Ao voltar pra sala, Mário ainda estava com o rosto bastante inchado pela quantidade de lágrimas que derrubou. Lógico que o que ele disse à Marcelina não era totalmente verdade, pois ele realmente amava ela e no fundo, bem lá no fundo, tinha uma vontade enorme de voltar com ela. Porém, tudo aquilo que ele ouviu dela ainda estava fixo em sua mente, além de que ele ainda não conseguiu parar de sentir a enorme dor no peito quando se lembrava daquelas palavras. E isso o fazia querer ficar afastado de Marcelina, ele não queria voltar com ela enquanto não esquecesse o que ela falou.

Já Marcelina estava bem pior, ela voltou pra sala quando o sinal do fim do recreio já havia tocado e quando chegou, todos já estavam na sala, menos o professor que daria aula. Mas Marcelina não desistiria tão fácil assim não, ela queria voltar com ele a todo custo.

O resto das aulas passou normal, todos estavam saindo do colégio quando Chiquinha percebe a tristeza de Marcelina e decide bolar um plano para ajudar a amiga a conseguir falar com Mário, ela percebe que Nhonho está indo em direção à sua casa com Chaves e aproveita para ir até eles.

–Chavinho, Nhonho, preciso da ajuda de vocês.- disse ela.

–Se for pra pedir dinheiro, pode esquecer.- disse Nhonho.

–Não é isso. É que eu tenho uma ideia para ajudar a Marcelina a conseguir falar com o Mário novamente.

–É mesmo? Que ideia?- perguntou Chaves.

–Primeiro preciso saber se você topam ajudar.-ela disse.

–Sim.- disse Chaves.

–Tá bom, não tenho nada pra fazer mesmo.- falou Nhonho.

–Ótimo, então façam o seguinte: vocês sabem onde o Mário mora né? Então, quero que vocês vão conversando com ele até lá, falando palavras de apoio, enquanto eu vou ajudar Marcelina.- ela explicou.

–Pode deixar com a gente.- falou Nhonho.

Então, os dois foram até Mário inocentemente e começaram a puxar assunto com ele:

–E aí Mário?- começou Chaves.

–E aí Chaves?- respondeu ele sem ânimo.

–Nossa, você está com uma cara de deprimido. Aconteceu alguma coisa?

Então, Mário começou a contar sobre como Marcelina estava agora o perseguindo sem parar tentando reatar com ele, os meninos então, decidiram contar o que eles achavam daquilo.

–Olha Mário, não quero me meter na sua vida. Mas acho que se você fizesse uma forcinha, conseguirá esquecer essas palavras rapidamente.- disse Chaves.

–Eu estou tentando isso sempre, mas não consigo.- disse Mário.

–É porque você não tentou o modo correto.- falou Nhonho.

–E qual é o modo correto?

–Deixar que ela volte com você. Aí, com o tempo, você vai se distrair tanto com ela, vai ficar tão feliz que nem vai se lembrar do que ela disse.

–Tem certeza?

–Claro, alguma vez nós já te deixamos na mão?

–Não, mas é que eu nunca vi vocês com garotas. Então, não dá pra entender como vocês podem saber tanto de garotas.

–A gente nunca namorou, mas já nos tivemos paqueras né Chavinho?

–Sim Nhonho. E também tivemos alguns amigos que passaram por isso que você e ela estão passando. Então, observando tudo, testemunhando, acabamos aprendendo.

Mário ficou pensativo por um instante, pensando nas palavras aconselhadoras de seus amigos, mas enquanto ele pensava, não percebeu que Chiquinha ia com Marcelina à uns metros atrás de Mário e os meninos sem ele perceber e dizia para Marcelina seguir com o plano, falando para Mário tudo que ela dissesse.

–Marcelina, eu sei que você nunca foi uma menina de atitude, que dissesse esse tipo de coisa para um menino, mas se você quer voltar com o Mário, vai precisar falar isso pra ele.- disse Chiquinha.

–Bom, acho que eu posso tentar, precisarei ser muito boa atriz.- respondeu ela.

–Você vai conseguir, terá que ser essa menina forte que você sempre foi.

Mal eles acabaram de dizer isso e os meninos chegaram com Mário na casa dele sem que ele veja. Mário nem desconfiava que era tudo armação de Chiquinha com Chaves e Nhonho para que Marcelina pudesse segui-lo e conversar à sós com ele. E a estratégia era justamente distrair Mário para que ele não se sentisse seguido pelas meninas. Mas assim que Mário chegou na rua de sua casa, Chiquinha decidiu que estava na hora, apressou os passos e quando o alcançou, fez um sinal para Marcelina, que segurou seu braço.

–Será que podemos conversar melhor agora?- disse ela.

Então, Chaves, Nhonho e Chiquinha deixaram os dois à sós e foram se afastando aos poucos deles pra que pudessem conversar melhor.

–Você não desiste nunca é?- falou Mário, ríspido.

–Não, quando a gente gosta, a gente tem que ir atrás.

–Achei que os homens tinham que tomar atitude.

–Eu sei, mas como assim que você tomar atitude comigo eu vou estar debaixo da terra com os ossos do corpo, preferi tomar atitude primeiro.

–Estou chocado por isso.

–Que bom, agora pode me dizer que te surpreendi o suficiente pra gente voltar?

–Não, porque não é verdade.

–É verdade sim, eu sei que é.

–Não sabe de nada, já te disse que o que você fez...

–Eu já sei disso, me lembro perfeitamente. Mas não vou permitir que esse seu orgulho de menino te impeça de enxergar o nosso amor.

–Não sou orgulhoso!

–Não, mas está sendo agora.

–Mas tenho meus motivos!

–É mesmo?- ela disse e então segurou com firmeza o rosto de Mário, fazendo-o a encarar nos olhos.- Então olhe no fundo dos meus olhos e diz que toda essa sua mágoa e orgulho é maior que o amor que você sente por mim.

–Marcelina, por favor!- Mário implorou, pois sentiu que estava começando a ceder.

–Responde logo, é maior ou não?

Mário ficou olhando nos olhos da garota por alguns segundos, tentando permanecer forte para não se entregar, mas com o tempo, seus olhos foram enchendo de lágrimas e Marcelina se sentiu vitoriosa por ele estar começando a deixar a máscara cair. Até que ele não aguentou mais e agarrou a menina pela cintura com vontade lhe dando um beijo enquanto ela correspondeu com vontade. Para muitos, aquele pode ter sido um beijo normal de um casal de ex-namorados que haviam acabado de voltar, mas para Mário, foi um beijo muito especial. Ele estava sentindo muita saudade daqueles lábios macios e carnudos unidos aos seus, assim como ela também estava sentindo muita falta daqueles lábios macios e finos de Mário. Quando se separaram, Marcelina lhe disse:

–Mário, terminar com você e te trocar pelo Jorge foi a maior besteira que eu já fiz na vida. Eu nunca mais quero me separar de você.- ela disse, emocionada.

–E nem eu. Só quero você do meu lado, pra sempre.- ele respondeu, também com os olhos lacrimejados.

Então, abraçaram-se por um longo tempo, até que Mário convidou a amada para almoçar em sua casa e ela aceitou, e entraram juntinhos de mãos dadas na casa dele.