Certo dia, Marcelina estava voltando para casa e como o caminho passava pela vila, ela passou por uma rua e viu quatro gatinhos muito lindos. Um era todo branco, outro era preto malhado de branco, outro marrom e outro era marrom com detalhes em branco. A garota ficou meio confusa quando viu que os quatro gatinhos estavam vindo na direção dela, será que ela estava com cheio de gato? Só podia ser, porque ela nunca teve nenhum daqueles gatinhos, nunca teve gato nenhum, então não tinha como nenhum deles achar que ela era dona deles. Mas, mesmo assim, ela decidiu brincar com eles.

–O que foi lindinhos? Estão perdidos é? Tão fofinhos.- disse Marcelina, tentando distraí-los. Até que se lembrou que a mãe deles não estava em nenhum lugar ali perto, será que estavam perdidos? Ou foram abandonados? Ela não teria como saber, mas ao ver que eles estavam fedendo, percebeu que eles podem ter sido abandonados sim. O que fazer agora? -Acho melhor pedir ajuda a alguém.- logo depois, ela se lembrou de Mário, que adorava animais. Então ela vai atrás do namorado para lhe contar sobre o que houve.

–Puxa Marcelina, deve ter sido triste ver esses gatinhos lindos abandonados né?- perguntou Mário.

–Pior que foi mesmo, eu até quase chorei.- falou ela.

–Bom, então tenho que fazer alguma coisa. Onde estão esses gatinhos?

–Lá na esquina da vila.

A garota o levou até onde os gatinhos permaneciam dormindo. Sem o leite materno da mãe, eles se sentiam fracos demais pra ficarem de pé. Mário ajoelhou-se na direção deles e logo percebeu que eles estavam com fome.

–Temos que pedir ajuda a alguém. Eles estão morrendo de fome.- pensou Mário após uma pequena "análise".

Assim, os dois foram até a vila e perceberam que Seu Barriga estava saindo da casa do Seu Madruga, provavelmente foi cobrar o aluguel.

–Seu Barriga, preciso de uma ajuda sua.- disse Marcelina.

–Ajuda? Em quê?- perguntou Seu Barriga.

–É que a Marcelina tava passando por aqui e viu ali na esquina uns gatinhos abandonados talvez pela mãe ou pelo dono deles. Quando ela veio me avisar, percebi que os gatinhos estão morrendo de fome. O senhor se incomoda de ser a ama seca deles?- perguntou Mário.

–Ama seca?- Seu Barriga perguntou, indignado.

–Sim, por favor.

–Eu gostaria, mas preciso cobrar os outros aluguéis, com licença.

E se retirou, deixando Mário chateado.

–Ei Mário, o que está fazendo aqui?- perguntou Chaves ao entrar na vila com Nhonho e ver o amigo ali.

–Deixa que eu explico...- falou Mário, contando para os dois a história da gatinha e tinha certeza que, os dois sabendo que Mário era um amante de animais, com certeza ajudariam ele.

–E eu até cheguei a pedir para o Seu Barriga me ajudar a dar leite para os gatinhos, mas ele disse que não, pois tinha que cobrar os outros aluguéis. Mas é mentira, ele que não quis ajudar mesmo. Se eu soubesse que ele não ia ajudar não teria perdido tempo indo até ele.- ele finalizou.

–Olha, eu sei de um lugar onde vocês podem conseguir leite.- disse Chaves.

–Onde?- perguntou Marcelina, esperançosa.

–No armazém do Seu Brancelha. O leiteiro entregou umas garrafas de leite pra ele vender lá no armazém.

–Lá é caro?

–Não, diria que é entre cinco e dez reais cada litro de leite.

–Bom, não dá pra saber de quantos litros de leite vai ser preciso pra dar para todos os gatinhos, venham comigo.- disse Mário, levando os três para o local onde os filhotes estavam.

–Esses parecem os gatinhos da gatinha da porteira da nossa vila.- disse Chaves.

–Nossa, quando souber que os gatinhos estão aqui vai ficar tão triste.- falou Nhonho.

–Bom, agora vou tentar encontrar leite para esses gatinhos.- pediu Mário.

–Vamos com você.- falou Chaves.

Assim, Mário, Marcelina, Chaves e Nhonho levaram os gatinhos até a porta do armazém e quando chegaram lá, Mário estava com o dinheiro na mão e percebeu que Seu Brancelha não estava no balcão. Afinal, era horário de almoço e o Seu Brancelha devia estar almoçando agora.

–Acho que duas garrafas dessas vai ser o suficiente.- falou Mário, pegando duas garrafas de uma das prateleiras.

–Mário, isso é roubo!- alertou Marcelina.

–Eu sei que isso é roubo, mas não tem ninguém aqui, ele não vai nem desconfiar que estão faltando duas garrafas. - retrucou Mário- Além do mais, isso é por uma boa causa. Melhor do que deixar os gatinhos morrerem de fome.

Então Mário rapidamente pegou duas garrafas de leite e depois foi à procura de um abridor de garrafas e uma panela. Depois de um tempo, encontrou os dois em uma das prateleiras.

–E agora? Como abrimos essa garrafa?- perguntou Nhonho.

–Esse abridor vai servir. E eu trouxe uma panela também pra facilitar.- respondeu Mário.

–Que ótimo. Acho que eles já devem estar mortos de fome.- respondeu Chaves, mesmo inconformado de Mário ter furtado duas garrafas de leite, sendo que o combinado era que eles fossem comprar.

–Segura a panela enquanto eu coloco o leite. - disse Marcelina.

–E eu vou segurando os gatinhos enquanto isso.- falou Chaves.

–Não deixa eles escaparem Chaves!- pediu Mário e Chaves fez uma cara de "relaxa" pra ele. Alguns segundos depois, quando Mário havia esvaziado uma garrafa de leite e colocado dentro da panela, os gatinhos já estavam tomando o leite e quando Mário estava abrindo a outra garrafa, uma voz foi ouvida da porta do armazém:

–O que está acontecendo aqui? Que diabos vocês estão fazendo com minhas garrafas de leite??!!- gritou Seu Brancelha, que já havia voltado do almoço e estava agora na porta do armazém.

–Calma Seu Brancelha, não é o que o senhor está pensando!!!- disse Chaves, tentando se justificar.

–Me devolve isso!!- disse ele.

–Por favor Seu Brancelha, é um caso de vida ou morte!- gritou Mário.

–Não quero saber, isso é um roubo!!

–Ah, então o senhor quer dinheiro? Tom aqui ó!

Nessa hora, Mário tirou as mãos da garrafa para pegar o dinheiro em seu bolso e Seu Brancelha não esperava por isso e continuou puxando a garrafa, jogando todo o leite para trás e justo quando Dona Florinda entrava no armazém, ficando toda encharcada de leite.

Os meninos, ao verem Dona Florinda toda encharcada de leite, riram discretamente para que Dona Florinda não os ouvisse. Mário no fundo queria rir, mas não conseguiu devido o susto.

–Desculpe, desculpe, eu não vi a senhora aí atrás!- Seu Brancelha falou, colocando a garrafa de leite de volta nas mãos de Mário, mas Dona Florinda não quis saber.

–Seu imbecil, agora você me paga!!!- gritou ela daquele jeito esquentado de sempre, correndo atrás do Seu Brancelha pra dentro do armazém.

Minutos depois, ela volta pra casa ainda molhada de leite, esfregando a mão e Seu Brancelha logo depois apareceu todo arrebentado, usando um pedaço de madeira como muleta. Enquanto saía, lançou um olhar de reprovação para os meninos, que mesmo assustados, voltaram a dar leite para os gatinhos.