Depois que toda aquela confusão com os sapatos havia passado, os alunos que caíram na pegadinha ainda desconfiavam de quem era, mas preferiram ficar quietos para não acusar sem provas, embora não quisessem que isso ficasse impune. 

Ainda naquele dia, na hora do almoço, Paulo e Mário saíram escondidos do refeitório e foram até o banheiro. 

—Mário, preciso de uma ajuda sua.- disse Paulo.

—Pode falar, te ajudo sim. - falou Mário.

—É que amanhã é aniversário da Alícia e da Marcelina, certo?

—Sim, eu lembro.

—Pois então, aí que está o problema: eu quero fazer uma surpresa para as duas, fingir que ninguém se lembra do aniversário delas para que assim a gente possa preparar toda a surpresa aqui dentro da cabana, mas elas não podem saber.

—Bom, a Marcelina talvez goste, mas não sei quanto à Alícia.

—Não se preocupe com a Alícia, eu me entendo com ela depois.

—Bom, se você diz... Mas me diga, o que está havendo com você?

—Comigo nada. Por quê?

—Você nunca foi romântico à esse ponto, festa surpresa e tudo.

—O amor é que mexe com a gente, mexe de uma forma que muda nosso jeito de pensar.- Paulo sorriu bobo.

—Eu sei disso, também sinto que mudei bastante.- Mário também sorriu bobo.

—Enfim, vai me ajudar?

—Claro que vou, precisamos chamar os meninos.

—Vamos lá então.

Assim, Paulo pegou um megafone de sua maleta de travessuras e voltou ao refeitório.

—ATENÇÃO, REUNIÃO DOS MENINOS NO DORMITÓRIO MASCULINO AGORA!!!- Paulo falou pelo megafone e saiu com Mário.

Pouco depois, os meninos chegaram no dormitório.

—Eu fico aqui na porta pra ver se elas não estão bisbilhotando. - falou Daniel e todos concordaram. Assim, Paulo e Mário explicaram o plano para eles.

—É uma ótima ideia, mas teremos que dar um jeito de convencer as meninas a participarem do plano. - disse Cirilo.

—Exatamente, e depois ainda teremos que inventar uma desculpa pra elas saírem pelo acampamento até a gente arrumar tudo. - disse Chaves.

—Não tem problema não, eu tenho uma ideia: Paulo e eu vamos chamar as duas para dar uma volta aqui pelo acampamento até a hora da próxima prova, enquanto isso, vocês conversam com as meninas e tentam convencer elas a participarem do plano.- falou Mário.

—Excelente ideia, vamos lá. - disse Paulo.

Na manhã do dia seguinte, Mário e Paulo acordaram e decidiram pôr o plano em ação. Chegando no refeitório, esperaram ele esvaziar e então foram para o dormitório feminino. Mário bateu na porta e Marcelina atendeu.

—Oi Mário. - ela disse com o sorriso largo de sempre.

—Oi Marcelina, parabéns meu amor. - ele disse, abraçando-a. -

—Obrigada!- ela disse, sorrindo largo enquanto abraçava ele.

—Amor, tá ocupada?- disfarçou ele.

—Não, por quê?

—Queria te chamar pra darmos uma volta pelo acampamento, a gente nem tem como conhecer tudo por causa das provas. 

—Ah, eu acho uma boa. Vamos?

—Vamos, o Paulo e a Alícia vão com a gente.- pediu Mário.

—Tá bem, vem amiga. - Marcelina acenou sorrindo e Alícia foi até a porta dando um "tchau" para as meninas e saíram com os meninos. Assim que a porta foi fechada, Daniel e os meninos entraram no quarto.

—Meninas, temos um assunto sério pra conversar. - disse ele.

—Que assunto Daniel? - perguntou Maria Joaquina.

—O Mário e o Paulo querem fazer uma surpresa pra Marcelina e pra Alícia, pois hoje é o aniversário delas, só que nós precisamos da ajuda de vocês, topam nos ajudar?

—Eu topo. - Laura se manifestou.

—Eu também. - Maria Joaquina sorriu.

Todas as meninas concordaram em ajudar, então os meninos explicaram todo o plano pra elas.

—Esse plano é tão romântico. - disse Laura.

—Sim, mas precisamos da ajuda de vocês porquê... queremos uma decoração que as duas gostem, mas como vocês conhecem elas melhor do que nós, meninos, gostaríamos que vocês nos ajudassem nessa. - falou Jaime.

—Fizeram o certo, podemos ajudar muito bem nisso. - disse Luíza e elas foram passando as dicas.

Enquanto isso, Mário, Marcelina, Paulo e Alícia se divertiam em uma cachoeira que tinha ali no acampamento, na trilha que o time roxo percorreu.

—Que cachoeira linda! - disse Marcelina se sentando na beira da água.

—Que bom que gostou. - disse Mário.

—Depois vou ver se meu vô deixa a gente dar um mergulho aqui.- falou Alícia.

—Boa ideia amiga.

—Parece que essa cachoeira não tem correnteza. - Paulo analisou a água.

—Não tem mesmo.

—Acha que esse é um lugar bom pra passar um pouco de tempo do aniversário?- perguntou Mário.

—É perfeito. - Marcelina respondeu, rindo, enquanto Alícia concordou com a cabeça e abraçou Paulo novamente. Eles ficaram lá por um tempo, conversando e às vezes somente admirando a paisagem que tinha ali quando decidiram voltar, pois em breve teriam que voltar para o acampamento pra próxima prova. Quando voltaram, os meninos se despediram delas e foram ao dormitório masculino.

—E então? Elas vão ajudar? - perguntou Paulo, esperançoso.

—Sim, olha só as ideias que elas nos deram. - disse Daniel, orgulhoso.

Paulo e Mário ficaram felizes com o montão de ideias que elas deram, mas decidiram escolher somente a primeira, pois aí teriam mais tempo pra decidir qual decoração usariam.

Enquanto Mário e Paulo foram pedir ajuda aos adultos para realizarem o plano, Alícia estava indo para a cabana quando percebe que Seu Campos ainda não anunciou a prova. Ela então, vai com Marcelina até o local de sempre, mas não encontra ninguém.

—Estranho amiga, não tem ninguém.- disse Marcelina.

—Ah, agora tem, estão vindo ali.- respondeu Alícia, apontando para Seu Campos e Alan, que vinham ao longe acenando com um sorriso.

—Alícia, parabéns minha neta!- disse Seu Campos, abraçando ela.

—Obrigada vô. - Alícia respondeu, emocionada.

—Parabéns Marcelina. - dizia Alan, abraçando a mesma.

—Obrigada.

Os quatro então, se cumprimentaram e Seu Campos olhou nos olhos dela.

—Alícia, por hoje ser seu aniversário, vou liberar o dia hoje tá? Vou deixar vocês livres das provas hoje para você possa curtir seu aniversário. - disse ele.

—Sério vô? Obrigada. - Alícia disse, com um sorriso, então Seu Campos foi até seu escritório, onde sempre acordava a garotada com seu microfone.

—ATENÇÃO CRIANÇAS, HOJE NÃO TEREMOS PROVAS, CURTAM BASTANTE O DIA DE HOJE!!!- ele disse ao megafone e logo em seguida, Paulo e Mário entraram no escritório e falaram sobre o plano.

Com a voz de Seu Campos ao megafone, Carmen e Laura vibraram e decidiram dar continuidade ao plano. Ao chegarem no refeitório encontraram Jaime e Adriano.

—Oi meninos. - disse Carmen.

—Oi meninas, não esqueçam do plano tá? - disse Jaime.

—Já decidiram como vai ser a decoração? - perguntou Laura.

—Sim, agora só precisamos afastá-las da cabana. - falou Adriano.

—Eu sei o que fazer, vem comigo amiga. - disse Carmen, puxando Laura pro quarto das meninas.

Enquanto os quatro conversavam no refeitório, Alícia e Marcelina estava chegando perto da cabana quando viram Carmen e Laura chegarem correndo.

—Ei meninas, o que houve? - perguntou Alícia.

—Ontem eu perdi minha presilha durante a prova, mas não consigo encontrar em lugar nenhum. - disse Carmen.

—Mas já procuraram? - perguntou Marcelina.

—Já e não achamos em lugar nenhum, vocês podem procurar pra gente?- pediu Laura.

—Nós duas? Por quê? - indagou Alícia.

—Porque vocês são mais rápidas pra procurar e também porque são nossas amigas de mais confiança. - disparou Laura deixando Alícia e Marcelina surpresas.

—Nossa, não sabíamos. - Marcelina falou, sorridente.

—Mas agora sabem, vão logo que eu preciso da minha presilha. - pediu Carmen.

—Ei, é só isso? - disse Alícia - Vocês não estão esquecendo nada não? 

—Não, só falta a minha presilha.

—Nem eu, o lanche depois da prova tá aqui, o meu caderno também, deixa eu ver...- Laura ia continuar, mas foi interrompida.

—Não é isso, estou perguntando se vocês não estão esquecendo de nada pra nos dizer pra gente. - insistiu Alícia.

—Pra você eu não sei Alícia, mas Marcelina, você está com uma... sei lá, parece uma baba seca aí na sua bochecha direita. - disse Carmen.

—O quê? - Marcelina disse, pondo a mão na bochecha e se desesperou.

—Calma amiga, isso sai com água. - disse Alícia.

—Vou lavar logo então, senão como que Mário vai olhar pra mim?

As duas então, correram pro banheiro e Carmen e Laura riram.

—Mandou muito bem amiga, disfarçou direitinho. - disse Carmen.

—Obrigada, você também foi boa atriz. - Laura elogiou.

—Verdade, agora é só torcer pra elas acharem. 

Sim, Carmen havia deixado a presilha de seu cabelo jogada em alguma canto do acampamento de propósito para elas procurarem. Depois que foram pro banheiro, as duas acordaram as outras meninas e todas partiram rapidamente para o quarto dos meninos pra esperar a hora das duas saírem pra arrumarem a decoração.

—Quem vai fazer o bolo? - perguntou Laura.

—A Bruxa do 71. - disse Quico.

—A Dona Clotilde? - Jaime disse.

—Sim Jaime.- Quico confirmou.

—Não se preocupe, a Dona Clotilde faz bolos deliciosos. - disse Chaves.

—Sim, faço com todo o prazer. - disse Dona Clotilde, ajeitando a gola do vestido sorrindo largo indo direto à cozinha.

Depois disso, todos os adultos chegaram e se reuniram pra ajudarem a preparar a festa enquanto Alícia e Marcelina procuravam a tal presilha pelos cantos do acampamento.

—Nossa amiga, não acha meio estranho a Carmen ter perdido uma presilha justo aqui?- disse Marcelina.

—Acho, mas isso é normal, com um cabelo como o dela, ainda mais quando se está correndo, de uma presilha cair. - explicou Alícia.

—Tudo bem mas, como a Carmen pode ter perdido? Tudo bem que é pequeno, mas ela teria notado.

—Ah, talvez a Carmen tenha se distraído com alguma coisa. 

—Tipo o quê?

Já haviam se passado duas horas de conversa e de busca, elas não conseguiram entender como Carmen havia perdido aquela presilha e continuaram caminhando e conversando até que ouviu-se um barulho de algo sendo quebrado, e não era um galho.

—Olha, uma presilha.- disse Marcelina, se abaixando.

—É a da Carmen, ela tava usando ontem. - Alícia se contentou.

—É mesmo, vamos lá falar com ela! - e assim, as duas seguiram de volta para o acampamento. 

Ao chegarem na cabana com a presilha de Carmen na mão, elas levaram um susto quando abriram a porta e ouviram vozes misturadas à frente.

—SURPRESA!!! - todos do acampamento, até Seu Campos, estavam lá, no meio da galera e todo mundo foi dar um abraço e um beijo nas duas.

—Parabéns minha netinha. - disse Seu Campos, ainda abraçado à ela, que chorava e sorria de felicidade.

—Não pense que me esqueci de você Marcelina. - disse Mário, abraçando sua amada.

—Foi tudo planejado? - perguntou ela com lágrimas nos olhos.

—Sim. O Paulo quem teve essa ideia. Mas nós pedimos às meninas e Carmen deixou a presilha na floresta de propósito pra distrair vocês e dar tempo de montarmos tudo isso. - explicou ele.

—Gostaram da surpresa? - perguntou Paulo, abraçando Alícia e olhando as duas.

—Amei. - disse Marcelina, abraçando o irmão, enquanto Alícia também o abraçava. 

—Obrigada Paulo, eu amei a surpresa. - Alícia sussurrou entre as lágrimas - Te amo.

—Também te amo minha marrentinha. - sussurrou Paulo, rindo e lhe dando um beijo.

Era um momento muito feliz para as duas, tendo em vista que Paulo era tão encrenqueiro que para elas era impossível ele querer fazer algo daquele tipo, apenas um "parabéns", pra ele, estaria bom. Mas depois dessa festa, as duas notaram que ele realmente mudou. Depois de serem cumprimentadas, todos foram curtir a festa, com direito à bolo, salgadinhos e tudo, coisa que nunca teve por lá, mas estava um barato e Seu Campos, também estava adorando.