o fizesse primeiro, afinal, Jones realmente não era seu pai, não podia falar com ela daquela forma.

O clima tenso dominou a cozinha até que minha cunhada respirou fundo e despediu-se, dizendo que iria para a biblioteca. Não ia. Killian ajeitou os cabelos desconfortável em minha frente e, ainda de cabeça baixa, me chamou para acompanhá-lo - eu voltaria a trabalhar naquele dia.

– Pode ir na frente, amor. Eu ainda não terminei de me arrumar. - menti.

– Emma, desculpa. Você não precisava ver nada disso.

– Ei, guarde essas desculpas para sua irmã. Tudo bem? Pode ir, eu chego em meia hora, prometo!

Ele deu-me um beijo rápido antes de ir. Assim que ouvi seu carro saindo da garagem, peguei minha bolsa e corri atrás de Belle. A biblioteca era perto de casa e ela nunca usava o carro ou pedia carona ao irmão, portanto, mesmo que estivesse alterando sua rota (o que eu tinha certeza), ela iria fazer isso a pé.

Devido ao meu pequeno diálogo com Jones antes de sair, ela estava relativamente longe e, em alguns trechos, precisei dar pequenas corridinhas para alcançá-la.

A biblioteca estava próxima e eu já pensava que poderia ter me enganado, pois aparentemente Belle seguia seu trajeto normal. Contudo, um pouco mais adiante, ela atravessou a rua e, pela postura de seu corpo, ela não estava indo ao Granny's, mas sim ao antiquário.

Tentei correr o mais rápido que conseguia para impedi-la de fazer aquilo. Seria perigoso tanto para ela quanto para o andamento das investigações, mas eu não consegui.

– Você me deve isso, Robert! - a ouvi dizendo assim que entrei na loja de Gold.

– Não, eu nunca te prometi nenhuma resposta. Aliás, você nunca me perguntou nada até certas pessoas finalmente chegarem à cidade, não é mesmo, senhorita Swan? - ele dirigiu-se a mim de forma provocativa, fazendo Belle finalmente me notar ali.

– Se você está tentando colocar Belle contra mim eu acho melhor tentar de outra forma.

– O que está fazendo aqui, Emma? - ela perguntou - Pode ser perigoso.

– Exatamente por isso que estou aqui. - me aproximei e segurei em seu braço, dando-lhe proteção.

– Bom, temo que se quiser alguma resposta terá que vir conversar a sós comigo, querida. Afinal, precisamos nos acertar daquele mal entendido. - Gold disse suavizando a voz e encarando Belle.

– Você está louco! Ela não vai ficar sozinha com você de novo.

– Senhorita Swan, creio que meu recado para minha esposa foi entregue, não há mais motivos para permanecer aqui.

– Ex esposa. Ex. - ela repetiu quase num sussurro.

– E ela sabe que eu não faria nada que a machucasse. - completou.

– Oh, é mesmo? Aqueles livros e móveis também perceberam isso. - retruquei. - Ah, já sei! Talvez o senhor prefira atirar ou encomendar a morte dela não é? Fica mais emocionante. - falei provocando-o, enquanto me aproximava e o encarava por trás do balcão.

– Gosta de tiros, senhorita?

– Eu também sei usar uma arma, Gold.

Aquilo era, claramente, uma ameaça e eu havia acabado de provocar um demônio. Se Robert Gold não me matasse, provavelmente Killian faria o serviço.

– Você perdeu a noção, Emma? - Belle questionou nervosa do lado de fora da loja.

– Eu sei, desculpa. Mas eu não podia deixá-lo falar daquela forma com você! - justifiquei.

– Eu sei que quer me defender mas, por favor, não seja como Killian. Eu posso ser fraca perto de Bob, mas ele realmente não me machucaria. Pelo menos não da forma como...

– Graham. - completei.

– Posso te pedir uma coisa?

– O que? Por favor, não me peça para não contar ao seu irmão, eu preciso fazer isso.

– Não era isso. Quero que você conte, afinal, vocês dois não foram nada amigáveis ali dentro... Eu só peço que me deixe tentar, ao menos uma vez. Convença meu irmão.

Embora a disponibilidade de Belle fosse útil, era absurda a ideia de usá-la como uma espécie de isca para obter informações. Killian jamais concordaria com aquilo, era uma missão impossível. Não poderia negar um favor a Belle, eu tentaria, mas as chances de conseguir eram quase inexistentes.

Sequer prestei atenção ao final de nosso diálogo, ou de qualquer outra coisa entre o caminho do antiquário até a delegacia. Andei com os braços cruzados o tempo inteiro e assustava-me com todo e qualquer movimento brusco próximo a mim. Se eu não estivesse preocupada durante todo o percurso eu poderia ter ensaiado minhas falas, ou o que pediria exatamente aos meninos, mas não foi possível - o que aumentava as chances de fracasso.

– Eu não sei como usar uma arma! - disparei entrando na sala e fazendo-os me olharem confusos.

– Bom dia, Emma. E que bom que não sabe! - David comentou rindo.

– Eu estou falando sério. Eu preciso aprender.

– Amor, por quê isso agora?

– Eu preciso, só isso. - respondi.

– Tudo bem, então podemos sair um final de semana desses e eu te levo num clube de caça ou qualquer coisa do tipo. - respondeu olhando para Nolan animado, possivelmente recordando-se de alguma coisa.

– Posso ir com a Mary também, vai ser incrível! Quer dizer, isso se não for um problema para a gravidez dela não é?

– Não! É pra agora, pra ontem se possível.

– Emma... o que você fez? - o sorriso deles havia desaparecido, dando lugar a uma expressão não só preocupada como, também, pareciam preparar o pior dos sermões, sem mesmo saber a causa.

– Eu meio que provoquei uma pessoa... - disse encolhendo-me e apertando as mãos com força no rumo de meu estômago.

– Quem? - Jones pergunto entre dentes.

– Uma pessoa. - repeti.

– Emma Swan, quem você provocou? - insistiu aproximando-se.

– Gold. - respondi com a voz falha e temendo a reação dos dois.

Não faço ideia do tempo transcorrido entre a minha resposta e a reação deles, contudo, tenho certeza que toda a cena passou-se em câmera lenta diante dos meus olhos. Killian fechou os olhos, parado em minha frente, enquanto David abandonou o celular de sua mão sobre uma pilha de relatórios e virou-se de costas para nós, passando as mãos nos cabelos. Jones parecia contar de um até mil, tentando controlar seus sentimentos, em vão. Assim que abriu os olhos, fechou o punho e deu um forte soco na mesa. Ele ficou ali ao meu lado apoiado à mesa e de cabeça baixa. Ninguém dizia nada, o silêncio era total.

– Como? - fora tudo que saiu da boca dele após um longo suspiro.

– Na verdade... - eu comecei a falar mordendo o lábio inferior.

– Tem mais coisa não é? - David questionou, encarando-me pela primeira vez.

– Eu discuti com ele dentro da loja. Eu e Belle. - dizendo isso, Killian virou-se para mim como se não acreditasse no que eu havia contado.

– Como é que é? Você e Belle foram atrás do Robert? - disse com um tom rude que eu jamais havia ouvido, especialmente dirigido a mim.

– Belle foi, eu só fui atrás para evitar o pior.

– E fez o pior! - Nolan comentou.

– Eu sabia que ela iria falar com ele depois do que conversamos hoje de manhã, por isso menti dizendo que não estava pronta. Eu fui atrás dela. Mas ai eu o ouvi falando que se ela quisesse respostas, ela teria que se encontrar a sós com ele. Eu não ia deixar.

– Qual a parte do "eu proíbo de falar com Gold" vocês duas não entenderam? - esbravejou.

– Escuta aqui, Killian, você pode até tentar falar assim com Belle, mas não vai ser assim comigo. Você não é o pai dela e não deveria ter falado assim nem mesmo com ela, que dirá comigo! E outra, você deveria me agradecer por eu ter ido atrás dela e tentado ajudá-la. Agora guarde essas malditas palavras grosseiras e use essa sua "mente brilhante e sábia" para fazer alguma coisa ao invés de se iludir achando que manda em uma de nós duas.

– Eu não quero mandar em ninguém, eu só quero proteger vocês.

– Pois saiba que existe uma grande diferença entre as duas coisas e é melhor você aprender isso logo. Ou então você pode usar essa maldita arma que está na sua gaveta e fazer o serviço sozinho, da mesma maneira que Gold e Dylan fizeram com Graham.

Nenhum deles disse nada. Eu estava com medo, era verdade, mas não iria suportar Killian me tratando daquela forma. Ele jamais havia falado comigo naquele tom ou tentado mandar em meus atos, aquele não era o cara por quem eu me apaixonei e eu esperava, do fundo do coração, que isso fosse apenas um momento. Contudo, eu não havia terminado de falar o que era necessário.

– E mais, Belle quer ajudar. Ela quer ir falar com Gold e ser útil, mas pede a ajuda de vocês. Acho melhor considerarem essa hipótese ou pensarem em um plano B, Gold já sabe que estamos contra ele. Nossa vantagem acabou.

Não esperei resposta, virei de costas e fui para o escritório ao lado, da mesma maneira que David havia feito quando ele e Killian brigaram.

Nenhum dos dois havia me incomodado durante o dia, sequer falaram comigo. Havia certa movimentação na sala ao lado, conseguia sentir os passos firmes e nervosos no chão, mas não podia ouvi-los. Eles, provavelmente, estavam discutindo o que eu e Belle havíamos feito. Eu queria ir até lá e ajudá-los, ou ao menos provocá-los, mas não podia. Ficava apenas ali naquela sala esperando o telefone tocar, para que eu pudesse ter algo para fazer, mas especialmente hoje Storybrooke resolver dar uma folga à delegacia.

Eu estava pensando em tudo o que acontecera e no que poderia acontecer, talvez eu estivesse na mira daqueles bandidos da mesma maneira que Graham um dia esteve. Talvez tivesse o mesmo fim que ele. Pensar aquilo dava-me arrepios, mas era inevitável, eu estava ali sozinha e sem nada para fazer!

Era enlouquecedor estar envolvida em tantas lembranças e hipóteses. Eu torcida para que o telefone tocasse, mas isso não aconteceu. Mas, tempos depois, o celular vibrou anunciando uma nova mensagem.

"Está ocupada? Posso te ligar?", Belle.

"POR FAVOR, faça isso agora.", respondi.

E meu pedido fora prontamente atendido.

– Como você está? - ela disparou.

– Digamos que uma bomba também estourou para o meu lado aqui. Eu acabei discutindo feio com seu irmão.

– E o que eles disseram?

– Não sei, não esperei resposta. Estou no escritório do lado, dá só para ouvir os passos deles, mas não o que eles falam.

– Desculpa fazer você brigar com meu irmão logo agora que voltaram para cá... - pediu, demonstrando-se chateada com a situação.

– Você não tem culpa, Killian precisa aprender a diferença entre cuidar e mandar.

– Eu disse que seria bom nós duas juntas na mesma casa para colocá-lo na linha. - brincou.

– Talvez. - comentei sorrindo, mas antes que eu pudesse falar algo a mais o telefone tocou. Ótimo, agora que eu tenho algo para fazer ele resolve dar as caras! - Belle, te ligo depois, tem alguém ligando.

– Ok, se cuida tá?

– Tudo bem, você também.

Desliguei o celular e olhei para o telefone, amaldiçoando-o. Entretanto, pode parecer estranho, mas assim que tirei-o do gancho, senti uma onda de choque percorrer o meu corpo, como o anúncio de algo - bom ou ruim, eu só saberia se finalmente atendesse.

– GRAÇAS A DEUS! - uma voz feminina desesperada ecoou.

– Oi? Mary?

– Emma, pelo amor de Deus, onde está David? - ela parecia cansada e, ao mesmo tempo, assustada.

– Está na sala ao lado, por quê? O que está acontecendo? - perguntei nervosa.

– O bebê, Emma! VAI NASCER. - ela gritou a última frase, provavelmente sentindo alguma contração.

– O bebê? Ai meu Deus, o bebê! O que eu faço? Vou chamar o David!

– NÃO! - ela respondeu rapidamente - Estou em casa ainda, mas já estou a caminho do hospital com a Regina, só fala para ele ir para lá. Rápido! Antes que eu faça ele engolir aquele celular.

Coloquei o telefone no lugar e sai correndo para a outra sala, abrindo-a de supetão e assustando novamente os rapazes. As expressões estavam melhores e já não me encaravam com raiva mais, o que era um bom sinal, afinal, não era momento para brigas.

– Emma, o que houve? Está assustada. - David perguntou.

– O bebê. Vai nascer, Mary tentou te ligar mas não conseguiu e então ela ligou para cá, ela está indo para o hospital, Regina está levando e é para você ir agora. Rápido! VAI! JÁ FOI? - disparei.

– Meu filho, meu filho vai nascer, Killian! - ele dava gargalhadas tamanha era a felicidade, enquanto chacoalhava os ombros do amigo. Jones por sua vez não sabia como reagia, apenas mostrou o imenso e largo sorriso que eu tanto amava e não tinha visto uma vez sequer naquele dia.

– Então vai! - falei sorrindo e indicando a saída com o braço.

– Ele não vai sozinho não, todos nós vamos. - Killian prontificou-se pegando as chaves do carro da mesa.

Saímos todos correndo da delegacia e, mesmo na confusão, ele certificou-se de avisar Colton e Oliver que estávamos de saída, afinal, eles estavam sempre ali quando fossem solicitados - e esse era um ótimo momento!

Jones não deixou que David dirigisse, aliás, se ele tivesse feito isso teríamos batido na primeira árvore ou poste do caminho devido à sua tremedeira. Entretanto, ele não fora dos mais delicados, o pé no acelerador e as curvas com o pneu cantando anunciavam a pressa que estávamos. Eu não duvidava que chegássemos antes da própria Mary, pois além de estarmos mais próximos ao hospital que ela, Killian corria contra o vento. Por mais que eu repetisse que aquilo não era um barco e que ninguém estava morrendo, ele não conseguia reduzir a velocidade e, por vezes, achei que nós é quem iríamos para o centro cirúrgico com risco de morte.

– Elas estão ali! - David gritou apontando para um carro preto estacionado. Havíamos chegado juntos.

Antes do carro parar completamente, ele já estava abrindo a porta e saindo correndo de encontro à esposa - não o julgo, naquelas circunstâncias, essa reação não era um caso atípico. Esperei Killian fechar devidamente o carro e fomos juntos encontrá-los já na portaria do prédio e, embora a discussão da manhã, ele fez questão de pegar em minha mão para caminharmos.

– Onde está Regina? - perguntei enquanto olhava para Nolan que colocava a esposa em uma cadeira de rodas.

– Ela foi buscar o mé... Ahhhh! - gemeu de dor antes de completar a frase, fazendo com que os meninos se contorcessem assim que ela gemeu.

– O que foi isso? - perguntei.

– Não sei, é que ela gritou de dor e eu... - acabou sendo interrompido por mais um grito de Mary - Ahhhhhhh! Tá vendo? É assustador!

– Vocês estão sofrendo por ela ter contrações? - perguntei rindo e fazendo com que ela risse também.

– A dor é maior do que soa os gritos. - comentou divertida, mesmo com dificuldades de respirar.

Regina não voltava e nenhuma enfermeira sequer veio nos dar auxílio. Qual é, estávamos com uma mulher em trabalho de parto! Será que eles tem que ser tão incompetentes até quando um bebê está a caminho? Estávamos andando de um lado para o outro, tensos e ansiosos, esperando que ela retornasse com Dr. Whale, o médico que acompanhava Mary, mas nada de notícias. Ela é a prefeita, deveria ter mais comando sobre aquele lugar! Eu já estava nervosa, não só pela demora, mas com David e Killian gritando sempre após cada contração de Mary.

Mais um berro de dor, mais histeria dos meninos.

– Escutem aqui, mais um grito desses e eu nem sei o que faço com os dois! Quem está em trabalho de parto é ela, não vocês. Não está ajudando em nada, só piorando a situação. Se eu ouvir mais um grito, vocês já sabem. Estamos entendidos?

Eles balançaram a cabeça em concordância como duas crianças que acabaram de levar a maior bronca dos pais.

– Ótimo. E cadê os médicos desse lugar? - gritei.

– Ele já está vindo. - uma enfermeira veio me comunicar, mas tenho certeza de que era mais para evitar um barraco do que para informar.

– Ele está vindo, amor. Está vindo! - David repetia desesperado para Mary.

– É, já está chegando. Meu Deus, está chegando. - Killian não ajudava em nada.

– Oh, graças a Deus! - ela disse aliviada ao ver o médico aparecer no final do imenso corredor.

E então a correria começou. E por isso entenda que os participantes eram apenas os meninos. Nolan andava rápido de um lado para o outro dizendo palavras de consolo para a esposa sem sequer encará-la - era óbvio que aquilo era para ele! Jones por sua vez acompanhava os passos do amigo tentando elaborar frases ou pensamentos coerentes.

– Parem de andar de um lado para o ou... - disse me colocando no meio deles, mas sendo interrompida por Killian trombando em mim e quase me derrubando. Lancei um olhar furioso e ele logo parou ao lado do amigo que, mesmo estático esperando Whale, tremia as pernas e tamborilava os dedos na parte superior da cadeira de rodas onde a esposa estava.

– Desculpem a demora, estava numa emergência. - o doutor chegava apressadamente com Regina ao lado - Mas bem que poderiam tê-la levado ao quarto, não é?

– Que ótimo, alguém sensato aqui! - falei.

– Levem Mary Margareth para o quarto e a troquem! - disse para a enfermeira que havia conversado comigo anteriormente. - Peça à equipe para preparar a sala de parto! - dirigiu-se a outro homem e, finalmente, voltou-se para Mary. - E então, animada? Tudo sairá bem.

– Sim. - parou por um instante reprimindo um grito de dor - Elas estão ficando mais fortes.

– É normal! Te encontro na sala. Acalme-se, tudo ocorrerá bem e logo você estará com seu filho em seus braços. - ele disse sorridente, mas logo completou - E o "acalme-se" serve para os dois.

Assim que ele saiu, eu, Killian e Regina não aguentamos e começamos a rir. E, claro, meu namorado tinha que provocar o amigo, mesmo com um simples "Ouviu? Acalme-se, Dave!". Para não perder tempo, David e Mary foram logo acompanhados pelas enfermeiras e, então, sentamos cansados na sala de espera.

– E Roland, Regina?

– Liguei para Belle, ela ficará com ele essa noite.

– Ela não pode ficar sozinha! - disse rapidamente e me levantando.

– Emma, ela já me contou. Robin ficará com ela, fica tranquila. - ela me acalmou. - E bom, acho que vocês precisam conversar também, vou tomar um café. Querem alguma coisa?

– Não, obrigado. - Killian respondeu.

– Pode trazer uma garrafa d'água para mim? - pedi.

– Claro. - respondeu sorridente como se quisesse, além de tudo, me encorajar.

E então Regina virou-se e seguiu o caminho da lanchonete, deixando-me sozinha com Jones pela primeira vez após a nossa briga. Sim, ele havia segurado em minha mão na entrada, mas não dissemos nada naquele momento. E, aparentemente, não sabíamos nem por onde começar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que esteja bom, veja vocês no próximo?! ♥
E, mais uma vez, FELIZ ANIVERSÁRIO BE!!!!