Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 26
Duas mulheres, uma resposta: "Sim"


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, como vão?
Sei que dei uma demorada, mas eu já havia explicado. As coisas não estão bem por aqui e o tempo que eu tenho para escrever é preenchido pela zona da casa e toda confusão, resultado: não sai nada. Mas tudo está melhorando!
Gostaria de agradecer aos comentários e opiniões sobre a minha enquetezinha, mas já vou desfazendo o mal entendido: a Open Wound não está no fim, está ENCAMINHANDO para o fim. Perguntei aquilo apenas para me programar e ter algo em mente até o último capítulo aqui, só isso hahahaha enfim, aproveitem o capítulo de hoje que é bem importante!
Boa leitura, xx



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611582/chapter/26

Gostaria de dizer que meus pais e Killian ficaram instantaneamente satisfeitos com minha decisão de não ler outra carta de Graham, mas isso seria mentira. Um longo silêncio se fez após meu pedido, mas eles acabaram aceitando sem muitos comentários. Sinto-me extremamente sortuda por ter pais e um namorado tão compreensivos assim mas, às vezes, tenho certeza de que não sou digna de tamanha benção. Não estou reclamando, claro, apenas digo isso pensando nos meus últimos atos: eu menti para todos, escondi minha real situação na faculdade e, mesmo assim, eles acatavam um de meus desejos sem contraposições. Não tratava-se de mimos, devo enfatizar isso, mas sim de um respeito extremo àquilo que eu pensava e escolhia. E, devido a isso, sinto-me numa posição favorecida, já que julgo não correspondê-los da mesma maneira.

O restante da noite fora resumido em filme, pizza e jogo de cartas - mais uma habilidade de Jones, até então, desconhecida por mim. Começamos jogando por casais, mas logo trocamos para homens contra mulheres e devo-lhes dizer: pior decisão. Killian e meu pai ganhavam todas (em qualquer jogo que escolhíamos) e, pior, riam de nós por isso. Um dia haverá uma vingança, podem ter certeza. Contudo, confesso que era magnífico vê-los conversando e brincando daquela maneira. Lembro-me de quando apresentei Neal e, embora Josh e Ginny tenham o aprovado, demoraram certo tempo para construir uma relação íntima. Porém, com Jones, tudo estava indo na direção oposta e, ao mesmo tempo, tão natural! Eu não vi meu namorado titubear um segundo sequer em nenhuma pergunta que o fizeram, nem mesmo nos momentos em que minha mãe me envergonhava. Se tudo estava sendo distinto ao que houve com Cassidy, posso afirmar que isso era um ponto extremamente positivo, certo?

– Ei, vocês dois! - meu pai chamou-nos enquanto subíamos as escadas para dormir.

– O que? - perguntei.

– Juízo! - alertou.

– Sim senhor. - Jones respondeu batendo continência com apenas dois dedos, eu apenas revirei os olhos e continuei subindo.

– Ela não vai deixar a porta aberta, não é? - Josh perguntou para minha mãe.

– Eu ainda estou te ouvindo, pai. - avisei do andar de cima - E não. Não vou.

Após entregar-lhe uma toalha limpa, Killian foi ao banheiro no corredor tomar banho, enquanto eu fiquei no quarto arrumando a cama. Assim que o fiz, vi sua mochila no chão e, então, resolvi retirar as roupas dali e dobrá-las no guarda-roupa. Pode parecer besteira, mas a ideia de ver meu namorado procurando seus pertences no meu armário e, depois, dormirmos juntos, dava-me uma sensação boa. Eu queria ver aquela cena. Além disso, lembrava-me de quando eu passava os dias com ele em Storybrooke. E, agora, consigo entender perfeitamente o motivo dele ter me convidado a sair do hotel e ficar em sua casa, era um sentimento diferente tê-lo ao meu lado.

Eu encarava a mala aberta por cima da cama enquanto me perdia em pensamentos, sendo interrompida, apenas, por dois braços quentes envolvendo minha cintura.

– O que está fazendo, amor? - ele perguntou após depositar um beijo em meu pescoço.

– Pensando... Lembra quando você me chamou para ficar com você lá em Storybrooke? Digo, na sua casa ao invés de ficar no hotel.

– Sim, mas por que está lembrando disso agora?

– Posso colocar suas roupas no meu armário? - perguntei receosa mordendo o lábio inferior - Agora eu sei como você se sentia. - disse virando-me para olhá-lo.

– É claro que pode. E eu acho que entendi o que você quis dizer. - ele respondeu sorrindo, mas continuou - Por que você não deixa que eu mesmo faço isso enquanto você toma banho?

– Por que? Eu queria colocar, poxa. - respondi fazendo biquinho.

– Pra gente não perder tempo, amor.

– Tudo bem. Vem que eu vou te mostrar onde você vai colocar. - falei puxando-o pela mão.

Separei um compartimento e alguns cabides para que ele usasse e depois segui para o banheiro. Estranhei a economia de tempo de Jones, mas fico contente em saber que ele queria passar mais tempo comigo sozinho. O dia fora cansativo e eu estava exausta, porém, da maneira mais prazerosa possível. Naquela noite, após voltar ao quarto, tive a melhor visão de todas: Killian Jones deitado em minha cama. Como era filha única, recebia vários mimos e um deles fora, aos meus 18 anos, uma cama de casal. Por alguns anos, todo aquele espaço era ocupado somente por meu corpo magro, mas, naquela noite, eu o compartilharia com o homem que amo. Dormimos abraçados, como fazíamos em Storybrooke, e por mais que quiséssemos ter uma noite de amor como tivemos na Jolly Roger, não seria nada agradável com meus pais no quarto ao lado.

No sábado, fomos surpreendidos pela visita de alguns parentes e, então, resolvemos fazer um churrasco, embora tenha quase certeza de que a ideia viera da mente de dona Ginnifer (para apresentar meu novo namorado, claro). Apesar do pequeno imprevisto, nós tivemos uma tarde maravilhosa juntos. Bom, pelo menos até o celular de Killian tocar.

– Alô? - ele atendeu e, com um gesto, pediu para se retirar da mesa. - É o David. - disse rapidamente abaixando o aparelho.

– Vai lá, amor. - respondi apressadamente, imaginando ser algo com Mary e o bebê.

Não demorou muito até que ele retornasse, mas sem o semblante sereno de antes. Algo de muito ruim havia acontecido e minhas mãos congelaram apenas por pensar no envolvimento de minha amiga nisso.

– O que aconteceu? É o bebê? - perguntei enquanto me levantava para encará-lo.

– Não, não é nada disso. Está tudo bem. - forçou um sorriso e sentou-se novamente.

– Tem certeza? - meu pai questionou.

– Sim, tenho. - Jones respondeu com a voz trêmula.

Sabia que algo estava acontecendo e, claramente, ele não queria dizer isso na frente de meus tios e primos. Por essa razão, não insisti numa resposta, mas, quando vi que a conversa havia tomado rumos distintos e mais descontraídos, me levantei da mesa e lancei-lhe um olhar cúmplice. Jones, entendendo minha proposta, também se levantou e anunciou uma desculpa qualquer envolvendo cozinha.

– Ok, agora você pode me falar o que aconteceu. - disse séria e fechando a porta atrás de mim.

– Amor, eu... eu, hm... - gaguejava.

– Fala logo, amor. - pedi impaciente, trocando a perna de sustentação do corpo e cruzando os braços. Jones, entretanto, sentou-se na beirada da cama.

– Eu não posso.

– Como assim não pode? - perguntei incrédula. Desde quando ele tinha segredos comigo?

– Não posso. Você pediu para que não tocássemos nesse assunto esse final de semana, e eu não vou fazer isso.

– David descobriu alguma coisa, não é?

– Não exatamente, mas ele me disse algo sim. - Jones suspirou de forma pesada, apoiou os braços na perna e abaixou a cabeça demonstrando certa irritação.

– Não é só isso. - disse me aproximando - Tem mais coisa, não é?

– Posso te pedir uma coisa? - perguntou com a voz falha, quase num sussurro.

– Amor, você está chorando? - sentei-me ao seu lado e levantei seu rosto de maneira delicada. Ele não estava chorando, mas somente porque lutava fortemente em não deixar as lágrimas caírem dos olhos. - O que está acontecendo, Killian? Assim você me deixa preocupada, caramba!

– Só responde, amor. - pediu simplesmente.

– Ok... pode. O que eu posso fazer pra ajudar? - respondi acariciando seus cabelos.

– Não me pergunta mais nada, por favor. Eu não posso falar. - ele disse deixando, finalmente, que as lágrimas escorressem.

– E como você quer que eu fique com isso? Você está chorando!

– Eu vou resolver isso, eu prometo. Tudo vai ficar bem, mas, infelizmente, eu vou precisar ir embora amanhã de manhã. - abri a boca para respondê-lo, mas ele prosseguiu rapidamente, me interrompendo - Eu sei que eu prometi um final de semana maravilhoso, mas eu não previ isso.

– Quem disse que meu final de semana não está maravilhoso? - comecei a falar, acariciando o lóbulo de sua orelha depois de sentar-me em seu colo. - Eu só não quero ver você chorando. Eu agradeço pela consideração que tem com meu pedido da noite passada, mas eu não quero mantê-lo se algo te fez ficar assim.

– Mas eu quero, Emma. Foi uma promessa, um combinado, eu não vou contra as minhas palavras. Se te conforta saber, não é nada com Mary, David, Neal ou Dylan. O resto, podemos deixar de lado? Por favor. - apesar de estar com os olhos cheios d'água e com rosto um pouco inchado, Killian olhava-me fixamente. Sua voz não havia falhado uma vez sequer, mostrando toda a confiança que ele não teve durante toda conversa.

– Apesar de ter notado a falta de alguém importante no meio desses nomes, sei que você não quer tocar no assunto. E, bom, é sua vez de pedir algo... eu também vou cumprir isso. Mas me promete contar amanhã?

– Sim, quando eu chegar em Storybrooke. - confirmou apertando minha cintura levemente.

– Por que não no aeroporto?

– Porque aí ainda estaríamos nesse final de semana, não vamos fazer algo que passe por cima de outras promessas, ok? Eu disse que vou resolver, confia em mim.

– Tá bom. - revirei os olhos.

– Mas já que estamos aqui... - ele iniciou, com um sorriso malicioso nos lábios - Que tal aproveitar esse silêncio?

– Proposta irresistível, Jones. - respondi dando-lhe um breve beijo - E eu acho melhor eu trancar a porta.

– Ótimo, preciso pegar algo.

– Pegar? - o olhei de maneira confusa, mas não obtive resposta.

Enquanto fui até a porta, Killian dirigiu-se ao guarda-roupa procurando por algo. Após alguns segundos, virou-se em minha direção com uma caixinha preta nas mãos e se aproximou.

– O que é isso, Killian?

– Nesses últimos meses em Storybrooke, senti falta da sua presença, do seu carinho... Eu senti saudade de tudo e qualquer coisa que te envolvesse. Nos primeiros dias, a casa ainda tinha o seu jeito, os lençóis tinham seu perfume e até as flores eram as mesmas que você havia regado! Mas então, inevitavelmente, tive que substituir a roupa de cama por outras limpas e as flores murcharam. Foi nesse momento que eu percebi não ter exatamente nada físico e palpável que me conectasse a você. E, então, eu comprei isso. - disse sacudindo levemente a caixinha.

– Ok, mas onde você quer chegar com isso? - essa fora a única coisa que eu havia conseguido falar sem, claro, esconder o enorme sorriso em meu rosto.

– Hoje eu estou na sua casa pelo segundo dia. Eu vim até Nova York, me apresentei aos seus pais, sua mãe me apresentou para a família... - ele interrompeu a frase e riu balançando a cabeça, provavelmente se recordando da falsa cara de surpresa de Ginny. Eu apenas o acompanhei na risada, mas parei subitamente ao vê-lo ajoelhar em minha frente. - Eu juro que eu tinha um discurso melhor que esse, mas esse é o único momento que tivemos sozinhos hoje e os planos de amanhã mudaram. Então, Emma Swan, você aceita ser oficialmente minha namorada? - ele perguntou e abriu a caixinha com as alianças.

Eu não sabia o que fazer, era como se um filme passasse pela minha cabeça mostrando-me todos os nossos momentos juntos e, depois, fazendo paralelos com minha vida antes de conhecê-lo. Lembrei-me de como ele fora gentil ao me ajudar com as malas no meu primeiro dia em Storybrooke, do quão generoso se demonstrou ao se posicionar a meu favor na discussão com David quando iniciei minhas buscas, mas acima de tudo, do quão respeitoso ele sempre foi. Killian jamais forçou-me a nada. Sempre que tínhamos opiniões distintas, ele estava ao meu lado para mostrar-me uma nova opção, mas sem ordenar ou ditar qual eu deveria escolher. Durante nosso envolvimento, ele nunca ultrapassou os limites e sempre buscava saber a minha posição e desejo, até mesmo na noite em que nos amamos pela primeira vez.

Sentia-me tão abençoada por ter Killian a meu lado, não podia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Devo mencionar que, enquanto pensava em uma resposta à altura, minhas bochechas queimavam e deveriam estar extremamente vermelhas, minhas mãos tremiam e meus olhos estavam marejados. Eu, definitivamente, não sabia o que fazer. Eu poderia ser facilmente comparada a uma adolescente, mas quem são os outros para me julgar? Que atirasse a primeira pedra aquele que nunca perdeu o controle emocional diante de quem ama.

– Meu Deus, Killian... Eu... Por que você faz isso comigo? - perguntei rindo de maneira nervosa e sentindo as lágrimas descendo por meu rosto.

– Eu faço a mesma pergunta porque, inclusive, meu joelho já está doendo. Se não fosse por ele, eu juro que esperaria o tempo necessário pela sua resposta. - brincou.

– Deixa de ser bobo. É claro que eu aceito! - exclamei com um enorme sorriso nos lábios. Assim que Jones se levantou, puxei-o para um longo beijo. Minhas mãos deslizavam livremente pelos cabelos e nuca, enquanto as dele envolviam toda minha cintura e o ajudava a pressionar nossos corpos.

Na noite anterior, nos preocupamos com a presença de nossos pais no quarto ao lado, mas naquela tarde o mundo inteiro desapareceu. Nada mais importava além de nós dois. Após Killian deitar-me na cama, os beijos se intensificaram e tornaram-se calorosos, como se nossos corpos clamassem por uma nova união. Amamo-nos como na primeira vez, entretanto, devo dizer, de maneira tórrida. Era certo de que não havia um lugar sequer em meu corpo que já não havia sido tocado por Jones, contudo, dessa vez, foram explorados mais fervorosamente. Sentíamos mais liberdade e intimidade para tocar e provocar o outro, apreciando e dando um novo sentido àquele momento íntimo.

O mundo parou para nós dois. Passamos a tarde inteira trancados no quarto, nem mesmo vi quando meus parentes foram embora. Entre carícias e conversas, o tempo passou e a hora da nova despedida se aproximava. Não quero descrever esse momento e, como justificativa, usarei as palavras de minha mãe "lembre-se apenas dos momentos bons, tente esquecer aquilo que te faz sofrer". Tivemos um último dia incrível, mas sabíamos que uma hora o final de semana acabaria. Entretanto, agora, tínhamos a prova de que estaríamos sempre juntos, não que precisássemos, mas ela estava ali em nossos dedos anelares da mão direita.

Killian P.O.V

Estava no avião voltando da melhor viagem da minha vida. Já visitei vários lugares, conheci outras culturas e paisagens encantadoras, entretanto, nada nesse mundo poderia superar os momentos que passava (e passei) com Emma. Confesso que estava receoso quanto a reação de seus pais, mas eles foram incríveis. Ginnifer tratou-me como se fosse um filho, mostrou-me fotos de quanto Swan era pequena e se interessou verdadeiramente por minha história. Josh fora mais conservador, afinal, eu era o novo namorado de sua filha. Entretanto, não perdeu para a esposa quanto ao tratamento reservado a mim: conversamos sobre diversos assuntos e estabelecemos um início de amizade interessante. Mesmo com isso, ele não deixou de me questionar sobre o relacionamento - e, claro, na ausência das duas mulheres.

Fiquei extremamente feliz em ver o quão Emma era amada. Ela, de fato, possuía pais extraordinários e, de alguma forma, sentia-me honrado de fazer parte daquela família agora.

Nova York não tinha o mesmo charme de Storybrooke, não em minha visão, mas fora na cidade das luzes que eu conheci uma nova face de minha namorada. Descobrir novos sorrisos, ouvi novos sons de risadas e compartilhamos outros tipos de conversas, vivemos ali uma realidade diferente daquela que tivemos no Maine. Não digo um "novo" no sentido pejorativo, é algo diferente e que veio para acrescentar e aprimorar nossa relação. Emma havia conhecido meu lar, minha vida, agora estava no meu momento.

Lamento que nosso final de semana tão esperado teve um fim precipitado, mas eu não poderia deixar minha irmã sozinha. Eu não sei ao certo o que irei fazer para ajudá-la, mas não vou deixar passar... não dessa vez. David avisou-me da partida de Neal e a ausência de novas informações, ele sequer tinha sido visto novamente. Entretanto, Nolan também me deu a notícia mais desesperadora: Gold descontava a raiva em Belle. Naquele momento, ele não sabia ao certo o que estava acontecendo, ouvira apenas o barulho de objetos sendo arremessados contra as paredes e dos estilhaços consequentes. Além disso, as súplicas de minha irmã para que o velho doente parasse ficavam cada vez mais frequentes. A última informação que ele me dera, era de que Belle não estava mais em casa e que dormiria com Ruby.

Não sabia o que havia acontecido ou o que Gold fizera, mas posso jurar que se encontrasse um arranhão sequer em minha irmã, eu não responderia por meus atos. Quando Emma disse não para a leitura de uma nova carta de Graham, ela estava dizendo não a seus demônios internos também - ela teve a coragem que eu estava precisando agora. Necessitava dessa coragem por ter adiado o confronto com Robert durante anos e, agora que eu sabia o quão sujo ele era, meu medo das consequências havia aumentado. Eu não suportava a ideia de cometer um erro e colocar a vida de Belle e Emma em perigo. Um ato falho e tudo o que construímos em silêncio seria destruído. Eu deveria confrontar Gold, entretanto, não poderia dizer nada que o fizesse suspeitar do que descobrimos. Como se já não fosse difícil o suficiente, a vida ainda impunha limites para essa "conversa". Mas quem é capaz de controlar o que fala quando sente raiva?

Gostaria de ter compartilhado esses pensamentos com Emma, porém, como havia dito, não iria quebrar uma promessa. Eu precisava me espelhar em seu ato de sexta feira para agir corretamente quando chegasse em Storybrooke, mas não sabia como fazer. Tudo o que eu mais desejava era honrar minha palavra e realmente resolver tudo.

Depois de certo tempo no avião e das várias chacoalhadas pela estrada até a cidade, fui correndo ao Granny's, parei apenas para deixar minha mochila em casa. Na verdade, eu havia jogado a mochila através da janela aberta, mas logo lembrei-me de um outro compromisso pendente: Ruby. Quando eu encontrei as cartas de Graham para Emma, havia uma para ela. Possivelmente, ele escrevera em seus últimos dias de vida, talvez até depois da discussão com David. Eu deveria entregá-la a minha amiga. Seria difícil explicar a razão de nunca termos encontrado os papéis, mas tenho certeza que ela entenderia.

– Killian! - David apressou-se para dizer assim que eu bati a porta do estabelecimento.

– Dave. - cumprimentei-o seguindo por Mary, Regina e Robin. - Onde ela está?

– Gold veio aqui e a levou. Já faz alguns minutos. - Robin respondeu.

– Certo... - comecei apreensivo. Eu queria correr para minha irmã, mas preferia resolver o assunto com Ruby antes, pois pretendia dedicar-me integralmente à Belle. - Onde Ruby está?

– Na cozinha, pode ir lá. - Granny avisou enquanto passava rapidamente por nós com uma bandeja nas mãos.

– Kilian, está tudo bem? - Mary perguntou preocupada enquanto alisava a pequena barriga gestante. É, eu senti falta daquela cena.

– Vai ficar. - falei sem muita emoção e me virei, entrando na cozinha. - Ruby?

– Oh, Killy! Já chegou de viagem? Como está Emma? E os pais dela? Oh, me desculpe, você pediu algo e estou demorando? Isso aqui está uma bagunça! - ela disparou enquanto guardava os últimos pratos que estava enxugando.

– Ei, respira. - disse rindo - Eu preciso falar com você. É um pouco sério, mas gostaria que fosse rápido porque, você sabe, a...

– Belle. - completou rapidamente. - Sim, claro. Pode ser lá fora?

– Onde preferir.

Ela limpou as mãos em um pano branco e retirou o avental, em seguida, guiou-me para fora da cozinha. Assim que passamos por nossos amigos, ela anunciou que logo voltaria e os serviria. Eu não disse nada, apenas alisava a superfície da carta em minhas mãos numa tentativa de aliviar a tensão e ansiedade, mas meus pensamentos foram interrompidos por Regina.

– Ei, Jones! Ela vai ficar bem. - disse docemente e segurou uma de minhas mãos apertando-a levemente.

O gesto de Mills, somado ao sorriso sutil, mostrava-me o quão abençoado eu era por ter amigos tão incríveis. Sabia que David não permitiria que Gold fizesse nada de ruim, mas eu precisava estar por perto. Era como se eu precisasse ver e estar atento a todo instante, sem perder nenhum movimento, e assim (somente assim) estaria satisfeito e seguro de ser um bom protetor. Eu não respondi com palavras, mas dei-lhe o melhor sorriso que me era possível no momento. Feito isso, sai atrás de Ruby.

– O que houve? - perguntou.

– Antes de mais nada, eu queria pedir desculpas. Eu juro que eu não sabia de nada disso. - Ruby encarou-me confusa, mas permaneceu em silêncio, esperando que eu prosseguisse - Desde que Graham partiu, nem eu ou David reviramos as coisas dele na delegacia. Ele tinha uma gaveta onde guardava alguns pertences, incluindo a chave da cabana que te demos, mas nós nunca olhamos o restante. Era difícil demais... E, enfim, eu encontrei isso antes de ir para Nova York. - disse-lhe e, finalmente, entreguei a carta.

– Isso... Isso é... - disse com a voz falha e pegando-a de minha mão.

– Sim. Ele que escreveu. Encontrei junto com as que fez pra Emma, mas o papel da sua estava um pouco mais novo, então acho que fora a última.

– Eu que disse para ele escrever pra ela... Vevé, não é? - encarou-me tentando sorrir, mas os olhos cheios d'água denunciavam seu verdadeiro sentimento.

– Sim... Leia quando puder e, mais uma vez, sinto muito por isso.

– Não precisa se desculpar, Killian. Talvez tenha sido melhor você me entregar somente agora, talvez eu não fosse forte o suficiente antes. Obrigada, mas vou abrir o envelope somente amanhã quando for à cabana regar as flores. - Ruby comentou apertando o papel amarelado contra o peito.

– Espero que te faça bem. - sorri. - Me desculpa, mas eu preciso ir agora.

– Tudo bem. E, mais uma vez, não se preocupa... eu entendo. E boa sorte com Gold, não faça nenhuma besteira.

Não retornei à lanchonete para me despedir de meus amigos, dei meia volta e segui em direção a casa de Belle. Não era muito longe, apenas duas quadras, mas era uma distância boa o suficiente para que eu pensasse em tudo o que falaria para Gold. Aliás, esse era um outro ponto: eu deveria esperar que eles explicassem o ocorrido ou eu deveria começar?

Ao aproximar-me da "mansão dos Gold", como o crocodilo gostava de dizer, ouvi ruídos e batidas. Quanto mais andava, maior o som ficava e, então, alguns gritos agudos começaram e vinham da direção que eu mais temia. A cena que David descrevera estava se repetindo. Os metros restantes foram percorridos rapidamente, corria tanto que em poucos segundos já abria a porta da casa e os encontrava na sala de estar destruída. Belle estava encolhida em uma das paredes e Robert parado em sua frente com um livro rasgado nas mãos. Pelas roupas amarrotadas, concluo que o estrago todo fora obra dele, enquanto a pobre de minha irmã tentava se defender. Assim que me viu na porta, ela correu e me abraçou fortemente, como se buscasse proteção. Eu não precisava sentir seu abraço tremulo para saber o quão desesperada e amedrontada estava, mas aquele momento havia sido o estopim. Eu não suportaria Robert Gold um segundo sequer.

– O que é que está acontecendo aqui? - esbravejei e posicionei-me na frente de minha irmã.

– Não é da sua conta. Saia da minha frente! - ordenou.

– É da minha conta sim. Ou você me conta o que está acontecendo aqui agora ou eu juro que esqueço nossa diferença de idade. - mantive o tom e me aproximei.

– Killian, por favor... - Belle pediu com a voz chorosa - Ele só está chateado porque acha que estou fria e distante. Está tudo bem, é só uma briga de casal. - disse sem olhar-me enquanto pegava alguns livros do chão.

– É claro que sim... - disse fingindo serenidade e pegando os livros de sua mão. Sem pensar, movido pela raiva, atirei-os com força em Gold que cambaleou para trás - E isso é motivo para tudo isso? Você que se diz tão poderoso não tem educação suficiente para sentar e conversar? Precisa quebrar a casa e arruinar a coleção de livros que a sua "tão amada esposa" ama? - a essa altura já estava próximo o suficiente de Robert e basicamente cuspia as palavras enquanto dava-o alguns empurrões - E se eu não tivesse chegado? O que você iria fazer? Iria bater nela?

– Você sabe que não. E isso não é da sua conta, Jones. Você pode dar ordens na sua maldita embarcação mas aqui, na minha casa, você não é nada. E se não compreende o que digo, falarei em sua linguagem, aqui você não passa de um pirata nojento. Eu sou a nobreza. - respondeu no mesmo tom estúpido de sempre. Demonstrando-se, ou pelo menos tentando, ser alguém superior.

– Eu não duvidaria se piratas tivessem mais honra e dignidade que você, velho imundo. Eu vou avisar somente uma vez: nunca mais encoste um dedo na minha irmã. Estamos entendidos?

– Quem você pensa que é para me proibir de algo? - disse rindo de maneira debochada.

– Eu perguntei se estamos entendidos e eu não ouvi a minha resposta. - falei segurando-o pelo colarinho do terno.

– Você não pode fazer nada. Ela é minha, não sua. Você sequer é o irmão dela, você não tem ninguém. É sozinho no mundo, Jones! - provocou-me.

– Não só posso como vou, crocodilo. Eu espero que você ainda escute sem necessidade de aparelhos e enxergue bem sem seus óculos porque, a partir dessa noite, Belle French não passa mais um dia ao seu lado. E adivinha? É o pirata nojento que está levando ela embora. - soltei-o e caminhei em direção a minha irmã - Você vem comigo?

– Você não faria isso, não é, Belle? - Gold perguntou e, pela primeira vez, pude sentir alguma emoção em sua fala. Mais fascinante ainda era perceber a pontada de medo em sua pergunta, entretanto, devo admitir que era prazeroso vê-lo sofrer.

– Sim, eu vou com você, Killian. - e, ignorando o marido, respondeu e veio em minha direção, agarrou meu braço novamente pedindo proteção. Seus olhos arregalados denunciavam o pânico e, nesse momento, a promessa que fiz de proteger minha irmã e Emma tornou-se ainda mais séria. Eu não poderia desejar nada no mundo além da segurança das duas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e me desculpem os possíveis erros de digitação, não contei com meu segundo revisor dessa vez hahaha
Beijos e vejo vocês no próximo?!