Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 2
A amizade


Notas iniciais do capítulo

Alôoo counidade, postando mais um hoje pra não ficar aquela coisa mortinha e pequenininha do prólogo HAHAHAH



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611582/chapter/2

Desde aquele dia, eu e Graham sempre nos falávamos, quase todos os dias por longos minutos. Mas aquele dia marcou, também, uma mudança radical nele: por algum motivo, ele se desvinculou da “antiga vida”. Quando o via pelos corredores ele não estava mais acompanhado ou sorrindo, estava sério e sozinho. Um mês depois ele saiu da escola. Entretanto, isso não nos impediu de dar continuidade àquela amizade que surgira, mas não éramos próximos o suficiente, ainda, para que ele confiasse em mim as razões de tal mudança. E, com o tempo transcorrido até nossa amizade se fortalecer, não me recordei de questioná-lo a respeito. Apresento-lhes, então, a primeira pergunta sem resposta da história.

Quanto mais o tempo passava, mais próximos ficávamos. Nos tornamos grandes amigos. Chegamos até a cogitar um pequeno namoro, bem aqueles de “eu sou sua namorada” como quem demarca simples funções da brincadeira de casinha, sabem? Nada de beijos ou carícias, acredito que em nosso auge teríamos mãos dadas. Mas não vingou, achávamos mais interessante constituir uma dupla dinâmica ou qualquer coisa do tipo.

O que sempre me intrigava em Graham era sua discrição: ele sempre estava preocupado em quem estava por perto, o que pensavam ou falavam e talvez por esse motivo nunca fora às minhas festas de aniversário. Nunca. Nenhuma delas. Acredito que, dentre todos os aniversários, o que mais me marcou foi quando completei 13 anos e ele não estava em Nova York. Pela primeira vez, ele não havia me dito que viajaria e, quando retornou, não se lembrou do meu aniversário. Seus pais eram de família muito rica, possuíam dinheiro suficiente para sustentar duas gerações sem trabalhar e, por isso, viviam fazendo viagens. Bom, era o que Graham dizia… Eles sempre sumiam e apareciam discretamente e sem qualquer explicação.

Naquele ano, infelizmente, perdi meu avô um dia antes de meu aniversário. Graham não estava por perto. Meses depois, me vi sofrendo por amores errados. E, mais uma vez, eu estava sem o apoio do meu melhor amigo. Ao final do ano, meados de outubro, conheci um garoto por quem me apaixonei: seu nome era Neal Cassidy. E tudo isso enquanto Graham havia desaparecido — mais uma vez, dentre as milhares que ocorreram naquele mesmo ano e que iriam ocorrer. Quando eu mais precisei de seus conselhos e amizade, ele não estava lá, sequer me mandava mensagens ou ligava. Graham simplesmente brincava de esconde-esconde comigo e com o mundo.

No ano seguinte, inesperadamente, Graham retornou sabe-se lá de onde estava. Meu namoro com Neal estava firme e, felizmente, surgiu uma grande amizade entre os dois. Fazíamos um trio e tanto! Lembro-me de certa vez, um primeiro de abril qualquer, estava entediada conversando com o Graham quando resolvemos pregar uma peça em Neal. Disse a ele que queria terminar, pois estava gostando de Graham e que havia começado a vê-lo com outros olhos. Ele, claro, acreditou. Isso nos permitiu, depois, ter várias e várias horas de conversa em grupo e muitas risadas, claro. E, assustadoramente, tudo isso fora feito por ele de maneira virtual. No mundo real, ele vivia em sua toca: não vinha nos meus aniversários; não saia comigo, meus amigos ou Neal; faltava aos compromissos e se recusava, muitas vezes, ir até mesmo ao shopping.

O grande problema de Graham era, na verdade, sua falta de explicação e justificativa. Por quê toda essa mudança? Antes de conhecê-lo, costumava o descrever como o garoto mais sociável de toda escola e que jamais conversaria comigo pela minha introversão. O que aconteceu afinal? Era um tanto quanto assustador a forma como ele se escondia e se privava da vida em sociedade. A última festa que o-senhor-de-todas-as-desculpas foi convidado era de uma amiga minha, seu nome era Clarie. Lembro-me de tê-lo esperado na porta da festa durante duas horas: ele não apareceu ou se preocupou em ligar para avisar que não iria. E foi naquela noite que tivemos nossa conversa mais sombria e decisiva. Nós não sabíamos, entretanto, que essa seria nossa última conversa.

— Me dê um bom motivo pra você não ter aparecido na festa hoje. Aliás, um bom motivo não, um ótimo! Eu te esperei por duas horas na porta. DUAS HORAS.

— Eu sei, me desculpa.

— “Me desculpa?” Não. Não tem essa, me diz o motivo.

— Eu só não apareci, tá?

— Tá? A Clarie olhou pra mim como se eu fosse a mentirosa, como se eu tivesse inventado tudo, como se você não existisse, como se eu fingisse ser você por trás de um maldito computador. Eu não sou você!

— Lógico que não é! Elas tem que acreditar em você.

— Acreditar em mim? Não, elas não tem. Eu falo de você o tempo inteiro e você nunca apareceu. A culpa é sua. Olha, sinceramente, vou te dar uma última chance. Ou você vai na casa dela amanhã pedir desculpas ou não precisa mais falar comigo.

— Eu não vou na casa dela.

Desliguei o telefone.

Então era isso, ele havia feito sua escolha. Eu não quis saber seus motivos naquele momento, eu só queria que ele fosse sincero comigo uma única vez. Ele deveria saber que nossa amizade era forte o suficiente para suportar todo e qualquer obstáculo e que, independente do que estivesse acontecendo, eu iria ajudá-lo. Mas esconder era a solução mais fácil e mais comum pra ele.

Lembro-me de sempre ouvir as pessoas falando de nossa amizade: éramos exemplo. Todos queriam uma amizade como a nossa, afinal, Graham me tratava como se fosse uma boneca de porcelana! Não por eu ser frágil ou indefesa, mas por querer me poupar de toda e qualquer desilusão ou problema. Sempre que eu sumia para ficar sozinha ou chorava ele estava ao meu lado e sempre ia atrás de mim (excluindo, é claro, os sumiços repentinos). Era ele também quem estava presente quando eu e Neal brigávamos. Sempre havia Graham para acalmar e ajeitar as coisas. Ele era, definitivamente, meu anjo da guarda. Talvez seja isso… Talvez anjos da guarda não sirvam para estar presentes o tempo inteiro e para todos, eles precisam retornar ao céu às vezes, sem aviso prévio e repleto de mistérios. Porém um anjo da guarda não me abandonaria… um anjo não deixaria de lado seu protegido como ele fez.

Quando Graham e eu paramos de conversar, eu pude perceber que cresci dentro de uma bolha. Eu não sabia me defender sozinha, era mais frágil do que pensava e não era tão especial quanto ele dizia que eu era. Neal até que tentou, mas ele também sabia que não poderia substituir Graham. Alguns anos se passaram e meu namoro começou a enfraquecer, não estava mais dando certo. Neal e eu já estávamos em processo de planejamento de todo o processo de noivado e casamento necessário, mas algo sempre acabava dando errado.

Eu tentei ir atrás de Graham naqueles tempos, mas ele havia sumido — de novo. Porém dessa vez tinha sido diferente: seus parentes também haviam desaparecido, a casa fora vendida e ninguém sabia para onde eles haviam se mudado ou quando/se voltavam. Certo dia pela manhã, depois de uma noite de muita discussão com Neal, levantei-me para ir ao supermercado. Eu estava naqueles dias em que você pensa: não vou me arrumar, vou com a cara inchada e não quero falar com ninguém, portanto, não me desejem “bom dia” a menos que queiram ser ignorados. Bom… o universo pode conspirar a favor, mas também pode conspirar contra, e ele não estava de bom humor.

Estava pegando o leite na prateleira quando ouvi uma senhora chamar meu nome.

— Emma!

— Olá senhora Behati, como vai? - ela era vizinha de Graham, fazia muito tempo que não a via. Era sempre tão simpática e amorosa, não tive coragem de descontar nela meu mau humor.

— Vou bem. - menti. - E a senhora?

— Ah, estou como todos estão não é mesmo? É bom saber que você está de pé... firme.

Eu não estava entendendo uma palavra sequer que ela dizia. Ou eu ainda dormia ou ela realmente havia chegado na idade de falar coisas desconexas. Vendo que não obteve resposta, ela prosseguiu o diálogo.

— Fiquei preocupada por não ter te encontrado ontem.

— Ontem aonde, senhora Behati?

— Ora, minha querida, na missa de sétimo dia.

Missa de sétimo dia. Missa. De. Sétimo. Dia. Por quê diabos eu teria uma missa de sétimo dia para ir? Pior… de quem? As palavras se repetiam em minha cabeça e eu não pude conter a cara de desespero. Estava tão amedrontada que sequer conseguia pronunciar uma palavra.

— Missa de sétimo dia de quem? - disse, finalmente, após certo esforço.

— Oh, você não sabia, meu anjo? - disse, abaixando a cabeça. - Graham, minha querida…

Eu sinceramente gostaria de compartilhar com vocês o que veio após a fala dela, mas eu não me lembro. Devo tê-la agradecido pela notícia ou simplesmente ter saído de perto sem dizer nada. Lembro-me apenas de mais duas coisas que ela disse em seguida: algo como “dormindo” e “depois do ano novo”. Não sei ao certo como terminei minha compra ou como cheguei em casa, estava completamente em choque.

E assim passei todo o meu dia: não chorei, não gritei, apenas fiquei sentada em minha cama com os olhos cheios d'água e assustada. Bom… anos atrás eu havia parado de falar com meu melhor amigo por uma coisa simples de ser resolvida e, agora, ele havia partido. E dessa vez, permanentemente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando, logo logo Killian aparece para a alegria geral da nação! HAHAHAH Comentem, deem opiniões, façam críticas...
Beijosss



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Open Wound" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.