Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 28
Tudo parte da despedida


Notas iniciais do capítulo

Olá meus seguimoresss! Como vão?
Eu não abandonei vocês, mas agora minhas aulas voltaram e meu tempo está um pouco reduzido. E como eu não gosto de escrever só por escrever, eu prefiro demorar um pouquinho mais.
Espero MUITO que vocês aproveitem esse capítulo, tenham uma boa leitura.
Gostaria de agradecer a Felicity Smoak pela linda recomendação! Fiquei bem feliz em recebê-la aqui e, depois, tive essa grande surpresa. Muito obrigada de verdade, deixo esse capítulo aqui dedicado a você s2



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Entramos numa pequena lanchonete no final da rua. A decoração feita em madeira e pequenos jarros de flores espalhados pelo local davam àquele pequeno pedaço de Nova York um ar campestre difícil de se encontrar. Ele havia pedido um café preto forte, enquanto eu optei por um cappuccino tradicional.

– Ande logo com isso, Neal. Eu tenho alguns compromissos hoje.
– Você precisa relaxar mais, Em. Eu diria que estresse dá rugas, mas percebo rapidamente o quão bonita você está. Acredito que rugas não sejam problema para você. - disse sorrindo.
– Tenho certeza que não estamos aqui para falarmos da presença ou ausência de rugas. - respondi dando-lhe um sorriso cínico.
– Pensei que estivéssemos bem, Emma.
– Neal, eu já pensei tantas coisas na vida em que estava errada que sou incapaz de enumerar. Fique tranquilo, sua decepção não é única. - falei tomando um pouco da bebida.
– E a história toda do Nicholas... - gesticulou tentando lembrar o nome.
– Sparks. - completei.
– Sparks. Isso. Era mentira? - questionou e, mais uma vez, sequer demonstrou sinais de qualquer emoção ou sentimento.
– Não, eu gosto do Nicholas.
– Então não vai me perguntar como foi minha viagem?
– Depois de tanto tempo? - perguntei.
– Você quer mesmo que eu seja direto, não é mesmo?
– Uau! Estou chocada com a velocidade da sua percepção. - fingi alegria.
– Eu sei da sua nova e amada Storybrooke. - falou rapidamente, despejando a informação que logo tirou o sorriso, mesmo que falso, de meu rosto.
– Oi?
– Não se faça de desentendida, Emma Swan. Ou eu devo falar sobre seu namoradinho Killian Jones?
– Como assim? Como você sabe disso, Cassidy? - perguntei com certo desespero na voz, afinal, como ele havia descoberto? Se ele sabia, isso significava que Gold e Dylan também sabiam?
– Eu não sou burro, Emma. - disse de forma divertida e piscando um dos olhos ao final. Em seguida, levantou-se e prosseguiu. - E eu tenho meus contatos.

Eu não tive reação ou qualquer resposta reflexa, apenas o observei sair lentamente do restaurante. Aquele mesmo gingado malandro ao andar que um dia fora meu ponto fraco, hoje tornara-se meu maior medo. Permaneci na lanchonete por mais algum tempo, terminei minha bebida e até experimentei um bolinho de chocolate, aliás, comer sempre dissipava parte de minha tensão.

Confesso-lhes que prosseguir com aquele dia sem mais surtos fora, de longe, um dos meus maiores sacrifícios. Entretanto, na noite anterior, havia tomado uma enorme decisão e eu deveria segui-la. A frase "ninguém nunca nos comunicou que a vida seria fácil, pelo contrário, sempre nos dizem dos sofrimentos" é mais do que verdadeira. Eu precisava ter um foco e ultrapassar todos os obstáculos que a vida colocava em meu caminho.

Apesar da grande dificuldade, aquele dia ficava no passado. Claro que, ao anoitecer, havia ligado para Killian e o contado tudo o que acontecera, mas ele logo tratou de me acalmar e alegou não ter nenhuma atividade suspeita de Gold ou Dylan. Era, de fato, algo assustador Neal saber de Storybrooke, mas ele concordava com minha posição e em como eu deveria estar focada na conclusão de meu trabalho.

Longos dias se passaram desde meu encontro com Cassidy e, aos poucos, minhas conversas com Jones eram mais sobre o quão nervosa estava para apresentação que o medo que havia sentido nas palavras de Neal. Havia concluído o artigo quatro dias atrás, entretanto, todos os dias eu relia-o e o revisava.

– Emma. - ele chamou por telefone, suponho, pela milésima vez - Emma!
– Oi, desculpa!
– Lendo o artigo de novo enquanto conversa comigo?
– Desculpa, amor. Eu juro que não foi minha intenção dessa vez, mas o arquivo estava aberto no computador e...
– E você não se controla. - ele completou rindo. - Emma, eu não sei quantas vezes eu já ouvi esse artigo. Tem partes nele que eu consigo narrar junto com você! Está ótimo. Descanse um pouco.
– Eu não consigo! Sempre que eu tenho um tempo livre, eu reviso ele. E adivinha? Sempre tem um erro. - comentei em desespero.
– É claro. Em vinte minutos de "conversa" você leu, aproximadamente, 20 páginas e mudou duas vírgulas de lugar.
– Viu? Eram duas vírgulas! E elas estavam mudando completamente o sentido da sentença! - rebati.
– Amor...
– O que é? - esbravejei.
– Repete comigo: duas vírgulas. Eu mudei duas vírgulas. Estou perdendo os cabelos por duas vírgulas. São somente duas...
– VÍRGULAS! - completei em voz um pouco mais alta e irritada - Por quê tá falando isso?
– Para você ver que não faz o menor sentido essa loucura. - ele começou pacientemente, embora tenha suspirado fortemente antes. E isso, provavelmente, por não querer jogar na minha cara o quão grossa estava sendo esses dias sempre que o assunto era abordado. - Como eu disse, eu ouvi esse artigo milhões de vezes. Fora os momentos que você me mandou cópias com "versões atualizadas" para eu te ajudar na revisão. E adivinha? Esse artigo já esgotou a cota dele de revisões, está perfeito. Quando você chegar lá, vai encontrar uma banca de professores com humores variados que sequer se importarão com essas suas vírgulas. Você deveria estar mais preocupada em como irá apresentar o que está escrito.

– Tem razão. - respondi e respirei fundo, como se procurasse palavras ou tentasse organizar meus pensamentos - Desculpa... esses últimos dias não estou sendo tão companheira quanto deveria. Mas eu realmente não estou aguentando mais! Parte de mim quer que isso acabe logo enquanto a outra está tremendo de medo.
– Confia no que você fez e segue com isso. Eu sei que está ótimo e você também sabe, mesmo que no fundo. Se não consegue acreditar no seu trabalho, confia nas minhas palavras. Aliás, tenho absoluta certeza que seus pais também acham o mesmo que eu.
– Mas eles não contam!
– E por quê não?
– Não sei. - disse mais num murmuro após me jogar na cama e enfiar a cara num travesseiro.
– Levanta dessa cama e vai fazer algo para distrair, Swan!
– Como sabe que eu tô na cama?
– Não sabia. - respondeu rindo. - Sério, amor. Sua apresentação é daqui dois dias, nesse estresse todo você só vai se atrapalhar.
– Eu odeio muito quando você tem razão. - bufei.
– Sei disso... - disse divertido - Agora vai!
– Mas o que eu vou fazer? Nenhuma das minhas amigas daqui de Nova York respondem minhas mensagens, aliás, eu nem posso chamar isso de amizade. - reclamei.
– É, amor, não pode. Mas e sua mãe?
– Saiu com meu pai. - revirei os olhos - Quando a minha vida virou isso?
– Isso o que? - perguntou confuso.
– Essa solidão toda. Sabe, eu não consigo me lembrar da minha vida antes de ir para Storybrooke. É como se tudo antes não fizesse sentido... como se eu tivesse passado todos esses anos no automático.
– Às vezes isso explica porque você continuou com Neal também.
– Sim. - concordei - Mas é mais que isso. Eu não me lembro a última vez que saí com minhas amigas, da última vez que nos falamos... Não lembro de nada. Eu sequer vou formar com a minha turma, vou pegar a colação geral por não fazer ideia do que eles estão fazendo!
– Amor, isso pode ter duas explicações, uma delas é óbvia: eles não eram seus amigos de verdade. A segunda é a mesma, mas invertida, você também não era amiga deles. E, talvez, Neal e Graham tenham tomado todo o seu tempo sem você perceber.
– Tem razão... Eu vivia na rotina, no convencional, por isso era bom estar com Neal, porque era uma certeza. Era tão habitual ter ele como namorado que eu não abri o leque, não pensei nada.
– E se perdeu por isso.
– Sim. - afirmei com tristeza - Mas eu me encontrei em um outro lugar.
– Sério? Me diga, onde? - questionou provocando.
– Ah, uma cidadezinha por ai. Encontrei grandes amigos, mas sabe o melhor?
– O que? - respondeu curioso.
– Me encontrei em dois olhos azuis maravilhosos!

Falar com Jones sobre esse, ou qualquer outro, assunto era como retirar um peso das costas. Ele sabia exatamente o que me dizer e o momento ideal de o fazer e, além disso, sempre acabávamos como dois adolescentes apaixonados no telefone. Não, não éramos aquele tipo de casal do “ah, desliga você”, mas sempre reafirmávamos nosso amor, mesmo que por provocações ou brincadeiras. Killian era o tipo de cara que não havia vergonha de ser quem realmente é e, desde que nos conhecemos, ele permanece o mesmo. Digo isso por saber que muitas pessoas mudam o modo de viver após entrar em um relacionamento, ele não foi uma dessas pessoas. A grande mudança de meu namorado viera com as grandes reflexões que fizera sobre a questão do Graham, entretanto, não posso dizer o mesmo sobre mim.

Eu havia mudado, notava isso. Contudo, não consigo afirmar se isso é algo positivo ou negativo. Antes de tudo, era como se meu coração estivesse acorrentado e preso por um cadeado sem chave mas, com ele, tudo mudou. Talvez ele tivesse a chave ou, simplesmente, tivesse quebrado as correntes, não me importava a maneira, ele havia me libertado. De repente, me vi tomando rumos na vida extremamente automáticos e habituais, vivia numa zona de conforto por ser mais rápido e seguro, mas até quando isso duraria? Eu estava grata por ter mudado nesse quesito, grata por ter aberto os olhos e alterado o curso da minha vida enquanto tinha tempo; grata por estar me permitindo, agora, viver sem culpa ou cautela, fazer o que quiser fazer e buscando apenas a minha felicidade. Eu nunca me imaginaria, por exemplo, saindo de Nova York, mas veja agora o que eu penso! Eu me sinto eu mesma, livre de obrigações para agradar o outro, sem medo do que vão pensar e se vão julgar, sinto que eu posso e quero ser eu mesma. Resta-me, apenas, saber se isso é algo bom ou ruim.

O dia da apresentação havia chegado e eu andava pelo corredor de um lado para o outro tamanho era o nervosismo. Eu já havia ligado para Killian três vezes, meus pais nem me atendiam mais e até mesmo Belle e Regina eu tinha importunado com ligações. Quando resolvi ligar para David, minha hora havia chegado.

Assim que entrei na sala, deparei-me com a banca de quatro professores – dois homens e duas mulheres. O primeiro estava inexpressivo, bem como as duas mulheres, entretanto, o último estava com semblante irritadiço. Entrei em pânico. E se ele estivesse tão impaciente a ponto de descontar em mim? Agora sim estava mais difícil seguir as orientações de Killian, como relaxaria numa situação dessas?

No início, meu tom de voz era baixo e eu embolava para pronunciar algumas palavras. Parecia, ainda, que a cada vez que um deles pegasse a caneta para fazer anotações, maior era a chance do meu coração sair pela boca. Em um momento uma das senhoras interrompia-me para pedir que aumentasse o tom de voz, no outro, o último homem me questionava a metodologia adotada. Eu estava sendo um fiasco, não conseguiria. Entretanto, na segunda metade da apresentação, lembrei-me do quão próxima estava de me formar e do enorme trabalho que tive para concluir essa apresentação, não poderia estraga-la. Foi então que respirei fundo e abracei aquilo que deveria ter tido desde o começo: confiança.

– Killian! - quase gritei de alívio quando ele, finalmente, atendeu, embora tivesse certeza que não havia demorado muito - Graças a Deus você atendeu!
– O que houve, amor? - perguntou preocupado e até mesmo com um tom de susto.
– Eu consegui! Consegui! - dei a notícia e repeti mais algumas vezes. Meus olhos brilhavam devido às lágrimas que se formavam. Eu havia me contido até ali, mas parece que quando você expõe aquilo que está dentro de você, tudo ganha uma dimensão ainda maior.
– EU SABIA! - ele gritou animado do outro lado da linha - Sabia. Parabéns, meu amor! Me conta tudo, como foi?
– Eu fiquei super nervosa no começo, eles pareciam monstros. Você tinha que ver a cara deles, sem expressão nenhuma e o único que tinha estava com cara de mau. Sim, ele era um bicho papão. E então eu comecei a tremer e não conseguia nem passar o slide sem apertar errado. E, meu Deus! - disparei ignorando o "Emma, respira" de Killian - Teve uma hora que o aparelho não funcionou e eles ficaram olhando pra minha cara tipo "sai dai logo". E, às vezes, eu gaguejava ou arranhava em alguma coisa e eles logo pegavam a caneta pra anotar. E não eram canetas normais, tinham cores! Sim, eu sei, geralmente tem, mas eram diferentes. Eles usavam azul e vermelha e iam alternando. Quando eles pegavam a vermelha eu quase morria do coração! E, Deus, como me esqueci disso?! O último cara, o ranzinza que eu falei, ele sempre me questionava as coisas. Credo, não quero isso nunca mais. - o ouvi dizendo "amor, vai com calma" um pouco mais alto e rindo, mas ignorei e prossegui - E quando eles falaram que eu tinha conseguido? Amor, oitenta e três por cento! É incrível não?! Sim, eles falaram que eu pequei no meio e acho que isso seja pela minha investigação. Bem que você falou! E ah, como vão as coisas ai? Eu não estou acreditando ainda, acho que estou falando demais, não estou?! - terminei e respirei aliviada. Embora tenha jorrado informações em Jones, estou me sentindo livre e leve como a muito tempo não sentia.
– Eu... Uau! - ele começou a rir - Desde quando você fala tanto assim?
– Não sei, desculpa, estou muito empolgada. - respondi acompanhando-o no riso.
– Não tem que pedir desculpas. Eu estou muito feliz por você! Eu disse que iria passar, não foi? E, mesmo com as críticas, oitenta e três por cento não é pouca coisa. Parabéns, meu amor. - falou carinhosamente.
– Obrigada, amor. Por tudo e, inclusive, por ter me aturado no telefone esse tempo todo.
– Hoje ou nos outros dias? - brincou.
– Killian! - o repreendi, fingindo ofensa. - Eu preciso desligar agora, minha mãe já enviou mensagem querendo saber como foi. Ah, minha colação de grau será daqui duas semanas, você vez?
– Eu não perderia isso por nada!
– Ótimo. E ah, posso te pedir uma coisa? - perguntei manhosa.
– O que quiser, Swan.
– Chama o pessoal também? Eu queria muito que todos viessem, diz que eles podem ficar aqui em casa.
– Como desejar, amor.
– Obrigada. - respondi sorrindo. - Conversamos mais tarde, amo você!
– Eu também te amo, nova psicóloga! - despediu-se animado e demonstrando-se orgulhoso.

Eu não podia esperar para contar a novidade para meus pais. Na verdade, eu gostaria de fazer uma surpresa, mas estava tão desesperada para dar a notícia que não saberia pensar em nada. Fui direto para casa e ignorei todas as chamadas de minha mãe, afinal, ao menos para eles eu gostaria de dar a notícia pessoalmente.

– Mãe! Pai! - gritei ao entrar em casa correndo e quase derrubando os móveis pelo caminho.
– O que aconteceu, Emma? - meu pai veio rapidamente em minha direção ao lado de minha mãe.
– Eu consegui. Eu consegui! - disse pulando e levantando os braços como se pedisse um abraço. Eles, então, o fizeram em movimento automático. Não estava certa de que eles haviam processado a informação ainda mas, com o tempo, os dois me apertavam ainda mais e o choro de Ginnifer iniciou.
– Oh, minha filha. Quanto orgulho! - ela disse em meio à lágrimas.
– Minha filhinha formada. - meu pai começou, chacoalhando-me pelo ombro - Você me dá tanto orgulho, Emma. Tenho certeza que vai fazer um ótimo trabalho de agora pra frente.
– Ela já fazia não é, Josh? - a mais velha comentou e logo o sorriso transformou-se em expressão surpresa, como se tivesse se recordado de algo - Emma! Tem a sua formatura, precisamos arrumar tudo.
– Mãe, você só pensa em comprar? - brinquei - A colação é só daqui duas semanas, vamos com calma tá? Eu ainda nem entendi direito o que está acontecendo, a ficha ainda não caiu.
– E ela só vai cair quando te chamarem para receber o diploma, Em.
– Talvez, pai. Talvez... - duvidei.

Mas ele estava certo. Uma semana depois, quando estava fazendo a prova da minha beca, percebi o quão próximo estava o dia em que receberia o diploma. Era tão bobo pensar nisso, trata-se apenas de um pedaço de papel não é? O que deveria contar são as lembranças de todo esforço e trabalho dos últimos cinco anos, mas parecia que isso não era o suficiente. E não falo isso só por mim, todos os formando que estavam ali provando as becas pensavam da mesma maneira. É um pedaço de papel? Sim, mas é ali que está escrito, finalmente, que concluímos e que, finalmente, temos nosso título tão esperado. É apenas mais uma confirmação mas, dessa vez, palpável.

Eu ligava para Killian todos os dias perguntando-o se o convite fora feito para todos os meus amigos de Storybrooke e, embora ele sempre confirmasse, eu iria perguntar a mesma coisa no dia seguinte. Lembro-me de uma vez até ter ligado para todos eles, falei até com Roland - "você vai formar no prézinho igual eu, tia Emma?" fora a resposta do pequeno Hood.

Durante esse tempo, aproveitei para comunicar meus pais minha decisão de me mudar para Storybrooke. Eu não deveria dar-lhes satisfações da maneira que dou, afinal, já sou adulta, mas esse era um assunto delicado e que merecia atenção extra. Logo, se eu dava-lhes detalhes de tudo o que fazia, mesmo que as pequenas e insignificantes, eu não deixaria de ter essa conversa. Minha mãe fora sincera ao dizer que posso me arrepender de abandonar Nova York, mas tanto ela quanto meu pai não fizeram mais queixas. Aliás, ambos acolheram minha decisão facilmente, afinal, o assunto não estava aberto para esse tipo de discussão e seria, de fato, algo positivo para mim. Sair daquela cidade barulhenta e com tantas memórias ruins para me encontrar no litoral calmo e com pessoas de bem ao meu lado, soava-me como uma espécie de passagem ao paraíso.

Inicialmente, iria para o Maine apenas até a resolução do caso do Graham e, somente depois, mudaria-me definitivamente. Contudo, na semana seguinte e anterior à colação, tive que passar o tempo inteiro ao lado de meus pais já que eles sempre falavam da "primeira mudança". Eles estavam sempre ao meu lado e fizemos de tudo um pouco: escolhemos meu vestido, marcamos salão (sim, meu pai estava presente nesses momentos), jantamos fora, passeamos pelas margens do Hudson e fomos a um jogo de basquete - para a felicidade de meu pai, o New York Knicks recebia o Lakers em casa naquela semana e, adivinhem? Ganhamos!

– Eu estou morrendo de calor. - disse abanando o rosto com as mãos.

Estávamos do lado de fora do prédio onde seria realizada a colação de grau. Não conhecia todos os formandos dali pois, como disse, não estava alinhada cronologicamente com minha turma verdadeira, mas já havia visto alguns deles. Era aquele momento em que as famílias e amigos tiravam fotos, mas tudo o que eu tinha eram meu pai e minha mãe. Nada de Killian Jones ou dos outros. O calor estava quase insuportável debaixo daquela beca e, sinceramente, isso apenas piorava o meu humor. Quando você está ansiosa para que algo aconteça, você faz uma série de planejamentos que podem, facilmente, falhar. Por passar tempo demais ao lado de meus pais, não liguei muito para Jones nessa última semana, logo, minhas cobranças foram mínimas. Sim, sei que já havia feito o pedido milhões de vezes, mas não prosseguir com isso me deixou desconfiada. Somando o calor, a impaciência e o nervosismo eu estava prestes a enlouquecer até que senti duas mãos em minha cintura e sorri aliviada. Ele tinha chegado!

– Amor, você dem... - iniciei minha frase com enorme alegria mas, ao virar-me, todo meu mundo perdeu a cor. - O que você está fazendo aqui, Neal?
– Eu pensei que seria convidado para esse dia tão especial. - respondeu com dificuldade, já que sua língua se embolava cada vez mais e os pés já não o sustentavam ao chão, denunciando a embriaguez.
– Pensou errado. Agora saia daqui! - meu pai esbravejou e posicionou ao meu lado protegendo-me.
– Você está linda, Em... Emily. Em, Emma! - piscou várias vezes - Isso, é Emma.
– Vai embora, Neal. - gritei para chamar a atenção de alguns seguranças que estavam por perto.
– Ir embora? Não, não, querida. Eu vou ficar e ver você se formar. Se você está esperando seu namorado chegar pode tirar o cavalinho da chuva, ele não vem.
– Ninguém pediu a sua opinião, Cassidy. - esbravejei.
– Sabe porquê ele não vem? Por que eu sei que você sabe... - deu uma pausa e riu estupidamente dos movimentos com o dedo que fazia - Eu sei que você sabe que eu trabalho pro Dylan e pro Robert. - disparou a rir.
– O que? - perguntei atordoada.
– Tá surda, amor? Você achou mesmo que ia pesquisar a vida dos dois e eles não saberiam? - respondeu caindo na gargalhada mais uma vez.
– Ótimo. Seu recado está dado, agora saia de perto dela. - a voz forte e masculina veio de trás de mim.
– Ih, ele chegou gente! O príncipe chegou! - Neal gritou como se anunciasse para todos ali uma grande notícia - Vai fazer o que comigo?
– Eu? Não vou fazer absolutamente nada. - Killian começou a falar aproximando-se de Neal e o encarando. Ao parar, sinalizou para os seguranças e prosseguiu, chamando-os - Senhores! Poderiam deixar de observar e intervir aqui, por favor? Esse homem estava tentando abusar da formanda. - acusou convicto.
– E você tem provas, Jones? - berrou Neal que estava sendo carregado pelos seguranças. Os funcionários, entretanto, não disseram nada, já que observaram a discussão de longe sem sequer se mover.
– Que bom que você chegou. - disse aliviada e corri para abraçá-lo.
– Eu gostei da ideia do "príncipe". - David comentou rindo e só assim percebi que meus amigos também estavam ali, bem próximos a meus pais.
– DAVE! - cumprimentei-o animada.

Todos estavam ali: David, Mary, Belle, Regina e Ruby. Fiquei triste em saber que Robin e Roland não puderam ir, mas sabia que estavam se divertindo muito no acampamento com Will. Após dizer olá e matar a saudade, um fotógrafo logo se aproximou e começou a tirar nossas fotos.

Devo confessar que não sei descrever muito bem como fora toda a colação por dois motivos: o primeiro deles é o nervosismo, às vezes, parecia que tudo se movia em câmera lenta e eu não conseguia ter foco; o segundo, o choro. Não sou do tipo de pessoa que chora por tudo e qualquer coisa, embora tenha feito isso mais que o usual nos últimos tempos, mas o que eu senti o tempo inteiro ali foi alívio. Quando chamaram meu nome, eu pensei que iria desmaiar. Me vi parada sem saber se me levantava, como faria isso, para onde iria e o que faria, mesmo que já tivesse visto várias pessoas fazendo antes de mim. Depois da colação: mais fotos na entrada no prédio, afinal, as mães queriam expor o diploma dos filhos não é mesmo? Fiquei contente que não fizeram nenhuma faixa ou "grito de guerra" constrangedor, acredito que os berros dos oito ao ouvirem meu nome já foram suficientemente vergonhosos. Não num sentido ruim, claro, mas tenho certeza de que estava mais do que vermelha!

Em seguida, fomos todos para minha casa onde meu pai havia preparado as coisas para mais um de seus "famosos" churrascos. Killian logo se animou com a ideia e isso é uma coisa óbvia se considerarmos o quanto ele comeu no último. Demos um jeito de pegar alguns colchões emprestados e já deixá-los arrumados. Comigo ficariam Belle, Regina, Mary e Ruby e, na sala, David e Killian. Contudo, esperava a qualquer hora o momento em que minha mãe diria que ficaria com minha cunhada, já que as duas não se desgrudaram um segundo sequer falando de poesia, música e arte. Bom, elas se entenderam.

Durante a pequena comemoração, alguns parentes apareceram já que não puderam comparecer à formatura. Fiquei contente em ver minha família e amigos reunidos, especialmente por saber que na manhã seguinte já partiria para Storybrooke.

Passado o susto e o nervosismo da entrega do diploma, pude notar as palavras de Neal voltando a ecoar em minha mente. Aquilo não podia ser mentira, um bêbado não teria capacidade mental para inventar tamanha armadilha. Estava conversando com Regina no sofá, mas não conseguia prestar atenção em uma palavra sequer. Aliás, ela estava diferente e em uma percepção extremamente positiva! Ela parecia mais alegre, mais espontânea e até mais jovem. Pensei até em uma possível gravidez, mas ela logo desmentiu, destruindo todas as minhas hipóteses.

– Senhorita Swan! - chamou-me.
– Regina... desculpa. Eu não consigo prestar atenção no que está dizendo. - revelei com sinceridade - Eu não paro de pensar no que houve na entrada.
– Eu estava falando sem parar aqui e você não ouviu nada. - resmungou - Mas tudo bem, é por um motivo sério. Por quê não chama Killian para conversar sobre isso? Tenho certeza que ele vai te ajudar.

E então olhamos em direção a meu namorado que estava dando gargalhadas com meu pai e David à beira da churrasqueira.

– Sem chance, olha o quanto ele está se divertindo.
– Emma, essa festa é sua. Se você não está feliz, quem mais tem direito de ficar?
– Eu não tenho coragem de ir chamar, não agora.
– Mas eu tenho. - ela disse levantando rapidamente e ajeitando a blusa.
– Não, você não vai fazer isso. - disse em vão enquanto ela saía de perto de mim, virando-se apenas para dizer "Ops!" e ir em direção a Jones.

Primeiramente, ela se aproximou como quem não queria nada e entrou na conversa deles mas, assim que meu pai e Nolan se distraíram com a carne, ela sussurrou algo para Killian e apontou para mim. Em resposta, encarei-a com reprovação e, percebendo que ele estava à caminho, sinalizei com a cabeça de que iria subir.

Sentei-me na beirada da cama e, logo após, ele entrou no quarto fechando a porta atrás de si.

– O que aconteceu?
– Eu não queria te chamar, desculpa.
– Não, não mesmo. Ia ficar assim sem me falar nada? Sem chance, Emma. - falou abaixando-se na minha frente. - O que houve?
– Neal. - revelei com a voz trêmula.
– Espera... você não levou a sério o que ele disse, não é?
– Claro que levei! Killian, ele estava muito bêbado, jamais inventaria aquilo naquele estado se não fosse verdade.
– Ok, pode ser, mas quem garante? Amor, Gold não fez nada nos últimos dias. Ele sequer tentou alguma coisa com Belle de novo, se ele sabia disso por qual motivo não fez ou disse nada?
– Porque eu não estou em Storybrooke.
– Ei, me escuta. - falou colocando uma mexa de cabelo atrás de minha orelha e alisando minha bochecha em seguida - Eu vou ficar do seu lado. David também. Estamos mais perto do que imagina, eu sinto isso. Não, eu não tenho nenhuma prova de que estamos chegando ao fim, mas é uma coisa que eu estou sentindo desde que Ruby me entregou aquele bilhete. Nós vamos conseguir. - terminou apertando minha mão suavemente, passando-me força.

Killian estava tão convicto do que dizia que não tive como discordar ou retrucar, ele não mentiria para mim, não num assunto como esse. Jones não é santo, é falível como qualquer pessoa, mas não iria me esconder a verdade sobre um assunto que me afetava diretamente. Eu poderia não concordar com ele, não completamente, mas isso não significa que eu não tenho confiança. Tinha certeza, assim como ele, de que as coisas se resolveriam, mas não estava tão segura da duração disso tudo.

– Ok, você venceu. - respirei fundo e levantei as mãos em rendição.
– Vem cá. - levantou e estendeu a mão para que eu o acompanhasse. E, assim que o fiz, ele beijou-me apaixonadamente. - Você sabe que não tá sozinha, não é?
– Sei sim. - respondi sorrindo - Agora me fala, quando aquela carne vai sair? Estou faminta!
– Emma Swan está de volta! - comentou rindo e puxando-me para fora do quarto.

A comemoração seguiu por toda noite com muita comida, risadas e música. Colecionamos fotos e vídeos, inclusive dos meninos dançando Beyoncé e dos desejos loucos de Mary como, por exemplo, picanha mergulhada em rum e molho de tomate. Estranho? Bastante, mas quem seríamos nós para negar o pedido de uma gestante de quase oito meses? Regina ultrapassou os limites do álcool e terminou a noite completamente acabada, Belle e minha mãe eram as mais sóbrias já que deram continuação aos assuntos anteriores. Enquanto isso, eu, Ruby, Killian, David e meu pai fazíamos disputas diversas desde "quem bebia mais" até jogos de cartas. Estava sendo um dia memorável, inesquecível e repleto de diversão como pouquíssimos vivenciados em Nova York. Sim, estava sendo uma bela despedida.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, amorecos! Vejo vocês no próximo?
E, mais uma vez, muito obrigada a Felicity Smoak pela recomendação. Eu amei!