Eu tinha 11 anos quando o conheci. Seu nome era Graham Humbert, relativamente bonito para a idade — dois anos mais velho que eu. Não, ele não era o mais bonito, mas era o mais cobiçado. Estava sempre rodeado de amigos e garotas pois seu maior charme era, de longe, a simpatia. E os olhos verdes! Ele se destacava pela facilidade em se socializar: fazer amizades sempre fora seu forte, com tudo e todos. Inclusive comigo. Eu não tinha nada, sendo bem sincera. Dentre minhas amigas, era a mais magra, sem qualquer traço de vaidade feminina ou sequer facilidade em fazer amigos. Entretanto, ironicamente, tinha vários. A única explicação que tenho a isso é que eu estava na hora certa com pessoas certas, e também porque estudei com aquelas pessoas desde criança. Isso facilitou bastante, caso contrário, vejo-me facilmente fora dessa roda de amigos. Aliás, “amigos” é uma palavra um tanto quanto forte demais. Enfim, a questão era que eu jamais seria a escolhida, dentre minhas outras colegas. Não trata-se de pessimismo, é a realidade. E, mesmo assim, ele me escolheu, embora sempre dissera que eu o havia escolhido.

Lembro-me de nos encontrarmos pela primeira vez no jogo de peteca depois da aula. Moleca que era, ficava sempre meia hora depois do horário jogando com alguns alunos mais velhos — não eram meus amigos, claro, sequer lembro-me de seus nomes. Certo dia, porém, Graham pediu para jogar também. Esse foi nosso primeiro “encontro”. O segundo foi no corredor quando nos esbarramos e eu quase rolei escada à baixo. O terceiro, e definitivo, foi em um intervalo bem estranho e atípico… Aquele foi, definitivamente, o mais anormal de todos: ele não estava com ninguém ao seu redor. Pela primeira vez Graham Humbert estava sozinho. Eu também estava, minhas amigas estavam com seus “ficantes” e a miss-nada-atraente aqui ficava isolada nesses momentos. O problema era que ele estava sentado no lugar que eu costumava sentar quando estava sozinha. E eu queria ficar lá. Queria muito. Foi então que, pela primeira vez na vida, me vi tomando atitude e indo falar com uma pessoa espontaneamente.

— É um bom lugar pra ficar sozinho, não?!
— É sim.
Ele manteve a cabeça curvada para baixo, não me olhou para responder. Certamente ele não era o mesmo garoto que eu sempre vira pelos corredores.
— Está tudo bem?
Não obtive resposta.
— Graham, não é?
— Sim. E estou bem, obrigado.
Então ele levantou a cabeça e me encarou por um instante revelando os olhos cheios d’água. Minha resposta foi apenas um olhar de “Ok, conta outra que essa realmente não colou”.
— Desculpa… São só alguns problemas em casa. Obrigado pela preocupação. Qual seu nome?
— Emma. Meu nome é Emma… Posso me sentar aqui com você?
— É claro que pode.