Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 13
Cabana


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a todos que comentaram aqui e estão sempre acompanhando! Fiz um capítulo ENORME que eu eu, sinceramente, amei escrever então espero que vocês também gostem. Por esse motivo, dedico esse capítulo a todos que estão lendo e acompanhando minha história: Mika, Bella, Be, LéiaSwanJones, arizonas, NatáliaVieira, potterhunteroncer, emma jones swan, Leeh Wesley. MUITO OBRIGADA vocês são incríveis! (acho que não esqueci ninguém kkkkkk)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611582/chapter/13

No dia anterior...

Regina sentia sua cabeça latejar e poderia jurar que ela sairia do corpo a qualquer momento, criando vida própria. Os raios de sol que atravessavam as cortinas queimavam seus olhos e, com certa dificuldade, levantou-se da cama lentamente para, ainda, não acordar Robin. Ela havia trabalhando no escritório até tarde e, a julgar pela bagunça espalhada pela casa, deduziu que o marido passara bastante tempo entretendo o pequeno Roland, filho do casal de apenas três anos. Por isso, Regina queria ir trabalhar sem acordá-lo, afinal, deveria estar cansado e merecia aproveitar sua sexta feira de folga. Antes de sair, porém, deixou um bilhete para o marido explicando a razão de não tê-lo despertado e foi ao quarto do filho para dar-lhe um beijo de bom dia, mesmo que a criança estivesse em seus melhores sonhos.

Já na prefeitura, Regina lembrava-se da promessa que havia feito à Emma, se odiando por ter firmado tal compromisso, pois sabia que seria complicado resolvê-lo. Mas, com a ajuda de Belle, talvez, houvesse alguma esperança. A casa comprada por Graham, anos atrás, pertencia a Robert Gold, marido de Belle. Ele era, de longe, a pessoa mais desprezível que ela conhecia — um ódio que ela e Killian compartilhavam desde que o encontraram pela primeira vez. Gold era um homem mais velho, deveria ter seus 45 anos, entretanto, sua alma era extremamente jovem, considerando toda audácia. A razão por ela e Jones odiarem o marido de Belle era a mesma: Robert transpirava ambição, era pretencioso e cínico; quanto mais ele possuísse e conquistasse, mais satisfeito ficaria. E, por isso, em várias ocasiões, tentava negligenciar as regras, subestimando a autoridade e competência da prefeitura e delegacia. Era alguém que, definitivamente, exalava por cada poro de seu corpo o desejo incessante de dominar a cidade por completo. Regina sabia que pedir algo a Gold teria certo preço, mas, talvez, com a ajuda de Belle a história poderia ser diferente.

— Belle? – disse Regina, assim que a amiga atendeu o telefonema.
— Oi, Regina! Está tudo bem? – disse animada.
— Está sim, e você?
— Eu estou ótima! Por que me ligou? Aconteceu algo?
— Então... missão impossível.
– disse, mordendo o lábio inferior.
— Qual?
— Eu preciso de um favor do seu marido e eu não estou nem um pouco afim de fazer qualquer acordo com ele. Teria como você fazer isso por mim?
– Regina disse rapidamente.
— Entendo... – Belle disse e depois suspirou, ela sabia o quão genioso era seu marido e entendia perfeitamente quando todos fugiam dele – O que, exatamente, você precisa?
— Bom, sabe a Emma? A amiga do Killian que eu chamei pra nossa noitada. – Regina esperou uma afirmação de Belle do outro lado da linha e, assim que a ouviu, prosseguiu, — Ela me pediu o contrato que Graham fez na compra daquela casa na floresta e bom... ele fez com seu marido. Ela disse que ajudaria bastante na busca que ela está fazendo, e eu prometi ajuda-la.
— E agora você quer que eu te ajude a ajudar Emma? – disse achando graça da situação, continuando, — É claro que eu ajudo! Ainda mais sabendo do que acabou de acontecer...
— O que aconteceu? – ela perguntou sem entender.
— Oh, você não esteve com ela agora não?
— Não, ela veio aqui logo de manhã quando eu estava chegando!
— Ah... ela brigou feio com meu irmão e David.
— Mas por qual motivo?

E, então, Belle contou a Regina toda história de Graham. Ela e Ruby eram as únicas que sabiam da versão desde o início, pois Killian havia contado a elas, a primeira por necessidade de desabafar e a segunda por simples peso na consciência. O processo de ambas para perdoá-los, na época, foi longo e complicado, mas com Regina, espantosamente, foi quase que instantâneo. Ela era uma mulher “pé no chão”, não era de seu feitio remoer situações, entregar-se a arrependimentos e, muito menos, preocupar-se ou examinar assuntos passados. Logo, brigar com David e Killian sobre a história de Graham seria contra todos os seus princípios, além de não contribuir ou ajudar em absolutamente nada. Embora tenha ficado com raiva ou decepcionada com a atitude dos amigos, Regina resolveu deixar de lado as explicações ou “porquês” que envolviam a história.

— Eu poderia matar os dois se não fosse completamente inútil. E você também por não me contar nada, traidora!
— Regina, eu não podia falar!
— Eu sei... agora eu consigo entender o último telefonema dela.
— O que ela disse?
— Aliás, essa era uma das coisas que eu queria falar com você. Ela me pediu para adiantar nossa noite das meninas e estava chorando muito.
– Regina disse com certo pesar em sua voz.
— Killian também estava... você precisava vê-lo, Regina! Estava de cortar o coração. – Belle disse tristonha.
— É bem feito! Só pra aprender! E eu aposto que esses dois estão de caso!
— Se estivessem, ele teria me dito.
— Oh, claro que ele falaria “olha irmãzinha, eu estou super apaixonado por uma loirinha linda que acabou de chegar à cidade”. E ainda mais depois de tanto tempo e de tudo que aconteceu né, Belle? Lógico que ele não falaria, deixa de ser ingênua.
– Regina disse com a sinceridade de sempre.
— Espero que não seja verdade isso porque, se for, vai ser a primeira vez que ele não me conta o que está acontecendo! – disse emburrada, mas continuou, — Se isso for verdade, e eu disse “se” tudo bem Regina? Se isso for verdade, acho que nós poderíamos ajuda-los.
— Como assim?
— Eu posso conseguir a papelada com Bob e então entrego ao Killy...
— ... e ele entrega pra Emma.
– Regina completou com um sorriso malicioso nos lábios. — Você é genial, Belle!
— Eu sei. – disse, gabando-se.
— Uhum, tudo bem, claro. – disse em tom sarcástico — Então, senhora genial que sabe disso, seja útil e ligue para Ruby e Mary porque hoje nós vamos levar Emma Swan para beber. Digo... sua cunhada. – sorriu, pois sabia que estava provocando a amiga.
— Regina!

Conseguir algum favor de Robert Gold era uma tarefa que exigia muito esforço e sacrifício, exceto por Belle. Ele, de fato, amava a esposa e, ao menos com ela, ele conseguia se tornar num homem melhor. Sabendo disso, Belle conseguiu facilmente a papelada com o marido, mesmo que ele tenha ficado possesso de raiva ao saber que isso ajudaria o irmã da moça. Ela, então, tratou de ligar rapidamente para Killian dizendo que estava com algo que ajudaria Emma em sua busca.

Killian P.O.V

— Me fala o que é, Belle! – pedi, já impaciente pois estávamos nessa conversa há minutos e ela não fala simplesmente nada realmente esclarecedor.
— Não, Killian. Vem logo aqui em casa.
— Robert está ai?
— Não, já foi trabalhar. E, sinceramente, depois de todos esses anos eu achei que você pudesse ao menos se esforçar mais pra tentar conviver com meu marido.
— Belle, essa é a minha convivência com seu marido: esquiva. Entenda, eu não sou como a Regina que consegue sentar na mesa do Granny’s e almoçar com ele do lado.
— Ok, teimoso.
– suspirou fundo — Só venha rápido, pode ser?

Receber o telefonema de Belle dizendo que havia algo importante, referente à Emma, para me entregar me deixou confuso. Poucas horas atrás eu fui até a casa de minha irmã e contei-lhe tudo o que havia acontecido e, mesmo assim, ela me retornou com essa notícia. O que será que ela havia feito? Movido pela curiosidade e pela vontade louca de ajudar Emma, fui correndo encontrar-me com Belle. Chegando lá, bati várias vezes na porta até, finalmente, ser atendido.

— Ei! Não precisa quebrar a minha porta. – disse Belle nervosa.
— Desculpa... eu estava nervoso.
— Anda, entra logo, Killy.

Entrar na casa de minha irmã dava-me arrepios somente pela lembrança de que ela vivia ali com o homem mais sujo de toda cidade. O dia de seu casamento foi, de longe, o pior dia da minha vida. Vê-la tão deslumbrante naquele lindo vestido de noiva deveria ser algo de repleto prazer, mas saber que estávamos entregando nossa pequena Belle para um homem tão desprezível apertava meu coração. Apesar de tudo, devo admitir que ele sempre a tratou bem e que nada jamais a faltou, emocional e fisicamente. O desgraçado sabia cuidar da minha irmã — menos mal, acredito. Sentei-me no sofá e ela me acompanhou, ficando ao meu lado e pegando em minhas mãos.

— Killy, Regina me ligou e disse que Emma passou lá pela manhã pedindo-a um pequeno favor.
— Favor?
— Ela pediu o contrato da casa de Graham, aquela da floresta sabe? Disse que ele seria muito útil para a busca dela.
— Oh claro... tem vários dados lá. – disse pensativo e, ao mesmo tempo, admirado. Emma sabia exatamente como procurar aquilo que desejava e, vendo que não possuía progresso comigo e David, foi atrás sem pestanejar.
— Sim. E Graham fez o contrato com Bob. – ela disse, apertando minhas mãos um pouco mais firme.
— Ah droga! Por que logo ele? Graham era maluco? Como nós vamos conseguir isso agora?
— Killian qual a parte do “eu tenho algo pra ajudar” você esqueceu? Eu consegui a papelada.
— Sério? – sorri e ela me entregou o envelope com um meigo sorriso nos lábios.
— Eu ia entregar para Regina, mas preferi te entregar para você se reconciliar com sua... amiga. – eu sabia o que Belle estava fazendo. Ela queria jogar verde para colher maduro e arrancar-me todas as informações possíveis sobre minha relação com Emma. O problema era que eu já estava ferrado o suficiente com Swan e não sabia ao certo o que sentia, qualquer palavra ou ato falho, agora, poderia piorar ainda mais as coisas.
— Sim, muito obrigado, irmãzinha.
— Você se importa com ela, não é? – Belle investiu novamente.
— Sim, bastante.
— Eu acho que vocês dois fariam um belo casal. – essas palavras atingiram-me como bala, fazendo-me engasgar com o próprio ar.
— Como assim? Que loucura! – disse em meio a tosses.
— Ficaria feliz se isso – ela apontou para o envelope — ajudassem vocês dois a se entender.
— Já chega né? O papo está ótimo, mas eu tenho coisas pra resolver agora. Preciso falar com Emma! – disse, levantando-me e sacolejando o envelope.
— Ei, posso te pedir uma coisa? – e lá estava a minha irmãzinha pedindo favores com olhar de cachorrinho sem dono que me convenciam facilmente. Faria e faço muitas coisas por Belle, mas quando ela usa esse maldito truque do olhar, ela poderia me pedir para pular de um prédio que eu me convenceria rapidamente.
— Claro que pode.
— Não faça isso hoje... por favor.
— Por que não? – disse confuso.
— Hoje ela vai sair comigo e com as meninas, Emma precisa de um tempo, Killian.
— Tudo bem. – suspirei fundo pois sabia que ela estava certa... Como sempre.

Agradeci mais uma vez pelo contrato e pelo grande esforço em convencer Robert Gold a ajudar, embora sinto que ele desejava imensamente que eu falhasse em minha missão, e fui embora. Como não tinha cabeça ou ânimo para trabalhar hoje, David disse que cobriria tudo por lá e, qualquer coisa, me avisaria. Isso era mais um sinal de que Emma Swan realmente estava nos evitando, já que ele não mencionara o papel de Emma em nos informar quando algo dava errado por lá. Pensando nisso, deitado em meu sofá, pude perceber que eu havia me acostumado rápido demais com a presença dela. Antes de seu aparecimento, eu e David tomávamos conta da delegacia sem problema algum, mas agora que tínhamos Swan nos ajudando, atendendo aos telefonemas, transmitindo informações importantes e ajudando-nos com a organização, parece que todo o passado havia se apagado. Eu não consigo me lembrar, não nitidamente, como eu e David dividíamos essas tarefas.

Certamente havia algo fora dos eixos. Não digo isso, simplesmente, por todas as mudanças que reparei durante essa semana, mas por me pegar na vigésima ligação para Emma Swan — sendo todas ignoradas. Talvez Belle estivesse certa... talvez eu realmente estivesse me apaixonando por Emma. Admirava a forma como ela conseguia conter suas lágrimas e seguir firme diante das situações; adorava ver sua dedicação nas mínimas tarefas que executava, sempre compenetrada nas atividades como a vira muitas vezes organizando, por exemplo, as gavetas; o simples modo com ela jogava seus cabelos de lado ou os enrolava com o dedo quando estava entediada. O som da voz dela era como melodia e eu me encantava toda vez que ela me chamava por “Killian” ou quando clamava firmemente o “Jones”. Devo acrescentar que o toque de suas mãos e lábios excitavam-me fervorosamente, gerando por meu corpo ondas elétricas de alta intensidade e, por Deus, nós não saímos de meros e singelos beijos! Ela me enlouquecia física e emocionalmente. Era insanidade, mas, devo aceitar que a possibilidade de eu estar apaixonado por Emma era claramente alta.

Chegando a essa conclusão, portanto, resolvi ir atrás dela. Olhei para o relógio e deduzi que ela já deveria estar com as meninas no bar. Imaginá-la se produzindo e encontrando outros homens fez meu sangue ferver e a certeza de que eu possuía algum sentimento verdadeiramente forte por ela só aumentou. Decidi, então, ir atrás dela e que se dane a promessa que fiz a Belle, eu precisava falar com Emma. Conhecendo bem minhas amigas, tinha certeza de que levaram-na para o pub próximo ao hotel da vovó. Chegando lá, a vi sair apressadamente. Olhei para o relógio e notei que não era muito tarde, alguma coisa deveria ter acontecido. Eu tinha ensaiado milhões de frases para lhe dizer, mas eu já havia me esquecido de todas. Pretendia entregar-lhe o contrato e mostrar-lhe a casa no dia seguinte, mas se ela recusasse minha presença eu deveria deixa-la seguir o caminho sozinha. Portanto, antes de sair, anotei em um pedaço de papel o endereço de Graham, apenas por precaução. Ela estava tão linda! Cortando meus pensamentos, vi Sebastian saindo do local e indo em direção a ela. A noite estava escura, pois as nuvens cobriam um pouco da luminosidade da lua e algumas luzes da rua estavam fracas. Além disso, uma névoa fina cobria a cidade e dificultava a visão, ela certamente não tinha percebido sua aproximação. Fui andando atrás dos dois, certificando-me de que ela chegaria segura ao hotel.

Não me fora surpresa alguma quando Sebastian a agarrou, provocando-me uma raiva súbita que me fez apressar o passo para livrá-la de suas gracinhas. Entretanto, vê-lo beijar o pescoço de Emma contra sua vontade, forçando uma situação de extrema violência e abuso foi o ápice de meus nervos. Quando vi, já estava por cima dele aos socos e, em poucos minutos, ameaçando-o de prisão enquanto dava-lhe uma gravata. Tudo o que eu havia ensaiado fora jogado fora quando a vi acuada, rente ao poste de iluminação e com os olhos repletos de lágrimas tamanho o susto. Embora tivesse dito-me que estava bem, eu sabia que ela estava mentindo. Insisti para que ela me deixasse a acompanhar ao hotel, sabia que ela queria aceitar, mas também tinha consciência de que ela não assumiria isso. Eu não a deixaria sozinha, não depois de tudo. Eu sabia que toda aquela minha persistência me faria cometer algum erro e assim aconteceu. Lá estava eu, mais uma vez, beijando Emma Swan. E, por fim, quebrando todos os meus planos, lhe entreguei apenas o endereço, sem dizer nada sobre o que se tratava. Minha única orientação para ela havia sido, basicamente, “se isso [o beijo] tiver significado para você, vá amanhã neste endereço”. Tolo. Dramático. Desnecessário. Por que diabos eu fiz isso? Agora que ela não iria mesmo e eu teria que ir com o rabo entre as pernas, coberto de fracasso e rejeição, até o hotel para entregar-lhe a papelada.

No dia seguinte...

Lá estava eu, parado na pequena varanda de Graham. Eu não voltei ali desde que ele havia falecido, tudo ali era tão Graham Humbert que era difícil suportar toda aquela atmosfera. Eu sabia que Emma não viria, mas estava aproveitando aquele momento como um desafio pessoal: viver um passado que ainda machuca, como uma ferida ainda aberta e que eu havia negligenciado por anos até o aparecimento de Swan. Quando ele morreu, todos da cidade achamos mais do que justo que a casa ficasse em posse de Ruby, sendo esta a única que frequentou o lugar após o falecimento. Podia-se observar que, mesmo com os anos, ela ainda continuava a ir lá e cuidar de tudo a julgar pelas violetas recém colocadas no beiral da janela. Antes de vir, pedi que me emprestasse a chave em caso de Emma aparecer e resolver entrar, pois eu não conseguiria fazer isso sozinho. Certamente não usaria as chaves já que eu estava ali havia mais de duas horas e nada.

— Oi. – uma voz tímida surgiu atrás de mim. Virei-me e dei de cara com Emma.
— Eu pensei que não fosse vir. – disse com um sorriso tímido nos lábios, satisfeito por vê-la ali.
— Eu não ia... mas achei que te devia essa, depois do que fez ontem por mim.
— Você sabe que lugar é esse?
— Sim, a casa de Graham. Regina me falou sobre. – o tom de voz dela era frio, seco, sem qualquer emoção. Era nítida a chateação e raiva que ela sentia de mim, além da certeira obrigação que sentia em estar ali para, supostamente, pagar uma dívida feita no dia anterior.
— Ela e Belle conseguiram isso para você. – disse entregando-lhe o envelope que eu havia deixado no banquinho de madeira ao meu lado.
— Esse é o...
— O contrato. – completei-a, enquanto ela pegava o pacote de minha mão um pouco surpresa.
— Por que elas pediram pra você me entregar isso e não me deram ontem?
— Não sei. Belle me entregou os papéis ontem de tarde. – disse, sentando-me onde, antes, os papéis estavam. Swan, surpreendentemente, me acompanhou. Como o banco era pequeno ficamos muito próximos, nossas coxas quase tocam, causando-nos certo desconforto.
— Obrigada por me entregar. – disse simplesmente, de cabeça baixa.
— Não vai abrir?
— Não sei. Eu tenho medo do que vou encontrar.
— E o que pretende fazer então?
— Esperar um pouco. Preciso me preparar... um sofrimento de cada vez. – ela disse a última frase num murmuro que, feliz ou infelizmente eu consegui ouvir.
— Quer entrar para ver pelo menos? – lhe ofereci, balançando as chaves em sua frente e quando vi que ela iria comentar algo, continuei minha frase — As chaves ficam com a Ruby, eu só pedi emprestado.
— Como sabia que eu ia te questionar sobre isso? – a pergunta dela fez com que eu sentisse um choque passar por todo meu corpo, abaixei a cabeça e sorri de maneira nervosa antes de responder.
— Eu fiz por merecer.
— Eu quero. – Emma disse, ignorando o que eu havia dito.

Levantei-me e a chamei com o olhar para que me seguisse. Assim que abri a porta, ela passou por mim e fora explorar a pequena cabana. Havia apenas uma sala com um sofá pequeno e uma mesa de centro, uma cozinha com fogão, geladeira e um armário, além do quarto e o banheiro. Toda a decoração, inclusive do lado de fora, era em madeira, do jeito que ele gostava de ficar: camuflado. Com exceção do banheiro, os cômodos não tinham divisões bem definidas, aliás, apenas o quarto era mais afastado, pois se situava num local marcado por um único e pequeno degrau. Perdido em pensamentos e tomado pelo aperto no coração, não havia percebido para onde Emma fora. Pela pequenez do lugar, logo a encontrei vasculhando as gavetas da cômoda no quarto de Graham.

— Encontrou alguma coisa? – perguntei, mas não obtive resposta. Imaginando que ela não queria falar comigo, apenas me sentei na cama e fiquei a observando. Entretanto, Emma não se movia e permaneceu parada ali, apoiada na gaveta aberta. Ao me levantar, aproximando-me, ouvi pequenos soluços de choro. — Emma?
— Oi. – ela disse, enfim, tentando inutilmente limpar as lágrimas do seu rosto.
— Ei, o que houve?

Ela não me disse nada, apenas me entregou uma folha de papel rasgada pela extremidade direita. Era uma página de um livro, número 32. Pelo que percebi, tratava-se de um romance qualquer, mas uma frase, no meio da página, estava circulada a lápis: "Você veio até aqui, me derrotou e agora estamos juntos para sempre.". Olhei para Emma como quem pedisse uma explicação, porque aquela página era tão importante para Emma?

— Você veio até aqui, me derrotou e agora estamos juntos para sempre. – ela repetiu, chorando novamente.
— O que isso significa?
— Essa era a nossa frase preferida. É de um livro bobo que lemos na escola – ela dizia com dificuldade, controlando o choro e a voz embargada, o que fazia meu coração se comprimir cada vez mais — e ele sempre dizia isso pra mim... Ele não tem o livro, Killian. Ele só guardou a página. — ela, então, retornou ao choro, porém, rendeu-se a ele e deixava as lágrimas rolando livremente e permitindo que os soluços emitissem seu som.

Num impulso, aproximei-me mais e a abracei, encostando delicadamente a cabeça dela sobre meu colo e acariciando seus cabelos. Ela por sua vez, mostrando bandeira branca, envolveu seus braços por minha cintura e apertando fortemente. Ela precisava de ajuda e aceitou minha oferta. Vê-la daquela maneira estava me destruindo, aquela frase era realmente importante para os dois. Além disso, a página provava para Emma que ele jamais teve intenção de excluí-la de sua vida. Graham nunca deixou de amar Emma.

— Oh, Killian... – ela disse num sussurro.
— Vai ficar tudo bem, logo passa. – depositei um beijo em sua cabeça. — Confia em mim... ao menos nisso.
— Eu confio. — Swan murmurou.

Ficamos ali por mais algum tempo, até que ela retomou suas forças e desvencilhou-se de meus braços. Não esperava que ela fosse me tratar mal lembrando-se da minha mentira, mas não esperava que ela fosse agir de acordo com o que acabara de dizer. Emma deu-me um sorriso tímido e, ainda num sussurro, entonou um singelo “muito obrigada”, fazendo-me sorrir largamente.

— A gente pode almoçar aqui se quiser. – ofereci completamente fora de hora. Era difícil concentrar-me com ela por perto, eu sempre dava uma mancada. Pensando nisso, levei as mãos até o rosto, incrédulo por minha burrice.
— Não tem nada aqui. – ela segurou um pequeno riso, provocado pela minha reação.
— Eu meio que trouxe... – disse sem jeito.
— E você tinha certeza de que eu viria?
— Na verdade eu tinha certeza do oposto. – cocei minha orelha nervoso.
— E mesmo sabendo disso, você pensou em trazer comida?
— Acrescenta, por favor, a grande possibilidade de você gritar comigo de novo.
— E ainda assim pensou? – ela retornou a pergunta com um pequeno sorriso brotando no canto de sua boca.
— A gente sempre precisa de um plano B não é? – sorri, mas continuei, — Olha, Swan... eu realmente sinto muito. Eu não quis mentir pra você, muito menos te enganar.
— Ei... está tudo bem. Deixa isso pra lá. – Emma disse, ainda com a voz fraca pelo choro e eu a abracei em agradecimento.
— Está com fome? – perguntei enquanto desprendia-me do abraço, passando meu braço por cima de seu ombro.
— Faminta. – ela respondeu sorrindo e abraçando-me pela cintura.

Eu jamais imaginaria que voltaria à casa de Graham, mas lá estava Killian Jones. Saindo pela porta e indo ao carro pegar as coisas do piquenique que eu havia, insanamente, preparado, pensei em como ele reagiria. Aquela frase que ele havia deixado na gaveta, sobre Emma, pareceu-me tão real e com um destino certo. Era como se ela ganhasse vida, considerando tudo o que estávamos passando. Emma realmente tinha ido pretendendo derrotá-lo, saber de suas verdades para, finalmente, ficarem juntos para sempre. Talvez ele tivesse arquitetado tudo aquilo ou talvez o destino fosse só mais um filho da puta disposto a alterar tudo o que considerando “normal” e “seguro”. Seja lá o que fosse aquilo, dois mundos se colidiam ali naquela cabana e só o futuro saberia dizer o que aconteceria, afinal, Emma Swan ainda não havia lido o contrato e nenhum de nós fazia ideia do que poderíamos encontrar lá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Enfim, o que acharam? COMENTEM, tentarei ao máximo responder rapidinho todos hahhahaha